Toská -Angústia

Vai se foder, Barnes


— Stevie, sai daqui. – Bucky falou baixinho, somente para o loiro ouvir. Sua paciência estava zerada e ele poderia perder o controle a qualquer instante.

— Eu não posso te deixar sozinho agora. – Respondeu no mesmo tom, mas sua voz transbordava preocupação.

— Não tô te dando opção, sai daqui. – O Barnes rosnou ainda mais baixo.

— Eu nã...

— Sai daqui, ou pode acabar sobrando pra você também. – Os olhos do moreno queimaram a sua pele quando o encararam. – Eu tô falando sério.

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Rogers o vira irritado diversas vezes ao longo de sua vida e por diversos motivos diferentes, mas aquela era a primeira vez que realmente temeu pela vida de alguém. Suas pernas, mesmo tremendo, acabaram obedecendo a ordem dada e ele se afastou com calma, porém, enquanto caminhava para longe, ouviu as provocações vindas da boca do outro garoto e estremeceu de raiva. Dylan era um bom provocador, sabia disso, o enfrentara mais vezes do que qualquer outro garoto das redondezas, mas ele estava passando dos limites, principalmente porque começara a falar sobre assuntos que ainda doíam no Barnes.

O loiro se afastava cada vez mais vagarosamente à medida que as provocações se intensificavam, e ele estava mais preocupado por não ouvir as réplicas do amigo. O que Bucky pretendia com aquele silêncio? Não sabia que o ódio alimentava o discurso daquele babaca? Olhou por cima do ombro e viu Bucky se preparando para iniciar um confronto e retesou os músculos, parando bruscamente. Dylan ficara mais forte com o passar dos anos e também passara a jogar sujo, ele não podia abandonar o Barnes sozinho ali, no que estava pensando?

Não que fosse de grande ajuda, mas agora poderia tentar, ao menos, encaixar um golpe bem dado para poder desnortear o outro. E enquanto buscava mentalmente um golpe que poderia machucá-lo a ponto de imobilizá-lo, Steve ouviu o outro fazer um comentário ácido e desnecessário sobre a morte de seus pais, e aquilo fora a gota d’água. Sentiu sua respiração ficar mais pesada à medida que tentava controlar a fúria antes que fizesse alguma besteira, mas ficava cada vez mais difícil raciocinar quando imaginava a cabeça do Barnes fervilhando de pensamentos corrosivos com aquelas palavras desnecessárias.

Porque Bucky poderia ficar irritado e quebrar tudo naquele momento, poderia enviar Dylan para o hospital facilmente com aquele braço mecânico se suficientemente provocado, mas depois, quando estivesse sozinho em sua casa, certamente ele se entupiria de bebidas fortes demais para o estômago de um adolescente de dezessete anos. Ele precisava tomar uma atitude, precisava fazer alguma coisa. Rápido.

Steve se sentia frustrado. Muito mais enraivecido, de fato, mas, naquele momento, foi à frustração que resolveu se prender. Suspirou derrotado, fechando os punhos e se munindo de toda a sua coragem mais uma vez, porque o Rogers acabara de tomar a decisão definitiva. E ignorando todas as ordens de Bucky, caminhou pesadamente para o centro do espetáculo.

O amigo estava de costas, não o viu caminhando em sua direção, mas Dylan pousou seu olhar feroz sobre o loiro e não planejava perdê-lo de vista tão cedo. Principalmente porque Steve só caminhava com aquela destreza quando tomava decisões estúpidas e Dylan estava louco para arrancar aquela expressão determinada da face do loirinho à força naquele momento. Porém, para surpresa geral, Steve parou ao lado do Barnes, o encarando seriamente assim que ganhou sua atenção.

— O qu...

Rogers pegou-o desprevenido, o que o fez baixar sua guarda para encará-lo. Que merda Steve planejava agora? Bucky se deu ao trabalho de começar a pergunta, mas foi impedido de continuá-la quando Steve, num rápido movimento, segurou-o pelo colarinho da blusa e puxou-o em sua direção. Fora um rápido encostar de lábios, o primeiro que Bucky recebia em muito tempo, talvez o melhor e o mais aguardado deles. Talvez por esse mesmo motivo tenha perdido os sentidos por alguns segundos, o fazendo encarar o Rogers atônito no momento seguinte. Steve não parou por aí.

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— E então, Dylan, qual é o problema? Isso incomoda você? É isso que te afeta sobre mim? Beijar outro homem te irrita? Seu preconceituoso de merda, Bucky ser ou não meu namorado não é da sua conta, sequer define o meu caráter ou o dele. Você é mesmo um maldito de um puto desgraçado. – Bucky encarou-o surpreso, sorrindo de canto quando finalmente reencontrou a sua voz.

— Olha o palavreado, Rogers. – Steve lhe sorriu enviesado e divertidamente antes de responder.

— Vai se foder, Barnes.

Ele não soube dizer ao certo o que acontecera depois daquilo, a raiva que sentia e a vontade de arrancar o sorriso de Dylan com os punhos fora tamanha que, depois que partiram em conjunto para cima do garoto, o tempo pareceu passar como um borrão. Ele sentiu alguns golpes acertarem seu corpo, mas sentiu os punhos encontrarem o caminho certo até o rosto do outro também. Depois sentiu algo atingir em cheio a sua boca, e sequer sabia dizer se fora um soco, ou um chute, ou se fora mesmo Dylan que o acertara, ele só conseguiu despertar do transe quando algumas pessoas vieram separar aquela confusão toda, ameaçando chamar a polícia.

E quando um Dylan sangrando e completamente inchado saiu correndo com muita dificuldade apenas com a menção das autoridades – porque esse era o nível de merda desse delinquente, pensou o loiro, – Steve recobrou um pouquinho de seu autocontrole, recordando-se também daquilo que acontecera pouco antes da pancadaria começar. Puta que pariu, eu beijei o meu melhor amigo!

Encarou Bucky de esguelha e, surpreendentemente, ele não estava muito machucado. Ele deveria mesmo ter se tornado bom de briga enquanto estava na Rússia, mas quando o moreno devolveu o olhar, o loiro arregalou os olhos e tomou a única atitude na qual conseguiu pensar naquele momento. Steve correu. Para longe, sem olhar pra trás, sem pensar em nada e nem ninguém. Steve só conseguia sentir o vento batendo em seu rosto e o coração quase explodindo no peito. Ele sequer sabia dizer o que ia em sua cabeça enquanto os pés atingiam com força o chão, estava concentrado em seus pés, um de cada vez, o mais rápido que seu fôlego permitia e para o mais distante possível.

Ele não parou em momento algum, sentia que poderia fazer aquilo pelo resto do dia até que toda a vida fosse tomada de si. Estava envergonhado e confuso, não sabia como poderia olhar para Bucky outra vez. Se é que Bucky olharia mesmo para ele depois daquilo. Ele não queria pensar em nada disso naquele momento, só queria organizar a sua mente e tentar entender o que faria com toda aquela adrenalina antes que pudesse regressar para sua casa. Antes que seus pais percebessem que havia algo errado. Antes que Bucky aparecesse de novo para tirar alguma satisfação. Ele tiraria uma satisfação? Ele deveria, tinha o direito afinal. Não, não pense nisso agora.

Depois ele daria asas aos seus pensamentos. Mais tarde, no silêncio e conforto do seu quarto. Se certificaria de trancar a entrada de sua sacada para não correr o risco de ter a linha de raciocínio cortada caso Bucky decidisse aparecer no meio da madrugada para tirar alguma explicação. Ele não queria afastá-lo, só não queria ter que vê-lo outra vez naquele mesmo dia. Não se sentia pronto para encará-lo depois daquele beijo inesperado. Ele queria ficar um tempo longe daqueles olhos de esmeralda tão bonitos, queria ficar longe daquela expressão de cachorrinho que caiu da mudança e daqueles braços que poderiam muito bem acolhê-los como se fosse pouco mais que um boneco. Cacete, no que é que eu tô pensando? Pare de pensar, Steve!

Não deveria pensar em nada daquilo sobre o amigo.

Melhor amigo.

De infância.

Ele era a única família que Bucky possuía agora, e o Barnes gostava dele – mais do que se deveria gostar de um amigo, inclusive.

Eu beijei o meu melhor amigo de infância que tem uma queda por mim!

Steve chacoalhou a cabeça e correu mais rápido, ele precisava parar de pensar tanto, mas ficava cada vez mais difícil quando ele sequer sabia explicar para si mesmo porque tomara justamente aquele caminho. O Rogers só queria dar ao cérebro uma desculpa plausível para aquele beijo.

Puta que pariu, o que é que eu vou fazer agora?