Hearts Of Sapphire

¨t w e n t y - o n e¨


Corinna, Mattia e Conall estavam lado a lado observando os primeiros a fazerem o Juramento.

Os dois aliados não podiam conversar com a Escolhida de Fortuna sobre o assunto que lhes perturbava a mente, sem levantar suspeitas. Ainda assim, Mattia praticamente suava frio dentro do seu vestido.

—Você não parecer nenhum um pouco aflito com o Juramento.—a ruiva sussurrou para o garoto.

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—Deveria?— Mattia olhou para ele com uma cara de incredulidade.

—Eles vão cortar a palma da nossa mão. Cortar. Nenhum alerta soa no seu cérebro? O que vai dizer a eles quando o corte simplesmente cicatrizar num instante?

Conall teve a audácia de sorrir.

—Observe os detalhes, Tia. O corte é feito tanto no humano quanto no deorum. Seguindo sua lógica, o do imortal deveria cicatrizar instantaneamente também, não?

O rapaz tinha razão os cortes feitos nos deorum continuavam abertos assim como nos humanos.

Conall continuou a explicar:

—Cortam a palma da mão com cristal afiado. A única lâmina capaz de retardar a cura até mesmo dos deorum é a que é feita com cristal.

—Como você sabe de todas essas coisas?

—Meu tio é um ótima contador de lendas.— o menino sorriu com saudade.

—Acha legal ouvir histórias que enaltecem esse pessoal?— ela não queria ofender a família do rapaz, mas...—A maioria dessas lendas os colocam como heróis coisas que claramente eles não são.

O Escolhido de Nix não deixou que as palavras da garota o afetassem:

—Você não percebe, querida Mattia, é que esse tipo história não só serve como veículo de exaltação, mas como conhecimento. Nela conhecemos os poderes, mas também ficamos cientes dos pontos fracos. Cada fragilidade que pode nos ser útil muito em breve.

O Juramento era uma das coisas mais estranhas do Setor Superior.

Corinna não participava já que não havia escolhido nenhum Simpatizante ainda.

Os Escolhidos eram chamados pelo nome, então iam ao centro da plataforma junto com o Simpatizante que escolheram.

Uma pequena lâmina abria um corte na palma da mão dos dois e, depois, um longo aperto de mãos selava o Juramento.

Não seria nada demais, não fosse pelo círculo de luz que se formava em volta dos que juravam e careta que a maioria dos humanos faziam. Como se aquilo lhe causasse dor.

Era poder. Magia intensa.

Algumas pessoas quase desmaiavam no processo. O cheiro forte estava presente em cada canto.

Corinna não tinha parado para pensar em como aquilo era sério. O quão profundamente ia aquele juramento, aquele pacto selado com sangue.

Era claro que os deorum nunca revelariam a gravidade daquilo e a menina só poderia imaginar.

Conall e Mattia pouco mais do que tomaram um longo fôlego antes de selar o acordo com seus Simpatizantes.

Corinna mal pudera acreditar em seus olhos quando Conall subiu na plataforma ao encontro de ninguém mais, ninguém menos do que o Governante da Ordem Ônix.

Kallien tinha ido com a Governante da Ordem Rubi, Rexta, que pelo visto era uma das mais prestigiadas, já que havia feito aquele juramento com mais três Escolhidos além dele.

A garota pôde notar que Athlin não tinha virado Simpatizante de ninguém, mas não queria pensar sobre a possibilidade do rapaz ter oferecido ajuda apenas para ela.

Além da menina, somente mais dois participantes não tinham Simpatizantes.

Não precisava daquilo, ela disse a si mesma.

Corinna olhava para o teto cinzento do Galpão e tentava imaginar o céu estrelado de Fortuna.

Tentava imaginar que a dureza do colchão, a dureza da própria cama contra suas costas, era apenas o barro rígido do solo da floresta.

Fingia que as ranhuras irregulares no teto eram as estrelas. Fingiu que um conjunto delas era constelação Guiadora que se assemelhava ao formato de uma rosa dos ventos.

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Guiadora dos perdidos e dos desavisados.

Guiadora dos solitários e esquecidos.

A garota fechou os olhos pedindo que ela a confortasse como sempre fazia. Que lhe desse o mesmo ânimo em continuar sua jornada como fazia quando estava em casa.

Por favor.

Por favor, diga que estou no caminho certo.

Por favor.

— Precisamos falar com você. — uma voz falou suavemente.

Mattia.

Corinna abriu os olhos e sentou rapidamente quando notou o olhar no rosto da aliada e de Conall ao seu lado.

— O que houve?

Conall apenas balançou a cabeça como quem dizia que aquele não era o lugar para falar.

— Em dez minutos, quando apagarem as luzes dos banheiros, nos encontraremos lá.

A Escolhida apenas assentiu com a cabeça, os dois se afastam e ela esperou.

Sentando-se na cama, a garota encarou a parede oposta.

Kallien arrumava sua algibeira ali na frente.

O Juramento demorou no máximo uma hora e logo os Escolhidos foram dispensados para arrumarem suas coisas e então se mudarem para as Ordens de seus Simpatizantes.

Logo aquele Galpão ficaria praticamente vazio. Assim aquela cama.

Como se sentisse o olhar de Corinna em suas costas, Kallien se virou.

Tarde demais para desviar o olhar. Então, ela o encarou.

E ele encarou de volta pondo a algibeira no ombro.

Talvez, se a garota o encarasse por tempo suficiente conseguiria alcançar o antigo Kallien.

Seu amigo Kallien.

Sabia que se ele fosse embora—para a Ordem daquela Governante— as chances de recuperá-lo seriam mínimas.

—Senhor Steros, seu transporte já está pronto.—um dos deorum meio que berrou da porta.

O Escolhido de Fortuna retirou os olhos da garota por apenas um instante, sinalizou que já estava a caminho e se aproximou dela.

—Boa sorte, Cori.— ousou dizer com um sorriso triste no rosto e deixou um beijo em sua bochecha antes de sair.

Corinna o observou ir embora enquanto segurava o pingente do seu colar.

O banheiro ainda tinha as luzes precárias que impediam que Corinna esbarrasse em cada pia e cabine em seu caminho.

—Aqui.— ela ouviu a voz de Conall a exatamente dez passos de distância.

Avistou o rapaz e Mattia sentados em um canto.

—Tem certeza que isso é seguro?— a Escolhida de Fortuna perguntou ao se acomodar também.

—Seguro, seguro... não é, mas precisamos ter essa conversa.—Conall disse, seus dentes brilhando com um sorriso.

—Primeiro me dê sua mão.—Mattia ordenou, Corinna franziu a testa, mas esticou o braço.

Com um movimento rápido, a ruiva pegou a agulha improvisada, que outrora emprestara à Corinna, de um dos bolsos de seu vestido e deslizou sobre a pele da caçadora.

—Ai! Que diabos…?—Corinna tentou puxar o braço tanto pela dor quanto para esconder o seu estranho segredo, mas Mattia segurou mais forte.

Uma, duas gotas de sangue pingaram no chão. Seu braço já estava sem nenhum corte.

Corinna não sabia nem por onde começar a explicar. Apenas levantou o olhar de onde deveria estar o ferimento para olhar de olhos arregalados aos seus aliados.

Nenhum dos dois tinham olhares acusadores. Conall até tinha um sorriso de canto quando pegou a agulha e passou na lateral de sua mão.

Uma gota gorda pingou. Sua mão estava novamente intacta.

Logo depois, Mattia repetiu o gesto.

A Escolhida de Fortuna não sabia se ficava aliviada ou com medo —agora não só por ela, mas por eles três.

—Como…?— ela finalmente disse depois de abrir e fechar a boca algumas vezes.

—Nós não sabemos.—Mattia respondeu. —Assim como não sabemos se é apenas conosco ou se outros Escolhidos desse Sacrifício também estão com esses...efeitos.

Conall apontou para a menina ao seu lado:

—Ela tinha dúvida se não estávamos sendo...hm, drogados, ou algo do tipo. Entretanto, já tive alguns desses sintomas antes. Dores de cabeça. Fácil cicatrização.

“Evite as taças que você não viu sendo enchidas.”

A voz soou em sua cabeça, mas moça ignorou. Não fazia sentido. Não com ela.

Aparentemente, nem com Conall.

Todos ficaram em silêncio, até Corinna concordar com o rapaz.

—Eu também.

Quando os dois aliados a encararam com um olhar questionador, a garota fez um esforço para materializar a caneta.

Um esforço desnecessário, diga-se de passagem. Aquilo tinha sido tão fácil quanto respirar, muito mais simples do que das outras vezes.

Enquanto o Escolhido de Nix tomava o objeto da mão da menina e analisava-o cautelosamente, Corinna respirava fundo desapontada ao notar que o efeito da semente havia passado.

Ou nunca havia funcionado de fato, a moça concluiu.

—Uau, mas como? Tipo, essa caneta estava em algum lugar e você apenas...trouxe para sua mão? Ou você apenas a tirou de suas memórias?—o rapaz estava fascinado.

A caçadora bateu com um indicador na própria testa. Então, Corinna explicou resumidamente como havia sido com ela. E então Mattia fez o mesmo. Assim como Conall.

—Agora, mais do que nunca, precisamos ser os olhos e ouvidos uns dos outros. Precisamos encontrar uma maneira de amenizar esses...poderes.— A Escolhida de Amara disse fazendo uma careta, a palavra zoando ridícula em sua língua. —Ou seremos descobertos muito em breve.

Os dois aliados com Simpatizantes precisavam ir embora.

Mattia, após se levantar, virou para encarar Conall, que tinha ficado muito quieto de repente.

—Nenhuma das lendas que sua mãe contava dizia algo para conter magia, ou algo do tipo?

O menino colocou as mãos no bolsos e, balançando-se para frente para trás com uma cara de quem estava prestes a dar uma má notícia, afirmou:

—Para conter magia, não. Porém, precisamos marcar um próximo encontro logo. Enquanto, isso tentem encontrar sutilmente informações sobre uma antiga profecia. Pode não ser a solução dos nosso problemas, mas pode ser… algo.

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