Laços

Afogando as mágoas


Retirei mais uma peça de cima da pequena pilha e analisei. Blusa de magas compridas roxa, eu uso. Dobrei e mandei pra caixa da esquerda, das que eu ia ficar.

Era sexta-feira e eu decidi “descansar” um pouco. Entenda isso como não ir andar pra cima e pra baixo, apenas ficar em casa. Resolvi começar a separar as roupas nas caixas. A da direita seria as que eu mandaria pro brechó, pra conseguir algum dinheiro pros próximos dias, talvez os últimos ali, e a da esquerda seriam as que eu ficaria.

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Faltavam exatamente doze dias do meu prazo estipulado pra dar um jeito na vida ou cair fora. Complicado, muito dolorido e badístico.

Aliás, eu tinha que controlar minha bad pra não levar os outros comigo, já que tava todo mundo mal naquela semana. Bia, sabe se lá porque, foi pra casa de uma amiga havia quase uma semana e era sempre evasiva nas mensagens. Stelfs estava na bad porque o Castiel tinha sumido, mas ele voltou, pelo menos. Lys.... Acabou ficando na bad junto comigo, mesmo eu tentando dar uma animada nele.... Acho que é inevitável, ao saber que a namorada pode ir embora.

Suspirei, pegando outra peça. Uma calça de moletom que estava apertada na cintura. Caixa da direita. Enquanto isso, a música no meu celular corria solta, preenchendo e sendo o único som do quarto e até da casa, já que parecia que a Stelfs estava dormindo.

Pra minha sorte, ou falta dela, começou um dos maiores hinos da bad: A Natural Disaster. Não bastasse você estar na fossa, seu player ainda selecionava as piores músicas pra tocar no momento. Mas eu resolvi deixar o negócio correr solto.

“It’s been a long cold winter, without you

I’ve been crying on the inside, over you

You just slipped through my fingers”

Peguei outras peças que eu usava e dobrei, colocando na caixa da esquerda. Era muita bad pra ser administrada. Tristania level hard.

— And it’s hard to find, hard to find the strenght now, but I try. And I don’t wanna, I don’t wanna speak now... — Comecei a cantar enquanto dobrava um casaco e colocava nas coisas que eu ia vender. Por que faz uma música dessas, Anathema? Mas não vou nem negar que é uma das que eu mais gosto...

Suspirei e fui até o guarda-roupa, enquanto cantava, pra pegar mais coisas. Além das roupas, ia colocar minhas coisas numa outra caixa, pra deixar tudo organizado.

Por que eu já estava fazendo as malas? Porque eu sou uma paranoica e louca por organização!!

Não, falando sério, eu sempre me prevenia pra todas as possibilidades. Era possível eu encontrar um emprego em menos de duas semanas? Era. Mas também era provável eu não achar porcaria nenhuma e ficar na mesma. Então, resolvi adiantar as coisas pra não deixar de última hora.

Ia esperar mais alguns dias, caso não resultasse em nada, pediria pra Bia voltar o anúncio do aluguel do apê e trancaria a minha matrícula. Aliás, será que ela vai ter voltado até lá? Espero que sim. E espero que esteja bem.

A música foi acabando e eu voltei a cantar o último refrão, ficando só a minha voz e a da cantora.

— You’ve just slipped through my fingers, and I feel so afraid. You just slip through my fingers and I fail... — Cantei em um sussurro, deixando a voz morrer aos poucos. Voltando ao silêncio...

Fui de volta pro guarda-roupa, pra pegar mais coisas. Um violão começou junto da próxima música. Brincadeira que foram arranjar até uma música da bad do Epica!

“Join me, come join me, dancing in melancholy...”

Fato da vida: você tá na bad? Mesmo que você não queira, vai acabar ouvindo músicas da bad.

Joguei o resto das coisas em cima da cama e vi um envelope no meio.... Peguei e abri: eram as fotos que a Stelfs e os colegas fizeram aquele dia. Tinha pedido a ela pra me dar algumas cópias, pra guardar de recordação.

Com cuidado, peguei-as na mão e fui analisando uma a uma, demorando em cada detalhe. A primeira era aquela em que eu estava apoiada no banco e Lysandre olhando pra mim. Os dois naquele olhar de bobos apaixonados.

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Lembrei daquele dia. De como morri de vergonha com a câmera e o povo vendo. Dos momentos de fofura e amor entre eu e o Lys. De como me diverti, aloprando a Stelfs e o Castiel. De como todos nós nos divertimos depois...

Ia ficar na saudade, de todos. Ia doer deixar eles pra trás...

Parei de pensar nisso quando ouvi uma batida na porta, que estava aberta.

— Ester? — Ouvi a voz de Lysandre chamando o meu nome. Joguei as fotos na cama, com o envelope em cima.

— Oi, Lys. — Ele já estava parado perto da cama. Dei um sorriso, pra tentar disfarçar e mexi nas roupas, jogando umas em cima do envelope. — Não ouvi você chegar. — Ele se aproximou e sentou na beirada da cama, ao meu lado.

— Stelfs abriu a porta para mim e disse que você estava no quarto. — Ouvi-o contar, enquanto eu dobrava uma calça e colocava na caixa da esquerda. — Já está arrumando suas coisas? — perguntou, colocando a mão no meu ombro e afagando. Sorri fracamente com o carinho.

— Eu tô — respondi com pesar e mudei de posição, ficando de perfil para ele e encarando o chão. — Caso nada dê certo. — O olhei de canto de olho nessa hora. — Se não der certo, as coisas pra mudança já estão adiantadas. — E voltei a fitar o chão.

Senti-o se aproximar de mim e me abraçar, mesmo eu estando de lado. Encostei a cabeça no peito dele, que acariciava o meu braço.

— Não perca as esperanças, Ester. — Tentou me animar, porém eu não reagi a essa fala. Mordi a bochecha. Segundos de silêncio. — Não gosto de te ver assim. — Subiu a mão que estava no meu braço, pro meu rosto, fazendo carinho com os dedos.

— Também não gosto de te ver mal por causa de mim. — E me afastei um pouco pra poder olhar pro Lys. Comecei a passar os dedos pela bochecha dele. — Não quero que você fique mal só porque eu estou assim.

— É impossível eu não me preocupar com você. — Soltou o abraço e colocou as mãos no meu pescoço. — Sua vida faz parte da minha — declarou, olhando pra mim. E eu enxergava tudo o que ele queria passar, apenas olhando pros olhos lindos dele.

Me senti derretida com essa declaração. Devo ter arregalado os olhos e ficado boquiaberta. Minhas emoções forma de espanto a “ai meu coração! ”. Não evitei sorrir abertamente. Não sabia nem o que responder depois disso.

— Amo o seu sorriso. — E subiu a mão esquerda, percorrendo os dedos perto dos meus lábios. Abri um sorriso ainda maior.

Em seguida, ele acabou com a pequena distância entre nós e me beijou. Seus lábios pareciam querer acariciar os meus, com tamanha gentileza, e eu coloquei as mãos em volta de seu pescoço, enquanto tentava beijá-lo de volta com a mesma doçura e carinho.

Devido ao tanto de emoções e preocupações que eu estava sentindo nos últimos dias, acabei ficando um pouco distante, sem tantas demonstrações de afeto vindas da minha parte. Mas, na verdade, eu queria tê-lo ali comigo e, ao mesmo tempo, sentia que era melhor afastar um pouco, pra não sentirmos tanto, caso eu tivesse mesmo que ir embora. Isso fazia meu coração doer e eu me sentir perdida, sem saber o que fazer.

Separei meus lábios dos dele e só fiquei ali, olhando-o. Admirando cada detalhe e gravando ainda mais na memória. Abri um sorriso de canto.

— O que foi? — Lysandre perguntou em um sussurro, ainda próximo de mim.

— Nada, só estava... — Inclinei um pouco a cabeça, fingindo que estava bem pensativa. — Só estava.... Te olhando mais de perto. — Vim com essa e um selinho rápido, na brincadeira.

Soltei meus braços do pescoço dele e fiquei de pé.

— Agora eu tenho que terminar de arrumar tudo isso aqui. Porque a Stelfs vai me ajudar a levar as roupas pro brechó, antes de ela ir pro trabalho. — E peguei uma camiseta meio velha, dobrando e colocando na caixa da direita.

— Precisa de ajuda? — Lysandre questionou, indo mais pra ponta da cama e apoiando as mãos no joelho.

— Bem, eu tenho que ver que roupas que eu vou ficar e quais eu vou vender. — E apontei as caixas com a cabeça, pegando outra peça do meio. — Se você quiser, pode me ajudar a dobrar, daí depois eu vejo qual vai pra qual lugar.

E ele o fez. Ficou do meu lado e começou a dobrar as roupas que estavam em cima da cama, deixando-as empilhadas num canto, pra eu ver o que faria com qual. Com isso, concluí que o Lys sabia sim como dobrar uma roupa. Só deixava tudo bagunçando no quarto dele por preguiça (ou falta de tempo, como ele dizia).

Meu celular continuava tocando música nesse meio tempo, indo parar em All I Need, do Within Temptation.

— Eu tava pensando hoje mais cedo — comentei, chamando a atenção dele, enquanto continuávamos organizando as coisas. — Por que será que quando a gente tá na bad, sempre acaba tocando música da bad, sendo que só piora a situação? — Fui pegando as roupas que ele empilhou e colocando nas caixas certas.

— É o que eu... — Não deixei ele terminar a frase, pois já sabia o que ia vir.

— É o que você chama de coincidência. — E ele me fitou. Eu estava com meu sorriso de lado e encarando-o com uma sobrancelha erguida. — Tava até com saudades de você “filosofando”. — E ele riu com isso.

Terminei de colocar as roupas da pilha no lugar certo e fui pegar mais das que ele dobrava. Quando o Lys pegou uma blusa, que estava em cima do envelope... Ele olhou pra mim, não querendo pegá-lo, porque não sabia o que tinha ali.

Peguei o envelope e as fotos.

— São as fotos que tiramos aquele dia, lembra? — E cheguei mais perto, mostrando-as pra ele. — Ficaram tão bonitas... — E suspirei, não querendo voltar pra aquela bad contemplativa enquanto estava perto dele. Lys pegou as fotos e começou a olhar.

— Você estava belíssima esse dia — elogiou e eu sorri fracamente, me encostando do lado dele.

— Então quer dizer que eu não tô bonita nos outros dias? — brinquei, rindo um pouco. Ele virou pra mim, pronto pra responder alguma coisa. — Tô brincando — cortei o que ele ia dizer.

Lys me devolveu as fotos e eu coloquei de volta no envelope. Acabei colocando na gaveta do criado mudo.

— Vou deixar ali, pra guardar junto com os documentos depois — expliquei e voltei a mexer nas roupas. Silêncio.

Do nada, Lys me abraçou e eu demorei um pouco pra retribuir, num breve momento de tela azul.

— Você está bem? — Ouvi ele perguntar e apenas assenti com a cabeça. Senti-o dar um beijo nos meus cabelos.

Ai, por que tão carinhoso e fofo assim, minha gente? É pra matar qualquer uma de amores.

Sorri fracamente pra ele e disse pra voltarmos ao trabalho, porque tinha que terminar com aquilo antes das quatro da tarde.

Arruamos tudo, na maior parte do tempo em silêncio, só com as músicas da bad tocando (sério, nem uma meio dançante no meio).

Fui até o meu guarda-roupa pra pegar mais roupas, porém, estava vazio. Suspirei.

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— Terminamos. — E virei pra ele, que estava sentado na cama e olhando pra mim. — Só falta umas coisas na gaveta, mas isso eu arrumo depois. — E fechei a porta do guarda-roupa.

Lys perguntou se eu precisava de ajuda com mais alguma coisa. Apenas pedi pra que ele levasse a caixa com as roupas pra vender e deixasse lá na sala. Ele saiu e eu disse pra que ficasse à vontade, enquanto eu me arrumava.

Peguei a toalha e fui tomar banho. Além de ir junto com a Stelfs, e provavelmente o Lys, levar as roupas pra vender, íamos aproveitar que era sexta e ir pro café pra ver a banda tocar.

Depois de me arrumar, coloquei a caixa, com as roupas que eu ia deixar, no canto da cama, peguei minha bolsa e sai. Cheguei na sala e vi o Lys sentado no sofá, like a lord, vendo TV.

— A Stelfs não apareceu ainda? — questionei e Lys negou com a cabeça. Sentei do lado dele e ficamos juntos vendo um filme, até que a Stelfs aparecesse e desse a hora de ir.

Ouvi uma batida na porta e me levantei pra atender. Nathaniel estava parado, com uma mão apoiada na parede, olhando pro lado e pensativo. Então percebeu que eu tinha aberto e estava lá parada.

— Oi — cumprimentou, com um sorriso simpático.

— Oi — devolvi o cumprimento. ­— Você tá procurando a Bia, né? — Ele assentiu. — Ela ainda não deu notícias. Eu e a Stelfs estamos preocupadas com ela. — Nathaniel suspirou, tirando a mão que estava apoiada na parede e passando pelos cabelos. O que é que tá acontecendo com esses dois?

Nathaniel ia falar algo, porém, Stelfs veio correndo e parou do meu lado. Parecia decepcionada ao ver quem estava na porta.

— Oi, Nath — ela o cumprimentou, tentando soar amigável. — Você veio saber da Bia, né? A Ester já deve ter dito que a gente tá sem novidades dela, né?

Ele assentiu com a cabeça e suspirou de novo.

— Mas a Bia não disse mais nada? Ela tá bem? Já faz quase uma semana... — O sujeito estava claramente quase em desespero pra saber da menina. Eu e Stelfs nos entreolhamos, compadecidas dele.

— Ela disse que tava bem, esses dias atrás — eu intervim, tentando amenizar um pouco. — A gente... — Me virei pra Stelfs, tentando pensar em algo.

— A gente vai continuar tentando falar mais com ela — Stelfs veio com essa e eu concordei.

— Tudo bem. — Nathaniel olhou pra baixo, claramente desanimado. — Desculpa eu estar incomodando vocês. Eu.... Eu já vou indo. Obrigado — E começou a se afastar.

— Ei, Nath. — Stelfs foi saindo e chamou a atenção dele, que já estava quase perto do elevador. — Eu, a Ester e o Lys vamos pro café, depois de passar no brechó. Topa ir afogar as mágoas com a gente? — O loiro olhou pra ela, como se dissesse “é o que? ”. E eu só balancei a cabeça e ri da frase da Stelfs.

Ele parou e pareceu considerar a proposta.

— Pode ser bom, distrair um pouco a mente de tanta preocupação. — Eu entrei na da Stelfs e tentei convencê-lo.

— Bem.... Eu topo sim — afirmou com um breve sorriso.

Stelfs disse pra esperar um pouco que ela ia pegar a bolsa pra sair. Eu voltei pro apê e peguei a caixa com as roupas. O pobre do Lys continuava no sofá, com a TV ligada e alheio à conversa na porta. Ele desligou a tela e ficou de pé.

— Eu levo para você. — Lysandre foi rápido e tirou a caixa das minhas mãos.

— Lys! — reclamei, mas ele foi saindo em direção à porta.

— Deixa, Ester. — Stelfs apareceu com a bolsa no ombro. — Ele quer dar uma de gentleman. Deixa ele — disse com uma piscadinha e eu ri.

Todos nós saímos do apê e eu tranquei a porta.

Pegamos o elevador e saímos do prédio. Nós três conversávamos como bons amigos, mas também tentávamos incluir o Nathaniel na conversa, pra ele se animar e não se sentir deslocado.

Passamos no brechó, que ficava a uns dez ou quinze minutos de distância de casa. Consegui um pouco de dinheiro, suficiente pros próximos dias, se soubesse como economizar.

Depois disso, pegamos o ônibus num ponto mais à frente. Sentamos em bancos perto e continuávamos no clima de amizade. Tentei ser mais alegre e fazer piadas, pra não passar pra ninguém a minha bad.

Minutos depois, chegamos no café. Stelfs cumprimentou os colegas dela e já foi direto pra trás do balcão.

Me sentei num banco do lado direito do Lys. Nathaniel escolheu se sentar à esquerda dele.

Como não tinha muitos clientes ainda, Stelfs começou a preparar nossos pedidos. Suco de maça pro Lys, milk-shake de chocolate pra mim e limonada pro Nath (comecei a chamá-lo assim, por questões de praticidade. Ele não se importou com isso).

Como não estava muito bem nos últimos dias, não andava comendo muito. Sim, isso mesmo. Eu, recusando comida. Mas, além da dor de cabeça, o nervosismo parecia fazer meu estômago se contorcer e eu só não pulava refeições pra não passar mal de fome depois.

Porém, mesmo assim, não ia recusar aquele néctar dos... Ops! Não ia recusar aquele maravilhoso milk-shake.

Eu e o Lys começamos a conversar, enquanto a Stelfs trabalhava. Porém, Nathaniel permanecia quieto e pensativo. Dei uma cutucada no Lys e apontei pro loiro com a cabeça. Então, resolvi chamar a atenção.

— Ei, Nath. — Ele então levantou os olhos na minha direção. — Não fica assim, não. — Tentei dar um jeito de consolá-lo. — Tenho certeza que a Bia vai voltar, talvez ela só precisasse de um tempo... — Pareceu não adiantar muito. — De toda forma, se ela não der outras notícias até esse final de semana, vou colocar atrás dela a CIA, o FBI, a INTERPOL, o Sabaton... Não, pera! Esse último é pra trilha sonora. — Lys riu de leve e Nath esboçou um pequeno sorriso. — Quero só ver o que vai acontecer se eu mandar um sueco de quase dois metros de altura atrás dela.

— Talvez ela saia correndo e gritando. — Deu um breve sorriso de lado, que desapareceu segundos depois. — Eu só queria entender porque ela sumiu assim, sem avisar — soltou em um desabafo e Lys olhou pra mim, que encarava Nathaniel compadecida.

— Ainda não compreendi o rumo dessa conversa. — Lysandre terminou de tomar o suco de maçã. — Ester mencionou comigo que Bia foi passar uns dias na casa de uma amiga. — Olhou pra mim e eu assenti. — Se ela disse isso, talvez não seja nada demais. — Ele começou a pontuar e eu confirmei de novo com a cabeça. Nathaniel agora olhava pra nós dois. — Talvez ela queira ficar um tempo afastada, para organizar os pensamentos...

— Mas então por que ela não avisou? — Nath interrompeu a fala do Lys, em um rompante. É, não dá pra negar que isso é estranho.

— Nath, calma — intervim de novo na conversa. — Eu vou tentar falar com ela de novo hoje, nem que eu tenha que importunar a Bia até ela falar comigo. — E sorri, tentando passar confiança.

— Obrigado — ele agradeceu com um sorriso fraco.

Stelfs se aproximou da gente e a conversa voltou a ficar animada. Porém, Nathaniel continuava abatido. A cara dele era de cortar o coração.

De repente, Lys olhou pra trás e viu os outros integrantes da banda chegando.

— Vou falar com eles. Temos que resolver o setlist, já que o Júlio não ensaiou as músicas novas. Até depois. — Se levantou e me deu um beijo na bochecha, indo até os colegas.

Nathaniel pediu outra limonada e Stelfs foi preparar. Ela voltou e entregou o copo a ele, que começou a tomar com gosto.

Stelfs me deu um olhar e depois voltou a secar um copo. Tive uma ideia...

— Garçom, aqui, nessa mesa de bar. — Comecei a cantar e Stelfs pareceu entender a minha, entrando na cantoria. — Você já cansou de escutar, centenas de casos de amor.

Nath olhou pra nós, como se fossemos duas loucas. Eu e Stelfs tentamos segurar o riso.

— Na na na na. — Fui nessa, porque não sabia a letra direito e minha amiga caiu na gargalhada. — Saiba que o meu grande amor, hoje vai se casar, mandou uma carta pra me avisar, deixou em pedaços o meu coraçãooo. — E coloquei a mão no coração, num gesto dramático.

Nathaniel riu. Aeeee, uma pequena vitória.

— Será que se eu cantar isso pra ela, a Bia volta? — perguntou e eu e Stelfs caímos na risada.

— É capaz que ela pergunte o porquê de tanta sofrência — Stelfs respondeu pra ele, já que eu continuava rindo.

— Prepara uma música romântica do Ed Sheeran. A Bia ama as músicas dele — comentei, antes de tomar o restinho do meu milk-shake. — Vai que funciona. — E dei de ombros.

— É uma boa ideia... — Ele realmente pareceu considerar.

— Ela vai gamar ainda mais em você — Stelfs comentou e nós rimos.

Paramos a conversa quando ouvimos uma música de introdução. Nos viramos pra trás (no caso, a Stelfs só se apoiou na bancada), pra acompanhar o show.

Não preciso nem dizer que a banda é ótima, né? E que o Lys foi maravilhoso como sempre? Bem, então podemos pular a parte do show... E não, dessa vez não teve música com dedicatória. Meu coração agradece! Mas eu adoraria se tivesse tido...

Enfim, o show acabou e eles foram aplaudidos por todos. Claro, fiquei esse tempo todo sorrindo pro Lys, orgulhosa dele. Não é lindo esse rapaz?

Depois disso, chegou a hora do café fechar. Nós três esperamos a Stelfs do lado de fora.

Ela apareceu e fechou a porta. Estávamos todos indo embora e conversando, quando ouvimos um assobio agudo. Virámos os quatro pro lado ao mesmo tempo. Tinha um cara de capacete, com braços cruzados e encostado numa moto. Ih, caramba, será que é assalto?

— Gente, — Stelfs começou, se dirigindo pra nós três. — Vou falar com ele. Podem ir embora sem mim — disse isso numa voz normal e foi andando.

Eu só fiquei parada, encarando ela ir se aproximando do motoqueiro das trevas.

— Ester, vamos embora? — Lys apoiou a mão no meu braço.

Apenas assenti e fomos os três pra casa.