Clichês

Tão Emily Brontë


Acontece que aquela cena foi causada por uma temida sigla: TPM. É claro que foi só o começo um longo período de chocolates, reflexões, emocional aflorado e mudanças de humor repentinas.

Para começar não havia chocolate na casa, então tive que violentar Fred para que ele fosse buscar chocolate. Foi o Fred, porque James não estava em casa.

Depois já com os chocolates, houve longas reflexões sobre eu estar me apaixonando, ou não, pelo meu melhor amigo. Na verdade, 90% dessa reflexão se focou em como James definitivamente era o meu melhor parceiro sexual e em como ele tinha um sorriso lindo.

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Acabei me cansando de pensar essas asneiras e fui assistir “A origem dos guardiões”¹ o que causou outra crise de choro.

Para fechar com chave de ouro eu fui de carinhosa à agressiva e grossa e neurótica em menos de um minuto com James.

O diálogo foi tão ridículo que nem vale relembrá-lo.

Mas é isso o que acontece quando você bebe demais

e ao invés de contar veias do braço,

você dorme com o seu primo:

a vida fica um regaço.

Estávamos tomando café da manhã na cozinha e eu tentava provar para James que ele era um babaca.

— É claro que unicórnio são melhores do que cavalos alados!

— Por quê? O que eles podem fazer?

— Eles urinam arco-íris!

— Grande merda.

— Você urina arco-íris?

— Claro. Quem nunca?

Encarei-o irritada.

— Babaca.

— Pelo menos eu urino arco-íris e você não.

Fred abaixou lentamente sua caneca de café enquanto nos encarava.

— Vocês são ridículos.

— Está falando com o espelho, anjo? - Retruquei.

Ele sorriu.

— Virei anjo agora?

— Até Lúcifer era um, não é mesmo.

— Cuidado ou ele vai achar que isso é um elogio - James disse.

— Espera, não era?

Revirei os olhos e bebi meu chá.

— Cadê as garotas rotineiras, James? Seu feitiço não está mais funcionando?

Bebi mais chá. Aquela pergunta estava demorando.

— Feitiço? É assim que você chama o charme natural?

Eu ri.

— Não seja tão leonino, James. Não lhe cai bem - Menti. Na verdade, lhe caia extremamente bem.

— As garotas não reclamam.

— E quando vamos conhecer o seu... crush, Rose? - Perguntou Fred.

Crush? Sério, Fred?

— Qual palavra você usaria?

— Nenhuma. Não sou fã de rótulos.

— Quando vai nos apresentá-lo?

— Quando você nos apresentar com quem você está saindo - Devolvi.

Ele sorriu.

— Isso não vai acontecer.

— Por quê?

— Não posso contar.

— Por que não?

— Porque esse lance é meio... Proibido.

— Você não está transando com a Roxanne, está?

— Claro que não!

— Eu só perguntei - Eu dei de ombros - Não vamos julgar.

— Exato. Eu até acharia excitante – Comentou James.

Fred franziu o cenho.

— Descobrimos quem é o Lúcifer entre nós.

Eu ri.

— Pobre James. Ele não tem culpa por ser um pervertido - Eu dei alguns tapinhas em seu braço.

— Como eu disse antes, as garotas não reclamam.

— Esse é esse slogan? - Zombou Fred.

— Com toda a certeza. Estou pensando até em fazer cartões de visita.

— Certo. Vou cair fora antes que ele pense em fazer um portfólio.

— Você vai sair? - Perguntou Fred.

— Não. Vou me trancar no quarto e tentar não me matar enquanto faço um trabalho da faculdade.

— É fazer trabalho e não ver pornô, hein.

— Fred, eu não sou você.

— Uma pena.

Dei um leve tapa em seu braço quando passei por ele.

— Esses tapas de amor não me machucam!

— É uma pena - Eu gritei por sobre os ombros.

Mais tarde, James foi me procurar.

— Já terminou o seu trabalho?

— Quase. Mas posso terminá-lo depois.

Ele se sentou na cama.

— Quero aprender a dançar minueto, James.

— O que é isso?

— Uma dança. Anterior à valsa.

— E você quer aprender isso por quê...?

— Porque eu quero. É cultura.

— Ninguém dança isso mais. Vai ser como aprender latim. Inútil.

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— Não diga isso perto de alguém que saiba latim.

— Não vai ser difícil já que eu não conheço ninguém que fale latim.

Silêncio. Ele se deitou na cama. Coloquei o notebook na mesa e me deitei também.

— Nós estamos lidando bem com isso, não é? - Ele perguntou.

— Com isso?

— Nós - Ele fez um gesto com a mão para englobar nós e todo o resto.

Não, não estamos. Ou sim. Não faço a mínima ideia.

— Claro. Acho que sim. Você não acha?

Ele ficou alguns segundos em silêncio.

— Acho que sim.

— Agora desfaça essa expressão Emily Brontë² ou vou te enxotar daqui.

— Serei obrigado a dar um de Philip Roth³ e...

— Não ganhar o Nobel?

Ele revirou os olhos.

— Isso também. Mas eu estava pensando na putaria.

Senti meus olhos brilharem.

— Falando em putaria, encontrei um livro maravilhoso sobre o assunto...

— Não era disso que estava falando também. Eu estava pensando em algo mais prático.

— Foda-se - Eu disse, levantei para pegar o tal livro e comecei a discursar sobre ele.

Fred bateu na porta no meu quarto.

— Se arrumem. Vamos sair às 20hr.

James e eu trocamos um olhar angustiado. Estávamos assistindo Dexter, e eu, particularmente, preferia ficar com um serial killer do que com vários jovens numa boate qualquer.

— Temos que ir?

— Se você não quiser ouvir as lamentações de Albus, temo que sim.

— Albus vai ir? - Perguntei mais animada.

— Sim.

— Vamos levantar o rabo da cama então ou vamos nos atrasar - Eu logo levantei e fechei o notebook.

— Tudo isso é pelo Albus? - Ele ergueu uma sobrancelha.

Revirei os olhos.

— Não enche, James.

Eu gostava da companhia de Albus e James sempre implicava com isso.

De brincadeira, mas implicava.

Dei um sorriso.

— Espera, isso é ciúmes?

— Não enche - Ele me imitou.

Continuei sorrindo só para irritá-lo.

— Vaza do meu quarto, parvo.

— Sabe, você fala e eu só escuto mimimi - James provocou.

— Você deveria consultar um médico. Talvez sua mente seja incapaz de interpretar simples palavras, ou seja, você pode estar ficando retardado. Ah, espere, você sempre foi.

Ele tocou a orelha de maneira teatral.

— Desculpe, ainda não consegui entender.

— Vá se arrumar e para de me encher o saco, idiota.

Isso ele parece ter entendido, porque riu antes de sair do quarto.

Bufei.

Às vezes eu o odiava.

Mas é claro que amor e ódio andavam juntos.

Quando eu o vi todo arrumado, com o cabelo bagunçado, se olhando no espelho do elevador eu fiquei em dúvida. Não sabia se ria ou se fechava a boca para não babar.

— Nós vamos para uma boate gay? - Perguntei para Fred.

— Não. Por que iríamos?

— Porque elas são mais divertidas.

— Discordo. Numa boate gay eu dificilmente conseguiria transar com alguém.

— Pois, eu discordo. Numa boate gay você iria encontrar pessoas que gostariam de transar com você. A questão é se você gostaria de transar com elas.

— No fim eu não transaria com ninguém, ou seja, eu estou certo.

— Ao menos que você mudasse de ideia e aceitasse uma nova aventura - Levantei as sobrancelhas sugestivamente.

— Você e sua mania de sempre querer estar certa - James resmungou.

— Querer estar certa? Eu sempre estou certa.

Ambos fizeram sons de discordâncias. Ignorei-os e olhei nosso reflexo no espelho. Formávamos um belo trio. Imagine um ménage? Seria algo fantástico, aposto.

Sorri com esse pensamento.

— O que foi? - Perguntou Fred.

— Nada não, querido – Respondi, rindo por dentro. Eu definitivamente era feliz por nenhum dos dois serem telepatas.