Escureceu depressa, todos do grupo já ansiosos e preocupados com as notícias que corriam num mundo que parecia tão distante daquela pequena cidade em que eles se encontravam atualmente. Enquanto o peixe assava, cada um estava mergulhado em seus próprios pensamentos. Quando a refeição estava pronta, comeram em silêncio, Sara agradecendo mentalmente por terem alimentos mesmo quando todo o planeta ao redor deles era tomado pelos mortos-vivos, caos e destruição.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

— Vou pegar o rádio. – Iara disse no final do jantar, andando com passos largos para dentro de casa.

Ela não demorou a voltar e juntar-se ao seu grupo de amigos. Eles formavam agora um círculo, e o rádio estava bem no centro de todos eles.

Era a primeira vez que Sara iria ouvir novidades sobre o mundo desde que o apocalipse zumbi tinha começado. Claro que Iara contara algumas poucas coisas para ela algum tempo atrás, mas depois do zunami ninguém sabia de mais nada.

Iara ligou o aparelho e mexeu em alguns botões. O rádio fazia um chiado esquisito e tinha muita estática. A mulher, no entanto, não desistiu. Notando o olhar angustiado de Sara, ela disse:

— Demora assim mesmo, não se preocupe. Vai funcionar.

Depois de longos minutos, as primeiras vozes que escutaram eram num idioma bem diferente do deles.

— É japonês. – Mike disse. As vozes vociferavam rápido, e eram 2 ou 3 pessoas falando ao mesmo tempo – Parecem estar bravos com alguma coisa.

Sem conseguirem entender nada, Iara continuou mudando de frequência. De repente, surgiu um idioma em que eles conseguiram entender algumas palavras:

— E-Ellos vienen a acá (...) Los monstruo-. (...) Ayud-da!

A frequência estava baixa e o rádio cortou algumas letras, porém a mensagem era clara.

— Devem ser pessoas da América Central... – Tom começou.

— Mas é claro. – Sara interveio – É onde mais faz calor... O centro do continente.

— Os zumbis estão todos indo para onde é mais quente. Coitadas dessas pessoas... – Iara murmurou, enquanto sua face era tomada por uma preocupação genuína – Espero que consigam fugir rápido para um lugar mais frio, e que fujam logo.

— O zunami ainda deve estar passando pelo nosso país... – Mike comentou – Continue, por favor, passando os canais, Iara.

A mulher mexeu novamente nos botões e todos aguardaram. Ouviram mais vozes de outras nacionalidades, porém nenhuma da deles ainda.

— Cadê esse pessoal... – Iara disse baixinho, ficando cada vez mais impaciente.

Sem mais nem menos, ela sintonizou numa frequência em que todos ouviram claramente:

— Eles passaram por aqui.— uma voz feminina chorava com todas as suas forças – Só eu sobrevivi. Por favor, mais alguém em Bandeirantes?

Sem explicação, a frequência foi subitamente cortada.

Iara voltou a mudar os canais. Agora ela estava ainda mais atenta. Foi mudando com muito cuidado, esperando encontrar mais algumas palavras de sobreviventes do seu país.

— Estão jogando bombas em São Paulo! O exército de caminhantes mortos está aqui!— uma voz estridente gritou de repente pelo rádio. Um instante depois, ouviram um barulho estrondoso de explosão ao fundo e o sinal foi cortado.

Continuaram concentrados nos próximos canais:

O Rio já caiu! Fujam para o interior do país, para as montanhas e lugares frios.

— Eles são fracos no frio.

— Aqueles desgraçados congelam na neve (...).

— Mayday, mayday. Estamos seguindo para Minas Gerais, para Monte Verde. A cidade neva no inverno... Mas enquanto não neva, nosso grupo vive em casas no topo das árvores. Os zumbis não conseguem nos caçar assim. Sugiro que façam o mesmo. Espero que todos sobrevivam. Nosso grupo ainda não viu a horda de zumbis. Espero que cheguemos na cidade antes deles surgirem em nosso caminho. Câmbio e desligo.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

Ouviram diversas transmissões, todas durando até no máximo dois minutos.

Diversas pessoas corriam enquanto enviavam sua transmissão, outras choravam e ainda havia aqueles que tinham vivos na voz a esperança de que a humanidade sobreviveria a tudo aquilo. O que intrigou Sara foi que não houve uma transmissão sequer citando Deus ou qualquer outra divindade. Não apareceu nenhum sobrevivente dizendo que os zumbis eram uma prova de Deus, ou de que o Todo Poderoso estava castigando a humanidade, trazendo os mortos de volta à vida. A mensagem, basicamente, que cada sobrevivente tentou passar foi: “Estamos vivos, mas fugindo dos zumbis. Corram e sobrevivam, não se deixem serem pegos por eles.”

Enquanto Sara divagava, Mike, no entanto, parecia ter outras coisas em mente:

— Não disseram nada sobre helicópteros pretos ou novas mensagens sobre a Cura...

— Será que estão ambos interligados? – Tom perguntou.

— Espero que os médicos que estejam tratando da cura não tenham sido pegos pelo zunami. – Iara disse – O futuro de todos nós depende dessa vacina.

O grupo ficou em silêncio.

Alguma coisa naquilo tudo estava atormentando Sara. Ela, então, decidiu expor seus pensamentos para o restante do grupo:

— E se vocês estiverem enganados? E se alguém estiver mentindo para todos nós?

A mulher esperou alguém do grupo se pronunciar, porém todos eles olharam céticos para Sara e não pronunciaram uma palavra sequer. Então, ela continuou:

— E se essa cura for uma mentira?

Iara, Tom e Mike se entreolharam. Eles claramente não tinham pensado nessa possibilidade.