Certo ano, mamãe me prometeu uma ida a um parque de diversões no meu aniversário. Fiquei eufórica com a perspectiva de um dia de pura alegria, dos brinquedos, das cores, da animação do lugar. A animação, especialmente, me atraia mais que tudo, talvez por ela não combinar nem um pouco com o dia a dia lá em casa. Acreditava que longe do trabalho, da casa bagunçada e da doença de vovô, meus pais talvez conseguissem tirar todos esses pesos das costas e rir comigo.

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Passei dias, semanas esperando por aquilo, marcando no calendário a aproximação da data. Guardava o dia circulado no fundo do meu coração, temendo que, se contasse para alguém, o sonho escoresse por minhas mãos, então guardei e guardei aquela vontade de gritar pro mundo a minha felicidade, construíndo castelos fantásticos na minha mente, até que um dia não aguentei mais.

Faltavam 4 dias e tinha sido deixada na casa de uma colega, pois minha avó tinha ido para o hospital com o vovô. A menina exibia com um sorriso no rosto o presente que tinha ganhado da mãe dela, uma fantasia de fada com o tecido colorido inteiro coberto de brilhos. Nunca tinha visto nada mais bonito que aquilo, senão minha antiga boneca, e senti uma necessidade enorme de mostrar que eu também tinha algo: um dia tão mágico quanto a roupa dela num futuro próximo.

Ela não ficou muito impressionada, tamanha sua admiração pelo seu pedaço de pano, porém minha decepção não apagaria as palavras. O estrago estava feito, e meu segredo precioso, perdido. Quando cheguei em casa mais tarde, percebi que não iríamos mais ao parque: meu avô tinha piorado e, mesmo com o sorriso cansado e a tentativa de me poupar, percebi nos olhos de papai que ele já não voltaria pra casa.