Moon Holic

Um ritual para tocar um deus


A cor da escuridão é branca

E eu pintei sobre ela

Repito aquela cena cortada

De novo e de novo

Um ritual para tocar um deus

Humanos não eram nada confiáveis, disso Ageha sabia muito bem. Essa era uma das poucas lições que sua mãe passou de que ele se lembrava bem. Humanos eram seres gananciosos, que não hesitavam em pisar nas outras espécies para conseguir o que queriam.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

Ageha não sabia bem o que ele era, só sabia que, apesar de se parecer com um, ele não era humano. Sua mãe era sua única semelhante que ele conheceu em toda a sua vida. Ela era linda, tinha cabelos negros muito compridos, e olhos azuis escuros iguais aos dele. Flores dos mais variados tipos e cores brotavam de sua testa toda semana, formando uma linda coroa. Ela conseguia fazer flores desabrocharem e frutas amadurecerem com um único toque, coisa que a fez ganhar a fama de bruxa no pequeno vilarejo humano onde ela costumava viver e, posteriormente, a obrigou a morar sozinha no meio daquela floresta. Sua mãe sempre lhe contava sobre isso com os olhos marejados, mas ela dizia que era melhor assim, já que não precisava mais esconder as flores que cresciam de seu corpo. Ageha gostava muito daquelas flores e esperava um dia tê-las também. Por enquanto, a única coisa que crescia de seu corpo eram ramos de trepadeira, que eram sua única companhia desde que sua mãe desapareceu. Ela sumiu de repente, anos atrás, deixando Ageha sozinho. Ele ainda tinha a esperança de que ela reapareceria algum dia, por mais que demorasse para isso acontecer.

Perto da floresta onde ele morava, havia um vilarejo, e Ageha gostava de passar a noite observando por entre as árvores os humanos que viviam lá, sempre de longe, assim como sua mãe o ensinou. Eles tinham o costume de se reunir ao redor de uma fogueira para cantar e contar histórias, e Ageha os assistia com encanto e curiosidade. De todos os humanos que moravam lá, seu preferido era um chamado Tsukigami Haruto, um belo rapaz de cabelos azulados. Ele era a estrela do vilarejo. Assim como Ageha, todos lá eram encantados com Haruto. Seu talento com a música não se comparava ao de mais ninguém ali, e ele sempre era a atração principal das reuniões ao redor da fogueira.

Ageha não sabia dizer exatamente o que o atraía em Tsukigami, se era sua beleza, sua voz melodiosa ou sua gentileza. Ele podia passar horas vendo-o cantar e dançar, sem nunca se cansar. Sem que se desse conta, Ageha ficou cada vez mais obcecado por Haruto, ao ponto de só pensar nele por dias e dias. Aquele sentimento era algo novo para ele, e Ageha não fazia ideia do que aquilo significava. Seu medo dos humanos o impedia de se aproximar mais dele, então, Ageha apenas o observava de longe, assim como olhava para a lua cheia no céu.

“O que você tem aí? É mais dinheiro, não é?”

Ageha foi acordado por uma voz humana perigosamente próxima de onde ele estava. A luz fraca do sol entrava por entre os ramos que o cobriam, indicando que havia acabado de amanhecer.

“Eu já te dei todo o dinheiro que tinha, por favor, me deixe ir.”

Aquela era, sem dúvida nenhuma, a voz de Tsukigami Haruto. Ageha arregalou os olhos, retraindo um dos ramos para poder ver o que estava lá fora. Tsukigami estava ali, frente a frente com outro homem, segurando algo junto ao peito com uma expressão muito assustada. De repente, o homem tirou uma adaga de seu bolso e esfaqueou Tsukigami na barriga uma única vez. Ele gritou com a dor, caindo de joelhos, e o homem aproveitou para tomar o que estava em suas mãos e fugir dali correndo.

Ageha desfez seu casulo de cipós e foi até Tsukigami, parando assim que sentiu um cheiro que o deixou um tanto quanto atordoado.

O cheiro de sangue.

“Quem está aí?” Tsukigami olhou para Ageha por cima do ombro. “Me ajude, por favor.”

Antes que se desse conta, dois ramos saíram das costas de Ageha e envolveram o torso de Tsukigami, que soltou um gemido de dor e surpresa. Um deles tocou na ferida, encharcando-se no sangue, e nesse mesmo instante, uma sensação entorpecente tomou conta do corpo de Ageha. Ele não fazia ideia do que estava acontecendo, sua cabeça estava girando sem parar, mas aquela era a melhor sensação que já sentiu na vida. Naquele momento, o único pensamento na cabeça de Ageha era de que ele precisava de mais do sangue de Tsukigami.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

Mais e mais ramos saíam de suas costas, envolvendo o corpo de Tsukigami, que gritava e se debatia, tentando se soltar. Ageha observava a cena calado, com as pupilas dilatadas e um sorriso no rosto. Gavinhas e folhas entraram pela boca de Tsukigami, abafando seus gritos, e não demorou muito para seu corpo ser coberto por um emaranhado de galhos.

Ageha o puxou para perto de si, sentindo uma satisfação indescritível. Ele acariciou os poucos fios azulados que saíam por entre as folhas, enquanto Tsukigami ainda se chacoalhava com o pouco de força que lhe restava.

“Você será só meu… Para sempre.”

De um dos cipós, brotou uma pequena flor azul.

Não entre, ninguém interfere

Esse lugar é só meu

Vou dançar em meus sonhos atrás das portas que fechei

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.