Neville caminhou pelos corredores com um sorriso torto e o ar tipicamente desajeitado que possuía. Naquele fim de tarde, o motivo da chacota não era mais uma de suas trapalhadas e sim uma peça pregada pelos Weasley. De qualquer forma, era o suficiente para tornar-se invisível por um curto período de tempo.

Sorriu para o trio de grifinórios, Harry Potter abanara a cabeça e Hermione lhe lançou um sorriso pequeno, enquanto Ron parecia mais confiante em reclamar. Enquanto se afastavam, Longbottom acompanhava-os com o olhar, pequeninamente desejando ter uma amizade com quem conversar.

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Sentia falta de ter um amigo — era correto sentir falta de algo que nunca teve? —, mas preocupava-se mais em não perder seu sapo ou em sentir medo do Prof. Snape. Em suma, estava sempre mais ocupado com a preocupação das lições de casa e com o foco em seu fracasso na magia.

Seus pés, no entanto, haviam finalmente o levado a algum lugar. Encontrava-se parado na ponte coberta, rebuscando algo útil em sua mente para, no fim, perceber que não havia nada a ser feito naquele dia.

Contentou-se em apreciar a quietude do lugar e em tornar-se visível apenas para si mesmo. Mas aquele plano não havia funcionado muito bem.

— O que faz tão longe de seus amigos, Neville? — o homem sorrateiro possuía o rosto habitualmente cansado, mas um sorriso largo e disposto.

— Prof. Lupin — cumprimentou-o com a cabeça baixa e um sorriso torto, atrapalhando-se no próprio silêncio.

Lupin sorriu e olhou-o com uma estranha ternura.

— Se importa se eu ficar aqui por algum tempo? — negou com a cabeça em resposta.

Internamente, desejava ser invisível, pois atos de pena como os do professor sempre lhe deixavam desconfortável.

E o olhar do homem parecia lhe estudar, mas seu sorriso dizia que queria apenas alguém para manter um diálogo. De qualquer maneira, nunca fora muito bom para decifrar o que os olhares e expressões alheias queriam dizer — exceto quando tratava-se de gozação, sabia exatamente quando alguém o olhava com maldade.

— Sabe, Neville, há algo em você que me lembra um antigo amigo meu. Não compreendo exatamente o que seja, mas você me recorda a imagem dele — o professor falava e gesticulava com certo tom nostálgico, o que lhe causava um sorriso perdido no meio de um rosto exausto.

— Ele era um desastre também? — sorriu e tentou parecer engraçado, mas soou mais penoso consigo mesmo.

Lupin riu suavemente, com o olhar em direção a uma árvore grande e volumosa, onde alguns alunos encontravam-se sentados abaixo.

— Ele possuía algumas inúmeras dificuldades com magia e sempre fora muito esguio com as pessoas, muito invisível também. Veja, só souberam seu nome quando ele havia morrido — murmurou Remus.

Neville não soube exatamente o que dizer, sua mente, na verdade, trabalhava para entender se o amigo de seu professor havia sido uma pessoa bondosa ou se ele já estava morto e encontrava-se esquecido.

— Mas havia algo nele… Algo que eu vejo claramente em você — o sorriso lembrava o de Hermione quando somente ela sabia da resposta.

— O quê? — decidiu aventurar-se na pergunta, mesmo que temesse a resposta. Não precisava ouvir a palavra “fracasso” de mais uma pessoa naquele ano.

— Coragem.

Neville não surpreendeu-se, pois tinha certeza de que ouvira errado. Esperou as risadas que normalmente apareciam após alguém gozar de sua cara, mas não havia sinal de que o professor estava brincando com ele. Ao contrário, o rosto sereno e o sorriso pequeno apenas indicavam o quão sério ele estava sendo.

— Não se engane, Neville. Você não é um grifinório por mero acaso. Há algo destinado em você, algo que somente você poderá dar vida. Mas a chama está aí, e eu tenho certeza de que és tão mais corajoso do que o Chapéu Seletor acha — havia certa sabedoria nas palavras do homem, como se ele pudesse ver o que havia escondido no fundo de seu âmago.

— Desculpe, professor, mas eu não teria tanta certeza sobre isso — o sussurro fraco não passou despercebido e seus olhos, de um minuto para o outro, pareceram pesar.

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— Sabe, Neville, se há algo que eu aprendi nestes anos é que se você permitir, você se torna o que as pessoas falam. Se alguém lhe julgar um perdedor e você permitir que seja um, você se tornará um perdedor — a mão balançava e as palavras pareciam fluir na mente do garoto — Não deixe que os outros lhe digam quem Neville Longbottom é, só você pode responder isso.

Longbottom nunca encontrou-se mais imerso nas palavras de alguém como encontrava-se neste momento. Parecia que nem mesmo os sermões maldosos de Snape permaneceriam em sua cabeça por tanto tempo como as frases cuidadosas que Prof. Lupin lhe proferia.

— Por que está me dizendo isso, Professor Lupin? — a surpresa em seus olhos era ainda maior que a confusão de seu rosto.

— Como eu lhe disse, você me lembra um amigo. E este amigo viveu sua vida sendo a sombra de alguém e sendo o herói de ninguém, enquanto tudo que sentem por ele é pena e descontentamento. E você, caro Longbottom, não precisa tomar o mesmo caminho para ser alguém, para ser o Neville.

Havia um sorriso no rosto do mais jovem que parecia ser praticamente impossível de tirá-lo, até mesmo com a mais obscura magia. Não que este sorriso fosse durar uma vida toda, ou apenas o terceiro ano de Hogwarts, mas com toda certeza perduraria por um longo tempo.

— Bom, venha, está quase na hora do jantar, não queremos dormir de barriga vazia, não é? — enquanto o professor caminhava a frente, Neville o acompanhava com um olhar singelo.

Pela primeira vez, alguém havia acreditado em seu potencial e pela primeira vez Neville havia acreditado em si mesmo.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.