A ilha - Livro 2

Capítulo 01 - Perdida e acorrentada


PIETRA

Eu estava boiando ou era impressão minha¿ De início, achei que fosse um sonho, mas então abri meus olhos e eu estava submersa no oceano. Boiando entre algas. Eu podia ver uma corrente que estava presa minha cintura e subia sendo levada para a praia. Não me lembrava de muita coisa, e tentei forçar a minha mente. Fui ao baile, me afastei de Ivo, conversei com Wanessa...não me lembrava como havia acabado a conversa, não lembrava de nada desde então. Um pequeno desespero começou a tomar conta de mim, eu não fazia ideia de onde estava, de como fora parar alí e nem o porque de eu estar acorrentada. Então me dei conta: a cauda. Rapidamente pensei em minhas pernas e elas surgiram.

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Comecei a imaginar mil hipóteses. Provavelmente alguém havia derramado algum líquido em mim e a cauda apareceu. Com medo, me acorrentaram. Não. Mas eu não teria deixado a cauda aparecer. Eu com certeza teria pensado avidamente em pernas. Afinal, era pra isso que aquele colar servia: Proteger-me de uma situação assim.

O único som que eu ouvia, era o do mar. Estava de dia, tudo claro e provavelmente havia amanhecido a poucas horas. Estava extremamente desconfortável estar nua na agua em um lugar onde a qualquer instante alguém apareceria. Eu não podia fugir e nem sequer me trocar.

Depois de o que me pareceram horas alí tentando inutilmente tirar aquela corrente, ouvi um barulho. Alguém se aproximava conversando. Não dava ainda para entender exatamente o que falavam, mas estavam perto. Fiquei atenta à floresta, enquanto tentava ficar o mais fundo possível na água para esconder meu corpo nu, mas a corrente me deixava ficar apenas no raso.

—Mas não vamos mata-la, não é¿ - Era a voz do Igor

—Ainda não – Uma outra voz respondeu e então três homens armados saíram de dentro da floresta - Finalmente a pequena sereia acordou. – O homem gordo e velho falou rindo.

Igor me olhou rapidamente e começou a mexer em algo dentro de seus bolsos. Tive a impressão de que ele não mexia em nada especifico, apenas não queria me encarar. Tremi quando vi o terceiro homem, alto e magro me encarando como se eu fosse um objeto precioso.

— O que estão fazendo¿ - Perguntei com a voz trêmula – Porque estou acorrentada¿

—Como você fez para o seu rabo sumir¿ - O magricela perguntou se aproximando

Encolhi-me assustada, eu ainda estava nua e não queria que ninguém se aproximasse. Olhei assustada para Igor, ele iria mesmo deixar aquele sujeito encostar em mim¿

—Belas pernas – ele falou rindo e se aproximando para toca-las

—Não assuste a garota, Everton. – O velho gordo falou e se aproximou com uma manta grossa que me jogou – cubra-se , menina.

A manta estava dentro da agua boiando e eu a puxei rapidamente, cobrindo meu corpo e ficando de pé.

—Por favor, o que querem de mim¿ - Eu estava desesperada e segurando o choro

—Não interessam fique calada - O tal Everton voltou a falar – O que faremos com ela agora, chefe¿

—Não podemos mantê-la aqui – ele falou se sentando no chão com uma manga em uma mão e uma faca na outra. Encarou-me alguns segundos e continuou – Leve ela para algum lugar o fundo do mar e a acorrente. Ninguém a achará por lá. Vão!

—E se existirem outras¿ - Igor falou pela primeira vez – vão ajuda-la a escapar.

Então eles não sabiam ainda da existência de outras, ainda bem. Mas era questão de tempo até acharem-nas.

— Instale algumas daquelas minhas câmeras aonde você acorrenta-la.- o gordo virou para mim desta vez - Estaremos sempre de olho casso uma de suas amigas apareçam , e então teremos peixe pra dar e vender.

O gordo deu uma risada maquiavélica digna de um vilão de filme infantil enquanto os outros dois me encaravam sem muita expressão. Igor começou a andar em direção ao local aonde a minha corrente parecia estar presa e então a soltou, enrolando-a então em seu braço para não me deixar escapar, começou a me puxar como um animal.

Só então eu comecei a pensar a respeito dele. Igor. Enfim, ele era tudo o que eu não imaginava. Mesmo com minhas suspeitas, tinha no fundo a esperança de estar apenas sendo neurótica. Mas eu tinha que dar toda a razão as suspeita do Ivo. Dessa vez ele tinha razão. Igor não era confiável.

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Igor me puxava enquanto Everton vinha atrás de mim cantando algo sobre bicho papão, provavelmente querendo me assustar, porém a musica soava extremamente infantil. Eu queria falar com Igor, perguntar por que ele estava fazendo aquilo, perguntar qual intuito de tudo aquilo afinal, e saber porque ele traiu o que quer que nós tivéssemos juntos. Mas eu não conseguia começar uma conversa, muito menos com Everton por perto. Chegamos a uma canoa que estava na areia da praia esperando pela gente e então fui colocada dentro, enquanto Everton e Igor puxavam-na para a água entrando nela em seguida. Fiquei entre Igor e Everton, que continuava cantando musicas idiotas e sem sentido.

Lá na frente eu podia ver um barco bem maior para onde provavelmente estávamos indo. Aos poucos nos aproximamos e eu continuava no mais absoluto silencio, enquanto Igor não olhava para mim uma vez sequer. Meus olhos começaram a lacrimejar novamente. Iriam me matar¿ Provavelmente me vender. Seja lá o que fossem fazer, não seria uma coisa boa. Disso eu tinha certeza.

Assim que entramos no barco, um jovem louro apareceu com uma caixa de ferramentas e todo molhado, vindo na direção de Igor.

— O chefe já ligou para a gente, acabamos de preparar o terreno – ele me olhou sorridente é ela¿

—Não se aproxime, Ivan. – Igor falou segurando o garfo que parecia querer me tocar como se eu fosse um animal. – Apenas faça o que o chefe pediu.

—Legal! – ele continuava me encarando todo feliz.- Você faz magia¿

O encarei confusa e ofendida. O que ele achava que eu era¿

—Não! – falei séria – Eu não sei nem porque estou aqui.

—Porque você é uma sereia, ué – ele falo animado – você deve valer milhões...

—Ivan!! Chega! - Igor gritou – Vá para lá. – Ele apontou pra um canto o barco e o garoto foi de cara feia me dando um tchauzinho antes de sumir de vista. – Everton, vista seu traje e venha tomar conta dela para que eu possa me vestir também.

—Até mais, senhorita – Everton fez uma reverencia ridícula e sumiu de vista.

Agora estávamos apenas eu e Igor. Eu estava nervosa, trêmula e com medo, mas eu precisava falar algo. Precisava que ele me soltasse. Precisava mais do que nunca, tocar o coração dele.

—Igor...

—Não fale comigo.

A resposta dele foi tão imediata que parecia já estar esperando que eu fosse falar algo e inclusive parecia já ter inclusive ensaiado a sua curta resposta.

—Por favor... – tentei continuar

—Mandei calar a boca.

Ele seque olhava pra mim. Agarrou a corrente com mais força e continuou olhando o mar. Comecei a me aproxima devagar dele e então toquei suas costas com uma das mãos. Eu não sabia exatamente o que falar, mas ele não se afastar, era um bom sinal.

—Porque você está fazendo isso comigo¿

Ele continuava calado, continuava olhando o mar, mas sua respiração estava mais acelerada.

—Igor...o que eu te fiz?

Em fração de segundos, ele se virou bruscamente e me empurrou com ferocidade em uma das paredes do barco, ficando tão próximo que eu podia sentir sua respiração se misturando a minha. Ele tocou meus lábios com os seus. Não beijou, apenas ficou assim, e eu não sabia o que deveria fazer. Mas mesmo que tivesse me decidido, não daria tempo de nada, de repente ouvimos a voz de Everton cantando alguma outra musica idiota, e então ele me afastou bruscamente, me jogando no chão.

—Tome conta dela enquanto me troco – ele falou para Everton que já estava vestido em trajes de mergulho, e desapareceu por uma porta.