Era quase seis da manhã, quando Shino ouviu arranhões na porta que dava para a pequena sacada de seu apartamento. Levantou sem muito ânimo, pegou os óculos em cima da mesa ao lado da cama, e caminhou devagar até lá. Puxou um pedaço da enorme cortina escura que cobria o vidro. Levou um susto ao ver Akamaru arranhando o batente de metal. Ainda sem entender bem o que estava acontecendo, abriu a porta para que o animal entrasse, mas, Akamaru, permaneceu parado ali mesmo, latindo para Shino.

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Shino saiu pela porta e deu de cara com Kiba, ainda roncando, encostado bem no canto da sacada. O amigo dormia encolhido com um sorriso idiota no rosto. Parecia que nem todos esses anos, foram o suficiente para amadurecer as atitudes infantis de Kiba.

— Oe, Kiba. - Shino usou um tom de voz pouco mais elevado que o habitual, mas, nada de Kiba acordar. O rapaz coçou o nariz e continuou a dormir. – KIBA!

Mesmo gritando, o máximo que Shino conseguiu, foi fazer o amigo abrir uma mínima fresta em um dos olhos, para, logo a seguir, fechá-lo de novo.

— Bom, acho que vou lá dentro então… tomar um banho.

— Ba… baaaanho? - Kiba abriu os olhos de uma vez, bocejando – Vou também.

Kiba sempre caia nessa. Toda vez que Kiba virava a cara e insistia em ignorar Shino, isso sempre funcionava. Shino nunca soube dizer o por que dessa obsessão do amigo em tomar banho junto, mas, acreditava ser tipo aquele lance das garotas irem no banheiro em duplas; nada demais.

Shino balançou a cabeça desistindo de ter que lidar com aquela criatura logo cedo. Entrou de volta no quarto dando espaço para Kiba passar também. Deixou a porta aberta por um tempo, esperando Akamaru, mas, o cachorro balançou o rabo feliz e se contentou em ficar deitado ali fora mesmo. Shino fechou a porta satisfeito. Era incrível como até um cachorro podia ter mais educação e bom senso que Kiba.

Falando em bom senso, não foi novidade alguma dar de cara com Kiba já terminando de tirar a última peça de roupa ainda ali mesmo no quarto, com aquela cara de sono. Viu o amigo entrar no banheiro e logo escutou o barulho do chuveiro sendo ligado, já esperando o outro começar a gritar.

— OE, PORRA SHINO! QUE ÁGUA GELADA É ESSA?

— É para ver se você acorda e percebe que não está na sua casa. - Shino revirou os olhos. – Eu não uso a água muito quente, eu passo mal; meus insetos morreriam desse jeito.

— Né, eu sei que não to na minha casa. Pelo menos lá água é quentinha. E do que você tá reclamando, não ia me ajudar a me arrumar hoje para o casamento?

Era verdade. Shino se comprometeu com Tsume a ajudar Kiba com a vestimenta e os últimos ajustes.

— Sim, e eu vou. Mas tipo, o seu casamento é lá pela hora do almoço. Nem amanheceu direito ainda, você que chegou cedo.

— Eu não cheguei cedo; eu dormi aqui.

— Quê? - aquilo pegou Shino de surpresa.

— Eu disse que não queria dormir em casa.

— E porque ficou lá fora? Por que não me chamou ontem à noite?

— Ah, porque eu não queria parecer um lunático e fazer você pensar que eu sou inconveniente.

— Ah. - Shino percebeu que não valia a pena discutir aquilo.

— Shino... - Kiba apareceu na borda do box do banheiro. – Você não vai tomar banho?

— Sim… - foi inevitável que Shino corasse um pouco, vendo quase metade do corpo de Kiba, para fora. – … depois que você sair

— Ah? Mas a gente não costumava fazer isso junto?

— Sim. Quando tínhamos uns dez anos por ai.

— É? E o que mudou?

Shino sentiu o peito arder. Muita coisa havia mudado. Certamente que duas crianças caberiam com folga ali dentro, mas, dois homens adultos, era outra história. Mas, o tamanho dos corpos, era um problema pequeno se considerasse que não só o físico se transformou com o tempo, mas também os sentimentos; pelo menos os de Shino. Mesmo que já tivesse superado a partida de Kiba para morar com Tamaki, e se conformado com o casamento do amigo, Shino não conseguia prever até quando suportaria tudo calado. Sentia que a dor de perder Kiba, um pouco mais a cada dia, estava prestes a matá-lo.

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— Não faça isso, Shino. - a voz de Kiba expressava tristeza. – Vai ser a nossa última vez, vai; eu prome...

— Não prometa. - Shino quase se descontrolou. – Não precisa prometer nada.

Shino removeu o moletom que usava e retirou os óculos. Entrou no box sem olhar para Kiba.

— Oe, tá bem apertado aqui.

— Eu disse, nós tínhamos uns dez anos.

— Verdade. Né, Shino… como você cresceu, aliás, eu tava mesmo pensando nisso ontem, sabe.

— Ah, agora entendi. Por isso aquela vontade lá de dormir comigo.

— Oe, eu já disse para parar com isso. Tá… tá me estranhando é? - Shino notou a gagueira de Kiba.

— Não! Você tá?

— Um pouco, né.

Mais uma vez o silêncio se fez presente entre os dois. O barulho da água foi o único som durante um bom tempo, até Kiba se sentir desconfortável de novo.

— Né Shino, eu nunca entendi por que você escolheu ficar sozinho.

— Eu não escolhi. - Shino passou as mãos pelo rosto encharcado de água. Agradeceu mentalmente por ainda ser apenas a água morna do chuveiro, pingando em seu rosto. – Você escolheu.

— Eu? Eu escolhi o que? - Kiba ficou confuso com aquilo.

— A Tamaki.

— Ah, mas eu não estava falando de mim.

Shino desligou o chuveiro e se virou para Kiba. A ainda escorria bastante água pelo rosto do melhor amigo, deixando Kiba apreensivo.

— Oe, Shino, seus olhos estão vermelhos. Kiba tentou limpar o rosto do amigo, que o impediu. – De… deve ser a água quente, né?

— Sim, me desculpe por isso, Kiba! Tem acontecido muito ultimamente.

Shino limpou os olhos e saiu estendendo uma toalha para Kiba. Viu que o amigo havia ficado bem abalado. Talvez, Kiba tivesse pego algo daquela situação. Shino pegou outra toalha e foi secar os cabelos do garoto. Hoje seria um dia especial para Kiba, e Shino não queria estragar esse momento com coisas que o amigo, talvez, não soubesse lidar.