Denso Como Sangue

O Anel de Prata


6 de Agosto, Ethan é definitivamente maluco...

Ethan estava sentado na arquibancada do campo com algo em mãos e o notebook do lado dele, parecia muito interessado no objeto em suas mãos e quase não percebeu minha presença.

—O que é tão importante pra me chamar aqui. - digo me sentando ao lado dele e ele me mostra o anel que não deixei ele mexer hoje cedo - Você mexeu nas minhas coisas?

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—Eu só fiquei curioso pra saber de onde veio esse anel, e como você não ia me contar eu resolvi sondar a história. - disse alisando o metal - Eu não entendo por que não me deixa tocar.

—Acha que eu roubei isso? - pergunto irritado o encarando pelo canto dos olhos - Tá me sondando?

—Não, Kenneth, eu só quero saber por que você tem um anel feito por encomenda de uma joalheria de Los Angeles. - disse e suspiro derrotado.

—É da minha mãe. - respondo e ele me entrega de volta.

—Quem é "Elliot"? - perguntou encarando o vazio e se apoiando nas coxas - O nome "Elliot" tá gravado no anel.

—É o Senhor Cromossomo Y. - digo e ele me encara com uma expressão de confusão - Meu pai.

—Ah. - disse cobrindo os lábios - Por que chama ele assim?

—Eu não o conheço... A única coisa que sei é o nome e que ele abandonou a minha mãe. - explico - A única coisa boa que ele me deu até hoje foi a porra do cromossomo Y.

—Entendi. - disse dando um sorriso engraçado - Mas se você não gosta dele, por que guarda esse anel?

—Minha mãe me deu antes de eu vir pra cá, quando estava no hospital. - digo - Ela disse que era a única coisa que ainda guardava dele, o anel de prata que ele deu pra ela. - conto imitando sua postura.

—Você ainda tem esperança de que vai encontrá-lo? - perguntou e neguei com a cabeça.

—É um lembrete de porquê eu vim pra esse lugar: se ele não tivesse nos abandonado, seria tudo diferente agora.

Ethan concorda com a cabeça levemente e começo a sentir meu crânio latejar.

—Você está bem? - perguntou me apoiando.

—É só uma enxaqueca, coisas demais aconteceram hoje. - digo indo em direção ao meu quarto.

[...]

Cheguei no quarto me arrastando de dor, coloquei a cabeça dentro da pia e liguei... A sensação era de que meu cérebro estava se liquefazendo. A dor era tanta que encharquei meus cabelos e ainda sim, sentia tudo latejar... Talvez fosse a minha irritação com o Ethan, talvez o galo que ainda estava inchado, ou até mesmo ambas as coisas estavam me causando dor. Gemi baixinho me apoiando à pia e Ethan entrou no banheiro, o que me deixou ainda mais desconfortável.

—Tá tudo bem? - ele segurou meus ombros e neguei com um murmuro - O que posso fazer pra te ajudar? - disse massageando o topo de minha cabeça.

—Deve ter algum remédio pra dor por aqui. - gemi de dor e me arrastei até a cama, Ethan começou a procurar algo no armário do banheiro e depois separou uma muda de roupa.

—Toma, vai se sentir melhor. - disse me entregando uma aspirina e um copo de água - Você não dormiu bem e levou um soco, essas coisas só te deixaram pior. - disse Ethan examinando minha testa, logo me puxando para mais perto e me examinando melhor à luz da única janela do quarto - Faz quanto tempo que não dorme direto? Você está com olheiras enormes.

—Alguns dias, desde que avisaram que eu ia ter um colega de quarto. - admito e ele suspira.

—Você precisa descansar um pouco. - disse me ajudando a subir na cama de cima - Vai ficar aí e não vai mover um músculo. - falou o loiro de forma autoritária.

Ele me cobriu com o cobertor e massageou minhas têmporas, era relaxante, senti meus olhos pesando, a cabeça já não pesava uma tonelada, eu era capaz de dormir ali mesmo, mas era algo muito estranho o tratamento paternal de Ethan comigo. Às vezes eu acho que ele sente algo por mim e isso me dá medo, mas ao mesmo tempo que penso nisso, penso também que ele me vê como uma criança... um irmãozinho.

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—Sabe, geralmente dores de cabeça são causadas por grande quantidade de cafeína e estresse. - começou ele - Você bebe café demais, eu já percebi isso, e também você se estressa demais comigo e com... - tampei sua boca para que ele parasse de falar antes que a dor voltasse, ele riu e tirou a mão.

—Fica quieto, por favor... - imploro com uma cara de "para de bancar minha mãe" e ele continua com o que estava fazendo antes.

Era como se às vezes Ethan ouvisse o que eu penso, sentei na cama e puxei lentamente os cabelos molhados, ainda sentindo meu corpo e cabeça pesarem, Ethan pegou uma toalha e secou meu cabelo para que eu não pegasse um resfriado. Logo me deitando outra vez, eu me sentia cansado...

[...]

7 de Agosto, eu não posso ficar doente...

Mesmo com todos os esforços de nós dois, eu sentia o corpo inteiro clamando por misericórdia depois do dia anterior, os hematomas da briga com Gregory ainda doíam e eu sentia que estava ficando doente, o que não era novidade para mim, todo outono era a mesma coisa.

—Melhorou? - perguntou Ethan se vestindo, mas não estava gritando coisas do tipo: você vai se atrasar; só vou chamar mais uma vez; vou te jogar outro balde de água se não levantar; - Você passou a noite inteira choramingando de dor.

Concordei com a cabeça olhando o relógio.

—Eu tô muito atrasado? - pergunto e ele nega com a cabeça, não conseguia enxergar as horas.

—São cinco e meia, tô indo pegar o café, você vem? - fitei a janela e logo voltei a me esconder nos cobertores.

—Eu vou ficar mais um pouco. - digo abafado pelo cobertor e Ethan se aproxima - Achei que era meu despertador. - disse debochado.

_Não quis te acordar hoje, você estava muito abatido. - concordei com a cabeça e me remexi na cama, absorvendo as informações - Você está pálido, bem pálido, vou te levar pra enfermaria. - resmunguei em protesto.

—Nem arrastado... - digo e ele revirou os olhos me pondo no ombro - Ei! Não sou um saco de batatas! Me solta!

—Você vai na enfermaria por bem ou por mal. - disse saindo comigo no ombro, me debatia inutilmente tentando me soltar, vi Olívia ao longe rindo com a cena e formei com a boca "me ajuda", recebando um "não" como resposta, bufei indignado.

Ethan foi me carregando e suspirei derrotado, logo me sentou em uma cadeira qualquer e eu olhei em volta ainda meio tonto pelo esforço de me debater, uma figura loira e de roupas punk me encarava com um sorriso cínico escorada no batente da porta, Olívia tinha me seguido.

—Você não toma jeito, né? - disse ela.

Dei de ombros e massageei a cabeça, pondo entre os joelhos.

—Eu vi você se debatendo no ombro do grandão ali. - disse tirando uma mecha de cabelo do meu rosto - Esse é o Ethan? - concordo com a cabeça.

Ollie tinha seu próprio jeito de ver as coisas, seu jeito de ser um tanto quanto peculiar e cínico comparado ao das outras garotas que tentavam se encaixar de alguma forma em algum padrão, ela não ligava para nada disso, ela própria dizia "eu sou uma vadia sim, e tô pouco me fodendo se elas dizem isso, a vida é minha". Ela tinha um jeito único, o jeito "olivesco" de ser e isso fez com que aos poucos eu desenvolvesse uma paixonite por ela, paixonite essa que não imaginei que pudesse evoluir para uma amizade ou algo do tipo.

—Vamos, seu molenga, a enfermeira vai te atender. - disse e me apoiei em ambos - Quem é essa? Sua namorada? - disse rindo, comecei a corar violentamente...

—Olívia Kaplan Potts. - disse ainda escorada no batente - Amiga desse magricela inútil. - disse rindo.

[...]

E como eu esperava, os resultados não eram nada bons.

—Parece que é só um resfriado, mas você, mocinho, precisa cuidar direito dessa alimentação, sua imunidade não está nada boa. - disse e eu bufei.

—Era só o que faltava. - rosno em protesto.

—Nem adianta protestar, gemer, grunhir, roncar, rosnar ou latir, você sabe o que isso quer dizer... - disse Ethan.

Neguei com a cabeça e arregalei os olhos, não, tudo menos isso, por favor...

—Vai ter que tomar remédios. - resmunguei alto - Eu disse pra não resmungar, você sabe que está doente, e vamos cortar as pizzas, salgadinhos, batatinhas... - quando ele começou a falar a lista de todas as coisas que eu gosto, desci da maca e me dirigi ao corredor, fiquei de frente para a parede e choquei a cabeça nela cogitando a hipótese de matar Ethan de uma forma lenta e cruel.

—Eu odeio você. - digo e ele vira os olhos.

—Vamos, garotão. - disse Ollie me arrastando e me segurei na parede, eu sei que é infantil da minha parte, mas se tem uma coisa que eu odeio são remédios e pessoas na minha volta cuidando de mim - Você é um bebezão, Kenny. - disse rindo cínico.