Soundtrack

Track 12: Damn Regret


And when I'm lonely in my darkest hour
(E quando estou solitário na minha hora mais sombria)
You give me the power
(Você me dá o poder)
To sit and pretend
(De parar e fingir)

Do Contra acordou no domingo de manhã se sentindo como se tivesse acabado de presenciar um terremoto. Por mais que não tivesse bebido na noite anterior, passou o dia inteiro com uma dor de cabeça que ele pensava que só a pior das ressacas podia proporcionar. Então se dedicou à missão de passar o dia inteiro no quarto, saindo o mínimo possível e sem falar com ninguém.

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Mas na segunda-feira, assim que entrou no carro para ir à sua primeira aula da semana, e viu Nimbus se aproximando e ele soube que não conseguiria mais escapar daquela conversa fatídica sobre o jogo e tudo o que havia acontecido depois dele.

— E aí big-bro! Você sumiu depois do jogo… Achei que nem tivesse em casa ontem. - cumprimentou, se esparramando no banco do passageiro com a mochila no colo e um pacote de biscoitos nas mãos. - Suas fãs sentiram sua falta. - riu, referindo-se à algumas meninas da faculdade que conheciam o roqueiro por causa da banda ou das poucas partidas que ele jogou pela Atlética Limonada quando ainda era calouro.

— Tava sem saco pra festa. - respondeu simplesmente.

— Ih, já sei até o que foi. - arqueou as sobrancelhas - Mas se tu quer saber, eu nem acho que eles tão juntos de verdade…

— Eles quem? - perguntou, só para se fingir de desentendido. Sabia muito bem a resposta.

— A Mônica e o Cebola, ué. - respondeu. O silêncio reinou por alguns segundos, já que a única resposta que o outro deu foi um “ah” sem entusiasmo algum. Depois de um tempo, Nimbu achou que tinha tocado em um ponto delicado e resolveu começar outro assunto, só pra dissipar aquele clima estranho. - Você não esbarrou com a Carmem por aí quando saiu do ginásio não, né?

— Com a Carmem? - Do Contra perguntou, tentando ao máximo não alterar a voz, por mais que seu coração tivesse dado uma pequena vacilada de susto depois daquela pergunta. Será que tinha dado bandeira quando saiu atrás dela feito um doido? Se alguém desconfiasse do plano, as últimas esperanças que ainda podiam existir iriam pelo ralo.

— Ela também saiu antes da festa. A Denise ficou preocupada. - deu de ombros, como se ele mesmo não tivesse procurado a loira na boate. - Achei que tu pudesse ter visto ela porque… É difícil não ver a Carmem, né. - deu uma risadinha baixa.

— Não vi. - mentiu - Quando saí acho até que ela tava lá em baixo com vocês.

— Tava. Aí sumiu do nada. - deu uma pausa - O Titi ficou bolado. Desde antes do jogo tava falando que ia ficar com ela de novo.

— É sério isso? E tu acha que ela ia querer? - arqueou as sobrancelhas. Nimbus o encarou, surpreso. Normalmente ele só ouvia calado e nem prestava muita atenção nesse tipo de assunto.

— Não sei. - o mais novo respondeu, entusiasmado. - Ele é muito burro. Como é que perde uma menina daquelas? - fez cara feia.

— Essa turma só tem cara burro. - deu de ombros - Só percebe o que tinha depois que… - se interrompeu, subitamente tendo uma ideia mirabolante. Uma daquelas ideias tão péssimas, que correm o risco até de funcionar.

— Perde? - Nimbus completou, confuso.

— É, é. Isso. - respondeu, tentando segurar a empolgação.

Depois disso os dois ficaram em silêncio até chegarem ao estacionamento da faculdade. Do Contra saiu feito um furacão, como se chegar cedo pudesse fazer suas aulas do dia passarem mais rápido. Haviam muitas coisas nas quais ele precisava pensar antes de arriscar contar sua ideia para Carmem, mas só de ver uma possibilidade de aquele plano tomar um rumo e dar certo, ele já sentia uma empolgação enorme.

Carmem estava com Denise quando a notificação de Do Contra chegou. As duas dividiam uma mesinha redonda em um café gourmet perto do campus, despreocupadamente tomando sucos sem açúcar e comendo sanduíches naturais enquanto a ruiva fofocava sobre todos os acontecimentos do sábado. Não havia nada de muito empolgante. Aninha e Jeremias, Mônica e Cebola, Titi jogando flertes para a ruiva, essas coisas. Nenhuma novidade. Ainda assim, a loira ouvia tudo com atenção, como se fossem as informações mais importantes que já recebera.

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A amizade delas sempre tinha sido assim, um tanto superficial. Apesar de gostar muito da outra e de já ter dividido mais com ela do que com qualquer outro de seus amigos (agora com exceção de Do Contra, mas Carmem ainda tinha dificuldade para encaixá-lo na categoria amigo), havia sempre um distanciamento, um espaço que não as permitia falar de nada muito pessoal sobre elas mesmas.

Então falavam sobre os outros.

A loira pegou o celular para ver a notificação do garoto. A amiga não pareceu se importar, ela mesma se distraindo com seu próprio telefone.

A gente precisa se encontrar. Eu tive uma ideia.

Mentira

vc pensando? uau

Não precisa ficar tão chocada. É meio doido, mas acho que pode funcionar.

fala logo

Difícil explicar por aqui. No terraço de novo, às sete?

Tem ctza?

Tenho. Eu não vou morrer por usar um elevador, Carmem.

imbecil

só to preocupada c vc

Eu sei.

Me encontra no saguão entao

a gnt sobe junto

Tá.

Às sete.

— Tudo ok aí? - Denise perguntou, largando o celular.

— Ah, sim. Era só um carinha aí. - deu de ombros.

A conversa das duas continuou como se nunca tivesse sido interrompida. Falaram sobre mais banalidades, como as roupas das outras meninas na festa de sábado, Titi, as fofocas mais quentes do fim de semana. Um pouco mais tarde Carmem, que havia ido dirigindo naquele dia, deixou a amiga em casa e foi para sua mansão tomar um banho para ir à academia antes de encontrar o garoto no Empire mais tarde. Estava curiosa para saber qual era a bendita ideia que ele havia tido, porque até o momento sua participação no tal plano se limitava à fazer o que ela mandava e esperar que algo acontecesse.

Para dizer a verdade, era bem esquisito pensar nele querendo entrar nessa ideia a ponto de traçar estratégias. Mas ela gostava, significava que ele finalmente estava disposto de verdade a ajudá-la a acabar com o casalzinho do ano.

Do Contra estava ciente do olhar de Carmem para ele quando entraram no elevador. A preocupação dela era irritante e o fazia se sentir vulnerável, mas ao mesmo tempo era reconfortante, de um jeito até estranho. Ele reprimiu a vontade de segurar a mão dela quando o elevador deu aquele costumeiro solavanco ao parar no andar que iriam descer e seguiu atrás dela ao longo do corredor que levava ao terraço. Assim que a porta vermelha se abriu, ele sentiu todo o pânico de estar em um lugar fechado desaparecer num passe de mágica.

— Então… - ele começou, se esparramando em uma das cadeiras de plástico que estavam ali e apoiando os pés no parapeito.

— Qual é o plano? - ela perguntou, sentando-se na beirada do parapeito, bem em frente ao garoto, com os pés ainda apoiados no chão.

— Você tá doida, Carmem? - ele reclamou, se levantando praticamente num salto. - Sai daí!

— Eu não vou sair, idiota. Faço isso o tempo todo. - girou os olhos, aborrecida. Ainda assim ele se colocou de pé ao lado dela, à postos para segurá-la caso ela fizesse qualquer movimento. - Você é muito paranoico, garoto!

— Você que é sem noção. - fez cara feia - Eu tava pensando… Acho que você vai achar uma ideia meio idiota, mas pode funcionar.

A loira arqueou as sobrancelhas, descrente.

— E se a gente fingisse que tá junto? - ele perguntou, soando mais incerto do que tinha planejado. Ela o encarou, incrédula, logo soltando uma gargalhada.

— Essa era sua grande ideia? - perguntou, ainda rindo. - Até parece que alguém iria acreditar nisso, garoto!

— Tô falando sério! - respondeu, sentindo-se desafiado. - Pensa comigo, não tem uma pessoa nessa turma que o Cebola deteste mais do que eu. E todo mundo sabe que você e a Mônica tem essa competição imaginária, sei lá. - explicou. - Não tem nada que faça um cara querer mais uma menina do que ver que perdeu ela pro inimigo. - deu de ombros, como se não fosse nada importante.

— Uau. Não acredito que tô ouvindo isso logo de você. - ela respondeu, claramente surpresa.

— Ué, eu posso ser um cara bem sensível quando quero. - rebateu, fazendo-a rir um pouco, sem deboche dessa vez.

— Sensível é uma palavra muito forte. - sorriu - Você acha que conseguiria segurar essa mentira?

O garoto a encarou, ponderando. Por mais que ele mesmo tivesse tido a ideia, não tinha pensado muito nessa parte. Haviam muitas coisas a se considerar, é claro. Carmem não era nem de longe o tipo de garota que o interessaria, mas depois desse pouco tempo de convivência tinha aprendido à aturá-la. E precisava admitir que ali, com o céu da cidade quase escurecendo e a pouca iluminação alaranjada das luzes de do terraço, a achou muito bonita. De certa forma, e ele nunca admitiria que pensava aquilo, Nimbus tinha razão. Ela não era uma garota que um cara deveria perder. Não seria um tormento tão grande fingir que gostava dela. Além do mais, seria só isso, fingimento. Muito em breve acabaria e, se tudo desse certo, ele teria Mônica em seus braços.

— Posso fazer esse sacrifício. - respondeu, com cara de desdém. - E você?

— Se tem uma coisa que eu sei fazer bem é teatrinho, querido. - deu de ombros, fazendo pouco caso da provocação dele. - Quando começamos isso?

— Vou tocar com a banda numa festa do pessoal da biologia semana que vem, bem capaz que o pessoal todo vá. O que tu acha?

— Parece perfeito. - a loira sorriu, animada.

Finalmente tinham um plano concreto. Nenhum dos dois estava pensando nas consequências que aquele fingimento poderia trazer, porque naquele momento isso não importava nem um pouco.

No entanto, em algum momento, os dois se lembrariam daquele momento como o ponto de virada daquele roteiro maluco que eram suas vidas.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.