Hearts Of Sapphire

¨t h i r t e e n¨


A floresta estava silenciosa de uma maneira não natural, então Evian sabia que aquilo logo chegaria.

Primeiro vinham os calafrios, depois os ventos e por fim...a voz.

Não era masculina nem feminina, pois alternava entre os dois sempre que podia.

Em momentos lhe acariciava o rosto, mas outras lhe afundava em sermão.

O vento dessa vez foi calmo como uma canção suave, o homem teve assim a confirmação de que fizera a coisa certa.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

Por mais que seu coração doesse, gritasse dizendo que apenas o enfiaram em outro jogo. Que apenas o fariam implorar de joelhos por algo que ele mais protegia no mundo.

De novo.

—Muito bem.— a voz que soou em suas costas dessa vez era mais humana do que qualquer outra. Tinha certeza de que era feminina dessa vez.—Você fez o que deveria ser feito.

Os ombros de Evian relaxaram minimamente pois seu coração —vivo, batendo no peito — não se aquietava.

—Por que a preocupação?—a voz questionou— Sabe que ela não estaria segura aqui. Não mais. Ouviu sobre os assassinatos, não foi?

Então todo o ar sumiu dos pulmões do homem.

—Estão procurando por ela? É ela que eles querem?

—Há muito que ainda não sabe, Evian. Muito que eu não sabia, no início de tudo isso. Achei que ela estaria segura aqui com você, mas o destino, a jornada dela aqui, infelizmente, não é algo que eu, você ou qualquer um ser simplório seja capaz de controlar.

Ele arriscou perguntar mais uma vez, mesmo sabendo qual seria a resposta:

—Quem é você?

O silêncio costumeiro para aquela pergunta foi tudo que Evian obteve.

—Quero que saiba que apesar dessa menina não ser minha filha de sangue, eu a considero como se fosse.

—Eu sei. Por isso, o Destino a colocou em suas mãos.

O homem soltou a mochila no chão e encostou as costas numa árvore.

—Onde está a mãe de Corinna? Você é ela? Ela está morta?

—Você terá suas respostas em breve, Evian. Por enquanto, peço que seja cauteloso e atento. As coisas estão perto de mudar.

Corinna encarava Conall enquanto se sentia inútil por dentro.

Tola. Ingênua. Despreparada.

Durante o tempo em que estava apreciando a ducha quente, os cheiros exóticos dos sabonetes e dos cremes, o toque da toalha em sua pele, aquele garoto estivera, de fato, reconhecendo o seu ambiente.

Conall contara todas as suas aventuras por outros vagões depois que os dois estranhamente entraram em um consenso de que conversar no quarto destinado à menina seria muito mais seguro do que num corredor mal iluminado.

A dois vagões de distância, o garoto dissera, um Escolhido muito mal humorado o expulsou aos gritos e ameaças.

Já no outro vagão adjacente ao seu, ele encontrou uma garota.

Em suas palavras, a menina era carrancuda e meio fechada, mas talvez —com o incentivo certo — estaria disposta a uma aliança com eles.

—Espere um pouco... quem disse que nós estamos numa aliança?—Corinna interrompeu rescostando-se na cabeceira da cama.

Conall franziu a testa e estreitou os olhos para a menina. Ela levantou as mãos na altura dos ombros e deu um sorriso de canto.

—Eu só estava brincando, mas confesso que não entendi muito.

Então, o menino contou o que havia descoberto ao espiar a conversa de seus Examinadores.

Em todos os Sacrifício sempre —sem exceção— uma aliança era formada. Os deorum a apelidavam carinhosamente de "Os Sanguinários". Escolhidos que se submetiam a qualquer tipo de falcatruas para ganhar confrontos.

Os confrontos físicos eram os mais apreciados por eles.

Eram eles os responsáveis pelas grandes baixas na edições.

O que Corinna achava mais doentio de tudo isso, era que nenhum Escolhido era condicionado àquele comportamento, entretanto, era impossível não haver pelo menos um Sanguinário em cada ano.

Era doentio saber que aquelas pessoas —mesmo que algumas já nascessem com uma semente da falta de caráter— muitas vezes viam naquele comportamento a única forma de ascensão social. Matar seu próprio povo...por uma falsa ideia de liberdade.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

—Seu companheiro de vilarejo está fazendo parte.—a menina encarou Conall com uma rapidez impressionante.

—Qual dos três? Bastian?

O rapaz coçou o queixo fazendo um esforço para se lembrar.

—Não sou tão bom com nomes como sou com aparência, porém acho que não é esse...Kelian?— ele arriscou enquanto os pulmões da garota pareciam fracos— Não tenho certeza. Ele tem os cabelos um pouco claros, mas não muito. Devo dizer que é bem decente, bem aparentado e...

Corinna não conseguiu ouvir muito mais.

Não podia ser Kallien? Podia?

Seu amigo não seria capaz de ir tão longe numa competição absurda daquelas. Não quando teriam um ao outro para se ajudarem a vencer de maneira inteligente.

Simplesmente não poderia ser.

De repente, a menina se viu numa situação que nem nos seus pesadelos mais cruéis sua mente tinha sido capaz de conceber.

Silêncio.

Nunca pensou que boas horas imersa em silêncio poderiam ser tão gratificantes.

Quem a observasse provavelmente acharia que estava paralisada desde que chegara, não fosse pelo movimento que fazia, de tempos em tempos, ao virar as páginas do pequeno livreto que encontrara por ali.

Não podia dizer que não estava impressionada com o local. Qualquer pessoa que tivesse passado sua vida inteira num abrigo para órfãos precário e barulhento, estaria. Apesar das circunstâncias para estar ali não serem nada agradáveis.

Contudo, apreciava o silêncio como apreciava poucas coisas na vida.

Releu o parágrafo pela terceira vez. Tinha de admitir que estava desconcentrada desde o momento que aquele idiota invadira seu vagão.

Mattia estava naquela mesma poltrona — praticamente naquela mesma posição— quando o rapaz caminhara para dentro do cômodo como se passeasse no bosque. Certamente era um louco que seria eliminado nas primeiras disputas.

Conall—esse era o nome que ele dera a ela— falava coisas sem sentido como "formar uma aliança".

Pelos Céus, uma aliança! Como poderiam ter uma aliança se logo chegaria o momento em que seriam forçados a se matar?

A menina fechou o livro e se levantou. Precisava de algo que conseguisse chamar sua atenção.

Sempre fora calma e contida, mas aquele garoto tinha conseguido mexer com seus nervos. Talvez fora o risco em que ele colocou os dois ao sair do seu vagão e invadir o dela.

Parou no meio do movimento ao avistar a cena mais inacreditável à sua frente.

Conall havia voltado e agora... tinha uma discípula?

A menina observou bem a garota recém chegada.

Vilarejo de Fortuna.

Parecia uma oponente forte.

O que estava fazendo com aquele doido? Não poderia ser tão idiota assim.

Os três apenas se encaravam num silêncio constrangedor até Mattia dizer ao garoto:

—Pensei que tivesse sido bem clara ao expulsá-lo daqui.

Corinna sentia-se ainda mais tola do que antes por estar ali.

E aquele sentimento apareceu logo depois da menina de cabelo vermelho sangue analisá-la de cima a baixo.

Achou corajoso da parte de Conall apenas dar de ombros e responder para a menina:

—Sou um cara perseverante, felizmente.

—Você quis dizer inconveniente.

Seu novo "aliado" lhe contara que o nome dela era Mattia e ela era do vilarejo de Amara.

Um vilarejo abaixo de Fortuna em questão de prosperidade.

Os dois ainda batiam boca quando Corinna se ouviu dizer com uma voz firme:

—Estamos aqui para uma aliança.— eles se calaram instantaneamente e Mattia se dignou a olhar para a menina sem um pingo de interesse.

—Sei porque estão aqui. Seu...colega já esteve aqui antes e a resposta foi negativa. —a jovem virou-se para olhar o relógio na parede.— Não vejo o que poderia mudar em minha resposta com um intervalo de apenas algumas horas. Desculpa se ele te fez perder o seu tempo vindo aqui e...

Corinna a interrompeu enquanto o menino dava um passo para trás.

—Na verdade, ele me contou, mas pensei que você seria mais esperta e aceitaria o convite da segunda vez.— Conall ficou tenso ao lado da menina e Mattia estreitou os olhos.— Tenho certeza que você deseja voltar para casa e tenho certeza qualquer que seja a pessoa que você tenha deixado para trás vai querer que você volte inteira. É uma questão de inteligência e estratégia.

Mattia não concordou com nada, simplesmente se jogou na poltrona novamente.

—Continue, estou ouvindo.—Corinna não desleixou a postura mesmo quando a surpresa por a menina querer lhe dar ouvidos lhe atingiu.

—Talvez você não tenha prestado atenção nas notícias dos últimos Sacrifícios da boca de seus Examinadores, mas sempre há uma aliança "dos mais fortes" ou "dos mais favorecidos" que geralmente elimina quase metade dos oponentes cruelmente e nesse exato momento ela está em formação em algum desses vagões.—a jovem repetiu o que Conall lhe contara alguns minutos mais cedo.

—E o que exatamente vocês estão me propondo? Que formemos uma aliança semelhante e massacremos inocentes que não tiveram o privilégio de receber a visita de vocês?— a ruiva cruzou os braços. Teimosia cobria o seu rosto.—Se vocês querem ser igual, não seria mais fácil se unir a eles?

—Não estamos com intenção de usarmos seus métodos ou sermos semelhantes. Estamos propondo uma aliança sólida, um tipo de ajuda mútua, não algo egoísta. Estamos propondo um jogo limpo e uma chance de voltar para casa...do jeito certo.

Conall assobiou quando a menina terminou de falar.

—Você acabou de fazer minha ideia parecer muito mais atraente

Mattia rolou os olhos e, ignorand-o totalmente, questionou:

—E como seria essa ajuda?

—Seríamos os olhos e ouvidos um do outro, compartilharíamos conhecimento, daríamos suporte quando fosse necessário.— Conall afirmou cruzando os braços.

—Só não devemos mostrar que estamos ligados de uma maneira mais afetiva ou eles usarão isso contra nós.— A garota deu de ombros descartando o último conselho de Corinna.

—Eu não faço a mínima questão de estar ligada afetivamente com o "cabeça de vento" ou com você, me perdoe.

Conall colocou a mão no peito como se estivesse profundamente ofendido.

—Ei, você não acha que está com o ego muito elevado, não?—aquilo foi o suficiente para as vozes das duas crianças à frente de Corinna se misturarem num burburinho ininteligível.

A menina limpou a garganta:

—E então? Está formada a aliança?— Os dois visitantes olharam ansiosos para Mattia.

—Se alguém quiser sair da aliança deverá avisar com antecedência, certo?— Corinna assentiu com a cabeça.— Não quero ser surpreendida com uma punhalada nas costas.

Silêncio.

Mattia parecia considerar os prós e os contras.

—Tem como responder logo? Eu preciso ir ao banheiro.— Conall se balançou de maneira esquisita.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

—Está formada a aliança, que seja.— Mattia disse finalmente estendendo a mão para a outra menina que apertou veementemente.

—Não recebo um?— Conall choramingou.

—Ainda não confio em você e...— ela olhou com desprezo para o menino —Vá liberar logo essa bexiga, garoto.

❖❖❖