NITCH



Acordei com uma terrível dor de cabeça.

Ergui o corpo, piscando de forma agoniada. As luzes ao redor pareciam atingir minha visão com a ardência e ferocidade de facas incandescentes.

— Ah… você acordou.

Reconhecia aquela voz retumbante e baixa.

— A-Aayrine?

Finalmente a focalizei, sentada diante de mim, ao lado do sofá no qual me encontrava recostado. Foi quando percebi que não havia voltado ao castelo na noite anterior.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

E notei que só haveria uma razão para aquilo.

— Você… me encontrou….? - guinchei, corando.

Aayrine tomou sua mão na minha, num gesto surpreendentemente gentil.

— Sim… trouxe você para casa – sacudiu a cabeça – embriagado… - sua voz baixou até se tornar um sussurro – você realmente conseguiu me assustar, Buster. Teria batido em você - acrescentou - se não estivesse parecendo um filhotinho indefeso que mal conseguia ficar em pé.

Ela estava estranhamente insegura, falando calmamente, como se conversasse com um animal arredio, que iria atacá-la à qualquer momento.

— Percebi – choraminguei, massageando a testa – droga… eu não quis… beber tanto.

Vi-a piscar, fitando-me sem expressão.

— Não culpo você… afinal… asas coisas andaram bem complicadas pata a gente, não é? - suspirou, hesitante - você estava… bem fora de si ontem.

Um medo assustador me corroeu.

— Fiz alguma besteira?

Observei Aayrine enrijecer, saltando o olhar quase que imperceptivelmente. A pelagem ao redor de suas bochechas se eriçou, sem dúvida devido à uma irrigação anormal de sangue sobre sua pele.

Estava corando.

— Não – respondeu, após alguns segundos.

Não havia um pingo de convicção em seu tom.

— Rine…

— Não fez nada, Nitch – cortou-me; aparentava um bizarro desespero – apenas… teve um pesadelo… e desidratou horrores, se me permite acrescentar.

— Ah.. - ainda não estava convencido, mas sabiamente decidi não insistir – e Asgore…?

Ela ergue a sobrancelha.

— O rei? Não sabe de nada. Eu disse à ele que você pernoitou na hospedaria da Rabby, após escoltar um amigo até aqui.

— Nossa… obrigado – agradeci, aliviado – você salvou minha vida, Nacabi.

A carneira abriu um sorriso de lado, humorada.

— Não fique tão animado – a diversão desapareceu de seu olhar de repente - ainda vou cobrar este favor em algum momento.

Ergui-me, começando a recolocar lentamente as peças de minha armadura, que ainda estavam sobre a mesinha de centro da sala.

— Não seja por isso, Nacabi – brinquei, tendo uma ideia repentina e genial – vamos dar uma volta em Waterfall hoje à noite… tem algo lá que eu queria te mostrar…

— Parece um encontro.

Quase enfiei a viseira do elmo nos olhos com o sobressalto.

— Ah… um encontro entre amigos… claro – assenti, ainda tenso – o que me diz? Topa?

Eu tinha a impressão que Aayrine se corroía para não rir.

— Por que não? - deu de ombros – claro… estou de folga esta noite. Aonde vai ser?

— Conhece o caminho para a Vila Temmie?

— Claro… vai ser ali? - indagou.

Neguei com a cabeça, sorrindo de maneira misteriosa.

— Ah… é uma surpresa… - ajeitei-me – nos encontramos de frente para os túneis, antes de entrar n vilarejo…. está bem?

— Excelente… - seu focinho se retraiu – precisamos mesmo conversar.

Naturalmente, bastou para que eu deixasse o local com toda a perplexidade do mundo,

E agora, mais do que ansiando pelo encontro que havia inventado de marcar.



O tempo havia esfriado consideravelmente em Waterfall, desde a última vez em que havia botado meus pés naquele lugar.

Havia me agasalhado com um suéter arroxeado, tentando ao máximo me sentir à vontade, por finalmente estar de volta ao meu antigo lar.

A roupa – presente que havia recebido das Temmies em meu último aniversário – tinha cheiro de Temmie Flakes e sereno. Aquele aroma trazia tantas lembranças….

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

Ergui a cabeça, ouvindo passos se aproximarem.

Das sombras, reconheci a silhueta de Aayrine surgir, olhando embasbacada ao seu redor. Era visível que nunca havia se aventurado por aquele lado dos túneis.

Também vestia um suéter rosado, e vestia luvas de couro carmim sobre as patas. Embora, à primeira vista, o conjunto causasse estranheza, era um estilo que caia muito bem nela.

— Você está bonita – comentei sem pensar.

Houve um momento de silêncio constrangido entre nós dois.

— Ahm… você também – Aayrine coçou a nuca, sem graça.

Ainda mais aturdido, meneei a cabeça.

— Certo… podermos ir agora? - sugeri – ah, espera um pouco…

Ela deu um guincho engraçado de surpresa, assim que tapei seus olhos com uma venda. Sacudiu os cabelos, risonha, tentando se desvencilhar.

— Nitch!

— Ei – censurei-a, igualmente humorado – eu disse que era uma surpresa, lembra?

— Ah – fingiu desapontamento, fazendo uma voz infantil – você é um cabrito malvado…

— Sou mesmo – concordei, achando graça, terminando de amarrar o tecido atrás de sua cabeça – agora se comporte… - tomei sua mão na minha - … e me siga, madame…

Guiei-a pelo antigo caminho que levava à bifurcação - em qual uma de suas cavernas levava até a Vila Temmie.

No entanto, tomamos o outro túnel, caminhando através de uma extensa galeria de cristais fluorescentes.

— Estamos chegando? - perguntou ela, ofegando baixo. Parecia estar se divertindo com a cegueira momentânea, esbarrando de maneira proposital e brincalhona sobre mim.

— Quase lá – respondi, também me entretendo admiravelmente com aquele joguinho.

Ela estava saltitante, alegre feito uma garotinha. Não esperava vê-la daquela forma – ainda mais depois de nossa recente briga no castelo.

— Acho que precisava disso – comentou, quando estávamos quase nos aproximando do local – sair um pouco. E relaxar…

— É, Rine. Eu também – assenti comigo mesmo, ainda a puxando, e evitando pensar no que havia acontecido alguns dias atrás – eu também.

Depois de mais alguns minutos esgueirando-nos pelo trajeto do túnel, enfim deixamos a caverna, entrando no lugar secreto que eu tanto queri lhe mostrar.

— Ótimo… - ri, desamarrando sua venda – já chegamos, Rine… pode olhar.

Ela obedeceu, reabrindo os olhos outra vez.

Vi suas pupilas rubras dilatarem de admiração, e um arquejo alto escapar de seu focinho entreaberto.

E, pelas suas palavras seguintes, só pude deduzir que estava absolutamente maravilhada, no final das contas.

— Pelo…. sangue…. dos Dreemurr…