O Lado A

Capítulo I


Confesso que fiquei sem ação.
—Ei, calma, calma. Vamos entrar e você me conta o que aconteceu.
Falei como se fala para uma criança desconsolada.
—Me tira daqui! me leva para outra cidade, outro país. Se for possível para outro planeta...
Ela falou ainda com a cabeça em meu peito e segurando forte minha camisa, nas costas.
—A gente pode analisar todas essas possibilidades, mas, ta frio aqui. entra, por favor.

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Coloquei a mão nos ombros dela, que estavam descobertos pela camiseta cavada, fazendo com um gesto para ela entrar. Fechei a porta, peguei um casaco meu que estava do lado da porta e dei para Lara vestir, ficou um vestido, mas dados as circunstâncias era melhor assim.
Ela sentou e eu fui pegar um copo de água com açúcar pra ela.
a cozinha ficava logo atrás do sofá. Era praticamente um comodo em conjunto.

Quando ela se acalmou eu perguntei o que tinha acontecido.
—Ta melhor?
Falei sereno.
—Um pouco...
—Me conta o que aconteceu por partes.

Os olhos dela marejaram de lagrimas novamente e ela olhou pra cima como quem não quisesse chorar, mas foi em vão.
—Minha vida, está toda fodida desde sempre, mas o que aconteceu hoje realmente acabou comigo. Ou melhor o que quase ia acontecendo. Ela olhou para baixo e passou a mão nos cabelos em um gesto rápido.
—Aquele cara foi atrás de você de novo? Eu falei que a gente tinha que denunciar para polícia, Droga. Mas, você não me ouviu..
—Não briga comigo Antônio, Meu Deus. Eu não posso denunciar meu próprio namorado, Droga. Ela falou envergonhada, baixando a cabeça.- Mas hoje, hoje foi horrível. Ele estava fora de si quando eu cheguei na casa dele, me pegou a força contra a parede. Eu disse que não, que eu não queria, que não era assim, mas adiantava...se não fosse a empregada chegar agora eu estaria bem pior.

Ela se derramou em lagrimas novamente e eu a juntei ao meu peito.
—Calma, ta. A gente vai denunciar aquele filho da mãe. Isso não vai sair por nada, não mesmo.
Eu estava com raiva, se eu visse o Mark naquela hora ele seria um homem morto.
—Não, Você não vai fazer nada contra ele.-Falou direta-Sabe o que é pior? A alguns meses atrás nos estávamos planejando um futuro juntos. Onde a gente iria se casar, o nome dos filhos. Calculando o tempo que levaria pra isso acontecer... E agora ele se torna esse monstro.
Realmente, o que eu poderia fazer contra ele? absolutamente nada, a justiça não funciona para os caras ricos, e o Mark era filho do Dono da Universidade e eu de um contador, não menosprezando meu pai, Mas eu estava de mãos atadas. A continuação foi que doeu mais, e ela vinha dizer isso a mim, quem 'nunca' imaginou isso, a única diferença era que eu fazia essas coisas sozinhos enquanto ela estava com um cara que sinceramente não merecia aquele amor todo.
—Se ele realmente é esse cara bom, mesmo, o que aconteceu pra ele te tratar assim? Ou ele é um cretino muito grande ou aconteceu algo.
Falei tentando fazer ela perceber que ele era realmente um idiota. Mas ela me interrompeu como se realmente tivesse uma desculpa.
—Ele era o cara perfeito. Só que em uma das festas que a gente foi ele conheceu uns caras, e esses caras apresentaram pra ele umas coisas. E depois disso ele nunca mais foi o mesmo. Começou a financiar a venda e compra dessas "paradas", Disse que ia construir sua própria fortuna sem precisar do pai dele. Depois que dona Helena morreu ele o pai não conseguem se entender. Eu achei que eu conseguia amenizar essa parte triste da vida do Mark, mas, hoje eu vejo que não.
A voz de choro misturada com aquela voz delicada me partiu o coração.
—Ei, não chora, ta? Tudo vai voltar para seu devido lugar...
E ela nao respondeu, apenas suspirou forte.
Na verdade eu queria dizer " Você vai deixar esse louco e vai seguir sua vida sem ser responsável pelas paranoias que ele anda criando" mas, eu não consegui.
Foi quando o telefone dela tocou. Tinha o nome "bebêzão" como contato salvo e eu presumi que era ele, então tomei o telefone da sua mão.
—Eu não iria atender..
Ela rebateu rápido.
—Eu sei que não. Mas, eu vou desligar seu telefone por precaução.

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Depois disso ela ficou ali olhando para o nada, contra meu peito. Seus cabelos estavam na minha boca, mas eu não tive coragem de nem por um segundo pedir para ela se mover dali. O silêncio tomou conta, mas eu como estraga prazer tive que falar algo que estava a me incomodar.
—Por que eu?
—Hein?
Ela resmunga como se não tivesse entendido.
—Por que você não foi pra casa de uma amiga ou da sua prima?
Sim, eu queria saber o motivo. Tudo estava realmente confuso. Por que em meio a nossas brigas ela bateria em minha porta?
—Não sei. -ela respondeu confusa- Eu estou atrapalhando alguma coisa, não é? Estou tomando teu tempo.
—Não! Não, não é isso. Eu fiz o que fazem os ex amigos. É só que...
—Eu sinceramente não sei. Você foi a única pessoa que veio a cabeça.
—Sua cabeça tem um péssimo gosto.
Consegui arrancar um pequeno sorriso dela, mas, depois ficamos em silêncio o resto da noite. Não por falta de assunto, mas porque eu não queria arrumar algum motivo pra gente discutir estragar tudo.
Ela conseguiu dormir, e eu não consegui parar de observar com os os cabelos cabelos ondulados, castanhos, mechados de loiro eram lindos, a boca tinha sido valorizada com os anos e como sua bochecha ficava corada quando ela chorava. Eu já tinha visto tudo aquilo, mas nunca tão de perto, depois de tanto tempo. O que realmente mexeu comigo.

Ela não passou a noite na minha casa, não por falta de vontade( minha). Fui deixa-la às 02:00h am e alguma coisinha em casa.