Wonderland

Capítulo 10


Hermione viu Draco se afastar dela, mas não conseguiu se mover. Sentia como se seus pés fossem feitos de chumbo.

O que eles fizeram?!

Engraçado, ela nunca pensou que queria beijar Draco até fazê-lo. Mas agora teria que enfrentar o gênio arisco dele. Uma voz interior dizia que devia dar espaço a ele, mas a leoa dentro de si queria correr até ele e enfiar um pouco de bom senso em sua cabeça dura.

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Hermione escolheu ouvir a leoa.

Finalmente encontrou os próprios pés e correu. Chamou seu nome, e teve certeza que ele a ouviu pela rigidez de suas costas, mas Draco não parou. Ela o chamou de novo.

— Não, Granger! Me deixa – ele respondeu sem se virar para ela.

— Draco, podemos conversar so...

— Não! – ele gritou. Dessa vez ele se virou para ela, e Hermione pode ver a tempestade se formando em seus olhos. – Esquece o que aconteceu – ele falou com calma fingida. – Por favor, Granger. Conversar sobre isso só vai fazer a gente brigar, e eu não quero fazer isso, ok? Só... – seu autocontrole aparente se desfez afinal – Só me deixa em paz, porra!

Draco correu para longe dela mais uma vez e Hermione decidiu não insistir mais essa noite. Mas não iria desistir, sabia que todo o progresso dele iria por água abaixo se Draco não lidasse com o beijo da maneira certa.

Chegando em casa não pensou em fazer muita coisa além de se jogar no sofá. Nem se dera ao trabalho de acender a luz, e ficou apenas deitada no sofá mexendo no celular. Experimentou enviar uma mensagem à Draco, mas ele nem sequer a leu. Sem ser convidado, o beijo invadiu sua mente e Hermione passou os dedos pelos lábios. Quase dava pra sentir o gosto de Malfoy.

Na manhã seguinte acordou com horríveis dores nas costas. Depois de um banho rápido preparou algumas panquecas com calda de chocolate. Ouviu o celular apitar, mas não era uma mensagem de Draco e sim de sua mãe. Hermione lhe contou sobre a noite passada, sem mencionar o beijo ou a tentativa de assalto.

Mais tarde ouviu batidas na porta, e quando se levantou para atender, Hermione imaginou que fosse o Sr. Carter recolhendo o aluguel, mas foi Draco, com olhar frio e calculista que a encarou de volta. Ele entrou sem ser convidado e Hermione teve que sair da frente para evitar que trombassem.

Que comecem os jogos.

— Draco...

— Não – ele a interrompeu, calmo demais. – Quem vai falar sou eu, Granger, então quero que preste muita atenção, ok? Ontem à noite não significou nada. Na-da! A gente fez o que fez porque estava fugindo daqueles caras e . Você ouviu bem o que eu disse?

— Quem você está querendo convencer com esse discurso? Você ou eu? Se estava fingindo, desempenhou seu papel muito bem – ela desafiou e pode ver a centelha se acendendo dentro dele.

Draco a controlou muito bem e continuou como se não a tivesse ouvido.

— O acordo acabou.

— O quê?

— Já aprendi tudo o que precisava e agradeço sua ajuda – ele falava como se tivesse recitando um discurso que decorara com muito afinco. – E assim que recuperar meu dinheiro, você receberá o que nós combinamos – Hermione não acreditava no que estava estudando. – Aqui está o seu livro.

— Eu não quero o livro, Malfoy, e nem a droga do seu dinheiro – ela gritou para ele, mas ele já caminhava em direção a porta.

Um rápido feitiço de Hermione fez com que a maçaneta desse choque em quem tentasse tocá-la. Draco sacudiu a mão olhando pra ela com raiva.

— Muito maduro, Granger.

— Ah, eu estou sendo imatura?! Você é inacreditável.

— Estou tentando fazer a coisa certa aqui.

— Não, não está! Está fugindo. Não quer enfrentar o que aconteceu.

— Não aconteceu NADA! – ele gritou de volta, pegando a maçaneta novamente, decidido a ir embora dali. Sentiu o choque de novo, mas sua teimosia o impedia de ter bom senso.

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— Você vai se machucar, Draco. Para! – ele ainda não tinha soltado a maçaneta, e não ia soltar, Hermione percebeu, então lançou um feitiço de bloqueio entre ele e a porta.

— Hermione...

— Não! Agora é você quem vai me ouvir. Você não é mais uma criança controlada pelo seu pai, ou pelos estereótipos da Sonserina, ou por Voldemort. Você pode escolher por si mesmo o que quer, que se dane o status ou sangue. Vai ser fantoche deles até quando? A vida é sua, Malfoy, e você pode tomar o controle dela. E é isso que te assusta, estar sem sua máscara, porque quem me beijou ontem não foi o herdeiro Malfoy, nem o sonserino, nem o menino assustado, foi você. Simplesmente você, sem nenhuma armadura ou desculpa.

— Você não me conhece, Granger.

— Pelo contrário, acho que te conheço melhor do que qualquer um. Acho que fui a única pessoa que já te viu sem a sua máscara.

— O que você quer que eu faça?! - ele cuspiu para ela com raiva.

— Esse é exatamente o ponto! O que você quiser. O que você escolher. Quero que viva sua vida por você não pelas expectativas dos outros.

Draco balançou a cabeça negativamente sem parar, como se não soubesse lidar com uma verdade incontestável. Algo que lhe fora revelado diante dos olhos e não houvesse nenhuma possibilidade de negação.

— Eu não sei mais o que eu quero. Eu não sei mais quem eu sou... – ele admitiu num suspiro e Hermione sentiu o coração encolher de dó – Tudo o que existia, sumiu.

— Draco, é uma página em branco que...

— Não venha com essas merdas de frases prontas pra cima de mim, Granger. São palavras vazias – ele acusou.

Hermione se calou enquanto Draco se sentava no balcão, afundando a cabeça entre os braços.

— Essa mudança seria mais fácil se você parasse de se culpar por tudo o que faz. Olhe por esse lado, não tem ninguém além de mim que te conhecia de antes. Ninguém está te julgando, e se isso fizer você se sentir melhor, posso prometer que nunca contarei nada sobre seu período aqui.

Aquilo fez Draco erguer a cabeça.

— Não tem ninguém aqui... – ele repetiu como se apenas agora essa ideia tivesse lhe ocorrido. – Promete que não vai conta nada?

— Prometo – ela disse com sinceridade. – Será que agora você pode, por favor, parar de me ver como sua inimiga?

A pausa de Draco fez o coração de Hermione parar por alguns segundos.

— Por que insiste tanto em me ajudar, Granger? – Hermione o encarou pensativa.

— Acho que todos merecem uma segunda chance. Você cometeu erros como qualquer um, Draco. Mas não posso te condenar por causa disso – ela lhe ofereceu um pequeno sorriso. – E a gente ainda tem uma viagem pra fazer... certo?

Ela o encarou em expectativa, e esperou pelo que pareceu uma eternidade antes de Draco responder.

— Sim, Granger. Vamos fazer essa maldita viagem.

***

Draco preparava uma mochila ainda se perguntando onde estava com a cabeça quando deixou que Granger o convencesse a continuar com isso. Mas ele teria que ficar ali mais um ano, então... por que não fazer a estadia agradável? Ninguém saberia que ele estava se divertido e Granger prometeu não contar. Isso se se pudesse acreditar na palavra dela, o que, relutante em admitir, Draco confiava.

Eles não conversaram sobre beijo, o que deixou o sonserino grato. Não queria pensar sobre o assunto, pois não sabia como lidar com ele. As vozes em sua cabeça não podiam ser simplesmente desligadas, nem seu temperamento. Não fazia ideia de como ele e Granger poderiam ficar confinados em um carro por horas sem que o assunto fosse trazido à tona, e junto com ele uma discussão inevitável.

— Hunter, caso meu... tio... apareça enquanto eu estiver fora, pode entregar essa carta pra ele, por favor? – o amigo estava deitado em sua cama com um livro.

— Claro, cara. Quanto tempo vai ficar fora mesmo? – Hunter guardou a carta em uma gaveta.

— Uns dois ou três dias, por que? – Draco perguntara desconfiado.

— Só pra programar quanto tempo de sexo selvagem eu posso fazer aqui.

— Fique longe do meu quarto – ele exigiu.

— Não prometo nada. E quando vou conhecer sua namorada?

— Eu não tenho namorada.

— Ok, a garota que você tá pegando – Hunter perguntou com impaciência.

— Não tô pegando ninguém – ele se defendera.

— Draco, se queria manter segredo, não devia tê-la beijado daquele jeito no meio de todo mundo. – “daquele jeito”? Foi tão intenso assim?— Pensei que fosse sério, já que estão indo viajar juntos.

— Só vamos resolver uns problemas, e ela não é minha namorada.

— Ok, emburradinho. Boa viagem com a sua não-namorada-que-você-beija-em-público.

Draco o ignorou e se dirigiu ao local de encontro combinado com Hermione. A bagagem da garota incluía apenas uma pequena bolsa de mão. Feitiço de extensão, Draco imaginou.

Decidiram que o bruxo seria o primeiro a dirigir e iniciaram sua pequena roadtrip depois de pedir lanches em uma drive-thru. A música do pen-drive que Hermione espetara no rádio e a voz da mulher do GPS eram os únicos sons no carro.

Um livro muito maior do que a bolsa de Hermione fora tirado de lá, e a garota começou a lê-lo com afinco. Draco conseguiu ver que era um livro de Medicina, mais especificamente sobre o cérebro humano. Ela lia por mais de uma hora e de vez enquanto fazia anotações em um caderno preto. Estava claro que algo a irritava quando Hermione fechou o livro com força e o lançou no banco de trás.

Ele a encarou surpreso, mas ela virou o rosto.

— Nunca pensei que veria Hermione Granger maltratando um livro.

— Essa droga tá me deixando doente. Não quero falar sobre isso – ela disse e Draco não insistiu no assunto. - O que você está estudando? Nunca me contou.

— Só escolhi fazer aulas de matérias que eu gosto. Isso é temporário, Granger. Não é como se eu fosse me formar.

— Ok, qual sua aula preferida então?

— Desenho.

— Sério? Não sabia que você desenhava.

— Tenho muitos talentos ocultos que você desconhece, Granger – ele a encarou presunçoso e ela sorriu.

***

A viagem prosseguia no mesmo ritmo tedioso anterior. Pararam em um posto de gasolina e descobriram que o GPS os havia enviado por um caminho mais longo. Estavam mais a leste do que gostariam e o tempo marcava quase doze horas de viagem ao invés das nove previstas.

A razão disso era que, em uma das cidades da redondeza acontecia o Festival do Vinho, que atraia pessoas de todos os cantos. E se adicionassem isso ao período de férias, sim, a estrada estaria cheia. Decidiram jantar ali mesmo no bar antes de seguir viagem.

Hermione dirigiu pelas três horas seguintes, e eles decidiram que já tinham percorrido o suficiente por um dia, mesmo não tendo chegado nem na metade do trajeto. Parariam no primeiro hotel que encontrassem.

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Esse plano acabou sendo mais difícil do que pensaram. Já haviam parado em três deles e nenhum tinha quartos disponíveis. Esse festival devia ser mesmo muito badalado se não encontravam nem quartos na beira da estrada.

— Tem uma barraca na minha bolsa – Hermione sugeriu.

— Você quer acampar?

— Você quer dormir no carro?

Assim estacionaram e entraram num bosque até achar uma clareira que pudessem usar. Hermione entregou uma lanterna a Draco, e usou o Lumos de sua varinha para se guiar. Quando encontraram um lugar que ambos acharam adequado, o sonserino recolheu gravetos para uma fogueira enquanto a bruxa armava a barraca com magia.

— O que diabos é isso? – Draco encarava a pequena barraca de Hermione.

— É a nossa barraca.

Nossa? Nós dois vamos dormir aí? Não tenho certeza se uma pessoa cabe aí.

— Ora, não seja ridículo, é claro que cabe. É uma barraca de camping trouxa – ela apontou a varinha para os gravetos e murmurou um Incendio, enquanto o conflito interno de Draco o percorria.

Ela sabia o que ele estava pensando. Os dois teriam que dormir inconvenientemente próximos naquele pequeno espaço. A ideia também a assustava, mas havia um lado seu que ficava maravilhada com a possibilidade. Chamem-na de louca, mas queria dividir essa intimidade com ele. E achava que Draco precisava disso tanto quanto ela.

— Talvez eu devesse dormir no carro.

— No carro? Mas é perigoso.

— E aqui não é?

— Aqui temos minha magia, vou coloca-la ao redor da barraca. Não posso proteger aqui e lá ao mesmo tempo.

— Não me importo.

— Eu te assusto tanto assim?

— Acha sensato depois do beijo a gente dormir juntos?

— Ah, então houve um beijo?! Desculpe, por um momento pensei que tivesse imaginando coisas, porque você insiste em dizer que não aconteceu nada— Draco a encarava com raiva. - O que acha que vou fazer? Pular em cima de você? Você não é tão irresistível quanto pensa. Vamos apenas dormir. E se me lembro bem, ontem quem me agarrou foi você.

— Bem... você não estava exatamente me pedindo pra parar!

— Não... eu não pedi.

A réplica de Draco morreu em sua boca conforme Hermione lançava os feitiços de proteção ao redor deles, deixando o rapaz sozinho por um momento. Rezou para que ele lesse as entrelinhas. Ela não pediu para ele parar, porque não queria que ele tivesse parado.

Hermione estava dentro da barraca a mais de meia hora e Draco ainda não entrara. Imaginou que aquele teimoso estivesse dormindo no chão ao lado da fogueira e fechou os olhos.

Acordou algumas horas depois e percebeu que ainda estava sozinha. Uma rápida espiada lá fora revelou o sonserino dormindo, meio sentado, apoiado em uma arvore. Aquilo partiu seu coração mais do que podia admitir. Conjurou uma manta e um travesseiro pra ele e voltou a dormir se sentindo estúpida.

Que se dane.