Consolação

Consolação


Peter sentiu-se quente de raiva quando o suspiro exasperado de Lily ecoou pela sala de aula. Os ombros de James caíram um pouco, porque Lily estava dizendo não novamente, mas o sorriso dele não esmoreceu, e era fácil entender a razão. Lily estava dizendo não, mas havia uma quentura na voz dela que não existia lá antes.

Pela forma como Remus revirou os olhos e Sirius balançou a cabeça, Peter podia dizer que nenhum dos dois tinha percebido essas mudanças, mas Peter sabia, ele tinha prestado mais atenção do que qualquer um. Lily estava ficando menos afiada — dizer não para James se convertera em um jogo, em vez de ser uma questão de princípios.

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James tomou fôlego, passando os dedos pelo cabelo num gesto que se tornara cada vez mais natural e menos prepotente com o tempo.

— Vamos, Evans! Uma cerveja amanteigada, eu prometo ser cavalheiro! — James insistiu, algumas gotas de desespero escapando através da sua voz, como se ele também soubesse que estava mais perto do que nunca de finalmente conseguir o que queria.

Diante da promessa, Lily levantou o olhar. Do ponto de vista de Peter, levou uma centena de séculos até ela balançar a cabeça em negação.

— Sinto muito, James, mas ainda é não.

Dessa vez, o sorriso de James cedeu.

Aquele conjunto, o desespero de James, que era bom demais para se desesperar por qualquer um, e a hesitação de Lily em dispensar o convite, fez a irritação de Peter — sempre contida, porque, afinal, que direito ele tinha de se irritar? — ferver sob a pele.

Ele não teve consciência de estar falando até ouvir a própria voz soar.

— Quem você conhece que é melhor que o James, para dizer sempre não e não? O Snivellus? — fazia meses que ninguém chamava Snape de Snivellus, desde que Remus quase o matara durante uma lua cheia. Não sabia se ainda era permitido chamá-lo daquele jeito, mas o nome escapou mesmo assim. — Você está sendo estúpida!

O silêncio que se seguiu foi doloroso. Sirius e Remus pareciam congelados. Lily, por sua vez, apenas o mirou com os olhos arregalados, sem nem mesmo parecer ofendida, apenas chocada. Peter não se atreveu a virar e encarar James.

Deu às costas a todos e saiu da sala o mais rápido que conseguiu, antes que o silêncio passasse e o mundo desabasse sobre ele.

.

O Mapa do Maroto estava com Sirius, então não adiantava se esconder — Peter tinha feito um bom trabalho se esquivando por cada canto daquele castelo para mapeá-lo. Apenas se aninhou na própria cama, fechou as cortinas e fingiu não existir.

Ele gritara com Lily Evans. Dissera que ela era estúpida. Na frente de James. Uma onda de desespero subiu por sua garganta, tão espessa e escura que Peter quase não conseguiu respirar através dela.

Ele era o estúpido. Morria de medo do dia que Lily aceitasse James — pois então o ciclo se fecharia, Sirius e Remus, James e Lily, e ele estaria de fora, sempre de fora —, mas o pensamento de James sofrendo por ela também era insuportável, e apenas esperar até o momento que Lily cedesse e ele fosse colocado definitivamente de lado ainda pior. Céus, queria que James tivesse tudo aquilo que desejava, e queria ter James, e queria ser James...

Sua agonia mortificada foi interrompida pelo barulho de passos. Achou que seria Remus a procurá-lo, porém, em vez disso, era a silhueta de James além das cortinas do dossel.

— Peter? Você está bem?

A voz de James era suave como sempre, mas toda resposta que Peter conseguiu dar foi um guincho assustado. Procurou em sua mente algum feitiço que o fizesse desaparecer, todavia não encontrou nada. Remus saberia; era Remus quem deveria ter ido atrás dele...

— Posso entrar? — James perguntou, em seguida esperou cinco respirações, dando tempo para que ele fizesse algum movimento de recusa, antes de afastar o dossel.

Peter encolheu-se mais contra si mesmo, porém James ignorou deliberadamente esse fato, arrastando-se para cima da cama até sentar ao seu lado.

— Lily não está brava — ele informou, como se Peter se importasse.

Os braços de James estavam colados aos seus, e Peter podia sentir quando ele respirava. Lançou um olhar de esguelha para o outro.

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— E você?

— Não. Eu sei que você ficou irritado por mim, quis me proteger. Mas eu juro, vou sobreviver se Lily nunca quiser sair comigo. Só é divertido insistir enquanto ela realmente não me estupora por causa disso — James falou com um ligeiro sorriso, soando mais sincero do que quando falava com Sirius sobre a extensão da sua paixão por Lily.

O fato fez Peter se sentir especial, e uma quentura prazerosa brotou em seu peito, dividindo espaço com o nervosismo.

— Você poderia ter qualquer pessoa, James, alguém que gostasse de você mais do que ela, sabe disso... Eu... — Peter gaguejou, as palavras morrendo em sua língua enquanto o sangue fluía para suas faces, tornando-as tão vermelhas quanto o cabelo de Lily Evans. James o encarou como se entendesse, de qualquer forma.

— Eu sei — ele declarou com um suspiro, e então a mão dele estava sobre a sua. — Peter — James disse, e seu nome na voz dele soou ao mesmo tempo como uma desculpa e um pedido.

Pela primeira vez até ali, Peter se voltou completamente para ele. Os dedos de James escorregaram para o seu rosto, e Peter se sentiu aterrorizado e emocionado. Ele poderia ter se afastado, mas a ideia de se afastar de James era absurda; e, céus, no fundo Peter ansiava por aquilo mais do que tudo no mundo.

Quando James o beijou foi gentil e cálido, e muito melhor do que se atrevera a imaginar. Peter tentou segurar esse sentimento, não pensar que James estava fazendo aquilo apenas porque ele precisava, uma espécie de conforto e agradecimento. Ohh, doce, porém não muito além de uma consolação.

Ainda assim, tinha que existir carinho ali, não apenas piedade — disse a si mesmo, mas no fim essa foi apenas mais uma dentre tantas outras mentiras que contaria.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.