Olhos cor de Mell

Capítulo 2 «Um belo defeito genético»


Acordei na terça de manhã com Jully pulando em cima da minha cama. Olhei para ela que ainda estava de pijama e tranças.

— Bom dia.

— Bom dia. — falei ainda sonolento.

— Acorde e se apronte antes que a mamãe dê a louca. Vieram te buscar para as sessões. — avisou a mim.

Resmunguei escondendo a cara entre os travesseiros. Grande merda!

— Avise a ela que não irei. — pedi a Jully que riu pulando da cama.

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Me virei de costas para ela e apaguei a luz. Voltei a dormir, mas um barulho de um dinossauro furioso ecoou pelo quarto.

— Maaaeeee...

— Ande logo. — entrou em meu quarto puxando a coberta da minha cara quase me fazendo ficar cego já que a luz estava novamente acesa. — Vamos, vamos. — jogou uma calça tactel na cama. — Não temos o dia todo. — avisou a mim me sentando na cama.

— Eu não quero ir, não é capaz de respeitar isso?

— Não. — respondeu seca vestindo uma blusa e uma calça em mim como se eu fosse um bebê. — Vamos. — colocou a cadeira de rodas na beira da cama.

Também com a sua ajuda me sentei e fui até o banheiro. Escovei os dentes, lavei o rosto e deixei meu cabelo bastante bagunçado para deixar bem claro que eu queria permanecer em casa. Tomei meu café e calcei meu chinelo. Voltei ao quarto e escovei os dentes. Quando cheguei ao lado de fora, uma van branca estava a minha espera. Encarei minha mãe que estava de braços cruzados me encarando junto a minha irmã.

Eu não poderia fugir!

Entrei nela e fui levado até o manicômio.Fiquei na sala de espera por poucos segundos e fui chamado rapidamente. Entrei na sala e as duas mulheres loiras, Samantha e Sandy, me atenderam. Elas eram bastante gentis e durante toda sessão elas ficaram fofocando, única coisa que me incomodava. Depois de meia hora de exercícios eu já estava pensando em desistir, estava sendo cansativo!

— Parem. — pedi a ambas que pararam. — Quero descansar. — avisei a elas. — Cuidem de outro por enquanto. — pedi a elas que se encararam.

— Vamos, só mais um pouco.— insistiu.

— Eu não consigo. — falei por fim.

— Não consegue ou não quer? — outra pessoa disse.

Olhei para a porta e bufei.A garota, da noite desastrosa, estava encostada na porta nos encarando. Estava toda de branco, com um jaleco, um coque no alto da cabeça e lábios pintados de vermelho. Parei de fitá-la mesmo com ela ainda me encarando. Eu não estava acreditando naquilo.

— Deixem que eu cuido do resmungão. — avisou a elas que concordaram se retirando do local.

Joguei a cabeça para trás e bufei. Como as coisas podiam piorar de uma hora para a outra.

— Bom dia. — sorriu entrando na sala.

— Não vai largar do meu pé?

— Sério que você sentiu que estou no seu pé? — perguntou segurando em meu pé aparentemente o apertando.

— Estava parecendo uma prostituta parada ali, quase acreditei na teoria do meu irmão de você ser uma stripper. — me encarou e sorriu.

— Obrigada.

— Está aceitando isso como um elogio? — questionei surpreso.

Mas era uma completa sem noção!

— Claro. A maioria das prostitutas são sexys! — riu se sentando na cadeira ao lado da cama. — Na minha opinião, pelo menos as que conheço. — A mesma me encarou e virei a cara. Se eu pudesse eu sairia correndo dali. — Então mocinho… Por que andou faltando esses dias?

— Porque eu não estava afim de vir. — respondi da forma mais seca possível.

Aquilo não era do interesse dela, era uma completa intrometida.

— E por que não queria vir? — insistiu.

— Isso não está adiantando nada, estou apenas perdendo tempo nessas sessões. — expliquei a ela me deitando na cama.

Aquilo estava mais parecendo uma consulta com psicólogo, faltou apenas ela estar bom óculos e um bloquinho.

— Talvez não esteja adiantando porque você não tem uma motivação. — sugeriu.

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Olhei para ela que ainda estava sentada, com as pernas cruzadas e mãos apoiadas nos braços da cadeira. Tentei não focar em seus olhos, mas era impossível!

Eu queria sair correndo.

— Acho que agora tenho uma motivação. — contei a ela.

— E qual é? — indagou contente.

— Ter você bem longe de mim. — respondi a ela que gargalhou, uma gargalhada tão estrondosa que ecoou pelo local.

— Perfeito! — sorriu se levantando. — Ficarei tratando de você até que esteja andando para poder correr de mim. — passou o dedo no meu nariz.

Bufei.

Inacreditável!

Aquela garota era irritante. Deus estava me castigando por completo. Primeiro o acidente e depois a garota.

— Aliás, eu sou a Mellanie. — sorriu. — Será um prazer viver em guerra com você Brian. — piscou para mim indo até o pé da cama.

Respirei fundo passando a mão por meus rosto impaciente. Já poderia cair um meteoro em cima de mim naquele momento e acabar com tudo, eu não me importaria nem um pouco.

Fitei a mesma que levava as mãos e tirava um anel do dedo..

— Sério que você trabalha aqui?

— Na verdade estou estagiando, estou aqui apenas meio horário. — explicou ficando de frente a cama.

— Tomara que não te contratem. — sorriu.

— Tão ignorante! — suspirou. — Prende a ferradura pois ela está solta. — avisou a mim. — Vamos lá. — dobrou minha perna. — Lindas pernas! — revirei os olhos. A fofoca das gêmeas era melhor do que a falação daquela garota. — Tente empurrar. — pediu a mim e fiz força, mas nada. — Vamos parir esse menino. — Pediu e a encarei.

A mesma estava entre minhas pernas, sendo que uma delas estava igual a de mulheres na sala de parto. Não me aguentei e comecei a rir.

Meu Deus! Aquela garota era uma demente.

— Vamos, seu filho irá morrer sufocado com o líquido. — avisou a mim ainda segurando minha perna.

Tentei novamente mover a perna, mas nada.

— Acho que ele irá morrer. — tentei novamente, mas nada.

Olhei para ela que me encarava. Novamente seus olhos me chamaram a atenção. A mesma conseguia hipnotizar qualquer pessoa sem esforço algum, apenas a encarando. Seus olhos eram bastante chamativos!

— São lentes? — a mesma me olhou e negou.

— Defeito genético. — riu.

— É um defeito genético muito bonito!

Encarei novamente seus olhos que mais parecia uma nebulosa.

Mellanie riu.

— Obrigada. É diferente! São bastante chamativos e às vezes me incomoda.

Permanecemos por mais meia hora até que pedi um momento de descanso. Mellanie saiu do local e logo depois voltou com uma jarra de água e dois copos. Peguei um e tomei bastante água. Eu estava com sede. Ela se sentou ao meu lado enquanto me esperava. Olhei novamente para ela que encarava o lençol branco em cima de uma mesinha e eu estava novamente focado em seu erro genético.

— Podemos? — Perguntou a mim e concordei.

Lhe entreguei meu copo de água e ela o pôs sobre a mesa.

—Vamos lá. — Sorriu dessa vez dobrando minha outra perna.

— Quer ajuda? — Uma das loiras que antes estavam na sala perguntou a garota que negou e me encarou.

— Hoje não! Ele está com a ferradura solta. — sorriu de lado.

— Tudo bem. — se retirou nos deixando novamente sozinhos.

— É sempre sarcástica? — questionei a ela que concordou. — Não acha isso irritante?

— Querido, eu sou irritante! — sorriu.

—Ainda bem que sabe. Percebi aquilo desde aquela noite.

— Qual noite? Aquela que saímos bêbados da boate? — a encarei assustado. Ela gargalhou e soltou minha perna. — Onde está seu irmão mente podre?

— Não fale assim dele. — ralhei.

— Tudo bem. Onde ele está?

— Não lhe interessa. — respondi a ela que deu de ombros.

— Como quiser.

Depois disso se manteve calada e apenas me instruiu no que fazer, mas não havia acontecido nada. Eu novamente havia fracassado. Quando acabou o garota soltou minha perna e me encarou me fazendo novamente focar e fica cada vez mais deslumbrado com seus olhos perfeitamente defeituosos.

— Espero lhe ver amanhã, mais humorado e menos ignorante. — avisou a mim.

Levou minha cadeira de rodas até a maca e com sua ajuda me sentei. A mesma me guiou até o sala de espera e sorriu.

— Tenha um bom dia. — se retirou.

Logo depois o motorista me levou para casa. A primeira coisa que fiz quando cheguei foi ir para meu quarto. Eu queria um pouco de paz! Me enfiei debaixo das cobertas e escutei meu telefone tocar.

— Olá. — era meu irmão

— Oi.

— Como foi hoje? — perguntou entusiasmado.

— A mesma merda só que 50% pior.

— Por que?

— Sabe aquela garota da noite da boate?

— A perturbada? — comecei a rir.

— Sim.

— O que tem ela?

— Ela faz estágio na clínica e irá comandar meu tratamento. — expliquei ainda não acreditando.

— Caramba que má sorte!

— Nem me fale, agora que realmente quero desistir. — puxei o Blackout.

— Não desista Brian, seja forte, você voltará a andar. Basta você querer.

— Não sei de onde tiram tanta fé.

— Eu não arrumei uma namorada? Mesmo dizendo que eu jamais namoraria e seria pai? Se as coisas mudaram pra mim elas irão mudar pra você também. Acredite. — gargalhei.

— Realmente foi um milagre você e Lucy estarem juntos. — ele gargalhou.

— Sim, estou feliz agora, mesmo que nada disso estresse em meus planos.

— Eu percebi.

A escutei gritar do outro lado da linha.

— Tenho que ir Lucy está passando mal.

— Melhoras pra ela e até mais.

— Até.

Desliguei o telefone e o joguei em cima da cama. Puxei minha coberta e me virei para dormir.

— Briaaaan. — minha irmã entrou no quarto e acendi o abajur.

— Sim. — me virei para ela.

— Olha o que ganhei. — me entregou um papel se deitando ao meu lado.

O desdobrei e havia um desenho da minha irmã sorrindo, um desenho tão perfeito que até mostrava o detalhe da pinta em uma de suas sobrancelhas.

— É lindo! Foi você que fez? — ela que negou freneticamente.

— Não, foi um colega de classe. — olhei para ela que encarava a foto e só depois percebeu que eu a fitava. — O que foi? — continuei a olhá-la.

— Colega de classe?

— Ai Brian. — riu de nervoso começando a ficar vermelha. — Somos amigos. — concordei.

— E ele é um bom amigo? — concordou.

— Sim, ele é bem legal!

— Estou vendo. — lhe entreguei o papel.

— Ele é muito inteligente também! — completou.

— Isso é bom!

— Ele chegou semana passada. É um refugiado, sua família fugiu do seu país por causa de uma guerra civil. — olhei surpreso. — Tem apenas eu de amiga, as outras pessoas ficam o criticando e ele também não é tão sociável.

— Foi bacana da sua parte fazer amizade com ele. — sorriu.

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— Tenho pena dele por o criticarem, por causa da cultura dele. Pra mim devemos conhecer a pessoa antes de criticá-la. Talvez ela não seja aquilo que pensamos. — suspirou. — Me sinto mal por ter pensado que no primeiro dia de aula dele, que o mesmo daria a louca e mataria todos por sua religião. E agora… Ele está sendo a melhor pessoa daquela escola para mim.

— Exatamente, não devemos julgar.

— E como foi o seu dia.

— Tedioso. — riu.

— Por que? As pessoas de lá são legais!

— Nem todas.

— Quando fui com a mamãe ontem à tarde me diverti bastante com uma garota. Você deve conhecer, ela usava um jaleco e tinha lentes maravilhosas.— revirei os olhos.

— É eu conheço.

— Me matei de rir com ela ontem.

— Não vejo graça nenhuma nela. — assumi.

— É porque você não a viu caindo no meio do corredor. O piso estava molhado e ela deslizou como um pinguim. Quando chegou na recepção ainda agradeceu a Deus por ter chegado mais rápido. — gargalhou.

— Típico dela.

— Ela é legal!

Não me pronunciei. Não queria discutir sobre aquilo. Era desnecessário!

— Brian, e eu…

Minha mãe bateu a porta atrapalhando nossa conversa.

— Do que tanto riem?— questinou se escorando na porta.

— Estava contando a ele sobre a garota que escorreu.

— Ah sim, foi um belo tombo pobrezinha. — mamãe riu. — Vamos almoçar?

— Estou sem fome. — falei.

— Quer que eu traga aqui? — neguei. — Você tem que comer algo.

— Quando eu sentir fome eu como algo, não se preocupe. — garanti a ela.

— Tudo bem. Você vem Jully?

Minha irmã concordou descendo da cama.

— Daqui a pouco volto. — concordei a ela.

Me deitei e me cobri, encostei a cabeça no travesseiro e acabei adormecendo.