— Undyne?
Undyne tirou o pirulito que tinha na boca, erguendo-se e me sondando curiosa.
— Sim? - indagou, ainda sentada no cume da colina.
— Por que papai mandou prender todos os humanos que caem aqui? - indaguei – o que acontece com eles… depois que os capturamos?
Já fazia quase três meses que eu mantinha Alekey em segurança dentro de meu quarto. E eu ainda tentava entender por que ainda não havia vistos os outros humanos que haviam chegado em Underground.
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!Era certo que eram capturados, mas nunca havia ouvido falar do local onde se encontravam encarcerados. O que lhes acontecia, afinal?
— Humanos? - ela titubeou – oras, Nitch. Achei que Asgore já tivesse te contado várias vezes – cutucou uma das presas com o palito – o rei os mata, é claro.
Me ergui repentinamente, saltando o olhar, deixando que a torta em minha mão caísse no solo seco de Waterfall.
— O que?
A capitã me encarou.
— Ele as mata – repetiu, como se fosse a coisa mais óbvia do mundo.
Sacudi a cabeça, atordoado.
Meu pai, o amável Rei Asgore… o monstro que fazia de tudo para manter a paz e a união entre o nosso povo… o pai adotivo bobo e brincalhão, que gostava tando de chá…
Era um assassino de humanos?
— O que… - gaguejei, impactado – por quê, Undyne?
Ela pareceu espantada com minha reação.
— Além de vingar nosso cárcere aqui embaixo? - sibilou – precisamos deles, Nitch. Eu jurava que o rei já havia lhe contado isso.
Me pus de pé num pulo.
— Tenho que ir, Undyne! - declarei, afoito, dando as costas para ela e correndo em direção ao Núcleo.
— Mas Nitch…!
Não ouvi o restante de suas palavras,
Eu não conseguia acreditar. Todo aquele tempo, os poucos casos – aqueles que havia tido conhecimento - de humanos mortos havia parecido uma infeliz coincidência de eventos na mão de outros monstros.
Imaginar Asgore, o rei que havia me criado, meu maior modelo de justiça e sabedoria, ceifando a vida dos humanos caídos... era errado.
Era impossível.
Afivelei meu elmo, correndo o mais rápido que podia de volta para casa.
Eu teria que tirar aquela história a limpo.
Asgore pareceu surpreso quando adentrei sem me anunciar no jardim das flores douradas.
— Nitch?
Eu estava ofegante e trêmulo. Mesmo assim, avancei alguns passos na direção do rei, retirando o capacete e encarando-o, sentindo minha garganta se fechar num nó.
— Pai… - falei devagar, sentindo cada palavra custar a sair de minha boca – é verdade..? È verdade que o senhor… mata os humanos que caem aqui..?
Sua expressão passou de surpresa para profundo pesar.
— Ah, Nitch – sussurrou, fechando os olhos – por favor… me acompanhe.
Bambeando de ansiedade, o segui para os fundos do jardim, passando pelo longo corredor que levava à barreira.
Havia sempre ouvido falar da barreira mágica, com a qual os humanos haviam nos selado abaixo da superfície. Porém, nunca havia a visto com meus próprios olhos.
Pelo menos, até agora.
Chegamos de frente para um grande recinto, que rutilava sombras pulsantes sobre sua abóboda. À frente, cegando momentaneamente minha visão, se encontrava um longo horizonte opaco, cuja luz se estendida ao longo de toda a extensão da caverna.
Meu pai fitou-me, suspirante.
— Esta é a barreira – declarou, erguendo a mão adiante – é a única coisa que nos prende aqui. Nenhum monstro pode atravessá-la… mas se unirmos o poder de almas… almas humanas… poderemos finalmente destruí-la, e libertar a todos os monstros.
Senti que o ar me faltava.
Então era para isso que a caçada aos humanos havia se tornado tão intensiva ultimamente… para que Asgore pudesse completar aquele plano.
— Pai… isso é… loucura!
Ele gesticulou com a mão, fazendo o chão sobre nossos pés se abrir em sete círculos.
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!— Precisamos de sete para quebrar a barreira – disse sombriamente, cabisbaixo – e estas são as que já coletamos até agora.
Estupefato, observei sete redomas de viro emergirem dos dutos abertos, posicionando-se diante de nós dois.
Quatro deles brilhavam, preenchidos por algum tipo de artefato, de forma bastante familiar.
Almas humanas.
— Quatro… - guinchei, contraindo as mãos – faltam… três…
— Sim – meu pai concordou, condoído – entende, Nitch? Estamos tão perto…
Balancei a cabeça.
— Mas pai… não há outra… outra maneira?
Ele colocou a mão sobre meu ombro.
— Me dói fazer isto, Nitch. Também queria que houvesse outra forma de nos libertar. Infelizmente, sou forçado a fazer de tudo para ajudar nosso povo… por mais alto que seja o preço a pagar. Temos que fazer isso…. pelos sonhos e esperanças de todos os monstros.
Meu peito começou a doer.
Era verdade então.
Precisávamos das almas humanas, se quiséssemos sair do subsolo de uma vez por todas. Por isso tínhamos que entregá-los nas mãos do rei.
Enregelei-me.
Por isso Alekey havia pedido para esperar. Nunca havia lhe passado pela cabeça me contar o que havia descoberto sobre o destino dos humanos em Underground – pelo menos, não depois de virarmos amigos tão achegados.
Sabia que isso acabaria comigo, e decidiu esperar que eu descobrisse por mim mesmo.
Eu não podia mais esconder aquilo. Não quando eu via, agora, a importância de encerrar aquele impasse de uma vez por todas.
Alekey sabia o que eu faria. Ainda assim, enquanto tomava aquela decisão, senti o peso de minha traição dilacerar minhas entranhas.
E, então, fiz o impensável: lhe contei tudo.
Alekey virou-se na direção da porta quando adentrei no quarto.
Seu sorriso bondoso murchou rapidamente ao ver minha expressão pesarosa.
— Alekey… - choraminguei, baixando a cabeça - eu sinto muito…
A dor me consumia como uma chama, fazendo com que eu me retraísse de angústia.
O garoto aproximou-se de mim, abraçando minha cintura.
De alguma forma, havia lido meu olhar, e sabia o que aconteceria a seguir. Porém, Alekey estava totalmente calmo… em paz.
E isso só tornou as coisas ainda mais difíceis.
—Está tudo bem, Nitch – sussurrou afetuosamente – não é culpa sua.
Ele me soltou, erguendo o olhar amigável em minha direção. No entanto, embora sorrisse, podia sentir seus pequenos dedos tremerem contra minha pelagem.
— Vamos…? - falei, com a voz embargada.
O rapazinho apenas assentiu, segurando minha mão.
— Vamos, Nitch – sua voz não podia estar mais serena – o meu momento finalmente chegou… está na hora de eu conhecer o rei.
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