50 Tons - Sem Saída

Oito e oitenta.


Estou a mais de cento e quarenta quilômetros por hora, dirigindo feito louca entre os carros, mesmo que a polícia tente me parar, o que ainda bem não aconteceu, não pararei esse carro por nada. A raiva me consome e nenhuma lágrima mais caiu dos meus olhos. O sangue ferve em minhas veias e tudo o que eu quero é fazer aquele monstro pagar pelo que fez a minha vida. Chego a mansão de meu avô e os enormes portões são abertos automaticamente pelo guarda da guarita, já que reconhece o veiculo que esteve aqui poucas horas antes. Estaciono no pátio de qualquer jeito, desço do carro correndo subo os degraus e aperto a campainha. Para minha felicidade a própria demonia é quem abre a porta. Me olha surpresa e quando vai falar algo nem consegue, pois a empurro com força porta a dentro. Carina cai no chão e me olha apavorada.

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— Sua miserável, assassina!!! Por que fez isso?! Por que quis acabar com a minha família?! – Grito caminhando em direção a ela que se levanta assustada.

— Não sei do que a senhora está falando, se acalme por favor! – Diz tentando ser meiga, fazendo menção de chorar, mas seus olhos de naja não me enganam.

— Pare com isso!!! Seja honesta uma vez na vida!!! – Grito me aproximando com raiva, mas a mesma se levanta e corre para trás de uma mesinha do hall que tem um jarro em cima.

— Eu não sei, eu não sei do que está falando. – Fala baixinho segurando as mãos com apreensão.

— Sua ordinária!!! Fale!!! – Grito batendo as mãos sobre a mesa. A mesma que estava de cabeça abaixada então levanta lentamente e me olha de forma mortal. É como se visse ela se transformar em quem verdadeiramente é. É impressionante e assustador, mas nesse momento nada me causa medo mais. Ela ri, gargalha muito e de repente para me observando com desdém.

— Oh! Pobre Aninha! Agora sabe quem matou o papai?! – Diz de um jeito nojento de manhoso. – Sua bastardinha de merda! Eu queria me casar com seu avô! – Fala com raiva e num tom alto. Depois prossegue como se estivesse em uma conversa tranquila de final de tarde. – Nós tivemos um caso sabe, logo quando cheguei a essa casa. Eu só tinha vinte e pouco aninhos, era linda e cheia de vigor! – Fala gesticulando com empáfia, pelo visto se acha grande coisa. – Foi fácil conquistar seu avô, que estava carente e perdido. Claro que depois eu percebi que ele só estava me usando para tentar afogar as magoas dele, mas ainda tinha esperança de que ele me amasse. Queria que ele me amasse de qualquer jeito! – Faz uma pausa com o olhar em chamas sobre mim, diz essas palavras com raiva. Ajeita os cabelos que acabaram escapando do rabo de cavalo e prossegue. – Fazia tudo o que ele me pedia, descobri que Reymond estava vendo Pietra escondido, Astolfo ficou satisfeito. Mas com essa informação ele não quis mais saber de mim mesmo! Que ódio que eu tive! – Fala e joga o jarro de cima da mesinha no chão, que se estilhaça. Fica trêmula com as mãos esticadas na frente do corpo, um ganido sai de sua garganta. Então ela se recompõe e volta a olhar para mim falando com desdém. – Um dia consegui ver a sua vovozinha, estava escondida a seguindo e ela nem percebeu. – Seu olhar vagueia como se lembrasse dos fatos enquanto conta, percebo agora que ela é sem dúvida alguma uma psicopata. – Reymond era igual a ela! Aquilo me enfureceu além do que posso explicar. Assim eu entendi que o Kaligarys jamais olharia para mim enquanto tivesse uma sombra de Pietra dentro dessa casa! Comecei a pensar em formas de acabar com o filhinho mimado e a russa decadente, mas para minha sorte nem foi necessário. As coisas aconteceram sem nem que eu precisasse me meter, sua linda vovó partiu para o além e logo depois o filho mauricinho inconformado foi para os EUA com a nova esposa! Ah que alegria que senti naqueles momentos! – Bate as mãos uma na outra, tamanha é sua alegria ao contar. – Achei que finalmente estivesse livre! Depois de alguns meses de profunda depressão Astolfo buscou consolo em mim novamente, senti que finalmente as coisas dariam certo para mim, mas ele passou anos só querendo fazer sexo comigo as escondidas. Só sabia dizer que jamais assumiria uma empregadinha, a governanta da sua casa nunca seria sua esposa! – Ela franze a boca em uma linha fina, visivelmente enfurecida por lembrar das palavras de meu avô, vejo seus olhos marejarem. – Mas eu sei que ele me amava, em algum momento ele iria reconhecer isso e se casar comigo!!! – Ao dizer essas palavras grita. Vejo o quanto ela é louca, completamente descompensada. Permaneço imóvel atrás da mesa pois preciso ouvir da boca dessa miserável o porquê dela ter feito o que fez. Não está sendo nada fácil me manter parada, mas ao mesmo tempo que quero avançar sobre ela também quero saber tudo o que há para saber e quando sentir que já sei o suficiente vou acabar com a raça dessa maldita.– Para completar a falta de sorte, seu pai decidiu voltar com toda a família busca pé de comercial de margarina para Atenas. Sabia que eu não poderia permitir, pois foi só vocês chegarem que Astolfo mal olhava em minha cara. Todo meu esforço, cuidado e carinho com seu avô tinham sido em vão. Ele não queria mais saber de mim! Mas eu sabia que no momento em que vocês sumissem da vida dele, tudo voltaria ao normal e ele voltaria a me amar! – Diz isso e seca algumas lagrimas que escapam de seus olhos vidrados em mim. – Foi assim que decidi matar vocês. Tracei um plano com todo cuidado para que nunca descobrissem a minha culpa. No dia do passeio de barco que vocês fizeram, algumas horas antes fui até a marina, entrei no barco com uma cesta dizendo ser alimentos pedidos por Reymond, desci até o porão e coloquei a bomba que eu mesma fiz. Armei para o horário certo e pronto. Voltei para a mansão para garantir que seu avô não fosse no passeio. Coloquei sonífero na bebida dele, assim ele ficou em casa. – Carina respira fundo e passa a mão na boca para prosseguir. – Me deu um pouco de dor de cabeça saber que você tinha sobrevivido, mas quando Astolfo expulsou você e sua mãe daqui para sempre fiquei aliviada! – Quando ela para de falar só sinto que não serei capaz de me conter, quero acabar com a raça dela. Mas antes tenho que perguntar.

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— Mas você não ganhou nada no final das contas! Por que está nessa casa até hoje? – Digo.

— Os anos passaram de forma que acabei não me dando conta, primeiro tentando reconquistar Astolfo que de vez em quando ainda tinha relações comigo. Porém algum tempo atrás quis acabar com ele também! Já tinha me cansado de tanto lutar e lutar por nada! Só que ele ficou doente, foi piorando ao longo do tempo e o que melhor para eu me regozijar do que vê-lo morrendo aos poucos naquela cama?! – Gargalha com satisfação. Sinto minhas mãos formigarem de tanto ódio que estou dessa mulher.

— Você é uma assassina!!! E vai pagar por tudo que causou a minha família agora!!! – Grito enfurecida. Dou a volta na mesa tão rápido que ela não consegue correr. Dou um murro em seu rosto com toda minha força e ódio, ela cambaleia, mas vem em minha direção tentando me agarrar. Seguro em seus cabelos na parte de trás de sua cabeça e a puxo batendo com meu joelho em sua barriga, quando ela se curva com a dor dou outra joelhada dessa vez em seu rosto. A mesma cai no chão, seu rosto sangrando, Carina geme um pouco e cospe sangue e saliva ao lado de seu corpo. De repente me surpreende me dando uma rasteira, caio no chão batendo meu cotovelo o que dói muito pelo choque. Ela se aproveita disso e dá um soco em meu rosto, a miserável tem muita força, sinto uma dor aguda e meu lábio sangra. Mas meu ódio me dá ainda mais forças. Estou aqui para me vingar por meu pai, por minha mãe que sofreu tanto que virou uma alcoólatra, por mim que passei por tudo que passei e fiquei impossibilitada de ter filhos. A empurro com força e sento sobre sua barriga prendendo seus braços no chão em baixo dos meus joelhos. Então começo a deferir vários tapas em sua face, ela somente se debate e grita para que eu pare, para que eu tenha piedade. – Por acaso você teve piedade de mim que era uma criança, do meu pai que era um bom homem ou da minha mãe que nunca havia feito mal algum a você?! – Digo isso e dou mais um tapa com toda minha força com o dorso da minha mão em sua bochecha já roxa. A dor invade meu peito, sinto as lagrimas querendo brotar de novo, penso em tudo que essa mulher tirou de mim, em como ela mudou a minha vida, tudo o que passei por causa do que ela fez. Então movida pelo ímpeto da raiva seguro em sua cabeça e começo a bater ela no chão, quando ouço uma voz em pé a alguns metros de mim.

— Ana pare com isso! – É Christian, mas não consigo não querer matar essa mulher. É o que ela merece penso comigo mesma. Bato mais uma vez sua cabeça com força no chão, seu pescoço já mole, seu rosto sem reação de olhos fechados, vejo próximo a mim um caco de louça grande, do jarro quebrado. O pego e direcionado a garganta da mulher monstruosa em baixo de mim, que parece estar desmaiada. – Anastácia, não faça isso! Você não é assim meu amor! – Ouço o desespero na voz do meu marido.

— Mas é o que ela merece, ela não se arrependeu do que fez. Ela não tem remorso! O único jeito dela pagar é esse, tenho que acabar com a vida dela! – Digo tentando explicar o que sinto, é como se estivesse dentro do pior pesadelo, é tudo surreal demais. Mantenho o objeto em minha mão, indo em direção ao pescoço dela. Quando encosto o caco de louça em sua pele ouço mais uma vez Christian se manifestar.

— Isso não vai trazer Reymond de volta Ana! – Ele fala com pesar, paro mantendo ainda o objeto na pele dela. – Você não é um monstro como ela, você é a pessoa mais doce que conheço, com a maior inocência que já vi. Seu pai não ficaria feliz em te ver assim agora! – Ele diz com tranquilidade dando passos vagarosamente em nossa direção, logo se agacha próximo a mim. – Não acabe com a sua vida, com as nossas vidas matando essa mulher! Eu te garanto que ela irá pagar pelo que fez. – Faz uma pausa respirando fundo e fala. – Eu te amo Ana! – Diz isso com tanta convicção que largo o objeto o jogando longe abruptamente e saio de cima da mulher me arrastando sentada no chão para longe dela, de repente me dou conta da atrocidade que iria cometer. Começo a chorar e Christian me recolhe fazendo que eu me sente em seu colo, me abraça enquanto eu soluço incessantemente. Passam-se alguns segundos e nós nos levantamos, vejo que a alguns metros de distância ao redor das salas que ficam depois do hall há várias pessoas, funcionários, seguranças, a equipe médica, a família Grey Éllenis e Taylor que está parado próximo a porta, todos me olham das mais diversas formas de medo, pena, preocupação até admiração.

— A policia já está chegando senhor. – Taylor avisa a Christian que agradece me abraçando e tentando me levar para a sala ao lado. Outro segurança então caminha ficando parado ao lado de Carina que permanece deitada no chão de olhos fechados. Vejo que alguma coisa brilha do lado do corpo dela e me agacho ao perceber que é a correntinha de amizade da minha avó com Grace, deve ter caído do meu bolso onde a tinha guardado. Quando estou agachada a recolhendo do chão, Carina abre os olhos e fala ao mesmo tempo em que se movimenta. Tudo acontece tão rápido, são segundos que tudo acontece como num filme de ação.

— Você deveria ter me matado quando pode! Bastardinha de merda! – Ela diz pegando uma arma que estava escondida no tornozelo do segurança, engatilha e aponta para mim atirando. Ouço dois disparos, ao mesmo tempo em que sou empurrada com violência para o outro lado do ambiente, quando vejo estou jogada no chão com Christian sobre mim. Fico apavorada, não sinto que fui atingida, me mexo rápido enquanto falo com meu esposo.

— Christian, Christian! – Meio que grito o empurrando, ele se mexe e me olha nos olhos com aquele rosto que tira o meu fôlego. – Você está bem?! – Meu coração está tão acelerado que posso ouvir as batidas dele.

— Sim, estou bem e você?! – Fala com tranquilidade, mas já olha todo meu corpo ao mesmo tempo em que sai de cima de mim. – Você está bem mesmo?! Não foi atingida?! – Indaga me puxando para virar e verificar todos os lados do meu corpo.

— Calma! Estou bem, estou bem! – Falo o abraçando. – Meu amor... – Seguro em seu braço e paro abruptamente de falar ao ver sangue escorrendo por sua jaqueta de couro. – Meu Deus! Christian você está sangrando! Está ferido! – Ao dizer isso, ele faz uma careta e abaixa os olhos, ajudo que ele tire o casaco e assim podemos ver que o tiro somente pegou de raspão na lateral de seu braço.

— Não foi nada, foi de raspão! Fique tranquila não vai me acontecer nada! – Diz colocando a mão sobre o ferimento, me jogo em seu peito o puxando pelo pescoço e o abraçando com toda minha força.

— Eu te amo tanto! Não posso nem imaginar ficar sem você! – Ele me abraça de volta com força também. Vejo os policiais entrarem na sala, Taylor explica o que houve, Carina está desacordada no chão por ter levado um tiro dado pelo próprio no momento em que ele percebeu que ela iria tentar me matar. Policiais se espalham pelos ambientes, a pericia também chega isolando as áreas. Todas as testemunhas são questionadas, enquanto isso eu e Christian permanecemos abraçados, não queremos nos soltar. Grace vem até nós e segura minha mão, sinto que ela depositou alguma coisa. Olho e é a correntinha. Sorrio para minha sogra que sorri de volta com ternura, faz carinho em minha face e se encaminha para o lado de Carrick, os dois também se abraçam de lado e assim permanecem. Elliot está ao lado deles o tempo todo, está muito sério e parece tenso o que é tão diferente do seu jeito habitual. Logo os paramédicos entram, levam Carina em uma maca junto com um policial já que a mesma já está sob custódia por ter sido pega em flagrante. Uma médica vem até mim e Christian, ao ver que estamos muitos sujos de sangue chama auxilio. Nos examinam e logo constatam que estamos mais sujos do que feridos. O ferimento de Christian foi muito leve e eu estou somente com o lábio inchado. Quando o investigador vem até nós e começa as perguntas Christian pede para que ele nos interrogue em outro momento, já que eu estou exausta devido a delicadeza da situação para mim. Ele aceita e assim somos todos liberados. Decido ir ver meu avô antes de irmos embora. A equipe médica está saindo do quarto quando entro, até a enfermeira que iria ficar ao lado dele decidi se retirar ao nos ver entrar. Entramos eu e Christian por enquanto. Chego perto da cama e meu avô está de olhos fechados, sua aparência é tranquila, mas me dói muito vê-lo nesse estado, nunca pensei que me sentiria assim diante dele, penso como as coisas podem mudar tanto e em tão pouco tempo.

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— Oi vovô! – Digo em uma altura normal ao seu lado. Vejo que ele respira daquele jeito sofrido mesmo com a máscara de oxigênio e então abre os olhos piscando algumas vezes.

— Olá... querida. Fico... muito... feliz... que você... tenha voltado. – Diz respirando entre as palavras, sua voz tão rouca e fraca ainda me assusta, mesmo a tendo ouvido tanto mais cedo.

— Eu nunca mais me afastarei do senhor vovô! Carina foi presa, aquela maldita!!! – Começo falando com felicidade ao mesmo tempo em que toco em seus dedos cinzentos e frios, mas ao falar sobre aquele ser monstruoso me exalto e voltam a cair lagrimas dos meus olhos. Vejo que lagrimas brotam dos olhos de profundo azul de meu avô. Elas começam a rolar por sua face e eu não me seguro, o abraço me deitando lateral a ele na cama, não teria outra forma já que ele não consegue se mexer muito. Percebo que ele recebe meu abraço com total receptividade ao longo dos segundos que se passam sinto suas mãos se encontrarem em minhas costas me apertando em seu abraço. Sei que esse mínimo esforço é muito para seu estado, e ele me aperta com força. É estranho mas posso sentir seu carinho emanando para mim. É tanta dor que faz com que nossos corações batam juntos, ele é a única pessoa que sabe exatamente o que eu senti a vida toda, ele com a dor de perder o único filho e eu de ter perdido meu pai. Os minutos passam e nos acalmamos, nos soltamos do abraço mas fico sentada na cama.

— Foi... uma briga... feia... não foi?! – Pergunta olhando minhas roupas sujas de sangue. Respiro fundo secando meu rosto com as mãos e respondo.

— Sim, não pude resistir a dar uma boa surra nela! Vovô por que não fez algo contra Carina antes?! – Indago, nos olhamos nos olhos com total atenção um no outro.

— Eu descobri... há poucos... dias. – Tosse um pouco e respira fundo. – Como disse... contratei... um novo... investigador... porque... sentia que não... era Carrick. – Inala o ar na máscara com dificuldade. – Estou no... fim... da vida... quero deixar... tudo esclarecido... e com justiça. Mas ao descobrir... isso... já em cima... dessa cama... tive medo... de que Carina... descobrisse... que eu... já sabia. – Tosse algumas vezes. – E fugisse... ou acabasse... com as provas... já que ela... estava... todo tempo... aqui comigo... pedi para o... detetive colocar... em um... envelope impermeável... e deixar... dentro da água... na descarga... do... meu... banheiro... aqui. – Puxa o ar com força fazendo com que seu peito faça um chiado um pouco alto. – Então... pedi ao meu... médico... de confiança... para juntar com... o envelope amarelo... no dia da sua visita. – Respira fundo fechando e abrindo os olhos algumas vezes. – Minha... vontade era de... acabar com ela... eu mesmo... mas... não tenho mais... forças... assim precisava... garantir que ela... fosse realmente... pega. Você... era minha... ultima esperança! – Conta tudo com dificuldade e o compreendo. Ele nesse estado não podendo contar com a própria força para esconder as provas, nem podia chamar a polícia porque provavelmente ela fugiria no momento em que ouvisse as sirenes. Teve que contar com a ajuda de seu médico de confiança que está prestando cuidado em seus últimos dias de vida para que o envelope ficasse escondido e imagino que tudo isso com medo de que ela ouvisse as conversas atrás da porta, foi realmente uma tarefa difícil esconder daquela monstra a situação. Mas fico muito aliviada em saber que tudo deu certo e ela vai pagar passando o resto da vida na cadeia.

— Ela nunca mais vai sair da cadeia! – Digo com satisfação. Ele aperta minha mão com os dedos trêmulos e sorri.

— Essa.. é a maior felicidade... que poderia... ter nesse momento. – Vejo que ele se esforça para dar ênfase ao que diz. – Porque ainda maior... foi você... ter me... perdoado! Essa... é minha... maior felicidade! Ter você aqui comigo! – Ao se esforçar tanto para dizer tudo com vigor tem uma crise de tosse, tosse várias e várias vezes. Percebo que perde o fôlego, fico aflita e acaricio seus cabelos brancos, faço carinhos em sua cabeça e aos poucos ele consegue se tranquilizar. Respiro fundo e sorrio.

— Estou muito feliz também vovô! Eu sempre quis o carinho do senhor, sempre quis que o senhor me amasse! – Minha voz falha um pouco ao terminar a frase, uma lagrima escorre por minha bochecha. Ele aperta minha mão com a mão tão fria que me dá um arrepio.

— Eu sempre... te amei...querida! – Percebo a verdade em seus olhos, sorrimos um para o outro. – Preciso... falar com... seus pais... Christian. – Fala chamando a atenção de meu marido que se aproxima da cama.

— Sim, claro. Vou chama-los! – Avisa e sai do cômodo. Eu explico rapidamente que eles já estão aqui e quando vemos eles já estão adentrando o quarto. Até mesmo Elliot com a feição um pouco apavorada ao olhar para onde meu avô está deitado. Entendo já que a aparência dele realmente assusta um pouco, ele parece um zumbi de tão sem cor deitado nessa cama e ligado a tantos aparelhos. Os meus sogros caminham devagar até pararem ao lado do corpo de Astolfo, opostos aonde eu estou. Me olham um pouco perdidos, com um ar de pena também. Assinto com a cabeça para eles, para mostrar que está tudo bem.

— Eu sinto... muito... por tudo... amigos. Saibam... que doeu... muito... perder a amizade...de vocês. – Meu avô diz, faz uma pausa para inalar o ar mais profundamente. – Peço perdão... por todo... mal que... causei...me... arrependi... de verdade. – Explica com sua voz rouca. Grace fica emocionada, seca os olhos com um lenço que está em sua mão. Carrick atrás dela aperta seus ombros, percebo que sua feição também está de comoção.

— Esqueçamos tudo o que passou Astolfo, o que importa é que nossas famílias estão bem! Inclusive acabaram se unindo, com o amor muito forte de Anastácia e Christian! Somos todos uma só família agora e você sempre será lembrado com respeito e carinho, todas as gerações saberão das grandes coisas que você fez, do grande amor que teve, do grande homem que é! – Carrick me surpreende com suas palavras, ditas de forma firme e com sinceridade na voz. Meu avô balança a cabeça como se agradecesse.

— Tudo está perdoado Astolfo! Veja que o destino as vezes embaralha tudo para que as coisas possam terminar de uma forma supreendentemente boa. Que foi o que aconteceu entre Ana e Christian! Estamos todos felizes agora! Espero que você possa estar em paz e sentir essa mesma felicidade por nós. – Minha sogra diz com emoção e alisa a mão de meu avô que está sobre seu peito.

— Sim... estou... muito feliz. E agora... posso... descansar... em paz. – O vejo dizer com sinceridade, uma dor aguda bate em meu peito, seguro a mão dele com força e o olho nos olhos.

— Vovô! Por que tem que me deixar agora?! Justo agora que está tudo bem! – Protesto com minha voz embargada. Ele sorri para mim e aperta minha mão de volta.

— Agora... que está... tudo bem... finalmente tenho... paz querida! Vou... me encontrar... com Pietra... preciso... do perdão... dela também... Se for... possível... quero passar... a eternidade... com ela... A minha amada... minha bailarina russa! – Diz com emoção, sinto as lagrimas brotarem dos meus olhos e meu peito muito apertado, estou como com um nó por dentro. Grace e Carrick se abraçam, pois a senhora chora. Elliot se aproxima da cama, olha para meu avô sorrindo e passa a mão no braço dele.

— Dizem que no céu todo mundo é jovem! Então o senhor vai encontrar a Pietra bonitona, vai estar todo bonitão também! Sendo assim aproveitem voando bastante pelo céu! – Diz com seu habitual bom humor e se curva sobre a cama abraçando meu avô que sorri. Elliot é muito carinhoso, seu jeito leve é um escudo também nos momentos de emoção. Acabo sorrindo, mas quando sinto a mão de Christian em minhas costas o aperto volta dentro de mim, sinto um nó na garganta. Sinto que a despedida é eminente.

— Eu vou cuidar muito bem da sua neta, ela é o amor da minha vida. – Meu marido diz encarando meu avô. – Sinto muito por todo o desentendimento, rancor ou brigas passadas. O senhor sempre será importante em nossa família! – Fala com seriedade, meu avô solta minha mão e a estende para Christian que a segura firme com as duas mãos, vejo ali a paz selada e o fim da guerra entre as duas famílias. Sorrio entre as lagrimas e Astolfo volta a segurar minha mão.

— Eu te amo minha criança, minha neta! – Fala forte como ainda não tinha feito, nossos olhos compenetrados azul contra azul.

— Eu também te amo vovô! – Ao terminar minha frase o vejo sorrir genuinamente e fechar os olhos. É como se o tempo congelasse por alguns segundos, tudo parece em câmera lenta ao redor, sinto um frio na espinha e meu coração acelera abruptamente. Vejo que ele não volta a abri-los e me jogo em cima de seu peito que já não há mais batimentos, de repente ouço o apito dos aparelhos hospitalares. – Vovô!!! Não, agora não!!! – Digo exasperada, choro passando a mão em seu rosto frio e de expressão tranquila. – Não, não!!! Vovô!!! Por favor... – Soluços escapam da minha boca enquanto choro com o rosto em seu peito. Nunca pensei que fosse doer tanto perde-lo, nunca imaginei sentir essa dor, nunca imaginei que fosse sentir esse vazio. Sinto alguém me puxar e vejo a esquipe médica entrar correndo no ambiente. Todos se posicionam ao redor da cama, me viro para quem segura meus braços. O amor da minha vida passa as mãos em meu rosto e me puxa para um abraço firme, cheio de calor que é o que tanto preciso. Aos poucos me acalmo, Christian beija o alto de minha cabeça ao mesmo tempo em que afaga meus cabelos. Viro-me ao ouvir o médico falar atrás de mim.

— Senhorita Kaligarys, seu avô faleceu. Meus pêsames! – Diz com formalidade e ao mesmo tempo com real pesar, creio que porque eram amigos. Me chamou pelo nome de solteira imagino que em homenagem ao meu avô. Estende a mão para mim que retribuo e apertamos a mão um do outro. Nesse momento olho tudo ao meu redor e nada parece normal ou real. A equipe médica ainda ao redor do meu avô na cama, a família Grey Éllenis que de repente começa a se mover vindo em minha direção com feições de tristeza e apoio. Me sinto dentro de uma nuvem de fumaça, sinto meu corpo fraco e cambaleio um pouco. Christian prontamente me segura e quando vejo já mergulhei na escuridão.

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