Aquilo não fazia o menor sentido. Parecia um pesadelo. Um pesadelo daqueles que você não consegue acordar. Por mais que tente, por mais que queira, você continua preso e acuado por uma ameaça oculta. À mercê de algo maligno e irracional que está a sua espreita, nas sombras, e se aproxima pouco a pouco.

Era assim que Rebecca se sentia enquanto fugia pelos corredores de uma antiga casa abandonada, em Lawrence – Kansas. A jovem pressentiu, desde o começo, que aquilo não podia ser uma boa ideia, porém mesmo assim adentrou o lugar.

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Estava seguindo pela calçada quando notou algo de diferente no jardim tomado pela vegetação que crescia há meses, talvez anos. Ao se aproximar, teve a impressão de ouvir um ruído vindo da casa. Imaginando que pudesse ser alguma criança ou um animal perdido, entrou para ajudar.

Se soubesse que estava indo para uma armadilha, Rebecca teria fingido que não viu nem ouviu nada. Teria passado direto pela casa que todos na cidade julgavam ser mal assombrada, devido ao seu histórico manchado por tragédias misteriosas e inexplicáveis. Teria seguido o seu rumo e simplesmente voltado para sua casa, como costumava fazer todas as noites depois que largava o trabalho de garçonete num bar local.

Por que não fez isso então? Por que deixou a curiosidade lhe guiar e entrou ali? Por que não encontrava a saída? Por que o nervosismo e a apreensão comprometiam seu discernimento a tal ponto que não conseguia se orientar? Por que sentia que a cada instante suas chances de escapar eram mais remotas? E o que era aquilo que estava lhe seguindo cômodo por cômodo? Corredor por corredor? Sombra por sombra?

— Socorro! Alguém me ajude! — a jovem gritava, enquanto um ruído pesado e constante rompia a atmosfera sombria vez ou outra. — Fique longe de mim!

Em pânico e ofegante, Rebecca empurrou uma porta e entrou num antigo quarto. O forte odor de mofo fez suas narinas coçarem. Às pressas, isolou a entrada com um amontoado de madeiras que encontrou por perto — resquícios dos velhos móveis que um dia ocuparam o lugar.

Rebecca levou as mãos aos ouvidos quando um ruído pavoroso ressoou pelo corredor. Estava mais perto. Cada vez mais perto. Algo se arrastava pelo assoalho. Estava indo para o quarto. Indo até ela. Rebecca estava sendo caçada e nem sabia pelo o quê.

A casa não tinha eletricidade, a única iluminação era fraca e proveniente de alguns postes na rua. A jovem não tinha conseguido enxergar o seu inimigo e, mesmo que tivesse, não veria o menor sentido em sua existência. Era um pesadelo. Deveria ser. Tinha que ser. Mas, infelizmente, não era.

Rebecca tampou os ouvidos mais uma vez, porém o ruído ficava cada vez mais perto. Mais alto. Mais angustiante e assustador.

— Por favor... me deixe em paz — choramingou, tomada pela aflição.

Com muito medo, afastou as mãos e constatou que, na verdade, existiam dois barulhos. E que um deles... vinha do quarto. Daquele quarto. Estava atrás dela. Bem atrás dela. Cada vez mais perto. Riscando o piso de madeira. Mais perto.

O medo era sufocante. A certeza do ataque, desesperadora.

Angustiada, Rebecca virou-se. Encarou o olhar frio e estático do seu inimigo. Sentiu a mão gélida e petrificada encostar em seu rosto. Era tarde demais para recuar.

Um grito de terror teria ecoado pelo quarto e pela casa, se houvesse tempo para a angústia e o susto da garota se fazerem audíveis.

Ao invés disso, tudo cessou muito rápido, de forma abrupta e silenciosa.

De repente, Rebecca não estava mais lá. Simplesmente desapareceu no ar sombrio de um destino incerto.