Acordei com alguém batendo na minha janela.
Eu fiquei com medo. Pensei em acordar Seth assim que captei o cheiro doce e enjoativo dos vampiros. Mas se fosse para me matar, que eu fosse sozinha. E se fosse Jackson? Seth quereria matá-lo. E seria difícil de ele cumprir a promessa que me fez se cruzasse com ele novamente, eu sei. Então me levantei vagarosamente e andei até a janela.
Uma emoção desagradável tomou conta de mim ao ver a figura pálida do lado de fora do meu quarto. Abri ela, totalmente desanimada.
— Sem enrolações, o que você quer? – perguntei, impaciente.
— Nossa, – ele se fingiu ofendido com a minha forma hospitaleira. – o que eu fiz para você? Eu, hein!
— Na boa, Jack, se Seth acordar, digamos que vai ser difícil de ele cumprir a promessa que me fez de não te machucar. – avisei, quase rosnando no final.
— Jack? – perguntou, erguendo a sobrancelha com um sorriso malicioso no rosto. – Pensei que tinha parado de me chamar assim no momento de raiva.
— Raiva é pouco para o que eu senti de você naquele momento. – minha voz saiu baixa e sem humor, mas eu sabia que ele tinha em mente como eu realmente me sentia.
— Lav, eu...
— Vá embora.
— E se eu disser que não? – ele me desafiou.
— Eu mesma me transformo e acabo com você. – ameacei, mesmo sabendo que não conseguiria matá-lo sem ele ter feito algo grave.
— E se eu ainda disser que não? – desafiou outra vez, porém chegando mais perto com o seu rosto. Sei lá, tinha algo em seus olhos que me fazia não querer me afastar.
— Você já vai estar morto, não poderá dizer nada. – sussurrei, seu rosto a centímetros do meu.
Ele segurou meu queixo e continuou se aproximando. E finalmente acordei do transe tempo o suficiente para me afastar. Levantei minha mão e a levei de encontro com o seu rosto, brutalmente. Ela se virou com a força do impacto. E minha mão latejou um pouco nos ossos dos dedos. Foi como dar um tapa em uma pedra.
— O que pensa que está fazendo? – perguntei rispidamente, com os dentes trincados de raiva.
Eu não sei o que deu em mim naquele momento. Eu me senti hipnotizada por aqueles olhos vermelhos disfarçados por lentes de contato verdes. O que diabos deu em mim?!
— Vai dizer que não sentiu vontade de me beijar? – perguntou, mordendo o lábio inferior.
— Não. – respondi, convicta. – Agora é sério, hoje é domingo, são oito e meia da manhã, será que pode me deixa dormir sem risco do meu namorado te matar? Eu quero ter um sono tranquilo e sem preocupações.
— Vou te dizer uma coisa. – ele foi chegando perto, e achei que ele fosse me beijar. Não que eu fosse deixar. Mas seus lábios roçaram em minha orelha. Me arrepiei vagamente, surpresa com o toque. – Você ainda vai ser minha.
Eu não pude deixar de rir. Peguei sua cabeça entre minhas mãos e a balancei de leve, como se fosse um bebezinho fofo.
— Oh, querido. Se eu fosse você, não ficaria me iludindo desse jeito.
Toquei a ponta de seu nariz de leve antes de fechar a minha janela sem esperar ele dizer nada.
Sem me importar se ele ainda estaria vendo através do vidro – nem virei para ver esse detalhe –, me deitei na cama com Seth, que por sorte, não acordou nesse meio tempo.
Eu fiquei preocupada se ele ficaria magoado comigo se eu contasse-lhe que Jackson quase me beijou. E o pior! Eu ia deixar. Não sei. Não foi como se minha cabeça estivesse grudada ao meu corpo para eu comandar em mim mesma.
Abracei sua cintura, temendo ser a última vez que eu ficaria desse jeito com ele.
Uma lágrima escorregou pelo canto dos meus olhos e caiu em seu peito. Me aconcheguei antes de pegar no sono.
Acordei de um sonho qualquer, que eu nem me lembrava do que se tratava.
Abri os olhos, os estreitando para me acostumar com a claridade. Tateei minha mão na cama, e um vazio tomou conta de mim quando a encontrei vazia.
— Você dorme demais. – Seth brincou, e eu o avistei quase deitado do lado oposto da minha cama. Eu presumi que havia virado para o outro lado durante a noite.
— Você está aqui. – suspirei, como uma boba apaixonada.
— Claro. – ele sorriu e se inclinou para me dar um selinho, mas virei o rosto imediatamente. – O que houve? – perguntou, se afastando hesitante, provavelmente pensando se fizera algo errado. Seu hálito raspou pela minha bochecha pela hesitação.
— O que houve? – repeti, incrédula. – Eu devo estar com um hálito horrível!
Ele riu, aliviado.
— Primeira regra: nada de beijos assim que acordar. – falei num tom autoritário, fazendo-o rir.
— Mais alguma regra? – Seth perguntou, se divertindo com isso.
Pensei por um momento.
— Não, por enquanto é isso. – falei, desistindo de vasculhar minha própria cabeça.
Ele riu e me beijou na testa.
Ao meio dia chegou uma mensagem no meu celular. Era de Jake.
— Como ele conseguiu meu número?
— Nessie tem o seu número, não tem? – Seth perguntou, e presumi que aquela era a sua resposta.
— Sim. – respondi. – Hey, Sethie, - falei com um sorriso malicioso, após ler a mensagem. – Jake quer que a gente passe lá na casa dele para jogar futebol com os caras.
— Já disse para não me chamarem assim. – ele gemeu.
— Me parece um ótimo apelido de namoro. O que acha? – gozei dele.
— Não, por favor. – ele implorou, fazendo uma careta engraçada.
— Estou brincando. – esclareci, rindo dele. – Não sou muito do tipo “Namorada cruel”.
— “Não sou muito”´? – falou, incrédulo.
Eu ri.
— Vamos. Estou brincando.
— Vamos lá, então.
Decidimos nos transformar. Foi muito, mas muito estranho. Pelo menos chegamos lá bem rápido.
— Sethie tem que nos apresentar sua imprinting, né? Não seja mal educado. – Jared sorriu de lado.
— Como se vocês não a conhecessem. – ele revirou os olhos.
— Não como sua namorada. – Quil entrou da de Jared. – Mal conversamos na praia.
Suspirou, e eu prendia o riso.
— Pessoal, esta é Lavine. Lavine, esses são Jared, Quil, Paul, Embry.
Zoaram mais um pouco até decidirem dividir os times.
— Você não vai jogar. - falou, em sua cabeça isso era o ponto final da discussão.
— O que te faz pensar que eu não vou jogar? - pressionei, bufando.
— Eles são muito maiores que você.
— Obrigada por lembrar que eu não cresci tanto para um lobisomem. - revirei os olhos. - Eu sou tão forte quanto eles. E eu vou jogar.
— Lav...
— Apenas venha. - o cortei, e beijei sua boca. - Por favor, não implique com isso. Agora que eu faço parte da matilha, me deixe jogar com meus irmãos sem ficar emburrado. Pode fazer isso por mim?
Dado que eu estava na ponta dos pés para lhe lançar o melhor olhar persuasivo que eu consegui, seu rosto aos poucos deixou os traços tensos e ficou quase bobo.
— Isso é um sim? - sorri um pouco tímida, com minha ação eficaz.
— Se algo acontecer...
— Nada vai acontecer, Seth bobão. - lhe dei um selinho. - Eles que se cuidem ao cruzar meu caminho.
Riu, e vi que finalmente estava relaxado.
Foi engraçado o bando zoar com Seth, mas tinha horas que eu entrava para defendê-lo. Eles eram muito legais.
Passamos a tarde toda jogando futebol. Eu era boa, tinha que admitir. Na escola, eu só não jogava muito porque as garotas nunca me passavam a bola, então eu nunca tinha a oportunidade de mostrar se eu sabia ou não jogar.
— Hoje me diverti muito. – comentei enquanto andávamos de mãos dadas pela praia perto da casa deles.
— Que bom. – ele falou, sorrindo por me ver feliz.
Seguiram-se alguns segundos de um siêncio que me deixou pensativa sobre o que ocorreu mais cedo. Seria certo eu esconder dele que quase me deixei ser beijada pelo garoto que ele odeia? Isso provavelmente o deixaria muito triste, mas acho que a verdade é melhor do que a mentira. Como minha mãe dizia: a verdade destrói, mas a mentira, ela derruba.
— Você está bem? – ele me perguntou de repente, parando.
— Estou, por quê? – respondi automaticamente.
— Eu estou te notando meio estranha, sei lá. – ele comentou, com um ar preocupado. – Algo está a incomodando?
— Na verdade, sim. – suspirei. Nao valia a pena esconder isso dele. – E você não vai gostar nada...
Ele franziu o cenho com essa última parte.
— Você está bem, não está? – perguntou. Own, Seth. Sempre preocupado comigo.
— Sim, comigo está tudo bem. – apressei a falar. – Mas... sabe o Jackson?
— Hm? – ele se limitou a murmurar e ficar sem expressão.
— Hoje de manhã ele apareceu na janela do meu quarto. – comecei a me explicar, e ele estreitou os olhos. Não para mim, mas sim para o fato de que Jackson voltou a me procurar. – Ele... ele... ele tentou me beijar. Pronto. Falei.
Seth começou a tremer. Uh-oh. Isso não era um bom sinal.

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