Um passo errado

Antes que eu te esqueça...


Passava das dez da noite e a reunião convocada por Cássio, ainda prendia os funcionários do supermercado Ruiz, de Santo Valle. O motivo? O sumiço de um grande valor em dinheiro.

—Não quero fazer acusações levianas, mas sabemos que nesses casos, todos são suspeitos, até que se prove o contrário, mas se esse dinheiro aparecer nas próximas vinte e quatro horas, eu não vou envolver a polícia. —Ele andava de um lado para o outro, braços cruzados e o olhar severo, passando e repassando cada uma das pessoas ali presentes.

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David não abriu a boca, entrou mudo e saiu calado, e mesmo em particular, quando o pai comentou com ele o que tinha acontecido, não esboçou reação.

Cássio andava estranhando a forma com que o caçula vinha se comportando ultimamente, no entanto, acreditava que fosse ciúmes, afinal, ele estava cada vez mais próximo de Erick, e com razão. O filho mais velho havia se tornado réu, mesmo diante de todos os esforços, a promotoria aceitara a denuncia de tentativa de homicídio.

Com a alegação de que a arma não era de Alisson, e como o único disparo efetuado, fora feito por Erick, o circo estava armado, e por hora, ele era o mais novo palhaço.

—Nossa, eu achei que isso se estenderia madrugada à dentro. —Eliot abraçou Vivian, assim que ela saiu do supermercado.

—Não imagina como isso é humilhante. —Ela já estava com lágrimas nos olhos. —Ser suspeita de uma coisa tão grave, é terrível.

—Mas o pai do David não devia estar conduzindo as coisas dessa forma, constrangendo todos vocês. —Ele se irritou. —Meu tio é advogado, vou perguntar para ele se isso é legítimo.

Vivian entrou no carro do namorado e respirou fundo, estava tentando se recompor.

—Eliot, eu preciso desse emprego. —Ela tocou a mão dele que estava firme no volante. —Tenho minha consciência tranquila, vamos esperar, a justiça vai ser feita, e quem quer que tenha pegado esse dinheiro, vai pagar por isso.

O rapaz balançou a cabeça e depois fez uma meia careta, decepcionado.

—O pior, é que vendo o que Erick está passando, eu começo a acreditar cada vez menos na justiça.

—É, tenho que concordar, o que estão fazendo com ele chega a ser cruel. —Vivian afivelou o cinto de seguranças.

— Eu nem posso imaginar o quanto ele deve estar sofrendo com tudo isso... —Eliot lamentou, Antes de partir com o carro.

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—E então, falou com ela? —Erick praticamente correu de encontro à mãe, enquanto ela voltava do escritório de Marta.

Laura arfou, baixou os olhos e parou bem em frente ao filho.

—Nem comigo ela quer falar. — Sua voz transparecia sua derrota. — Alicia está mesmo muito magoada.

Erick olhou para cima, todas as vezes que falava nela era a mesma coisa, os olhos pareciam ter um dispositivo, queimavam e depois lá estavam elas, as lágrimas.

—Como ela pode ser tão teimosa... —Ele fungou discretamente.

—Você sabia que isso podia acontecer. —Laura tentou não ser tão dura. —Alicia avisou que se fizesse a viagem, esqueceria você. —Ela caminhou para dentro da edícula.

Erick ficou na varanda por mais um minuto e depois foi atrás dela.

—Pelo jeito ela está conseguindo, não é? —Ele indagou com pesar.

—Não pense que está sendo fácil para ela. —Laura encarou o filho por apenas dois segundos, ela ainda não conseguia conviver com seu sofrimento. —A Marta, ela me disse que Alicia até tenta disfarçar, mas está em pedaços, assim como você.

—Sempre usa esse tom quando fala sobre isso. —Erick cobrou a mãe. —Tenho a impressão de que acha que agi de forma errada.

Laura balançou a cabeça de forma positiva instintivamente, depois, mesmo não precisando, colocou mais ração na vasilha de Jack.

—Adianta eu dizer alguma coisa agora? Quando ela ainda estava aqui eu dei a você minha opinião.

Erick sentou-se na ponta da cama, bem perto da mãe.

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—Acha que errei, e ás vezes, eu mesmo me pego pensando dessa forma...Só que quando me lembro de você, do seu passado, e de tudo o que abriu mão por , ele...e por mim. —Ele interrompeu-se antes de parecer mais cruel.

Erick sabia o quanto a mãe não gostava de remexer em suas lembranças antigas.

—Sabe filho...eu me vejo mesmo em Alicia, e se quer mesmo saber, se ela for como eu, vai esquecê-lo mesmo, afinal, se ela estava pronta para desistir do Royal Ballet, por você, não devia tê-la forçado a fazer o contrário.

Erick cobriu o rosto com as mãos deixou-se tomar pelo impacto de cada palavra dita pela mãe.

—Pois a cada dia eu tenho mais convicção do que fiz. —Ele se levantou. —Se eu for condenado, e parece que é para esse caminho que a vida está me levando, acha que Alicia é o tipo de garota que merece ficar na fila de uma penitenciária, ou ter de passar por revistas íntimas, para poder ver o namorado?

Laura irritou-se com aquela suposição, jogou o pacote de ração que segurava, e colocou-se firme em frente ao filho, com o dedo em riste.

— Acha que eu sou o tipo de mulher que pode passar por isso? —Ela gritou, assustando-o. —Acha que mereço ficar em uma fila de penitenciaria, que eu devo passar por uma revista íntima, para poder visitar meu filho a cada quinze dias? A resposta é não , Erick, e sabe por que? —Ela bateu o dedo repetidas vezes no peito do rapaz. —Eu não vou desistir, você não vai ser condenado, e se for preciso, eu viro esse mundo de cabeça para baixo, pra provar a verdade dos fatos, pra provar que você é inocente!

Erick não respondeu mais nada, abraçou a mãe e ambos se ampararam, porque era apenas aquilo o que podiam fazer no momento.

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“Três semanas nesse lugar, e nada parece fazer o mínimo sentido, não sei se é por estar aqui contra minha vontade, ou porque de fato, estudar no Royal Ballet não é nada do que eu esperava.

Talvez, eu estivesse romantizando, ou melhor, valorizando de mais essa experiência, quando achava que isso, seria a coisa mais fantástica que poderia acontecer em minha vida. A verdade, é que se eu tivesse vindo pra cá antes, antes de ser a Alicia do Erick, as coisas seriam diferentes, mas agora, toda e qualquer experiência que vivo, é automaticamente comparada com tudo o que vivi com ele, e sendo assim, nada nunca vai chegar perto, porque ele, mesmo depois de ter me decepcionado, sempre vai ser a melhor parte da minha vida.”

Ela terminou de escrever em seu pequeno caderno, enquanto agradava o horário de sua próxima aula. Olhou para seu quarto, tudo era frio e impessoal, assim como todos daquela cidade.

Aquele ar formal e seco dos ingleses, contrastava, e muito, ao dos brasileiros, e mais, aos moradores de Santo Salle. Estava se sentindo literalmente perdida, devorada pela saudade de tudo e de todos que pertenciam a sua rotina, e quando chorava todas as noites antes de adormecer, sabia que não era só por ele, Erick.

As outras quatro garotas que dividiam o quarto com Alicia, vinham de países diferentes também. Uma mexicana, uma portuguesa e duas francesas, e embora a comunicação não fosse exatamente um problema, já que todas eram fluentes no inglês, existia algo que as afastava, tal qual imãs com polos iguais.

Havia uma competitividade escancarada, afinal, quem se destacasse mais, poderia prolongar a estadia ali, e o que aquelas quatro sequer imaginavam, era que Alicia não via a hora de voltar para casa.

Por sorte, havia Miguel, o rapaz que conhecera no voo. Ele estava em Londres a trabalho, e ficaria lá por seis meses. Depois de ouvir todo o desabafo de Alicia no dia em que se conheceram, acabaram por criar um vínculo, eles se falavam por telefone todos os dias, iniciativa dele, e já haviam se encontrado por uma meia dúzia de vezes naquelas três semanas.

—Que tal irmos a um pub? O pessoal do meu trabalho me convidou, e imediatamente pensei em você. —Miguel tentava convencer Alicia, que não tinha ânimo para nada.

—Estou com as pernas moídas...sem contar que não serei uma boa companhia. —Ela argumentou enquanto olhava para seu caderninho sobre a cama, estava louca para pegá-lo e jogar em suas páginas, mais um pouco do seu sofrimento.

—Alicia, faça isso por mim...ainda me sinto um estranho no ninho, e conversar com alguém em português, é tudo o que estou precisando.

Ela respirou fundo, era quinta-feira e no dia seguinte teria aulas só no período da tarde.

—Tudo bem...me passa o endereço. —Ela concordou sem empolgação alguma.

Alicia vestiu-se sem muita produção, era abril e a primavera da cidade era estranha, durante o dia o clima ficava ameno, ao anoitecer, na maioria das vezes esfriava, por isso carregou um casaco leve com ela.

Embora quisesse ir sozinha até o tal pub, Miguel fez questão de buscá-la. A empresa em que trabalhava, disponibilizava um carro para funcionários que vinham de outros países.

—Você está linda. —Miguel elogiou, assim que Alicia sentou-se no banco do passageiro.

—Isso não é um encontro, certo? —Ela franziu a testa e perguntou direta.

Miguel riu deliberadamente.

—Não...isso decididamente não é um encontro. —Ela afirmou enquanto acelerava rumo ao pub.

—Não me leve a mal, — tentou se explicar percebendo que fora direta de mais —mas você sabe da minha história e bem, eu nem preciso dizer como estou me sentindo.

—Alicia, eu sei...só elogiei para ver se você se anima um pouco, mas se quer que eu seja sincero, você está péssima. — Ele aproveitou o sinal fechado para encará-la.

—Nossa! —Ela sorriu. —Agora sim...é exatamente disso que eu estou precisando, de pessoas sinceras do meu lado.

Miguel balançou a cabeça, enquanto ria da bailarina.

********

—Pega mais uma cerveja pra mim também, quero daquela escura. —Alicia tocou o braço de Miguel, que se preparava para ir até o balcão pegar outra rodada.

Não fazia nem uma hora que eles haviam chegado ao pub, e Alicia já estava em seu terceiro copo, dos grandes.

—Você é acostumada a beber, ou gostou tanto assim dessa cerveja? — Ele estranhou a forma com que aquela delicada garota, tomava a bebida como se fosse água.

Alicia respirou fundo e olhou em sua volta, o lugar era muito bacana, um daqueles da moda, portanto cheio de gente. Os colegas do trabalho de Miguel, ainda não haviam chegado, e os dois estavam numa mesa de canto, confortáveis em poltronas estilo Luis XV.

— Na verdade, estou gostando das lembranças que o álcool está me trazendo. —Ele acabou pensando alto.

—Deixe-me adivinhar... —Ele arqueou as sobrancelhas e tomou um gole de sua cerveja. —Tem a ver com Erick?

—Nos feriados do carnaval, viajamos com um casal de amigos, fomos até Nova Olimpia, onde a mãe dele mora, lá eu enchi a cara com aqueles drinks baratos , —Alicia já sentia a volta daquele aperto no peito que vinha sendo sua constante companhia —cheguei a brigar com uma ex-namorada dele.

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— Você, Alicia? —Miguel inclinou-se em sua direção. —Eu não consigo imaginá-la fazendo esse tipo de coisa.

Ela riu.

—Eu acabei com ela, arranquei metade dos seus cabelos... —Ela fez uma careta, se lembrando de Camila.

—Gosta muito dele, não é?

—Na verdade eu o odeio...com todas as minhas forças. —Ela terminou seu copo, desejando mais um.

—Acho que é melhor comermos alguma coisa...dizem que aqui tem uma porção de peixes empanados que são muito bons.

—Sou vegetariana... e sério, estou sem fome alguma, —ela abriu a bolsa e pegou mais dinheiro. —Toma, trás mais uma, por favor.

—Vegetariana? Isso eu não sabia...

—Erick também é. —Ela suspirou. —Até nisso o desgraçado combinava comigo.

Miguel se levantou e fingiu não ouvir a ultima frase dita por Alicia, ele já tinha perdido as contas de quantas vezes ouvira aquele nome, apenas naquela noite. Enquanto fazia seu pedido, seus colegas chegaram e ele sinalizou com os braços para chamar sua atenção.

Sozinha, triste e sob o efeito de quase um litro e meio de cerveja no corpo, ela sentiu a bexiga reclamar, precisava ir ao banheiro, urgente.

Enquanto lavava as mãos, olhou-se no espelho e notou o quanto estava abatida. A cabeça parecia zonza e com o celular nas mãos, pareceu-lhe tentador fazer aquela ligação.

O número de Erick estava sempre lá, em primeiro lugar na lista de últimas chamadas, e apenas isso. Ela criara o vício de discar aquele numero e não concluir a ligação, mas naquela noite, bem, naquela noite ela não conseguiu se conter.

Uma, duas, três chamadas, e seu coração já batia com uma frequência, que poderia gerar energia.

—Alô. —Erick atendeu sem observar o identificador de chamadas, nos ultimo dias, o quê mais recebia, eram telefonemas alternados de seu advogado e de seu pai, por isso estava certo de que seria um dois. —Alô. —Ele insistiu, não obtendo resposta.

Naquele banheiro, há tantos quilômetros de distância dele, ouvir sua voz depois de quinze dias, trouxe a Alicia um misto de sensações que nem ela mesma poderia imaginar.

—Erick... —Ela sussurrou tão baixo, que não fosse os alertas de seu coração, ele nem teria ouvido.

—Alicia? —Erick quase gritou, e só não fez porque não teve folego para isso. —Alicia, fala comigo...

Ela começou a chorar, sabia o tamanho de sua saudade, mas na prática, tudo era muito maior.

—Eu...eu estou com tanta raiva de você.... —Ela dizia entre soluços.

—Já eu meu amor, —ele passou a mão pelo rosto em desespero— eu só consigo sentir mais amor por você, sua falta, falta da sua risada e do seu cheiro...

Alicia também queria dizer tantas coisas a Erick, se pudesse, leria tudo o que vinha anotando em seu caderninho de desabafo, ao mesmo tempo, queria gritar com ele, dizer o quanto sua vida estava uma droga e tudo por culpa de sua teimosia.

—Me deixa voltar Erick...me deixa ficar do seu lado, me salva desse inferno que vem sendo minha vida sem você! —Alicia perdera o controle, estava sentada no chão do banheiro, e não se importou nem mesmo quando duas mulheres entraram, ela continuou como se estivesse sozinha.

—Não faz isso comigo, Alicia. —Erick também já não se continha mais, ouvi-la dizer que estava sofrendo acabava por matá-lo. —Você precisa ser forte, e precisa me entender...

Alicia quis se levantar, segurou o telefone entre a cabeça e o pescoço e segurou-se na base da pia de granito buscando apoio, a cabeça voltou a girar, dessa vez com mais força, o estômago reagiu àquilo e também aos litros de cerveja, levou a mão á boca, mas não pôde evitar, colocou para fora aquele líquido escuro, era apenas o que tinha ingerido por toda a noite.

Erick ouvia tudo, ele podia escutar que Alicia estava passando mal e seu desespero se fez maior quando depois de um estalo, tudo silenciou.

Amor e ódio, realmente dois sentimentos que andavam juntos, feito siameses, e Alicia não estava sabendo como lidar, transtornada e sentindo que realmente precisava de ar, correu para fora do banheiro, e depois do pub, deixando a bolsa e o telefone ali.

Miguel que conversava com os colegas, viu quando ela saiu e preocupado, decidiu ir atrás, ele sabia que a bailarina não estava nada bem.

—Alicia o que aconteceu? —Ele encontrou-a abaixada na calçada, a alguns metros da entrada.

Ela olhou para ele, e seu rosto, o único familiar naquele lugar pareceu ser sua salvação. Estendeu as mãos pedindo ajuda para se levantar, em meio às lágrimas o abraçou, quando ele retribuiu, Alicia se aninhou em seu corpo e permaneceu por mais de dez minutos apenas chorando.

—Eu liguei pra ele...ouvi-lo acabou comigo... —Ele sussurrou enquanto soluçava.

—Ah...eu sinto tanto por você... gostaria de poder fazer ficar tudo bem. —Miguel afagou seus cabelos carinhosamente, ele realmente se importava.

Depois de um tempo, ele a colocou dentro de seu carro e voltou ao pub, tinha certeza de que a bolsa e o celular deviam estar no balcão de achados e perdidos. Acertou, os pertences de Alicia tinham sido entregues a um dos atendentes do lugar, e depois de acertar as contas e despedir-se dos colegas, seguiu imediatamente ao carro, estava com medo de deixá-la sozinha.

Antes de passar pela porta ouviu o aparelho tocar, curioso olhou para o visor e já sabia mesmo antes de ver, quem seria. A foto de Erick aparecia no visor.

Ele deixou tocar, chegou a cogitar atender, ao menos para tranquiliza-lo, imaginava o quanto ele devia estar preocupado, afinal, mesmo sem dizer nada a Alicia, ele como homem, entendia o que Erick havia feito, e de alguma maneira, sentia admiração por ele. Por outro lado, pensou que o rapaz não entenderia o fato de alguém do sexo masculino, estar atendendo o telefone de sua namorada, ao menos ele não gostaria.

—Sua bolsa, e seu telefone. —Ele entregou tudo a Alicia.

—Obrigada Miguel...e nossa, eles devem ter cobrado uma taxa extra de você, eu fiz a maior sujeira no banheiro, —ela balançou a cabeça, —nunca mais vou beber cerveja na minha vida.

—Acho que foi uma péssima ideia tê-la convidado para vir a um lugar como esse, —Miguel ocupou seu lugar no banco do motorista, e virou seu corpo para Alicia. —da próxima vez, vamos a uma sorveteria, ou a uma casa de doces...nada de álcool.

Alicia respirou fundo, o pior era que a maneira cuidadosa com que Miguel falava com ela, acabava por fazê-la se lembrar de Erick, e enquanto se perdida nesse pensamento, seu telefone voltou a tocar.

—Ele ligou enquanto eu estava lá dentro. —Miguel deu de ombros.

—Você atendeu? —Ela indagou sem tirar os olhos do visor, adorava aquela foto de Erick.

—Não! Imagina...mas acho que você deveria, ele certamente está preocupado.

Alicia fechou os olhos, não tinha condições de falar com ele novamente, era muito doloroso.

—Atende pra mim...fala que estou bem. —Ele estendeu o aparelho para ele.

Miguel arqueou as sobrancelhas, intrigado com o pedido.

—Eu não gosto dessa ideia...

—Por favor, ele deve mesmo estar, sei lá, enlouquecendo de preocupação. —Ele insistiu enquanto o celular parecia gritar cada vez mais alto.

—Alô. —Miguel começou sentindo seu rosto queimar de vergonha.

—Quem é? Onde Está a Alicia? —Ele gritou.

—Ela está bem...sou um amigo do ballet, e ela deve ter comido alguma coisa que não fez bem, —ele era péssimo em inventar mentiras, e focou os olhos no cambio do carro tentando se concentrar, —fique tranquilo, está tudo bem.

—Eu quero falar com ela, por favor. —Erick não estava gostando nada daquela história.

—Cara, eu já disse, ela está... honestamente, ela não quer falar com você, e pediu para que eu atendesse apenas para tranquiliza-lo, e é isso. —Miguel desatou a falar, não conseguiria continuar criando um enredo falso.

Alicia encarou-o quando ele a olhou, ela sinalizou com a cabeça avisando que estava tudo bem.

—Certo... —Ele rosnou. —E você? Como é seu nome? —Ele sentiu o ciúme queimando em seu sangue, e consumindo sua alma.

—Miguel. E eu estou cuidando dela, agora se quer um conselho...espere que ela ligue pra você... —Ele tentou ponderara as coisas, sentindo-se um desastrado

Erick bufou, e depois desligou o telefone. Estava irritado, muito irritado.

—E então? — Laura aproximou-se dele, temendo uma explosão.

—Um cara atendeu o telefone dela, e mãe...tenho certeza de que ela estava bebendo, eu conheço a Alicia quando... —Ele se ateve, sendo inundado pelas lembranças do carnaval, e de como eles foram felizes naqueles dias.

Escondeu o rosto dentro das mãos, perguntava-se por que a vida estava sendo tão cruel com ele.

—Achou que ela fosse pra lá, e que iria ficar presa apenas no colégio? —Ela tocou as costas do filho.

—Eu já nem sei...aliás, minha única certeza é de que eu não tenho mais forças, eu estou esgotado, e não pense que é por conta desse processo, a verdade é que ela mãe, Alicia, ou melhor, a falta dela está acabando comigo.

**************************

—Você não está falando sério... —Eliot indignou-se assim que Vivian ligou avisando que acabava de ser demitida.

—Queria não estar, eu...meu Deus, não sei o quê vou fazer agora... —Ela começou a chorar.

—Me espere...eu estou indo até aí. —Ele desligou revoltado.

—O quê aconteceu? —Mathias que ajudava o amigo a trocar as rodas de seu carro, estranhou.

—A Vivian foi demitida, acho que deve ter a ver com o sumiço daquele dinheiro...

Mathias respirou fundo, desde que soube daquela história, elegeu um suspeito. Não gostava de se meter no que não lhe dizia respeito, mas também não conseguia ver as coisas acontecendo de baixo do seu nariz e apenas ignorá-las.

—Tem falado com o David, ultimamente?

Eliot terminou de guardar suas ferramentas no porta-malas e encarou o amigo.

—Não, o David mudou depois do termino com Alicia, no fim, acho que ela era a ponte entre nós.

—Ele está esquisito, não acha? —Mathias sondou, queria certificar-se de que não era apenas coisa da sua cabeça.

—Acho sim...e a Vivian também já comentou isso comigo, —ele entrou no carro— ela disse que David nem parece mais a mesma pessoa.

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Eliot partiu, e Mathias começou a organizar suas lembranças. Pensou no dia em que encontrara o rapaz no supermercado, e na maneira com que ele falava ao telefone naquela ocasião, logo depois veio toda aquela catástrofe envolvendo seu irmão, e agora o roubo do supermercado.

Ele começou a montar um quebra cabeças imaginário, e várias peças se encaixavam.

— Ah, David... se for mesmo o que eu estou pensando, vá se preparando... —Mathias sussurrou a si mesmo, ansioso pelas peças que faltavam, e no que dependesse dele, não demoraria muito para ter o jogo todo montado.