Destinos Cruzados

Reckoning


Eu me servi do frango xadrez que Felicity havia feito e me sentei em um dos bancos da bancada da cozinha.

Quando comecei a comer ela entrou na cozinha e se sentou a minha frente.

— Então? – Ela fez a minha feição preferida.

— Está uma delícia. – Eu disse me referindo a comida.

Ela sorriu.

— Eu sei que sim, mas eu não estava me referindo à comida. – Ela disse.

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— Eu só queria te pedir desculpas de novo por mais cedo. – Eu disse.

— Tudo bem Oliver. – Ela ia se levantar.

— Eu não acabei. – Apontei pro banco.

Ela revirou os olhos e se sentou.

— Fel, eu sei que a gente não se conhece direito, eu não sei nada sobre você ou você sobre mim, mas como eu te disse ontem no hospital... Eu quero muito conhecer você. – Falei – E eu quero muito que você me conheça, por isso vou te explicar o motivo de eu ter reagido daquela forma quando você me acordou.

Ela me encarou.

— Você usa drogas? – Ela me perguntou sem nenhuma hesitação na voz.

— Não. – Falei – O homem que se dizia meu pai usava e muito.

— Qual? – Ela quis saber.

— Cocaína. – Falei.

— Você estava estranho hoje de manhã, não.. não falava nada, não estava normal.. estava agindo, como se você tivesse usado alguma coisa.. sei lá.. vocês pessoas ricas. – Perguntou curiosa.

Como ela sabia desses sintomas?

— Você já usou drogas Fel? – Perguntei com cautela

— Uma vez, mas não usei mais. – Ela disse. – Eu não uso nada que me tire do ar. Eu não confio nas pessoas e no que elas podem fazer comigo enquanto estou “fora”.

— Que bom! – Dei um gole no meu suco. – É um maldito vicio.

— Eu sei. – Ela suspirou

— Sabe?

— Minha mãe é.. é se casou de novo e bem, o cara era viciado e.. Uma coisa levou a outra.. e ela usou algumas vezes. – Agora ela estava hesitante.

— Onde está sua mãe Fel?

— Morreu. – Ela deu de ombros – Overdose. Ela não era acostumada então.. um certo dia não soube quando devia parar.

— Sinto muito. – Lamentei

— Não sinta.. – Ela disse rápido. – Eu mesmo não sinto.

Ficamos em silêncio.

— Voltando a hoje de manhã.. Eu tive um sonho. Na verdade, eu tenho ele frequentemente. – Eu disse – Fico meio desnorteado sempre quando sonho com isso é.. é doloroso reviver aquela noite, aqueles dias. – Brinco com a tigela vazia sobre a bancada. – Por isso, fiquei agressivo e perdi o controle.. Você devia ter me parado.

— Tudo bem Oliver. – Ela disse – Você me paga pra ficar aqui e seria normal se utilizasse meus serviços.

Eu a olhei pasmo.

Não! Eu realmente não tinha ouvido isso.

— Você é absurda! – Eu quase gritei. – Como pode se ver assim? – Neguei com a cabeça. – Você. Não. É. Um. Objeto! Você é uma mulher Felicity! Você tem sentimentos, sonhos e.. ah! Deixa pra lá! Eu vou ficar aqui a porra da minha vida toda falando bem de você pra quê? Nem você mesma acredita.

Peguei minha tigela e a joguei na pia. Pelo barulho ela quebrou.

Sai da cozinha bufando. Parecia que cada poro do meu corpo exalava raiva.

Entrei no escritório que tinha no meu apartamento e tranquei a porta. Peguei uma dose de whisky puro.

O estrago nela estava maior do que eu imaginava. Pelo tom de sua voz eu tinha certeza que ela tinha problemas com a mãe, mas ao mesmo tempo gostava do pai.

Eu precisava ir devagar com ela. Eu precisava pedir uns conselhos a Roy pra isso, afinal ele era profissional nisso e não eu.

A porra do meu celular tocou me dando um baita susto.

— Fala Tommy. – Atendi

Era Thomas.

— Fala ai. Está ocupado? – Ele quis saber

— Não só.. puto – Bufei

— O que houve cara? – Perguntou

— Nada, deixa pra lá.

— É aquela garota do clube? A prostituta? – Meu sangue ferveu

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— Thomas, cara, por favor, não fale dela assim. – Pedi derrotado e irritado.

— Por quê? Não me diga que está com ela? – Ele riu

— Não estou com ela, mas ela está morando comigo. – Falei.

— TÁ MALUCO? A garota é uma puta Oliver!

Eu desliguei na cara dele.

Olhei no relógio e já eram 17 horas. Eu queria beber toda a garrafa de whisky, mas eu tinha plantão hoje. Seria bom ficar um tempo longe dela. Por outro, lado eu odiava trabalhar no domingo.

Destranquei a porta e sai do escritório.

Eu a vi sentada na sala lendo um livro. Ela abaixou o livro quando me viu.

— Posso falar com você? – Ela mordeu os lábios.

— Escuta.. – Parei de andar e olhei pra ela. – Se você se diminuir, desmerecer seu valor, me dizer que nasceu pra isso ou qualquer porra desse tipo.. não perca seu tempo.

— Oliver, me desculpe, ok? – Ela se levantou. Parecia irritada. – Eu só já te disse, eu não estou acostumada a ser bem tratada principalmente por homens. Essa tem sido a minha vida nos últimos dois anos.

— Eu já te falei eu não sou igual às pessoas que já passaram na sua vida Fel ee u não quero que seja comigo o que foi com eles. – Passei a mão pelos cabelos. – Eu quero ser seu amigo, quero te conhecer, quero te ajudar.. só isso. – Ergui minhas mãos e as soltei causando um estalo quando bateram na lateral do meu corpo. – Eu não estou pedindo nada em troca Felicity, apenas pra você ser você, seja lá quem você for.

— Me desculpe. – Ela pediu outra vez.

— Eu tenho que trabalhar. Estarei de volta às 7 da manhã. – Dito isso eu fui para o meu quarto me arrumar.

Tomei uma ducha quente e coloquei uma roupa confortável.

Quando passei pela sala ela estava na mesma posição de antes, sentada lendo seu livro. Eu estava tão irritado que não me despedi dela. Peguei a chave do meu carro e saí.

O plantão foi uma merda e eu só via a hora de ir embora. Thomas me ligou até as 3 da manhã, mas eu não atendi. Meu irmão não tinha nada a ver com os meus problemas ou com Felicity.

Eu fiquei extremamente feliz quando deu 6h50 da manhã e eu pude ir pra casa. Exausto. Eu não dormia decentemente há dois dias. Desde que Felicity entrou na minha vida.

Cheguei em casa 7h15 da manhã. Já era segunda e Marta deveria estar lá. Eu tive uma surpresa ao entrar na sala.

Fel dormia no sofá. Ela vestia uma camiseta justa ao corpo e uma daquelas calcinhas short que eu vi em seu apartamento.

— Bom dia Sr. Queen. – Marta sussurrou vindo da cozinha. – Ela está assim desde que cheguei. – Ela disse me vendo observar Fel no sofá. – Acho que dormiu ai a noite toda.

— Bom dia Marta. Eu vou leva-la pra cama, obrigado. - Eu coloquei minha bolsa em cima da poltrona e me inclinei sobre Felicity.

No momento que eu passei meu braço atrás dos seus joelhos ela suspirou pesadamente e sussurrou.

— Não Demian...

— Sou eu Fel. – Sussurrei passando outra mão por suas costas e a erguendo.

— Oliver? – Ela me chamou.

— Estou aqui baby. – Ela se agarrou ao meu pescoço.

— Me desculpe, eu dormi.. eu.. eu estava esperando você chegar pra me desculpar por ser tão estúpida. – Suas palavras saiam emboladas e incoerentes.

— Durma Fel, ainda é cedo. – A coloquei na cama.

Ela se ajeitou e se aninhou a um travesseiro.

— Pode ficar aqui? – Ela pediu. Seus olhos ainda estavam fechados.

Eu tirei meus sapatos e me deitei ao seu lado. Ela soltou o travesseiro e se aninhou a mim.

Ela colocou a cabeça na curva do meu pescoço e passou preguiçosamente o nariz por ele, me causando arrepios e me deixando excitado.

— Você cheira tão bem. – Ela murmurou.

Considerando que havia 13 horas que eu não tomava um banho.. com certeza ela estava dormindo ou sonhando com um pseudo-cheiro meu.

— Durma Felicity. – Comecei a fazer cafuné nos seus cabelos, mas quem apaou epois de poucos minutos fui eu.

Acordei com meu celular tocando, mas não foi isso que me deixou de mal humor. Eu estava sozinho na cama. Peguei o aparelho no meu bolso e atendi.

— Alô.

— Oliver seu filho da puta porque não me atende? – Thomas gritou.

— Porque você só fala merda Tommy. – Respondi

— É isso? Você vai virar as costas pra mim, pra sua família por causa de uma puta? – Perguntou irado.

— Eu juro que irei desligar na sua cara de novo se você repetir essa merda. – Me sentei.

— Ok... a porra da vida é sua.. vá em frente e a jogue no lixo. – Provocou

— Thomas, eu amo você cara, mas para de se meter na minha vida, ok? – Pedi – Eu sou adulto e vacinado, se eu me fuder eu deixo você me falar “eu te avisei” – Fiz uma falsa imitação da sua voz grossa e alta

— Vá para o inferno então! Não quero mais saber.. – Ele disse – Nossos pais sabem sobre ela?

— Apenas o básico, não sobre a vida dela.

— Hum. – Ele murmurou

— Vê se não vai abrir a porra da boca. – Pedi.

— Relaxa. – Ele disse

— Preciso falar com você e Roy. Podemos almoçar juntos? – Perguntei.

— Sempre. – Ele disse – Vou marcar com ele e te ligo.

Nos despedimos e eu desliguei.

Quando olhei o visor depois da ligação eu vi a hora. 9h30. Porra! Eu tinha que estar no Bronx com o dinheiro as 10 e contando o fato de eu ter que ir no banco sacar o dinheiro.. eu não conseguiria.

Nem tomar banho e me trocar eu teria tempo. Sai do quarto de Fel do jeito que estava e fui até a cozinha.

— Bom dia Sr. Queen. – Marta me cumprimentou outra vez – Fiz o seu café.

— Não vou comer Marta, mas obrigado.

— Aconteceu alguma coisa? – Fel perguntou preocupada

— Só atrasado. – Eu disse – Ainda tem seu aparelho antigo? – Perguntei a ela.

— Sim, por quê? – Quis saber.

— Eu quero que você me dê o telefone de Jack e me dê o aparelho pra jogá-lo fora. – Expliquei.

Ela deu um pulo do banco.

— Como assim você quer o número dele? – Perguntou nervosa. – Oliver você não está pensando.. – Eu a cortei puxando pra sala.

— Apenas me dê Felicity – Pedi

— Não. – Ela cruzou os braços na frente do peito – Não sem antes você me dizer por quê.

Teimosia. Mais uma pra série de “Defeitos de Felicity”.

— Eu marquei com ele hoje às 10 horas. Estou indo pagar a sua dívida com ele. – Expliquei

— Não! Não, não e não! – Ela disse irritada – Eu sei me virar, ao contrário do que você pensa eu não sou uma menina indefesa.

— Eu não estou te pedindo autorização Felicity, estou pedindo o telefone dele. – Falei

— Seu arrogante filho de uma.. – Tapei sua boca.

— Hey! Não xingue minha mãe. – Disse irritado.

Ela afastou minha mão da sua boca com um tapa.

— Eu não vou deixar você ir vê-lo – Ela disse alterada. – Ele é perigoso Oliver, você não tem ideia.

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— Eu estive com ele ontem Felicity. – Sua boca se abriu – Quando fui pegar suas coisas.. Ele esteve por lá.

Ela se aproximou e mim, levantando a manga da minha camisa olhando meu curativo.

— Foi ele quem fez isso? – Ela sussurrou.

— Foi, mas não se preocupe, eu sei me defender. – Eu disse baixinho, quase foi um sussurro.

— Eu não quero que se machuque por minha causa. – Ela ainda sussurrava.

Ela estava tão perto de mim que eu conseguia sentir seu cheiro.

— Eu só vou dar o dinheiro a ele Felicity e você estará livre dele. – Expliquei – Eu vou e ligar pra dizer que está tudo bem.

— Não vá. – Ela me olhou e sua mão livre tocou meu outro ombro.

— Eu preciso ir.. Me dê o telefone. – Pedi

— Eu não quero que ele pense que eu não vou e venha procurar por você.

Saiu da sala e entrou no corredor. Quando ela voltou me deu seu antigo aparelho.

Eu o jogaria fora. Não queria que ela tivesse ligação com clientes antigos e o pior.. com Sebastian. Busquei o número dele enquanto ela me olhava apreensiva e roía as unhas.

— Não faça isso. – A repreendi tirando seus dedos da boca.

Ela sorriu nervosamente e passou a esfregar uma mão na outra.

— Eu sabia que minha garota não esqueceria de tudo. – Sebastian atendeu.

Claro que eu estava ligando do antigo número de Felicity. Jamais ele saberia meu número ou o novo dela.

— Sou eu Blood.

— Ah, é você doutorzinho. – Ele disse decepcionado.

— Estou ligando pra avisar que vou me atrasar. – Eu disse. – Estarei lá às 11h.

— Tudo bem doutor. Vou te esperar ansiosamente. – Ele disse carregado de sarcasmo.

— Não apronte nada Blood ou seu dinheiro vai parar em uma instituição de caridade. – O avisei

— Eu não falei que iria aprontar, falei? – Ele ainda estava se divertindo.

— 11 horas. – Depois disso desliguei.

Como agora eu tinha tempo, fui tomar um banho e trocar de roupa. Durante todo esse tempo Fel estava sentada na minha cama apreensiva.

Ela vestia um vestido solto no corpo e estava descalça. Fazia frio em Nova York, mas o aquecedor estava ligado.

— Oi – A chamei enquanto secava meu cabelo. – Relaxa, estarei bem.

— Ele já matou pessoas Oliver. Já matou garotas do clube. – Ela começou a chorar. – Me leve com você, por favor.

— Eu não posso fazer isso. – Me ajoelhei a sua frente. - Estou indo lá pra te manter segura e se eu te levar isso será em vão.

— Não vá. – Ela suplicou me olhando.

Eu a puxei da cama fazendo com que se ajoelhasse no chão também e a puxei para um abraço.

— Eu estarei bem. Vou te ligar assim que sair de lá. – Falei enquanto ela me olhava.

Prometendo mais uma vez que eu ligaria pra ela assim que eu saísse do seu antigo apartamento, eu saí de casa. Eu pedi pra ela ligar pra polícia caso isso não acontecesse em meia hora. Sei lá, só por precaução.

Cheguei ao apartamento 5 minutos adiantado, mas Sebastian já estava lá.

— Pontual hein doutor. – Ele zombou.

— Sem conversa Blood. – O adverti. – Tome seu dinheiro e suma.

O entreguei o bolo que carregava no bolso. Eu esperei pacientemente ele contar cada nota.

— Eu gosto de homens de palavras. – Ele disse.

Seu rosto estava, digamos, bem machucado depois de ontem.

— Se manda. – Eu disse. – Se voltar a procura-la eu mesmo acabo com você, entendeu?

— Sempre ameaçando doutor. – Ele balançava o bolo de notas se divertindo.

Quando me virei pra sair do apartamento, dei de cara com um homem alto. Ele não me era estranho.

— Vamos ter uma festinha Blood? – Perguntei cínico.

— Oh que indelicadeza. – Ele deu um tapa na testa. – Esse é Copper um amigo meu, nós pensamos em retribuir o que me fez ontem. – Ele apontou pro seu rosto.

Eu ri.

— Não se garante sozinho é? – Perguntei – Não é capaz de me apagar sozinho?

— É só garantia. – Ele deu de ombros.

Senti os braços de Copper me segurarem, apertando-os ao redor da minha cintura. Eu não tinha chance de sair daquele aperto.

Logo em seguida Sebastian começou uma série de socos no meu abdômen. Eu tentei de todas as formas me livrar do outro homem e as vezes que conseguia atingir Sebastian com as minhas pernas, mas estava difícil.

Quando estava quase apagando... Ouvi a voz do meu anjo.

— Sebastian! Para! Por favor!

Mas que porra ela estava fazendo aqui.

— Ah, agora sim a nossa festinha está completa. – Ele disse olhando por cima dos meus ombros.

Eu não conseguia vê-la, mas eu conseguia sentir o gosto de sangue na minha boca.

— Por favor, para! – Sua voz estava fraca

— Fel, vá embora. – Eu pedi.

Copper me largou e eu caí fraco no chão. No mesmo momento Felicity se jogou ao meu lado, afagando meu rosto.

— Aproveite sua puta doutor.. coma ela bastante, se divirta.. porque quando ela cansar de você é pra mim que ela vai voltar – Ele disse com escárnio. – Ela nasceu pra ser uma puta! E quem nasce pra puta, não consegue mais nada na vida.

E ele saiu levando o outro homem.

— Você está bem? Consegue andar? – Sua voz mostrava seu desespero.

— Estou bem Felicity, mas decepcionado por ter me desobedecido. – Falei

— Você é louco! Só pode! Se eu não apareço aqui ele ia te matar! – Ela quase gritou

— Não, não ia. – Cuspi o sangue que se acumulou em minha boca. – A quem mais ele pediria dinheiro daqui alguns dias?

— Depois eu que sou absurda. – Ela balançou a cabeça. – Quanto deu a ele?

— 10 mil. – Eu disse. – Foi o que ele me disse que você devia a ele.

— Oliver! Eu não devo nem mil a ele. – Ela disse irritada

— Eu não estou preocupado com o dinheiro. – A olhei – Eu me preocupo com você.

Ela tirou o lenço que usava ao redor do pescoço e passou sobre os meus lábios, tirando o sangue dali. Seu gesto foi tão carinhoso. Ali eu vi que ela também se importava comigo.

— Obrigado. – Dei um sorriso débil a ela.

— Você não tem que me agradecer. – Ela disse tirando o lenço dos meus lábios. – Eu também me preocupo com você. Você acha que é forte, mas não é e também não é indestrutível. – Eu ri. – Eu.. eu quero cuidar de você como você cuida de mim.

Ela sorriu e eu a segui. Era quase impossível não retribuir um sorriso dela. Eu juro por Deus se eu não estivesse regurgitando sangue eu a beijava agora.

— Temos que ir. – EU tentei me levantar mais não consegui.

— Fique ai – Ela se levantou – Eu vou aproveitar que estamos aqui e pegar mais algumas coisas.

Eu assenti e joguei minha cabeça pra trás, encostando-a na cama.

Um tempo depois ela voltou pro meu lado no chão e começou a colocar umas coisas dentro de uma bolsa. A maioria eram caixas e livros, mas o último item era um porta retrato.

— Quem é? – Perguntei apontando para o mesmo.

— Meu pai. – Ela me passou a foto.

Seria possível ela ser ainda mais bonita? Era visível que ela era mais nova do que agora, mas seus cabelos continuavam os mesmos e a mesma feição de menina.

— Você parece com ele. – Entreguei o porta retrato a ela.

— Eu sei. – Ela disse orgulhosa. – Ele era tudo pra mim. As vezes eu me culpo por ter deixado ele ir.

— O que aconteceu? – Perguntei receoso.

— Acidente de carro. Um idiota em alta velocidade, jogou o carro dele pra fora da pista – Ela olhava a foto com o olhar longe. – Ele não queria ter ido. – Ela disse. – Era um final de semana, tempo bom. Noah era vidrado em pescaria, mas aquele dia.. ele não queria ir. Disse que ficaria em casa comigo porque ele me deixava muito sozinha. Eu insisti pra que ele fosse e aproveitasse a pesca com os amigos dele e que não precisava se preocupar. – Ela fungou. – Ele ficou 10 dias no hospital.

Eu a puxei e a abracei o mais apertado que consegui.

— Me desculpe fazer você falar sobre isso. – eu disse aspirando o cheiro dos seus cabelos.

— Está tudo bem. – Ela disse segurando minha nuca. – Eu gosto de lembrar de Noah. Gosto de pensar que eu o amei muito antes disso acontecer e eu era feliz quando estava com ele. – Ela suspirou – Eu tinha uma família, uma casa, eu tinha me formado dias antes dele morrer.. Ele queria que fosse professora de literatura por causa da minha paixão por livros.

— Você ainda pode ser. – Eu disse a soltando do abraço para encará-la

— Não, não posso. – Ela se levantou – Minha vida foi estragada demais pra que eu pense em fazer algo bom com ela.

— Não, não diga isso, por favor. – Pedi.

Ela ficou em silêncio e colocou a bolsa no seu ombro esquerdo. Ela me ajudou a levantar e fomos até meu carro. Eu deixei que ela dirigisse, eu estava dolorido demais pra pensar em dirigir.

— O que aconteceu depois que seu pai morreu? – Perguntei.

— Eu tinha acabado de fazer 18 anos, então tive que ir pra Savannah morar com minha mãe. – Ela olhava a estrada.

— Quem é Demian? – Quando minhas palavras acabaram de sair eu a vi segurando o volante com força e prender o ar nos pulmões.

— Fel? – A chamei

Ela soltou o ar e o aperto no volante.

— Não é ninguém que mereça ser falado. – ela disse.

— Me desculpe. – Pedi

O resto do caminho até o apartamento ficamos em silêncio.

Assim que cheguei liguei para Thomas e pedi que ele levasse Laurel ao almoço e pedisse pra Roy levar Thea. Iria levar Felicity comigo.

— Devíamos ir ao hospital. – Ela disse quando ouviu meu gemido ao sentar no sofá.

— Eu estou bem. – Lhe assegurei

— Pode ter alguma coisa quebrada. – Ela mordeu os lábios.

— Vamos sair pra almoçar com minha família. – A avisei. – Saímos daqui a 30 minutos.

— É uma boa ideia?

— Sim. – Respondi

Ela se levantou e saiu.

Quando voltou segurava um copo e me deu um comprimido.

— É um relaxante muscular. – Me disse

Eu tomei o comprimido e fechei os olhos por dois segundos encostando minha cabeça no encosto do sofá. Eu estava suando de nervoso.

Parte da minha família iria conhecer Fel e eu estava ansioso pra caralho. Eu não sei o porque, mas eu precisava que minha família aceitasse Fel e não a julgasse.