Take me To Church

Capítulo Doze


Meu coração martelou dolorido dentro do peito.

Eu não gostava nenhum pouco de Nuray, mas não queria que ela fosse morta pela igreja. Ruzgar entrelaçou seus dedos nos meus.

— O que? Como assim? – Ruzgar perguntou horrorizado.

Meu pai limpou algumas lágrimas que caíam por seu rosto, vê-lo chorando despedaçava meu coração.

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— Ayvaz me disse que tentou convencer um nobre de que era mentira, e acabou conseguindo – Meu pai suspirou – Os nobres da igreja acabaram por acreditar, dizendo que vocês eram de bem e que nunca trairiam a igreja.

Olhei Ruzgar, que estava tão ou mais surpreso do que eu.

— Acho que irei conversar com Ayvaz – Ruzgar beijou minha testa – Depois volto, prometo.

— Ruzgar – Meu pai sussurrou – Sevilin e você terão que tomar cuidado de agora em diante, a igreja garantiu que ficará de olho em vocês.

Ruzgar suspirou, passando a mão por seus cabelos bagunçados.

— Prometo que iremos ser mais cuidadosos, senhor Alp – Ruzgar falou tão baixo que mal pude ouvir.

Aproximei-me de Ruzgar e o abracei, ele me apertou com ainda mais força.

— Eu te amo, Ruzgar – Sussurrei.

— Eu também te amo, Sevilin – Me deu um beijo rápido nos lábios – Aproveite o tempo com seu pai.

— Pode deixar – Sorri feito um bobo, vendo-o indo em direção a porta e saindo logo em seguida.

Olhei meu pai, que estava sentado na cadeira de madeira. Ele cobria o rosto com as mãos, e seus ombros balançavam levemente. Aproximei-me dele, e coloquei minha mão em seu ombro.

— Acalme-se, papai – Sussurrei – Eu estou aqui, está tudo bem.

Ele retirou a mão de seu rosto, e me olhou. Seus cabelos loiros estavam desarrumados, e seus olhos castanhos vermelhos e inchados pelo choro. Ele se levantou da cadeira, e me apertou em um abraço sufocante.

Ele estava chorando, eu podia sentir suas lágrimas quentes caindo em demasia sobre meus ombros.

É impressionante como os pais podem dar a vida pelos filhos, e a maioria dos filhos, não fazerem o mesmo por eles.

Quando chegou o entardecer queria sair, para encontrar-me com Ruzgar, mas papai não deixou.

Disse que era para eu esperar os boatos se acalmarem, pelo menos um pouco, e então, para voltar a antiga rotina de encontra-lo.

Apesar de minha vontade ser imensa de poder ver Ruzgar, não poderia desobedecer meu pai.

— Você deveria voltar a igreja, Sevilin – Papai exclamou quando estávamos jantando. Na verdade, meu pai comia seu jantar, eu apenas brincava com a comida. Não sentia a mínima vontade de comer e Kakavia não era meu prato preferido. Mas eu tinha que me esforçar para comer, papai não gostava que eu desperdiçasse comida.

— Por quê? – Perguntei franzindo a sobrancelha esquerda.

— Para que eles não desconfiem, filho – Ele suspirou – Eu sei que você não gosta, mas já faz um bom tempo que não vai.

— Mas eu não quero ir – Sussurrei – Eu estarei mentindo se eu for pra lá.

— Às vezes, é necessário mentir – Ele me olhou com seus olhos castanhos tristes – Tente ir, por mim pelo menos.

— Poderei chamar Ayvaz ou Ruzgar?

— Claro que sim! Isso poderá até dar a impressão de que são amigos e nada mais que isso.

— Amanhã irei à igreja – Falei tristemente – E chamarei Ayvaz e Ruzgar.

Meu pai nada respondeu, apenas deu um sorriso, mas não era um sorriso feliz. Forcei-me a terminar meu jantar e fui para meu quarto. Não estava com sono, mas sentia-me muito cansado.

Acabei pegando no sono logo em seguida, mas tive sonhos terríveis. Sonhos da qual Ruzgar e eu morríamos, e meu pai era apedrejado em frente de todas as pessoas do vilarejo. Acordei muito assustado e decidi ir para o quarto de meu pai.

A porta estava fechada, abri-a e me surpreendi ao vê-lo que ainda estava acordado.

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— Posso dormir com você essa noite, papai? – Perguntei. Quando eu era criança, e sentia falta da presença de mamãe ou não conseguia dormir a noite, eu acabava indo para o quarto de papai, ele sempre conseguia me fazer dormir, até mesmo quando eu não tinha sono algum e afugentava até mesmo o meu maior pesadelo. Mas com o tempo, descartei essa ideia, achando que já era adulto o suficiente e poderia muito bem dominar meus medos, minhas inseguranças e as saudades que eu carregava no peito. Mas a realidade é que, somos crianças em corpos de adultos! Ainda choramos, ainda procuramos sempre pelo apoio de nossos pais, ainda vamos deitar em nossa cama esperando que os problemas acabem e acima de tudo, sempre vamos sofrer, por mais que seja por mínimas coisas.

— Não está conseguindo dormir? – Ele perguntou.

— Eu até dormi, mas tive pesadelos – Dei de ombros.

— Venha, durma aqui então – Papai deu um sorriso gentil. Naquele momento, eu senti-me novamente uma criança.

— Obrigado, papai! – Agradeci deitando-me ao seu lado.

— Vai ficar tudo bem, meu menino! – Ele acariciou meus cabelos – Apenas feche os olhos e durma, que todo o mal irá desaparecer.

Adormeci com papai cantando uma canção que não pude identificar, e o melhor de tudo, tive sonhos tranquilos pelo resto da noite.

*|||*

Na manhã seguinte, fui acordado por meu pai, dizendo que iria para o comércio e que eu tinha que arrumar a casa antes de colher cevada.

Sentia-me extremamente cansado e atordoado. Eu não estava preparado para ter que encarar os olhares curiosos de todos do vilarejo, se dependesse de mim, eu ficaria dentro de minha casa, até tudo isso acabar.

— Sevilin? – A voz de Ayvaz despertou-me quando estava arrumando o quarto de papai – Cadê você?

Saí do quarto o mais rápido possível. Encontrando Ayvaz na cozinha.

— Oi, Ayvaz! – Sorri – Obrigado.

— Ué, pelo que? – Passou a mão pelos cabelos loiros.

— Por ter nos salvado! – Admiti.

— Não, eu só fiz o que qualquer melhor amigo faria – Ele sorriu, fazendo seus olhos azuis brilharem – Você e Ruzgar são os únicos amigos que tenho, não posso perdê-los.

— Mas ainda sim, serei eternamente grato – Sorri.

— Não precisam me agradecer! Só não quero que vocês me escondam o que realmente são – Ele crispou os lábios – Eu já sei que são praticantes do homossexualismo, sempre soube.

— C-Como?

— Eu também sou – Sorriu tristemente.

— O que? – Perguntei embasbacado.

— Sim, Sevilin – Ele olhou para o chão. Decidi olhar também, mas acho que Ayvaz estava revendo seus sentimentos e suas memórias – Eu era apaixonado por um garoto do vilarejo, desde a infância, e essa paixão perdura até hoje.

— Quem é? – Perguntei curioso.

— Lembra-se do garoto que Nuray dedurou para a igreja? – Perguntou.

— Aquele que fez sexo com a menina antes do casamento?

— Ele mesmo! Ele dizia que me amava. E era verdade, até o momento em que o pai o arranjou aquela garota – Suspirou – Foi a partir daí, que meu relacionamento com ele mudou drasticamente.

— Mudou como?

— Ele me procurava apenas para sexo – Sussurrou triste – Mas tudo bem, isso já passou.

— Você deve ter sofrido muito – Exclamei.

— Sim, mas está tudo bem agora – Ele sorriu, mas seus olhos ainda estavam tristes – Ruzgar ficou sabendo disso ontem.

— Eu lamento muito.

— Não se lamente, Sevilin! Ele ainda continua sendo minha paixão, mas não a última – Ele sorriu – Encontrarei novas paixões, você verá!

Sorri também.

Ficamos um tempo em silêncio.

Será que além de Ruzgar, Ayvaz e eu, teria mais algum praticante de homossexualismo em Constantinopla? Com certeza!

Naquele momento, uma fagulha de esperança se espalhou pelo meu peito, mostrando-me que eu não estava sozinho.