Cecília costumava ser minha fada, uma presença mística que aparecia em datas especiais trazendo alegria e risadas, apenas para depois de uns dias desaparecer novamente. Porém com o tempo, percebi que junto com as risadas ela trazia a discórdia, reclamações sussurradas pelos cantos, discussões acaloradas que eu não compreendia.

Ainda assim, ela não deixava de brilhar pra mim, e por admirá-la mais que tudo eu a seguia para lá e para cá como uma mariposa. Sua vida e energia, o riso fácil e a atitude despreocupada dela eram contagiantes, até mesmo a voz rouca quando cantava até não poder mais não conseguia soar desagradável.

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Um dia, pintando as minhas unhas do mesmo vermelho de seu batom, a mulher começou a falar comigo e com o nada ao mesmo tempo, daquele jeito franco que fazia eu me sentir crescida:

— Você acha que eu tô velha demais pra me divertir? É o que sua vó me diz. Que sou irresponsável demais, que não tenho mais idade pra viver a vida sem preocupações. Mas sabe o que eu acho?

Olhou, então, para mim. Não desviei o olhar, porém também não falei nada, apenas neguei com a cabeça.

— Eu acho que estou é velha demais pra me preocupar com coisas bobas, além de que tudo é mais alegre do meu jeito. Céus, cedo ou tarde já não vou mais estar aqui! Então qual o propósito de atrasar esse evento se for para ser infeliz? Oh, estou bem sem os conselhos dela, estou bem. — Para meu espanto, minha fada começou a chorar e borrou meu esmalte. No entanto, de nada significava um esmalte borrado quando um mundo inteiro se fazia em pedaços na minha frente. Fadas não choram nem borram a maquiagem, como pensei na época.

Não, ela não era uma fada, era algo melhor, como hoje percebo: era Cecília. E apesar da minha desilusão da infância, hoje busco enxergar o dourado do pó mágico em tudo na vida, por mais difícil que seja. Tendo se tornado a atual preocupada e infeliz mãe e dona de casa que é, tudo o que titia pôde me ensinar foi a nunca deixar os outros cortarem as minhas asas. E não deixo.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.