Tudo por você

Capítulo 11 - Penélope e Dean


PENÉLOPE

A gente combinou de se encontrar no mesmo lugar, dois dias depois. Só que um pouco mais tarde porque Lissa tinha estágio no laboratório, ela faz bioquímica, no primeiro horário da manhã. Ela também participaria do grupo e eu estava feliz por isso. Gostei dela de primeira. É quase tão nerd quanto eu.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

Quando entrei na biblioteca carregando minha velha bolsa atravessada, vi Greg e Alan a conversar com duas garotas num canto. Eles já estavam ali? Nossa! Aquilo é que era vontade de estudar! Lancei um segundo olhar mais firme sobre eles mudando de opinião. Pensando bem, a vontade deles é a de paquerar. Porque era isso que eles estavam fazendo.

Mas nada de Brendan, Lissa ou... Dean. Só de pensar nele meu coração acelera. Que droga essas reações involuntárias. Não consigo aceitar que continuem acontecendo. Ninguém mais provocava isso em mim. Todos os caras com os quais falei nestes últimos dias a conversa fluiu fácil, tranquila, sem sobressaltos, era só começar. Puxar qualquer papo e pronto. Logo estávamos entabulando um diálogo descontraído. Principalmente depois que eu descobri uma coisa interessante. Se você finge estar perdida, ou se você finge não ter compreendido alguma coisa. Ou se você finge que se interessa por algo que o cara tem na mão ou entre as coisas dele, pronto... a maioria dá resposta favorável e é possível entabular uma conversa amena.

Eu sou calada. Sempre fui calada. Mas, me entendam bem, isso era opção. Não queria dizer que eu não sabia como me comunicar. Apenas não queria me comunicar o que é proporcionalmente diferente. Agora com Dean... só sei falar com ele na base da provocação, da ironia, da gozação, porque é como me escondo e evito que ele perceba o quanto me atrai.

Senti a porta da biblioteca se abrir atrás de mim. Me voltei e lá estava ele, entrando distraído. Parecia o mesmo. Os cabelos, as calças jeans que se ligavam aos músculos das pernas. A camisa desabotoada no pescoço. A jaqueta. Já estava com a língua preparada para a primeira investida dele. Era certo que Dean chegaria chegando. Se sentindo vitorioso. Se sentindo o dono da razão, arrogante, prepotente cínico e debochado como sempre.

Mas, ele me olhou com rapidez, desviou os olhos para o chão novamente e caminhou em minha direção. Parou a poucos centímetros e enfiou os dedos no passador de cinto das calças. Parecia constrangido.

— Oi Penélope...

Eu gosto do modo como ele fala o meu nome, enchendo a boca, pronunciando cada letra com calma.

— Oi. - respondi cruzando os braços diante do peito.

Seus olhos escuros se fixaram nos meus.

— Brendan falou comigo. - ele disse em tom firme – Sinto muito que os caras tenham obrigado você a me aceitar no grupo... se preferir, eu vou embora.

Como é? Me perguntei quase não acreditando naquele ser que vestia o corpo de Dean, mas que definitivamente não era o Dean. Não o velho Dean.

— É, eles falaram comigo. - confirmei me recuperando da surpresa.

Ladeando o rosto ele continuou:

— Não pedi que fizessem isso, não quero impôr nada.

Merda! Falei mentalmente. O que deu nesse homem? Vai bancar o bom moço agora?

Idiota!

— Eles também disseram que você não sabia de nada. - emendei em tom seco. - Que pretendia cumprir com a promessa.

Ainda sério e sem demonstrar qualquer sinal da ironia de sempre ele falou:

— Posso ser um idiota. Mas, costumo manter minha palavra.

— Para ser sincera com você, não acreditei que cumpriria.

Ele suspirou, e eu continuei:

— Mas, já percebi que me enganei... - olhei para os garotos - Eles gostam muito de você. Não querem que fique em outro grupo de estudos.

Sorrindo de lado ele deu uma longa olhada para Greg e Alan que ainda conversavam com as garotas.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

— Eles são bons amigos.

Enquanto observava a dupla pensei que sim, Dean tem razão, eles são bons amigos. Até eu acho que são.

Dean se moveu, afastou os braços num gesto esquisito antes de falar:

— Então, eu prometi que ficaria longe de você e que sequer falaria contigo... - nossos olhos se encontraram de novo – e só você pode me liberar dessa promessa.

Ia abrir a boca para responder mas ele continuou:

— Mas, antes que você diga qualquer coisa, preciso garantir que nunca mais farei brincadeiras idiotas com você. Nunca mesmo. Independente de qual seja sua decisão final.

Eu já estava acreditando nisso. O modo como ele falava me dizia que havia sinceridade ali. Que ele não faria de novo.

— Vamos apenas estudar juntos... e se você não se incomodar de ser minha amiga... eu...

Amiga... amiga de Dean Anderson. Eu?

— Tentarei ser um cavalheiro. - foi a palavra final.

Nossa! Pensei sem desviar os olhos do rosto oval. Estava esperando que ele chegasse com toda aquela empáfia tão característica dele. Mas foi totalmente o contrário. Novamente, foi ele quem pediu desculpas. Quem se mostrou arrependido. Quem praticamente implorou outra vez.

— Está bem.

Falei sem perceber e Dean me lançou um breve sorriso.

— Trato renovado? - ele perguntou erguendo a mão.

Fiquei um segundo ou dois olhando para aquela mão diante de mim. Até que estendi a minha e a segurei.

— Trato renovado.

Dean é quente. Seu corpo exala uma caloria gostosa. Acho que nem precisa de muita roupa para se manter aquecido. E a lembrança de estar parcialmente colada ao corpo dele durante o beijo me atingiu rapidamente. Imaginei ficar realmente perto dele!

Meu rosto aqueceu, e fui milagrosamente salva de um momento constrangedor pela chegada de Brendan e Lissa. O rapaz bateu com a mão livre no ombro de Dean, que logo retribuiu o cumprimento.

— Tudo bem agora pessoal?

Ele passou os olhos do amigo para mim. De mim para o amigo.

— Tudo certo. - Dean respondeu sereno.

— Tudo bem. - falei em concordância.

— Então vamos estudar que o último conteúdo que aquela mulher passou antes do feriado está me incomodando...

— Você não entendeu? - cochichei, estávamos entrando direto na parte movimentada da biblioteca, muitas pessoas estavam lendo, estudando ou pesquisando ali. E se falássemos alto seriamos repreendidos.

********************

Estávamos sentados no mesmo lugar, em volta daquela conhecida mesa, há uma hora. Tivemos tempo para ler, discutir, escrever. Dean voltou a ser o mesmo de antes, com menos brincadeiras idiotas é claro. Mas, não posso negar que foi muito bom contar com sua descontração e suas saídas pertinentes. O clima do grupo se manteve leve. Lissa foi uma aquisição única. E mesmo que seja a namorada de Brendan, percebi que eles conseguem levar numa boa quando as opiniões divergem. Trocando sorrisos e piscadelas quando um dos dois vence o embate.

As discussões encerravam. Chegava o momento de irmos embora quando vi alguém parar ao meu lado, uma mão tocar o meu ombro, ergui os olhos e me deparei com Josy olhando embasbacada para as pessoas presentes naquela mesa.

Seu sorriso não negava, ela estava surpresa e encantada com a visão.

— Penélope! Sua safadinha... - a camaradagem se instalara entre ela a eu, mas ainda não dera a Josy tanta liberdade. Irritada, fiquei em pé.

— Oi Josy... - falei num tom zangado. Todos sabiam que ela vivia em festas, que ficava com qualquer cara que lhe desse atenção. E fui logo explicando: - Esta é Josy, minha colega de dormitório... eles são os...

— Eu sei quem eles são. - ela falou sorridente, sedutora, sexy e sabe-se lá mais o que. Logo percebi que os olhos de Alan seguiam direto sobre o decote dela que naquela manhã nem era assim tão chamativo.

— Quer participar do grupo de estudos Josy? - ele perguntou confirmando o interesse que estava explicito nos olhos azuis.

— Adoraria. - ela falou puxando uma cadeira vaga perto de Dean, do outro lado da mesa.

— Nós já estávamos terminando. - expliquei sem desviar os olhos do rosto de Josy, só que naquele instante, minha atenção estava em cima de Dean, que também parecia olhar para o decote dela.

Algo corroeu no meu peito. Como um frio. Uma zanga. Uma irritação.

— É verdade. Estamos acabando. - Alan me olhou de relance - Você pode participar da próxima vez. - foi logo sugerindo com aquele ar de quem está se oferecendo.

Revirei os olhos pensando que não tinha como ser diferente. A mente deles só trabalhava para o que não interessava. Ou seja, mulheres gostosas, peitudas, sexo, futebol e festas regadas a muita bebida.

— Tem algum problema pra você Penny? - Alan iria insistir. Pensei.

Minha colega de quarto me olhou com renovada surpresa estampada no olhar por ouvir Alan me tratar com tanta familiaridade.

— Claro que não. - respondi recolhendo meu material.

— Viu... próxima semana, neste mesmo local, estaremos juntos aqui, e você poderá vir. - definitivamente estava zangada com Alan por bancar o menino idiota da vez.

Dean ficou calado quanto a possibilidade do grupo receber mais um membro. Na verdade, depois do primeiro olhar ele pareceu não dar muita atenção à minha colega de quarto. Se voltou para Brendan e começou a comentar algo sobre o treino.

— Tá mesmo tudo bem pra você se ela vier? - ouvi Greg perguntar – As vezes o Alan passa um pouco dos limites... - se aproximou e cochichou no meu ouvido – principalmente quando encontra uma garota pela qual se interesse.

Sorri.

Já percebera o interesse dele. Fazer o que não é?

— Sem problemas. - falei por fim, determinando a presença de mais uma garota no grupo. - Afinal, cada um de vocês vai ter a chance de bancar o idiota.

Greg riu e observou Dean que naquele momento não olhava para nós.

********************

Naquela noite, quando cheguei ao dormitório depois de uma cansativa e longa, longa aula sobre mitos e mitologias, encontrei Josy terminando de pintar as unhas dos pés. Ela abriu um imenso sorriso quando me viu. Eu já sabia que lá vinha um assunto que iria me incomodar.

— Penny... você demorou! - falou saltando do colchão caminhando com os dedos esticados para não desfazer a pintura enquanto largava o pote de esmalte vermelho na prateleira.

— Peraí, está incomodada com a minha demora por quê?

Perguntei largando a bota ao lado da porta.

— Desde a manhã, naquela hora, na biblioteca, que estou louca querendo falar com você.

Sim, eu sabia o assunto.

— Você sabe que hoje tenho aulas o dia todo. - reforcei como se ela não soubesse.

Tirei a jaqueta e coloquei no gancho. Precisava de um banho para relaxar.

— Sim, por isso esperei até agora...

Encarei o rosto bonito de minha colega.

— Sério que o seu interesse neles é assim tão grande?

Ela se acomodou no colchão abanando as unhas.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

— Claro! E não entendo como você pode passar tantos dias com eles e não ficar totalmente apaixonada!

Ao ouvir isso, tenho certeza de que o sangue correu todo para o meu rosto. Não estava apaixonada por ninguém, especialmente por nenhum deles. Mas nada respondi.

Ela continuou.

— Porém, mesmo que todos eles sejam lindos. Meu interesse tem foco. - explicou erguendo os olhos para mim.

— E qual é o seu foco Josy? - perguntei mesmo tendo a certeza de que era Dean. Alan se mostrara inclinado por ela, mas percebi como ela olhava para Dean.

— Alan ou Dean... tanto faz. Os dois são lindos!

Oh meu Deus! Estava enganada ou parcialmente enganada.

Ela continuou:

— Mas acho que Dean não está disponível... não sei porque. - ela balançou o rosto para os lados, num gesto esquisito.

— Como assim não está disponível? Que eu saiba ele não tem namorada fixa... - não estava entendendo esse pensamento dela.

Ela continuou a falar sem me olhar:

— Então não sou o tipo de garota que ele gosta. Mal olhou pra mim, e me sentei ao lado dele.

Sorri internamente.

— Alan pareceu interessado... - falei em tom tranquilo.

— Pois é... e ele é lindo também... diferente de Dean. - seus olhos desfocaram e eu soube no que estava pensando – Eu gosto dos morenos, eles são sempre mais atraentes... - me encarou e sorriu – Ao menos para mim são.

Não falei nada.

— Mas me contento com os olhos azuis do Alan.

Balancei a cabeça negativamente pronta para rir. Era no mínimo um absurdo que eu estivesse ali ouvindo todas aquelas baboseiras e ainda não sentisse vontade de bater em Josy como acontecia sempre. Me sentindo a vontade com a declaração de que Josy optaria por Alan... e não por Dean...

DEAN

Quando coloquei os pés na fraternidade naquela noite, meu corpo todo doía. Depois do grupo de estudos tivemos um resto de manhã na academia, malhando, puxando ferro, fazendo alongamento. Treino a tarde e finalmente aulas a noite.

Brendan ainda teve algum gás pra ir namorar. Alan praticamente se arrastava atrás de mim, Greg se jogou no sofá, no meio do caminho e ficou por lá. Nem duvido que acabe dormindo ali. Com ele não tem esse negócio de acomodação. Qualquer lugar serve quando está cansado.

Entrei no quarto, tirei a roupa, enfiei uma bermuda e fui direto para o banho antes que um dos outros pensasse nisso. Estava saindo parcialmente renovado quando cruzei com Brendan bocejando no corredor. Ele estava chegando.

— E aí... - falei batendo com a mão no ombro dele.

— Ai cara... não toca não, tá doendo até os meus pensamentos... - me encarou – Me diz uma coisa Dean...

— Fala... - mandei enquanto passava a toalha pelos cabelos.

— Por que eu não ouço o treinador e continuo malhando nos dias de folga?

Ri.

— Porque a gente quer aproveitar esse tempo livre e ficar livre.

Mesmo que depois padecesse com o pão que o diabo amassou. Sim, porque o treinador era alguma espécie de bruxou ou algo do gênero, pois sempre nos colocava para malhar pesado quando voltávamos de um feriado.

Ele deu sinal de que iria para o próprio quarto.

— Tudo tranquilo agora? - perguntou se voltando e me encarando.

— Sobre o quê? - me diz de desentendido.

— Penny?

— Tudo... - falei baixo.

Nunca mais seria como antes. Eu tinha consciência disso. Entretanto, Brendan não precisava saber.

— Ela deu uma mudada no visual. - ele comentou.

— Percebi.

Os olhos dele estavam curiosos.

— Será que foi por sua causa?

Essa estúpida ideia já tinha passado pela minha cabeça. Mas, também já tinha sido devidamente rechaçada. Pelo modo como a Penélope me trata, é óbvio que apenas atura a minha presença. Então. Não há razões pra mudar de visual por mim.

— Acho que não. - falei a verdade.

Ele balançou a cabeça e seguiu pelo corredor distraidamente.

— Seja pelo que for, ficou legal...

— É.

Confirmei sem demonstrar grande interesse. Se Brendan percebesse que eu estava levemente atraído por Penélope, ia querer me empurrar pra cima dela. Ele agora deu pra achar que todos nós devemos arrumar namoradas. E aos olhos do grandão, Penny é o tipo de garota que se encaixa bem no perfil de um relacionamento sério. Só que tem motivos contrários demais para que isso aconteça, tipo: Penny e eu somos muito diferentes. Ela me detesta. Acho que nunca vai superar o meu estúpido beijo. E se isso fosse pouco, eu não tenho tempo nem cabeça para uma namorada agora...

Entrei no meu quarto depois de esticar a toalha no varal da lavanderia. Me joguei na cama estendendo as pernas e colocando as mãos sob a cabeça. Lembrando do outro comentário feito por Brendan. Sobre a mudança de visual...

Uma mudança que se restringia a cabelos soltos, calças jeans, um suéter de cor esquisita. Me remexi incomodado. Eu sabia que havia mais do que aquilo debaixo de todo o tecido. Já não importava mais o que ela vestisse. A imagem na minha cabeça era da garota de camisetão, pés descalços e cabelos molhados. A coisa mais simples do mundo. Mas poucas mulheres parecem belas assim.

E, para mim, Penélope é uma delas...