Afterlife

Capítulo único


O ar estava seco e frio, mas de certa maneira, eu não parecia respirar aquele ar. Meus membros estavam dormentes e pareciam não pertencer a mim; se movimentavam sem a minha real concepção. Apenas escuridão me cercava. Eu mal conseguia enxergar um metro à minha frente. A superfície sobre a qual eu andava era macia, mas eu não conseguia ver o que realmente era.

O silêncio era desesperador. Eu só ouvia o baque surdo dos meus pés no chão; nem a minha respiração eu ouvia porque, bom, eu não respirava.

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Tentei me lembrar das coisas que tinham acontecido. Minha mente parecia vazia, e a cada vez que eu me esforçava para tentar descobrir o que tinha acontecido, mas as coisas pareciam estar distantes de mim.

Eu me lembrava bem vagamente de uma luz verde me atingindo. E tinha um grito. Feminino. Eu acho que era... tinha um nome familiar, que parecia querer clarear na minha mente. Era Li... Lily.

Tudo, finalmente, pareceu claro. Estávamos eu, Lily e Harry em casa, quando Voldemort invadiu nossa casa e me... matou. Então era isso? Eu estava realmente morto? Aquilo era a morte? Se era, era realmente muito chato.

Senti uma onda de preocupação me sufocar. Eu precisava saber o que acontecera com Lily, eu não podia ficar simplesmente ali, naquele vácuo – no sentido literal da palavra – esperando que alguma coisa acontecesse.

Uma onda sobre-humana me invadiu – imagino que aquilo fosse normal, já que eu estava morto – e eu comecei a correr, num desconforto tamanho, devido aos meus músculos mortos, mas eu conseguia correr razoavelmente bem. Não sabia por quê estava fazendo aquilo e nem aonde eu queria chegar. Só sabia que eu tinha um desejo, o de voltar à minha casa.

De alguma forma, esse desejo foi atendido. Aos poucos, a sala de estar da minha casa foi clareando aos meus olhos. Em menos de alguns segundos, eu via cada detalhe no seu lugar. Estava tudo lá. Eu achei aquilo divertido; as coisas pareciam ter se adaptado ao meu desejo. Então é assim que deveria ser. Tudo o que eu quisesse, teria.

Pensei um pouco, então desejei tomar um firewhisky. Como imaginei, uma garrafa da bebida surgiu na mesa de centro. Sorri triunfante, peguei a garrafa e tomei longos goles. Suspirei, e uma coisa que eu jamais imaginaria que sentiria na minha pós-vida me invadiu. Um aperto no coração, um incômodo. Não sei como, mas reconheci aquilo como saudade. Saudade da vida, saudade de Lily.

Sentei em uma poltrona, com a garrafa de firewhisky ainda pendendo nos dedos. Ouvi, em algum lugar, um baque. Parecia alguém caindo... não reconheci muito bem. Pulei da poltrona e desejei estar no lugar de onde veio o barulho.

Minha casa foi sumindo e eu voltei àquele lugar de escuridão total. Caminhei a passos lentos e olhei para baixo, tentando captar qualquer mísero movimento. Tropecei em algo e o “algo” soltou um protesto de indignação. Reconheceria aquilo em qualquer lugar do mundo e do não-mundo também.

— Lily?!

— James? — ela perguntou cautelosamente, como se tivesse medo de que aquilo fosse mentira. — É você mesmo? Onde você está?

Por um minuto, eu me esquecera da ausência total de luz. Desejei luz. E a luz apareceu.

Lily estava radiante, como sempre. Quando me viu, ela voou em mim e me deu um abraço. Eu retribuí, com a mesma animação.

— James, onde estamos?

— Estamos mortos, Lily.

Ela franziu a testa e suas sobrancelhas ficaram pesadas. Lágrimas pareciam estar se acumulando nos seus olhos e em pouco escorriam livremente por suas bochechas.

— James... e Harry, James? Será que ele está b... — Abracei-a pelos ombros e passei a consolá-la. Beijava seus cabelos, enquanto, aos poucos, ela ia se acalmando. Já completamente calma, ela me perguntou sobre o lugar onde estávamos e tudo o mais. Eu, como um iniciante naquele lugar, expliquei-lhe o que havia descoberto. Lily pareceu gostar daquilo.

Uma coisa boa naquele lugar era que não tínhamos muitas preocupações, e quando tínhamos, elas logos eram preenchidas por outros pensamentos. Não havia tristeza; não havia dor. Havia apenas as coisas que nós desejávamos, e imagino que tristeza/dor/preocupações não se incluíam nisso.

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O tempo – na verdade, não sei se haviam sido horas ou minutos; não existia uma real noção de tempo ali – passou e ficamos apenas por ali, iluminados por uma luz invisível e conversando sobre coisas banais. Quando o assunto acabou, ficamos em um silêncio desconfortável. Uma luz se acendeu na minha cabeça e eu dei um sorrisinho de canto, que foi percebido por Lily.

— James... no que raios você está pensando?

— Você quer ver as estrelas?

— Eu adoraria. — ela respondeu, com um sorriso radiante no rosto.

Desejei ver estrelas brilhantes. E lua minguante. Pontinhos prateados, primeiramente foscos, apareceram no céu, mas logo foram se tornando mais e mais brilhantes, até que emitiam um brilho mágico. As estrelas pareciam estar a pouquíssimos metros de nós, o que tornou a situação ainda mais mágica.

— James, são lindas — ela disse maravilhada. Olhou para mim, com os olhos verde-esmeralda cintilando. Aquele brilho verde tornou a luz das estrelas opaca, quase extinta. Eu queria me perder naquilo para o resto da minha eternidade.

Foi naquele momento que eu descobri: a morte não era assim tão ruim.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.