Aconteceu

Capítulo 38



— Não precisa ser assim. – disse depois de muito silêncio – Mano, eu mais do ninguém sei como é difícil. Você não foi o único que sofreu com a morte da Sabrina. Eu estava lá quando ela nasceu, quando falou pela primeira vez, quando andou, quando foi pro primeiro dia de aula, quando teve o coração partido pela primeira vez por conta de um idiota do ensino médio, quando ela se apaixonou por você, quando vocês se casaram e quando descobriram que iam ser pais. Eu a amava também, eu também sofri.
— Mas você não tava lá quando ela morreu. – apertei o volante e afastei a lembrança daquele momento.
— Não. Eu não estava. – ele suspirou. – mas eu conhecia a Sabrina melhor do que ninguém, melhor do que você. Eu sei o que ela ia querer.
— Não vem com esse papo de que ela ia querer que eu seguisse em frente. Não vai rolar.
— Não vou falar porque você mesmo já disse.
— Dan, por favor. Vamos mudar de assunto. Como anda o caso daquele deputado acusado de lavagem de dinheiro?
— Ele cometeu um crime e vai ser condenado. Fim da história. – ele suspirou – ela gosta de você. Eu também não sou cego. E acho que você tá perdendo a grande oportunidade de ser feliz.
— Não posso arriscar a vida dela. Ela é importante demais pra eu fazer isso.
— Sabe o que é pior? Você mesmo não vê o quanto você já está envolvido com ela. Se você estiver certo, apesar de eu achar que não está, ela já está em risco. Não é algo que você possa escolher. Assim como você também não pode escolher por quem ou quando você vai se apaixonar.

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Daniel tinha razão. Mas eu me neguei a acreditar nisso, até ontem. Quando estávamos ali, na praia, eu não consegui me manter longe o suficiente. Pela primeira vez em muito tempo, eu senti que precisava de alguém. Ana. Eu precisava de Ana. Eu resolvi não afastá-la, eu a queria perto de mim. Eu queria viver o que tivesse que viver ao lado dela. Eu sabia dos riscos, eu sabia dos perigos. Mas eu iria protegê-la. Não tive a oportunidade de proteger Sabrina, mas com Ana seria diferente. Tinha que ser!

Enquanto ela dormia ali, tão serena e tão linda, eu tinha ainda mais certeza do que eu queria. Eu a queria, e queria fazê-la feliz. Eu queria ser feliz. E foi pensando assim que tirei meu celular do bolso e digitei:

“Você tinha razão. Eu estava escolhendo errado. Obrigado por ser meu irmão. Assim como você, eu escolhi ser feliz!
R.”

Em pouco tempo ele respondeu.

“Que bom irmãozinho. Achei que ia ter que te bater de verdade. Por favor, não esqueça de tomar aquele seu remedinho pra não roncar tão alto e a mina desistir de você. Aproveita e faça o que eu faria, inclusive usar camisinha.
Ps: ela tá feliz por você. Dan”

Eu sei que Sabrina estaria feliz por mim.

Estávamos quase pousando, resolvi acordar Ana, mesmo sabendo que isso seria quase um crime pelo fato dela estar tão tranquila dormindo.

— Ana? – disse tirando os fones do ouvido dela
—Hum?
— Já vamos pousar – ela enfim abriu os olhos e me olhou.
— Já acabou o filme?
— Já!
— Eu dormi?
— Ah, só por umas três horas.
— Que estranho.
— O que?
— Eu nunca consigo dormir quando estou em um avião. – ela espreguiçou e olhou pela janela.
— Caramba! – exclamou. Me aproximei dela para poder ver também. Era um pouco mais de meia noite na Holanda e visão que tínhamos da janela era um verdadeiro espetáculo de luzes.
— Bem vinda à Holanda. – ela se virou para mim e abriu um dos sorrisos mais lindos que já vi em seus lábios. Parecia que as luzes lá de fora haviam contagiado seus olhos que, ao invés de estar na escuridão de sempre, agora estavam iluminados.

Apesar de ter visto o mínimo da Holanda no caminho para casa, Ana parecia maravilhada com tudo o que via. James, o motorista, foi nos buscar no aeroporto e nos levou direto para casa. Tinha muito tempo que eu não ia pra Holanda, ao contrário de Marcella. Minha irmã amava tanto a Holanda que todo ano da um jeito de viajar. Assim que passamos pelo portão me lembrei do quanto eu gostava de vir para cá quando era pequeno. O jardim era incrível, minha mãe sempre foi apaixonada por flores e como aqui tem os mais diversos tipos de flores, ela fez questão criar um jardim maravilhoso. Talvez amanhã, depois da reunião eu convide Ana para um passeio pela propriedade já que estávamos no meio da madrugada e tínhamos que descansar para o longo dia de amanhã.

Assim que entramos fui bombardeado de lembranças boas e ruins. Ana, sempre muito perceptiva, notou a mudança em meu comportamento.

— Ei, tá tudo bem?
— Tá sim, só estava lembrando de coisas do meu passado aqui nessa casa.
— Coisas boas ou ruins?
— Um pouco dos dois.
— Foca nas coisas boas. E esquece as ruins.
— Você sempre dá um jeito pra tudo né?!
— Menos pros americanos. Acho que nem Jesus Cristo daria um jeito neles. – eu ri.
— Meu menino – Mere exclamou, em inglês, assim que me viu. – que saudade que eu estava de você – disse enquanto me abraçava.
— Eu também estava Mere. Deixa eu te apresentar uma pessoa – estendi a mão para Ana que se aproximou. – Ana, essa é Meredith, nossa governanta e uma das mulheres que me criou. Mere, Está é Ana Siqueira, minha assistente e... minha namorada. – ela ficou olhando pra mim como se eu fosse um alienígena e eu só pude sorrir para ela.

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