FEITOS UM PARA O OUTRO: Para Sempre

Prólogo e Capítulo 1


Prólogo

Rick sentia-se debilitado e por esta razão não tinha à mínima condição de manter os olhos abertos. Apesar disso, tinha que buscar forças porque precisava de explicações e tentava encontrar dezenas de motivos para seu atual estado. — “Onde será que eu estou?” – Ele queria perguntar, mas não conseguia falar. Sua cabeça latejava com todos esses pensamentos e pedia sossego, no entanto, dezenas de lembranças chegavam à sua mente e todas elas muito nebulosas, o confundindo ainda mais. Pareciam trailers entrecortados de vários filmes. Lembrou-se do conflito armado onde fizera uma reportagem... As explosões... Gritos e choro por toda parte... Suas pernas presas nos escombros e cortes pelo corpo... Muito sangue, muita dor e por fim, inércia.

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Capítulo 1

Richard Castle ou simplesmente Castle ou Rick, como os amigos e parentes o chamam, é um Jornalista de quarenta anos que teve seu trabalho reconhecido pela imprensa mundial por atuar como Correspondente Internacional Independente, produzindo seus documentários e reportagens, vendendo-os para emissoras de TV de todo planeta.

Muitos anos mais tarde, por intermédio da carreira sólida que construíra, firmou um excelente contrato de exclusividade com a maior rede de televisão do país para continuar exercendo as mesmas atividades, ou seja, faria o mesmo trabalho para ela, cobrindo guerras e atentados em volta do mundo.

Naqueles anos árduos em meio a perigos e longe da família, ele amadureceu muito, tanto na vida profissional quando na vida pessoal.

Um dos momentos mais difíceis pelo qual passara ocorreu quando ele e outros dois jornalistas, um inglês e outo francês, foram tomados como reféns de um grupo terrorista. Foram cinco longos dias de martírio sob o domínio de ativistas e durante os quais sentira a morte de perto. Em meio a suplícios, dores, fome e sede, ele se empenhou ao máximo para permanecer vivo, procurando, inclusive, manter sua integridade emocional e nunca perder a esperança em sobreviver e reencontrar sua família. Castle vislumbrava que sua única alternativa de sair dali vivo seria não esmorecer. Não se entregaria à dor física que sentia face às crueldades que padecia e a melhor forma que encontrou em fazer isso foi a auto-hipnose, que consiste na aplicação das sugestões hipnóticas em si mesmo e para fazer isso fez um esforço supremo em se concentrar ao máximo para se manter otimista e afugentar todo e qualquer sofrimento físico e emocional.

Nestes cinco dias, permaneceram amarrados, encapuzados e ainda torturados física e psicologicamente, com ameaças de morte ao longo de todo o tempo. Com o objetivo de buscar fortalecimento emocional e minimizar a angústia, também direcionou forças e pensamentos para fazer um documentário mental acerca de toda a sua existência, recolhendo em sua memória um conjunto de imagens antigas, turvas e quase apagadas de acontecimentos marcantes desde a sua infância até a fase atual, tanto os momentos bons, normais e alegres, quanto os ruins e até os muito desagradáveis, sabendo que aquele não era momento para se lamentar ou sofrer pelo que não deu certo, até porque isso não fazia parte do seu dicionário. Castle entendia que todos os acontecimentos foram importantes, cada um a seu modo, e faziam parte da sua história. Pensou em todas as pessoas que passaram por sua vida, assim como naquelas que ainda estavam nela, refletindo inclusive, a respeito de uma, em especial, que estava faltando e que ainda não conhecia e, por não conhecê-la, ficou a imaginar como ela seria, onde estaria, qual o seu nome e como, quando e onde poderia encontrá-la. Aquela era uma excelente oportunidade para pensar sobre este assunto. Mesmo sem conhecê-la, sentia muita falta dela e almejava encontrá-la.

Quando os dias de cativeiro chegaram ao fim e Castle foi libertado, ele deu graças a Deus. Contudo, por infelicidade, o britânico tivera um final trágico, pois fora cruelmente fuzilado em frente às câmaras pertencentes ao próprio grupo terrorista, cujas imagens foram divulgadas nas redes sociais e sites especializados por meio de distribuição digital de vídeos, onde as cenas abomináveis circularam ao redor do mundo e rapidamente chegaram aos noticiários. Como forma de tortura, este fora o único momento que lhes tiraram o capuz. Assim, tanto Castle quanto Jean-Marc, o jornalista francês, puderam assistir tal barbaridade, maximizando, assim, a aflição de ambos.

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Todavia, nem mesmo esse episódio cruel o fizera desistir de sua carreira de Correspondente Internacional.

Paralelamente à vida de Correspondente Internacional, Castle tornou-se um Escritor de sucesso. Todas as dificuldades e contratempos experimentados naqueles anos serviram de inspiração para ele escrever livros onde relatava, com franqueza, o cotidiano da vida de um jornalista em um ambiente hostil, apresentando os lados positivos e negativos da vida dos profissionais da imprensa, inclusive o lado pessoal, narrando até mesmo as experiências e atribulações vivenciadas para obter a melhor notícia, melhor entrevista e a melhor imagem, muitas vezes se expondo ao perigo unicamente com o objetivo de levar notícias para o mundo. Estes livros eram ricamente ilustrados com as cenas descritas, cujas fotografias faziam parte do seu acervo particular que mantinha armazenado eletronicamente.

Além de reportagens, documentários, entrevistas, matérias, fotografias e livros com histórias verídicas, aquele ambiente também serviu como pano de fundo para seus livros de ficção. Richard criou heróis e heroínas, vilões, criminosos de guerra, assassinos e muitos personagens do seu imaginário, sempre com tramas interligadas, romances com muita paixão e amor, mesclado com sensualidade e erotismo, em meio à violência, angústia e outros elementos que davam vida e movimento à história.

Desde que publicara seus livros de “Ficção” e os de “Não Ficção”, eles encabeçavam a lista dos dez mais vendidos e faziam tanto sucesso que foram traduzidos para centenas de idiomas. Por esta razão, muitas vezes era convidado a conceder entrevistas em Talk Shows de grandes emissoras, sempre falando sobre sua atividade de Correspondente Internacional e também sobre seus livros.

Mesmo com todas estas atividades, era uma vida solitária e quando não estava no centro da confusão para produzir a matéria, ele estava debruçado no notebook para escrever seus livros, organizar as fotografias ou editar os documentários para enviá-los online à sua emissora de TV.

Seus esforços para fazer suas reportagens, livros e documentários lhe renderem notoriedade, dezenas de prêmios de Jornalismo, de Escritor e, obviamente, muito dinheiro. Ficara bilionário, no entanto, ao contrário da sua vida profissional, sua vida amorosa era um fiasco e não conseguira ser feliz em nenhum dos dois casamentos. A parte boa é que o seu primeiro casamento lhe dera uma linda filha, Alexis, de quem sentia muita falta quando estava pelo mundo à trabalho, pois a amava acima de todas as coisas.

Para conseguir o melhor ângulo para as filmagens e fotografias e também obter entrevistas espetaculares durante as viagens, muitas vezes ficava em locais perigosíssimos e em uma destas oportunidades houve uma grande explosão nas proximidades onde estava e, por uma fatalidade, ele fora atingido. Tivera ferimentos graves, pois ficara com as duas pernas presas sob os escombros, deixando-o imobilizado. Sentia muitas dores, via e ouvia tudo o que se passava ao seu redor, mas não podia fazer nada. Naquele momento constatou da pior forma possível que iria morrer, pois, além de não ter ninguém que pudesse salvá-lo, sua mente, seu coração e seus pulmões não estavam em sintonia. Sua respiração estava fraca e não tinha forças para se mover, muito menos para retirar os destroços pesados que se acumularam sobre suas pernas. Perdia muito sangue. Tudo acontecia muito rápido. Uma dormência foi tomando conta do seu corpo e algo dentro de si não conseguia reagir, suas pálpebras pesavam, obrigando-o a fechar os olhos. Sentia sua vida se esvair e só pensava em sua linda filha, Alexis.