A história de Sakura

A orientação


A primeira coisa que pensei quando Sasuke saiu da minha porta e dei os primeiros passos para o meu quarto foi que eu precisava de algo para que o meu externo apresentasse a minha mudança. E, sem receios, peguei uma tesoura e cortei o meu cabelo. Esses fios longos davam muito trabalho para cuidar. Minha vida não deveria depender de agradar os outros, eu também tinha que fazer o que era melhor para mim. O cabelo curto era o que eu mais gostava. Podia ser que deixasse crescer novamente, mas agora estava aliviada em sentir as pontinhas encostando no pescoço.

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No dia seguinte, quando cheguei à sala de aula, pude notar que o moreno olhou diretamente para mim. Eu estava bem sorridente, admito, só que ele parecia muito surpreso e até nervoso.

— Sakura – ele sussurrou assim que me sentei ao seu lado – Aquelas meninas aprontaram alguma? Elas cortaram o seu cabelo?

Eu dei uma risadinha de leve. Sasuke estava preocupado comigo. Eu deveria ter ganhado na loteria.

— Não – respondi – Eu quis cortar, acho que precisava de algo novo. O que você achou?

— Ficou... – ele virou o rosto para o outro lado – diferente.

— Eu devo levar isso como um elogio? – eu me deliciava com o seu embaraço.

— Acho que sim – ele se voltou para mim com o rosto corado e olhou diretamente nos meus olhos – Está bonito.

Eu não fazia a menor ideia do que estava acontecendo na cabeça daquele menino, mas parecia bom. Tão bom que eu senti meu peito bater forte com suas palavras e guardei como se fosse ouro em minha mente. Meu cabelo estava bonito. Eu já imaginava o nosso casamento e os três filhos de olhos negros andando pela casa me chamando de mamãe.

Não treinamos mais no ginásio. Procurávamos por locais vazios pela escola e o professor não pareceu se importar. Inclusive, ele gostou de nossa motivação e nos sugeriu alguns exercícios para melhorar o nosso condicionamento físico. Nosso trio passou a se encontrar todos os dias, seja para fazer atividades físicas, seja para ajudar Naruto a melhorar suas notas.

Quando finalmente chegou o dia, eu fiquei muito nervosa. A orientação era em outra cidade e todos dormiríamos lá. Separei todas as minhas roupas e produtos de higiene pessoal e conferi pelo menos umas cinco vezes antes de ir. Me encontrei com os meninos na porta da escola e nos direcionamos para o ônibus fornecido para a viagem.

Sorte ou coincidência, Shikamaru chamou Naruto para se sentar ao seu lado com uma história sobre o seu melhor amigo estar com dor de estômago ou algo do gênero. Ficamos eu e Sasuke lado a lado. Queria ter aproveitado mais desse momento e, quem sabe, conversado com ele. Porém, o que lembro vagamente é de acabar dormindo e sentir uma mão acariciando a minha cabeça. A segunda parte eu não sei se era um sonho ou realidade.

A orientação seria em uma enorme fazenda. Com um casarão antigo de dois andares, as meninas dormiriam no andar de cima e os meninos em baixo. Os quartos eram enormes e ficaram cerca de cinco alunos, cada um com sua devida cama e armário com cadeado, para colocar as mochilas. No meu quarto estava Ino, e mais algumas garotas que não conhecia, chamadas Hinata, Tenten e Temari. Haviam dois banheiros por andar e a cozinha ficava em uma casa separada. Deixamos nossas coisas e descemos para ouvir as informações dos professores. Assim que todos chegaram e se sentaram na grama, o professor Kakashi tomou a dianteira e começou a falar:

— Bom dia a todos! – disse – Espero que tenham feito uma boa viagem até aqui. Vocês terão algumas horas antes do almoço para descansarem e se prepararem. A corrida de orientação começara às quatorze horas e eu quero ver todos já preparados e na largada às treze para distribuirmos os mapas. Algum professor tem algo a acrescentar?

— Acho que não custa reforçar – um dos professores veio à frente. Eu o reconheci como o que dava aulas para Naruto – Já dissemos isso nas recomendações para as malas, mas venham com roupas e tênis confortáveis. Não se esqueçam do protetor solar e do repelente. Vocês estarão no meio da mata e não em um resort!

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— Bem, acho que é isso – disse Kakashi – Estão dispensados. Aproveitem para dormir e poupar energias para a longa caminhada.

Os alunos foram saindo aos poucos e se unindo em seus costumeiros grupos de amizade. Eu me aproximei do meu trio sentado do outro lado de onde as meninas estavam.

— E então? – perguntei – O que vamos fazer nesse meio tempo?

— Eu vou dormir – respondeu Naruto – Quero estar preparado para quando aquelas garotas ameaçadoras resolverem aparecer! Tô certo!

Aquilo me desanimou. Ainda tinha que lidar com as meninas mais velhas do basquete. Por causa disso eu acabaria atrasando o meu time. Me senti um ímã de problemas. De repente, senti que alguém apertava a minha mão, tentando me confortar. Era Sasuke.

— Vai ficar tudo bem – ele disse – Nós daremos um jeito, não se preocupe.

Me senti mais aliviada e fui para o quarto. Eu também deveria tentar dormir. O problema era que a ansiedade era tamanha que não conseguia fechar os olhos por mais de cinco segundos. Depois de meia hora rolando de um lado para o outro, resolvi sair para uma caminhada.

Fui andando por onde acreditava não ter ninguém, na parte de trás da casa, onde havia um belo jardim, com muitas flores diferentes para admirar. Coincidentemente, Sasuke estava deitado entre elas, olhando para as nuvens. Me deitei no sentido oposto, com nossas cabeças uma ao lado da outra.

— Não conseguiu dormir, Sasuke? – perguntei timidamente.

— Não estou com sono – respondeu e completou com um sorriso – Pelo visto você também não.

— Acho que dormi o suficiente vindo para cá – ri – O que está vendo nessas nuvens?

— Na verdade, eu nem estava olhando para as nuvens – respondeu com um suspiro – Estava pensando em tudo o que está acontecendo agora... São muitas coisas para lidar de uma vez.

Ele estava pensando na morte dos pais, certamente. Sua guarda ainda não havia sido decidida e o moreno estava sozinho. Aquele futuro incerto era deveras desconcertante até para mim, que via de fora. Não queria que ele se sentisse mal por isso, queria que soubesse que ficaria tudo bem e então, sem pensar, peguei em seus cabelos.

— Sabe, eu estou aqui... – eu disse.

O moreno olhou para mim em um instante e se levantou. Instintivamente fiz o mesmo e ficamos sentados, um ao lado do outro ainda em sentidos opostos. Mal tive tempo para pensar que talvez tivesse ido longe demais. Comecei a arrumar meus fios rosados cheios de grama quando o senti me abraçando.

— O-obrigado – sussurrou em meu ouvido – de coração.

Eu fiquei surpresa e feliz. Ele chorava baixinho, mas parecia tudo bem. Era algo que precisava fazer para se sentir melhor. Eu acariciei seus cabelos enquanto ele me abraçava. Ficamos assim por um momento que para mim, foi muito pouco e ao mesmo tempo uma eternidade. Era maravilhoso. Teria ficado mais se um certo loiro baixinho não tivesse aparecido.

— Pessoal? – disse Naruto – Está na hora do almoço!

Eu ainda estava um pouco atordoada pelo que tinha acontecido. Seu cheiro de roupa limpa ainda estava em minhas narinas e me ruborizava um pouco. Naruto não perguntou sobre os olhos inchados do amigo. Não sei se o fez por empatia ou por não ter notado mesmo. O que tinha aprendido sobre o loiro era que seu coração era quase tão grande quanto a sua burrice.

Almocei ao lado de Sasuke e conseguia sentir o roçar de sua manga em meu braço. Eu gostava da sensação e me sentia ansiosa por um pouco mais de contato físico. Ao mesmo tempo, me julgava por ter me tornado uma pessoa terrível, tirando proveito do sofrimento do pobre garoto. Que horror, Sakura! Bem, se ele precisasse... Eu estaria lá, certo?!

Comemos rápido e fui direto ao meu quarto com as meninas, pegar as minhas coisas e fazer a higiene pessoal. Hinata já estava lá, com seus olhos perolados, mexendo timidamente em suas coisas. Ela me viu ali e ficou um pouco receosa até que chegou perto de minha cama e perguntou:

— Você é a Sakura, não é mesmo?

Eu assenti e a olhei com certo interesse. Por muito tempo tive apenas a Ino como amiga do sexo feminino. Talvez essa fosse a nossa chance de formar um grupo, quem sabe. Sempre quis ter aquele grupo de meninas que andavam sempre juntas, como nos filmes.

— Você faz trio com o Naruto, certo? – ela continuou – O que acha dele?

De acordo com a forma que ela olhava para o chão enquanto seus dedos se moviam ansiosamente, pude presumir que ela sentia certa insegurança ao meu lado. Então, considerando que estávamos falando de garotos, já liguei uma coisa à outra e percebi que ela estava apaixonada pelo loiro.

Bem, Naruto já tinha me ajudado bastante. Tínhamos nos tornado amigos e eu já havia me acostumado com o seu jeito. Brincalhão e meio lerdo para entender as coisas, nunca perdia a oportunidade de fazer uma piada ruim e, como eu, era extremamente competitivo. Eu gostava muito dele, mas não do mesmo jeito que ele gostava de mim, insistindo para que eu fosse sua namorada. Eu queria que ele fosse feliz e parasse de correr atrás de algo que nunca teria. Meu coração era do Sasuke e sempre seria assim.

Então, olhei para a Hinata e sorri enquanto dizia:

— Acho ele muito legal, Hina – respirei fundo analisando sua reação – Vocês seriam um casal bem fofo, na verdade. Você gosta dele, não é?

Ela ficou vermelha como um pimentão. Eu tinha acertado na mosca. O bom é que assim ela parava de me ver como uma rival e eu abria as portas para uma nova amizade. Começamos a rir juntas enquanto passávamos o protetor solar, até que as nossas outras colegas de quarto chegaram. Assim que Ino me viu, ela pulou para frente e apontou o dedo bem na minha cara:

— Se prepare sua testuda! – gritou – Esse passeio será uma grande oportunidade e eu vou fazer com que o Sasuke se apaixone por mim! Quando ele olhar para essa gata aqui, não haverá mais chance nem para você e nem para nenhuma garota dessa escola! Talvez eu devesse usar essa sua testa como um outdoor para que ele encontre o caminho que o leve até a minha boca!

Eu já estava acostumada com suas ameaças e sempre respondia à altura. Dessa vez, aproveitei para deixar em segredo o meu avanço com o garoto. Um deleite que ainda me pegaria pensando muitas vezes posteriormente. Limitei-me apenas a sorrir de olhos fechados e retrucar, como sempre fazia:

— Ino, Ino... – introduzi a minha voz de deboche à provocação – Será mesmo que algum garoto na face da Terra te beijaria ao saber que é tão porca que nunca deve ter visto uma escova de dente? Pobres rapazes...

Falando isso, a deixei gritando sozinha e saí do quarto com Hinata. Ela estava um pouco assustada com o que havia acontecido e claramente queria conversar comigo sobre. Antecipando suas palavras, me desculpei:

— Mil perdões pelo que você viu. Eu te juro que eu não sou sempre assim. É que eu e a Ino gostamos do Sasuke e isso nos tornou meio inimigas. Desde então, nunca perdemos a oportunidade de competir uma contra a outra.

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Eu estava fazendo de tudo para que não destruísse a minha imagem e perdesse uma amizade que nem havia começado direito quando a dos olhos perolados finalmente falou:

— Na verdade, eu admiro vocês duas – ela sorriu – No começo eu fiquei com medo de que você gostasse do Naruto, porque eu vejo na escola o quão forte e incrível você é. Só que eu não tenho o direito de ter medo ou inveja, você é demais! A coragem que vocês tiveram para admitir e lutar pelo garoto que gostam é algo inspirador. Eu queria ser mais como você e Ino!

Ah se ela soubesse... Se conseguisse ler a minha mente, perceberia o mundo de inseguranças dentro da minha cabeça. O medo que ela tem, eu também tenho. Pareço ser forte na frente da Ino, mas nunca sei o que Sasuke pensa. Quanto mais parava para analisar, mais batia o desespero de agora ele me ver como uma irmã que precisa tomar conta. O bagunçado do cabelo, o abraço... O que ele queria dizer?

— Obrigada, Hina – desviei o olhar e ignorei meus pensamentos – O Naruto é um pouco devagar para essas coisas, mas eu acho que você consegue!

— Você jura? – agora ela tinha um sorriso largo – Muito obrigada!

Deixamos o prédio e ela foi se encontrar com o seu trio, que também parecia bastante animado (provavelmente não pelo mesmo motivo). Ela era uma boa garota, mas tinha que se soltar mais. Era como eu antes da Ino. Então, olhei ao redor e notei o tanto de gente que estava pronto para o desafio.

Engoli seco. Depois de ter toda aquela conversa, tinha me esquecido que o pior estava por vir: as garotas mais velhas. A gente tinha se preparado para aquilo com exercícios físicos e um treinamento quase que militar desenvolvido pelo Naruto para que eu pudesse correr e fugir o mais rápido possível. Ainda assim, não podia deixar de pensar que elas aprontariam alguma contra mim e meus amigos.

Naruto e Sasuke já estavam posicionados e tinham pegado o material com os professores: um mapa, uma bússola, um cartão para recolher selos e o número do nosso trio: sete. Eu nunca fui muito supersticiosa, mas tentei levar como um número da sorte para me acalmar. O meu garoto de cabelos negros já não tinha seus olhos vermelhos e exalava confiança. Quando ninguém estava olhando, pude sentir sua boca próxima à minha orelha e ouvir o seu sussurro “Não se preocupe, vai ficar tudo bem”.

Tentei me segurar em suas palavras enquanto colocava o nosso número em minha blusa e prendia o meu cabelo curto com a famosa fita vermelha. Era tempo de luta, não de desistir. Eu consigo!

E lá fomos nós. O mapa era bem simples, principalmente para a gente que já tinha se preparado bastante para toda a atividade. Era só seguir a bússola pelas coordenadas e ir colocando os carimbos em um pequeno passaporte que tínhamos recebido. O que mais nos dava medo realmente era a possibilidade de encontrar as outras garotas por ali. Eu conseguia sentir a ansiedade crescente no grupo, era quase como se a gente implorasse para que elas aparecessem logo e acabassem com aquele sofrimento.

Já tínhamos passado de mais da metade do caminho quando comecei a ouvir as vozes já tão conhecidas. Sasuke pegou na minha mão, e eu assenti. Naruto, que andava um pouco mais à frente, também parou e fez um gesto com a cabeça. Tinha chegado a hora. Coloquei o passaporte no bolso e segurei com força a bússola.

Tínhamos pensado muito sobre uma estratégia que melhor funcionasse com aquelas meninas durante esse tempo e a conclusão que tivemos foi que a melhor maneira de escaparmos ilesos seria justamente fazer com que elas pensassem que tivessem o controle. Caso elas realmente conseguissem dominar aí a situação ficava um pouco mais complicada, mas os meus colegas tinham certeza que não chegaria a tal ponto. Eu só poderia rezar para que estivessem certos.

Então, Sasuke soltou a minha mão e agimos como se absolutamente nada tivesse acontecido, caminhando tranquilamente até chegar perto do perigo. No começo, elas sequer notaram nossa presença, mas depois percebi o rosto mudando para uma incredulidade, seguido de raiva. Que os deuses protejam meu pobre narizinho.

— Não é possível que vocês realmente acham que podem circular perto da gente sem que nada aconteça com ninguém – bradou uma – O que esses meninos que você anda fizeram, rosada, foi praticamente trazer o coelho para dentro da armadilha.

— Sem ofensas – respondi tentando não mostrar meu nervosismo pela respiração – Mas só estamos aqui para cumprir a atividade escolar. Não sei o que pode ter entendido, mas precisamos de boas notas.

— Acha mesmo que vamos cair nesse papo furado? – sua amiga respondeu – Vocês gostam de se sentir superiores a gente. Não suportamos pessoas metidas, que se acham, principalmente quando não tem nada do que se orgulhar. São um trio de fracassados liderados por uma menina fútil.

A minha mão tremia. E se fossemos realmente fracassados? E se aquela ideia fosse burra? Elas estavam confiantes demais, minha perna bambeava. Sasuke permanecia irredutível em seu lugar e Naruto se enchia de raiva, parecendo um cachorro prestes a dar ferozes mordidas. Esse posicionamento me deu forças.

— Bem, é uma pena que pense isso sobre mim – comecei - Infelizmente vejo que não posso mudar a sua opinião, mas se me der licença, eu só quero continuar a minha atividade em paz e ir até a linha de chegad...

—Cala a boca! – ela gritou, me interrompendo de forma abrupta – Ninguém aqui vai deixar você passar ou se dar bem nessa palhaçada que você mesma começou quando esbarrou em uma das nossas no basquete. Nós não estamos sozinhas, rosada. Diferente de vocês três, a nossa turma inteira está aqui.

Foram aparecendo pessoas por detrás delas, todos mais velhos, maiores. Naquele momento eu tive certeza que ninguém estava para brincadeira e que iríamos apanhar muito antes de terminar aquele circuito. Ai minha mãezinha, de aluna exemplar a aluna arruaceira. Até prevejo um castigo quando chegar em casa.

Eles estavam cada vez mais próximos, Sasuke e Naruto colocaram o braço na minha frente, para me proteger. Engoli em seco. O de cabelos negros deu um sorriso de canto e encarou a última garota que tinha me mandado calar a boca.

— Se eu fosse você, não falava assim com ela – disse calmamente – Não caímos em armadilha nenhuma, estamos tranquilos. Até porque não viemos aqui sozinhos: meu amigo loiro aqui tem em um de seus bolsos um gravador que vai adorar entregar para a diretoria com essas ameaças que você está fazendo. Só não sei se vai ser muito bom para seu histórico escolar, acredito que casos de bullying são dignos de expulsão no nosso colégio.

— É o que vamos ver – respondeu – Teremos que verificar se esse gravador está aí mesmo, certo?!

— Nem por cima do meu cadáver! – Naruto gritou – Eu não sou tão fácil assim, sua feiosa! Pode vir que eu vou derrubar você e esse seu grupo de brutamontes retardados sem derramar nem uma gotinha de suor!

O loiro bateu em retirada, sendo seguido por vários veteranos e eu aproveitei para correr pelo caminho oposto ao dele. O plano era basicamente esse: me fazer chegar rapidamente até um dos professores, onde eu ficaria segura, usando os meninos como retardantes. Depois de tanto treino de Educação Física, correr como uma flecha não era um problema. Só que estava muito fácil, fácil demais...

Enquanto corria, um garoto que não conhecia colocou o pé na frente e me fez cair como um saco de batatas no chão. Eu ouvi uma risada abafada enquanto tentava tirar a minha cara da terra. Ele puxou o meu cabelo com força, fazendo a cabeça doer enquanto me empurrava para trás.

— Então você é a Sakura – continuou a rir – não pensei que seria uma presa tão fácil.

Por mais que eu olhasse, não consegui reconhecer de que turma ou sala ele era, mas a voz fez com que meus cabelos da nuca arrepiassem e me deixassem em total alerta. Aquilo era perigo de verdade, não era como os outros alunos. Pior, eu estava sozinha.

— O que você quer? – respondi com ferocidade.

Ele continuou segurando meus fios rosas, me permitindo sentar no chão. No lugar onde estávamos eu não conseguia ouvir mais ninguém, amigo ou inimigo, se aproximando. Comecei a pensar em um plano urgente para me tirar dali. A sensação de desconforto seguia aumentando.

— Então... – começou – Eu quero ver algo belo, algo que se pareça com arte. Acho que você pode me ajudar com isso, Sakuratinha.

Juntei terra com a mão e joguei para cima, mirando no rosto dele e me preparei para puxar o cabelo e sair dali. Ele deu uma desequilibrada, consegui empurrá-lo para trás e correr por alguns metros, quando senti uma empurrada e caí novamente no chão.

— Não acredito que já está querendo sair da festa – a voz assustadora continuava – Nós ainda nem começamos a nos arrumar para o grande evento!

Ele voltou a segurar meu cabelo, desceu a mão até o meu queixo e tirou um estilete de dentro do bolso. Eu gelei enquanto via ele pegar a ponta afiada e arranhar a minha bochecha. Uma pequena gota de sangue começou a escorrer e o jovem pegou com seu dedo e levou aos lábios. A sensação de horror me envolvia e estava paralisada.

— Sabe, eu acho o seu cabelo lindo, Sakuratinha – sussurrou no meu ouvido – Acho que eu o quero todo para mim.

O garoto começou a cantarolar. Eu o senti passando aquela linha de corte entre os meus fios e o cabelo caindo no chão. Aquela música começou a entrar na minha cabeça como se fosse uma trilha sonora de filme de terror. Mova-se Sakura, mova-se! Meus nervos pareciam ter esquecido como funcionar.

Então eu senti um vulto vindo de longe até onde estávamos. Uma pessoa veio e já deu um chute no que me segurava, fazendo com que o estilete entrasse um pouco no meu couro cabeludo e saíssem mais algumas gotas de sangue. Essa pessoa colocou o outro no chão e não parava de socá-lo, com força, no rosto. Quando me virei, percebi que reconheceria aqueles cabelos negros mesmo a quilômetros de distância. Era Sasuke.

No entanto, eu nunca tinha visto aqueles olhos, antes. Eram olhos de puro ódio, amargura. Parecia que havia um bicho dentro dele que tinha se soltado e estava destilando sua fúria em um saco de pancadas. Quando eu finalmente voltei a ter controle do meu próprio corpo, seus punhos já estavam vermelhos de sangue.

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— S-Sasuke – eu comecei a dizer, tentando conter as minhas lágrimas – P-por favor, pare com isso. E-eu estou bem...

— Ele te machucou, Sakura! – bradou sem olhar para mim. Aquilo estava totalmente fora do controle.

Andei devagar até ele, puxei o braço do moreno para trás com gentileza e o fiz olhar nos meus olhos. Seus ombros tremiam, mas, lentamente, ele voltou a si, enquanto o outro jovem, jazia desacordado no chão. Mais calma, pude perceber que meu agressor tinha longas madeixas loiras, um pouco mais escuras que as da Ino. Infelizmente, essa informação ficaria guardada na minha memória por muitos anos, senão para sempre.

— O Naruto conseguiu escapar? – perguntei finalmente.

— Sim – Sasuke ainda se acalmava – E, por incrível que pareça, ele realmente achou que tinha que trazer um gravador, então levou isso aos professores e acho que elas serão expulsas.

— Acho que ele é mais esperto do que parece – sorri – Como me encontrou aqui?

— Eu para onde estava indo quando começou a correr – disse – Foi tudo uma questão de tempo. Assim que o montinho de malucos começou a se desfazer, eu vim ver como você estava. Por mais que a gente tivesse treinado bastante, ninguém imaginou que seriam tantos, então confesso que fiquei um pouco preocupado de não dar certo. Ainda bem que te encontrei a tempo.

Eu estava grata. De verdade. Gostava muito do Sasuke desde a enfermaria, mas agora, convivendo diariamente e conhecendo cada vez mais o moreno, era difícil controlar o tanto que meu coração batia por ele. Poderia dizer que aqui meu peito já doía por Sasuke. Hipnotizada por sua conversa, sem nem saber exatamente o que estava fazendo, eu me aproximei e o beijei nos lábios.

M-me desculpe – Me afastei rapidamente com vergonha do meu impulso – E-eu não queria...

O moreno sorriu, acariciou a minha bochecha e me deu outro beijo. Eu não sabia se era assim que se beijava, se estava fazendo a coisa certa com as mãos ou com a boca, ou se o sangue que já começava a secar na minha cabeça atrapalhava, mas parecia que era exatamente essa a fórmula para um beijo perfeito, porque eu não saberia descrever a alegria que eu sentia crescer dentro de mim naquele momento.

Naruto, com o seu dom de ser estraga prazeres, chegou um pouco depois com um trio de professores, para analisar o estrago no aluno mais velho no chão e ver se estávamos bem. Eu estava mais que bem, estava ótima! Se esse não fosse o pior dia da minha vida, seria o melhor, com certeza! Meu coração parecia que iria sair pela boca.

Depois disso, as aulas foram paralisadas por uns dias. A escola estava em alerta, aquilo era uma violência muito grande para alunos tão jovens. O tempo passou em flashes na minha cabeça, entre idas à diretoria para explicar o que aconteceu, agradecimentos ao Naruto por ter gravado, conversas com os pais, recomendações para a psicóloga, dicas de como melhorar o convívio com os alunos, etc. Eu só pensava em ver Sasuke.

Quando as aulas finalmente voltaram, eu e meu novo cabelo curto repicado só queriam saber qual seria a opinião de um certo moreno sobre isso. Eu estava mega ansiosa e sentei logo na primeira fileira para que pudesse vê-lo chegar pelos corredores. Os alunos foram chegando e se sentando, perguntando se estava tudo bem e eu cortava assunto, já preocupada. Ele nunca se atrasa.

Comecei a pensar que talvez ele ainda estivesse conversando com alguém no corredor quando o professor chegou e começou a dar a aula, mas no recreio, ninguém sabia de Sasuke. Eu procurei na enfermaria, na sala de artes, pela biblioteca... nada. Com medo da resposta, fui até Kakashi e perguntei se tinha alguma notícia.

—Sakura, pensei que soubesse – ele parecia surpreso – O Sasuke não estuda mais com a gente, foi transferido de escola tem pouco tempo. Acredito que a família mudou de cidade. Sinto muito, sei que vocês começaram a andar muito juntos devido às atividades propostas, mas isso não vai interferir na sua nota final, está bem?!

Eu já nem conseguia ouvir o que ele falava no final.