Aconteceu

Capítulo 44



— Como sabe?
— É o que minha intuição diz.
— Não trabalhamos com intuições Dra. Brandão.
— Deixa eu falar com ela – pediu Ana.
— Calma meu amor.
— Meu amor? – Alice disse – Que papo é esse?
— Longa história. Ana te conta depois.
— Não. Eu quero saber agora. Vocês estão juntos?
— Sim, estamos.
— Rafael – Ana chamou minha atenção me lançando um olhar assassino – me deixa falar com Alice. Coloca pelo menos o telefone no viva voz. Agora – eu não tive alternativa a não ser obedecer.
— Alice?
— Sua bruxa. Você finalmente ficou com o Rafael e não me contou! Como pôde?
— Eu tentei te ligar ontem, mas você não atendeu minhas ligações. - Ana se defendeu.
— Ah, foi um dia bem complicado. Depois eu te conto tudo.
— Você tá bem? Que assalto é esse?
— Nos assaltaram. Na verdade te assaltaram. Entraram no nosso apê e levaram aquele seu celular velho e seu notebook.
— Sério?
— Sério. E eu estava falando com o Rafael que acho que foi a Juliana.
— Por que?
— Minha intuição é quem diz.
— Ela nunca falha. – Ana disse.
— Mas é insuficiente pra acusar qualquer pessoa – eu disse.
— Mas não é só isso. Lembra que o Dan disse que ouviu ela falar com sei lá quem que ia acontecer alguma coisa enquanto vocês estivessem viajando?
— O que que tem? – Ana perguntou, mas eu já sabia o que Alice ia dizer.
— É o assalto. Só pode ser.
— Não. Não pode ser – Ana disse. – ela é advogada, sabe que isso é crime. E além do mais o que ela poderia querer com meu computador e meu celular?
— Por enquanto eu não sei. Mas vou ficar de olho. Ontem eu e o Dan pegamos ela tentando acessar o seu computador da Duarte. – eu já sabia disso, mas Ana ainda não estava a par dos últimos acontecimentos.
— Mas ele tem senha.
— Pois é, ela não conseguiu entrar. Mas ai o Dan deu uma olhada nas câmeras de segurança e viu que ela tentou entrar na sala do Rafael também. Seja lá o que ela queria, não conseguiu e resolveu invadir nossa casa.
— Acho muito precipitado acusar ela assim Alice – eu disse – vamos aguardar as investigações da polícia. Se for a Juliana, eles vão saber e tomar as devidas medidas.
— Mas ainda assim vou ficar de olho.
— Só toma cuidado e não deixa ela perceber – alertei.
— Pode deixar. Tô arrumando as coisas por aqui. Ana, me liga mais tarde?
— Ligo.
— Beleza. Então, adeus pombinhos.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

Desliguei o telefone e Ana suspirou. Ela fechou os olhos e encostou a cabeça no banco do carro. Parecia exausta e preocupada. Eu só queria fazer alguma coisa que pudesse deixa-la aliviada.


— Você está bem?
— Preocupada com Alice. Não quero que nada de mal aconteça a ela.
— Vocês são muito próximas. É bonita essa conexão de vocês duas. No entanto, não vejo como chamar alguém de “bruxa” seja algo positivo. – ela riu.
— Na verdade já me chamaram de coisas piores. Mas eu não ligo quando é ela quem diz. Ela é tudo o que eu tenho.
— Como vocês se conheceram ? – perguntei tentando distraí-la.
— Não sei. Um dia eu olhei para o lado e ela estava lá. Nossas mães eram amigas de infância, consequentemente, eu e Alice também. Nossa amizade foi construída com o tempo. Uma união inquebrável. Acho que é por isso que nossa amizade é tão forte. Sobrevivemos a tudo juntas. Vou fazer 25 anos e todos os momentos que já tive na vida, sejam eles felizes ou tristes, Alice estava lá comigo. Adotamos uma a outra. – ela suspirou – até a mãe dela me adotou, depois que eu perdi a minha. Achei que eu estaria abandonada e sozinha, mas não. Elas estavam lá. Elas me receberam na família. E é isso o que são pra mim. Minha família.
— E o seu pai? – ela mudou sua postura. Ficou mais rígida e com o olhar mais duro.
— Ele nos deixou. Conheceu uma mulher e se mandou. – subitamente senti uma raiva sobrenatural desse homem – ele nos deixou na pior. Eram tempos difíceis. Passamos por muitas coisas, mas de certa forma isso nos fez mais fortes. – ela continuou a me contar detalhes de sua vida de modo que pude conhece-la melhor, e eu não tive dúvidas a respeito da mulher que me apaixonei. Ela é ainda mais incrível do que eu pensava.

O meu plano de distraí-la funcionou, de modo em que em todo o caminho ela não pensou mais no assalto. Compartilhamos sonhos, pensamentos, filosofias de vida e discutimos sobre os filmes de super heróis que poderíamos ver mais tarde no conforto de casa. Depois de minha surpresa para Ana, claro. Assim que chegamos em casa, ela se retirou para tomar um banho enquanto que eu fui com James preparar alguma coisa para ela. A verdade é que estava desatualizado sobre a Holanda, de modo que pedi a meu motorista que me informasse dos melhores lugares que havia por aqui.

Queria que Ana conhecesse cada pedacinho da cidade conhecida pela liberdade, famosa por sua arquitetura. Ela não havia visto nada, e como ex-futura-estudante de Arquitetura com certeza ficaria impressionada com o que iria ver. Me certificaria de que tudo ocorresse perfeito.