Toujours Pur

Capítulo Quatorze - Dezoito Luas


Lily se encarou no espelho. Parecia cansada, as olheiras escuras cavadas embaixo de seus olhos verdes, como se alguém tivesse pegado um pincel e pintado-as ali. Depois do que viu na ala hospitalar, não foi capaz de dormir por um segundo sequer. Toda vez que fechava os olhos, a imagem de Evan Rosier se remexendo em agonia nos lençóis encharcados de sangue invadia sua visão.

Ela tomou sua imagem. Parecia dez anos mais velha e, de alguma forma, com sua mãe. Lily nunca foi semelhante a Walburga, apesar de puxar suas cores e sua aparência de sua avó materna. Raramente era um ponto de discordância entre as duas; sua mãe nunca realmente se importou com ela. A filha mulher que estragou seus planos de compensar as três sobrinhas com três filhos homens saudáveis e fortes para carregar o nome Black para frente. O ciúmes da proximidade de Lily com o pai também era um fator determinante na distância entre as duas. Pensou que era o estresse que a tornava assim, tão parecida com a progenitora, ou talvez a divisão que tomava seu coração.

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Seus dedos tocaram em seus lábios, ainda sentindo o formigamento que os beijos de James Potter haviam deixado ali. Era como se tivesse comido algo apimentado, acordando todas as células de sua boca. Ela sorriu, se lembrando do jeito que seus corpos se encaixavam, o carinho que ele teve ao lhe tocar.

Era difícil dizer o que estava sentindo naquele momento. Lily queria ficar com James, ter um relacionamento com ele e gritar para todos que estavam juntos, mas não sabia se Sirius iria gostar. Ou se James queria tudo isso.

Ela olhou para seu relógio. Era cedo demais para suas colegas de quarto começarem a acordar e tarde demais para tentar usar uma poção de sono em uma tentativa de dormir. Ainda estava com o uniforme do dia anterior, mas isso poderia ser lidado mais tarde.

Lily voltou seu olhar para o espelho. As mechas ruivas e espessas de seu cabelo formavam uma moldura vermelha ao redor de seu rosto pálido. Ela pegou a tesoura em cima da pia, seus dedos se fechando no metal gelado, e cortou os fios com uma calma controlada, deixando-os pouco abaixo de seu queixo. Viu sua aparência mudar com as tesouradas, largos comprimentos de seu cabelo caindo em seus ombros e no chão de mármore. Minutos se passaram até que os cortes se tornassem mais uniformes, ajeitando o tamanho das mechas. Sem hesitar, Lily puxou os fios da frente e os aparou na altura das sobrancelhas. Ela respirou fundo quando terminou.

Quando voltou a se olhar, sentiu como se estivesse vendo uma estranha. Desde que se conhecia por gente, Lily teve o cabelo comprido. Sua adolescência inteira foi marcada por ter a cabeleireira em sua cintura.

Apesar do coração machucado pela perda, sabia que ela era necessária. Queria mudar, tornar-se digna de James Potter e se afastar da imagem que tinha antes. Cortar o cabelo era apenas o primeiro passo.

Lily empenhou sua varinha e sussurrou uma série de feitiços que fizeram os maços de fios ruivos desaparecerem. Poderia cuidar dos que ainda estavam em seus ombros e costas durante o banho.

A porta do banheiro estava aberta e ela conseguiu ouvir os sons das alunas da Sonserina acordando, passos sonolentos direcionados ao toalete que dividiam. Ela tirou seu uniforme o mais rápido que pôde, jogando as peças usadas na pilha de roupa suja destinada às lavanderias comandadas pelos elfos domésticos.

Enquanto tomava banho, Lily foi forçada a se lembrar do novo tamanho de suas mechas inúmeras vezes. Desde criança, havia adquirido o hábito de pentear o cabelo debaixo do chuveiro, facilitando seu trabalho de desembaraçar os fios grossos e múltiplos. A surpresa que sentiu ao usar mais poção condicionadora do que era necessário e ao pentear o ar, esperando automaticamente encontrar madeixas molhadas, era inevitável, sabia disso, porém ainda sim levou um grande susto ao se lavar.

Duas garotas do terceiro ano estavam fofocando quando saiu, escovando os dentes. Elas não pareceram notar sua presença ali, então Lily esgueirou-se para fora, apertando a toalha contra seu corpo úmido.

Apenas Imogen Wilkes estava no quarto, arrumando as tranças rastafári de um jeito que ela não conseguia entender. Sua antiga amiga ergueu o rosto ao ouvi-la entrando e franziu o rosto. Lily permaneceu em silêncio, andando até sua cama e abrindo seu malão com um movimento de varinha. Ela estava começando a se vestir quando a voz aguda e alta de Imogen soou pelo quarto:

— Gostei do cabelo — disse, olhando para um espelho redondo em sua mão.

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Lily tentou manter a surpresa para fora de seu rosto.

— Obrigada — respondeu, puxando a saia por suas pernas longas. — Eu decidi fazer uma mudança.

Imogen inclinou a cabeça e zuniu, como se em concordância. Ela afastou o olhar por um segundo, tempo suficiente para Lily secar seu cabelo com um feitiço que aprendeu com Emmeline Vance. Imogen aplicou uma camada de batom roxo sobre seus lábios carnudos, as mãos tão firmes quanto as de um cirurgião.

Lily não estava com vontade de voltar ao banheiro para aplicar sua maquiagem. Depois do banho quente, seus músculos estavam relaxados demais para fazer tal esforço e o cansaço começava a afetá-la. Ela sabia que nada superava o trabalho de dedos cheios de práticas, porém não tinha tanta certeza quanto a energia que poderia colocar na atividade. Feitiços embelezadores não eram algo que conseguia fazer com facilidade, ou destreza, por isso decidiu ficar sem maquiagem. Apesar de repudiar suas sardas ou ter certeza de que as olheiras em seus olhos iriam assustar até os mais corajosos alunos, ela poderia aguentar um dia. O hematoma que Ariel havia feito em seu rosto havia diminuído para uma pequena mancha verde clara que tomava parte de sua bochecha. Não era preciso se preocupar com isso.

— Onde está Amelia? — perguntou, penteando o cabelo novamente. — Imaginei que ela iria te esperar ficar pronta antes de subir para o café da manhã.

Imogen suspirou. Claramente, aquele não era um assunto prazeroso para ela. Lily quase se arrependeu de ter perguntado. Quase.

— Não estou mais falando com Amelia — respondeu. — Fiquei de saco cheio.

Lily tentou não demonstrar surpresa, apesar de sentir o choque tomar todo o seu corpo. Desde o início das aulas, quando confrontou Amelia Bones sobre a traição e terminou a amizade entre as duas, observava as duas juntas o tempo todo. Imaginava que tudo estava bem entre elas, mas percebia que estava errada.

— Por quê? — questionou, mantendo suas mãos ocupadas com os botões de sua blusa.

— Ela ficou soberba — disse Imogen. — Agarrada ao Ariel o tempo inteiro, até ele se encheu disso. Estava agindo como se tê-lo roubado de você foi um feito magnífico, algo digno de orgulho. Depois que terminei com Avery, pensei que ela iria me dar apoio, mas tudo que conseguiu dizer foi como você estava nos afastando, roubando tudo que era direito dela.

Lily franziu o cenho. Conseguia imaginar a antiga amiga exclamando tudo aquilo – ela sempre foi um pouco esquisita –, entretanto ouvir que Amelia achava que ela estava roubando algo que lhe pertencia era ultrajante e extremamente ofensivo. Lily não era, e nunca foi, uma ladra. Iria conversar com a ex-amiga, deixar as coisas entre elas bem claras.

— Avery não me contou que vocês terminaram — ela disse, colocando sua capa.

— Aconteceu quando você ainda estava na ala hospitalar, se recuperando do ataque do Mulciber — explicou Imogen, dando de ombros. — Eu percebi algumas coisas e… acho que ele ainda não teve tempo para te dizer.

— Que coisas? — Lily perguntou, andando com cuidado na direção de Imogen. A garota não se retraiu, portanto ela sentiu confiança para se sentar ao lado da antiga amiga.

Imogen a encarou, os olhos brilhantes como uma ônix estavam marejados.

— Avery está apaixonado por Mulciber. — Lily arfou, surpresa. — Não é como Amelia ou como foi com você. Ele não está cego de amor ou por uma vontade de ser melhor que os outros. Ele sabe o quão tóxico Ariel é e ainda sim, de alguma maneira, o ama. Ele não podia fingir mais e me contou. Eu terminei nosso relacionamento na hora. Mereço coisa melhor do que alguém apaixonado por outro.

Lily pegou a mão de Imogen, sentindo a pele quente da bruxa contra a sua fria. Ela não precisou fingir surpresa. A notícia era novidade para ela e, de um forma que a deixava envergonhada, ela nunca havia percebido os sentimentos do amigo por Ariel.

— Merece mesmo — respondeu, sorrindo. — Sinto muito que teve que passar por isso.

Imogen sorriu de volta e apertou a mão de Lily.

— Se algum dia quiser conversar, — continuou ela, inclinando a cabeça levemente para o lado. — Ou simplesmente precisar de um ombro amigo para chorar, lembre-se de que eu estou na cama ao lado.

Imogen a abraçou, apoiando seu rosto no ombro da ruiva e fungou, apertando seus corpos juntos com força. Lily não se afastou, permitindo-se ser abraçada. Não imaginava há quanto tempo a amiga estava precisando disso.

Imogen se afastou, limpando resquícios de lágrimas de suas bochechas com as pontas dos dedos.

— Eu senti tanto a sua falta, Lily — murmurou, sorrindo. — Marcus tentou me convencer a me juntar a vocês depois de sua briga com Amelia, mas eu me recusei. Achei que ela estava certa. Perdoe-me.

— Não se preocupe com isso — respondeu ela. — Não há nada para perdoar.

Elas sorriram juntas. Lily acariciou a bochecha gorducha de Imogen. Estaria mentindo se dissesse que também não havia sentido a falta da amiga. Sentiu falta de tudo. Das noites em claro, enchendo as bochechas de sapos de chocolate e compartilhando segredos. Elas tinham algo que Lily e Avery nunca teriam, algo que se aproximava ao que ela e Sirius tiveram. Um senso de proximidade e respeito que era difícil de se encontrar. Ela tentou afastar os sentimentos de solidão, porém era difícil mantê-los longe agora.

— Eu preciso ir agora — disse Lily, pegando sua bolsa. — Monitores-chefe costumam ser os primeiros a chegar no café da manhã. Por tradição, é claro, mas não posso ser a primeira a falhar.

— Claro — murmurou Imogen. — Eu entendo.

— Venha comigo — pediu, segurando na mão da amiga.

— Não posso — respondeu. — Esqueci de fazer a lição de Slughorn e ele vai me matar se descobrir. — ela revirou os olhos, mas sorriu. — Vou ver o que consigo fazer durante o tempo do café. Posso comer mais tarde.

Lily riu, mas não contestou. Ela soltou Imogen e se levantou, passando as mãos nas vestes como se quisesse alisar dobras invisíveis. Se despediu da outra com um beijo e desceu do quarto, cuidadosamente usando as escadas que levavam à Sala Comunal da Sonserina. O que esperava encontrar na Sala não correspondia ao que viu no segundo que entrou no cômodo.

Um grupo de alunos estavam amontoados ao redor de Slughorn, elevado em cima de um palanque, ouvindo o que professor dizia. Era uma grande quantidade de pessoas, talvez todos os que haviam acordado até aquele momento, salvo Imogen escondida no quarto. Lily adentrou a multidão, procurando com os olhos pela forma alta e familiar de Marcus Avery e o encontrou no meio do conjunto, os braços cruzados em cima do peito e uma expressão irritada no rosto. Ele não estava usando sua capa.

— Estamos todos de luto por tal acontecimento. Perder um membro da Sonserina é como perder um órgão vital, ou um braço — continuou Slughorn, o rosto vermelho com o esforço que fazia para falar. — Madame Pomfrey irá providenciar apoio terapêutico para qualquer um que precisar. Irão encontrá-la na ala hospitalar, como sempre.

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Lily se virou para Marcus.

— O que está havendo? — perguntou, vendo Slughorn continuar com seu discurso, apesar de que apenas os alunos do primeiro e segundo ano ainda o escutavam com afinco.

— Evan Rosier está morto — respondeu Avery sem olhar para ela. — Dizem que foi atacado por lobisomens na Floresta Proibida. — ele a observou por um segundo, rosto confuso. — Você não parece surpresa. Diga-me o que sabe. O que realmente aconteceu?

Lily tomou o cuidado para manter sua voz baixa, não queria que ninguém errado ouvisse o que estava prestes a dizer. O mestre de quem atacou Rosier ainda estava por aí, talvez procurando por testemunhas para eliminar. Quem quer que fosse, deveria saber que iriam chamar Dorcas para descobrir o culpado.

— Evan não foi morto por um lobisomem — disse, se aproximando do amigo. — Ele foi atacado. Por um aluno.

As sobrancelhas de Marcus se arquearam. Era possível ver que ela havia atiçado sua curiosidade. Ele descruzou os braços e pegou seu pulso gentilmente, puxando-a para mais perto.

— Quem? — perguntou entre sussurros.

Lily olhou ao redor.

— Severus Snape — respondeu.

Marcus franziu o cenho e olhou para trás. Lily seguiu seu olhar. Severus estava apoiado contra a parede de pedra, certamente querendo parecer calmo em relação ao assunto, mas não estava olhando para Slughorn como os outros. Não. Snape estava olhando diretamente para eles, como se soubesse o que estavam discutindo.

— Severus é burro demais para fazer isso sozinho — disse Lily, retirando os olhos de Snape por um segundo. Não queria chamar mais atenção para eles. — Ele tem um mestre, alguém que o manda fazer seu trabalho sujo.

Marcus riu, seco.

— Todos sabem que Severus é a criatura de seu irmão — respondeu. — Regulus deve estar por trás disso.

Lily balançou a cabeça e a imagem de Regulus, bochechas gorduchas e olhos inocentes, veio a sua mente. Não poderia ser ele. Sabia disso com toda a sua força vital. Tudo que a mantinha em pé naquele exato momento lhe dizia que Reggie não tinha nada a ver com aquilo.

— Não — sussurrou, agarrando as mãos de Marcus. Elas estavam frias. — Não pode. Reggie não teria motivo para matar Rosier. Acredite em mim. Precisa ser outra pessoa fazendo isso.

Avery assentiu, mas algo em Lily lhe dizia que ele não acreditava realmente no que ela estava dizendo.

— Tudo bem — disse. — Vou observar Severus nos próximos dias, ver com quem ele fala. Devo descobrir quem é seu chefe assim.

— Obrigada, Marcus. — ela o abraçou. — Esqueça Mulciber. Ele usa seu amor para mantê-lo por perto, como seu cachorrinho leal. Você merece mais do que isso.

Avery se afastou, a encarando assustado. Ele abriu e fechou a boca várias vezes, embasbacado, antes de respirar fundo e decidir o que iria falar.

— Como sabe disso? — ele levantou a mão e fechou os olhos. — Espere. Eu já sei. Imogen, não foi?

Lily assentiu, apesar de não ser preciso. Ele já tinha certeza de sua descoberta.

— Sabia que ela iria dar com a língua nos dentes em algum momento — murmurou. — Minha ex sempre foi ruim com segredos. — ele apertou seus lábios. — Vamos colocar isso para trás? Temos coisas mais importantes para fazer hoje.

Lily franziu o cenho.

— Tipo o quê?

Marcus não respondeu, apenas enfiou as mãos nos bolsos do casaco que usava e puxou um pacote azul. Lily prendeu sua respiração, absorvendo o presente cuidadosamente embrulhado. Ela não sabia o que dizer enquanto pegava o embrulho. Era mais leve do que ela pensava.

— Feliz aniversário — disse Marcus. — Espero que goste.

Lágrimas brotaram nos olhos dela. Estava tão cansada que não conseguia controlar suas emoções com a mesma facilidade.

— Você se lembrou…

Avery deu de ombros.

— Não é todos os dias que se faz dezoito anos.

Lily rasgou o papel presente com maravilha, os dedos ansiosos para chegar ao verdadeiro brinde que o amigo havia escolhido, seus pensamentos o levando até aquele momento, quando ela abrisse e visse o que ele estava lhe dando.

Ela abriu a caixa com cuidado e arfou ao ver a Estrela de Davi que ele comprou. O pingente era de ouro, com pequenos cristais ao longo do Escudo que refletiam a luz dos pontos estratégicos da sala. Tocou na corrente com cuidado, a unha pintada de rosa claro arrastando-se pelo metal gélido.

Lily pegou o colar e entregou para Marcus,virando -se de costas em uma tentativa de mostrar que ele deveria colocá-lo nela. A corrente da Estrela era menor do que a de seu colar com o rubi, portanto era possível usar os dois ao mesmo tempo. Severus Snape os encarava com inveja e ânsia.

— Muito obrigada — disse, voltando a olhar para o amigo. — Eu amei.

Marcus sorriu, soberbo.

— Sabia que iria — comentou. — Eu preciso voltar para o quarto. Slughorn já me deu uma bronca pela falta de capa.

Lily soltou um muxoxo. Seu estômago já estava roncando e ela precisava chegar ao Salão Principal logo. Cygnus, seu tio, sempre estava atento para qualquer falha que ela pudesse ter. Queria impressioná-lo e ser seu aniversário não era desculpa para desleixo.

— Tenho que ir — disse. — Te encontro depois, certo?

— Certo — ele respondeu, abraçando-a mais uma vez. — Hoje iremos matar as aulas da tarde. Quero comemorar seu aniversário direito.

Ele não lhe deu espaço para reclamar, então Lily apenas sorriu e se despediu. Slughorn não percebeu sua saída, o que ela agradeceu mentalmente, afinal certamente ele teria algum tipo de presente ou comentário que o agradaria mais do que a ela. Lily gostava do professor de poções, mas ela era muito sobrecarregada com ele às vezes.

Ela cantarolou para si mesma enquanto subia as escadas das masmorras, distraída com os próprios pensamentos de felicidade e harmonia que a rodeavam em dias como aquele.

Não conseguia acreditar que havia esquecido. O ataque de Evan deveria ter preenchido todos os espaços de sua mente, pois seu aniversário sempre foi a data favorita de todo o ano para Lily, excluindo os feriados religiosos que tinham uma conotação completamente oposta aos outros dias.

Três de novembro. Era difícil de acreditar que já havia chegado. A passagem do Halloween deveria ter servido como aviso de sua aproximação, mas Hogwarts não comemorava feriados há anos, quando foi determinado que eles distraiam os alunos de seus estudos e tarefas escolares. O ano estava passando rápido demais para seu gosto, mas isso apenas significava que ela conseguiu completar dezoito anos de maneira mais acelerada que o pensado.

Ela pensou em seus outros aniversários, antes de Hogwarts e abertura de presentes no Salão Principal depois da chegada do correio. Quando ainda passava a maior parte do ano no Largo Grimmauld, seus pais costumavam colocar as diferenças de lado no dia três de novembro e fingir um tipo de felicidade pelos primogênitos. Orion e Walburga costumavam levá-los para jantar, sem Regulus ou qualquer outro Black, e era como se, por uma noite apenas, eles eram uma família normal. Lily tinha tanto carinho por essas memórias quanto era possível.

Ela foi puxada de suas distrações ao esbarrar em um corpo largo e alto que estava no meio de seu caminho até o café da manhã. Enquanto pensava, ela olhou para onde andava. Lily ergueu o rosto, prestes a pedir desculpas para quem quer que fosse, mas esqueceu todas as palavras ao ver quem era.

— Ah! — disse o guarda-caça de Hogwarts. — Senhorita Black, não te vi por aí. Desculpa.

— Hagrid, — murmurou Lily, levemente assustada. Não era todos os dias que via um meio-gigante em sua frente e os rumores que ouviu sobre a raça do homem iriam assustar o mais corajoso dos aurores. — O que está fazendo aqui?

Hagrid, sorrindo como sempre, deu um passo para o lado e revelou James Potter em suas costas. Estavam conversando, aparentemente. James sorriu para ela e piscou seu olho direito de uma maneira que a fez tremer as pernas.

— Estava entregando algo que James me pediu para trazê-lo. — ele sorriu de uma maneira conhecedora, como se soubesse de algo que ela não sabia. Lily duvidava muito disso. — Você é a gêmea do menino Sirius, não é? Feliz aniversário, garota.

— Ah… — ela sorriu, falho. — Obrigada.

Hagrid sorriu também. Ele se despediu de James com algumas palavras, apertando o ombro do garoto, e se afastou, virando no corredor que o levaria para fora do castelo.

Era uma maravilha ele ainda ter permissão para trabalhar ali. Lily se lembrava de seu pai falar sobre determinar uma lei de que apenas bruxos completamente humanos poderiam trabalhar em instituições tanto governamentais quanto não governamentais. A presença de Hagrid significava que isso nunca aconteceu e ela não sabia como se sentia em relação à isso. A antiga Lily teria ficado enojada e escrito uma longa carta para Orion, reclamando da situação, mas a nova Lily, mudada e querendo ser digna de James, não se importava o suficiente para fazer qualquer coisa.

James deu um passo para frente, segurando uma sacola preta.

— Oi, linda — disse, passando a mão pelos cabelos. Lily se aproximou dele. — Gostei do cabelo.

— Oi — ela respondeu, corando como uma jovem de quinze anos. — Obrigada.

Ele pegou a mão dela. Seus dedos eram ásperos e cheios de calos provenientes de horas segurando uma vassoura para os treinos e jogos de quadribol. Lily retornou o aperto dele, sorrindo.

— Vem cá — ele sussurrou, puxando-a para perto. Seus olhos castanhos pareciam quase verdes naquela luz e ela perdeu o equilíbrio, completamente encantada. Ele grudou seus lábios juntos, enlaçando-a pela cintura. James inclinou a cabeça, como se quisesse aprofundar o beijo e Lily se afastou, repleta de arrependimento.

— Aqui não — disse, encostando suas testas. James estava respirando fundo. Parecia que o pouco tempo que passaram se beijando foi o suficiente para acabar com todas as suas forças.

— Aonde, então? — questionou, os olhos brilhando com uma fome que ela não conseguia reconhecer.

Lily olhou ao seu redor, vendo o corredor vazio exceto pelos quadros vivos que, respeitosamente, cobriam seus rostos enquanto fofocavam entre si. Estavam seguros, porém um estudante poderia passar a qualquer momento. Ela não queria arriscar uma possível detenção por “demonstração pública de afeto”, principalmente em um dia tão especial quanto aquele.

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Ela puxou James para um armário de vassouras, fungando com o ar pesado e viciado que havia ali. Estava se arrependendo de ter escolhido aquele lugar quando se virou e o viu olhando para as paredes com a sombra de um riso estampado em um rosto. Ele parecia jovem naquele momento, o cabelo todo bagunçado e os óculos tortos apoiados na ponta de seu nariz comprido. As mãos de Lily estavam se coçando antes de ela se aproximar e tentar ajustá-los, empurrando-os até a ponte nasal do garoto.

— Engraçado — ele comentou, rindo.

— O que é engraçado? — perguntou Lily, suas bochechas doendo. Tinha certeza de que estava sorrindo como uma tola apaixonada.

— Você — ele respondeu. — Muitas garotas estariam fazendo outras coisas muito mais interessantes se estivessem presas em um armário com um membro do sexo oposto.

Lily fez um bico. Não estava chateada, mas queria agir que sim.

— Eu não estou presa. Posso sair quando quiser — retrucou.

James deu um passo para frente e ela percebeu que ele a tinha encurralada contra a parede, presa entre seu corpo e a pedra fria. Era tudo seu objetivo, notou ao imediatamente se aproximar dele, buscando seu calor na manhã gélida. Ele colocou suas mãos ao lado de sua pescoço, efetivamente a prendendo ali, e a sacola que estava segurando roçou contra o ombro de Lily.

— Acho que não — disse, travesso. — Mas você pode sair daqui. Só precisa pagar o preço.

— Qual é o preço? — ela perguntou, apesar de já ter uma ideia do que ele iria dizer.

— Um beijo. — o sorriso que cortou o rosto de James foi apaixonante.

Lily tentou não rir. Era seu aniversário, porém parecia que era ele quem estava se divertindo mais do que ela. Queria brincar com o Grifinória, fazê-lo ganhar o tal beijo que tanto desejava.

— Desculpe-me, meu senhor, mas eu simplesmente não posso — respondeu, colocando sua máscara de inocência. Percebeu que, pela primeira vez, usava uma de suas fantasias para sua própria felicidade, não para enganar alguém.

James franziu o cenho. Não estava lendo o clima da ármario corretamente.

— Por que não?

Lily cruzou os braços e se apoiou na parede. Ela se arrependeu imediatamente, pois sentiu o gelar da pedra infiltrar sua capa, casaco e blusa até chegar em sua pele nua e despreparada para tal choque de temperatura.

— Ora, o senhor não pode esperar que eu, uma moça solteira e de boa família, vá beijar qualquer par de calças que peça, por mais bonito que tal par de calças seja — ela disse. James sorriu, percebendo o nível da brincadeira e ela se segurou para não sorrir também. — Meus beijos pertencem apenas aos meus namorados. Espero que o senhor entenda.

Ele se aproximou ainda mais, roçando seus lábios juntos e deixando o calor de sua pele dourada a envolvesse. Lily fechou os olhos, suspirando. Quase desistiu de seu pequeno plano, apenas para que pudesse sentir seus beijos intoxicantes novamente, mas ela era forte. Se segurou, espalmando ainda mais seu corpo contra a parede e respirou fundo. Poderia conseguir.

— Ah, eu entendo — disse James, sua respiração quente batendo contra o rosto dela. Ele cheirava a menta e cera polidora de vassouras. — Cara senhorita, você me daria o prazer de ser minha para agora e para todo o sempre?

Lily torceu a boca e bateu seu dedo contra sua bochecha, fazendo cara de pensativa.

— Deixe-me pensar — murmurou. James soltou um muxoxo e fez um bico. — Aceito apenas se me deixar ver o que tem na sacola.

Ele arregalou os olhos, ao ver que tinha entrado na armadilha dela como um patinho, e Lily riu, sem conseguir segurar mais. James xingou baixinho, afastando-se por um segundo e puxando a sacola que havia caído para seu cotovelo. Ela não se desprendeu da parede, agindo como se ainda estivesse presa dentro de seus braços. Certamente, era o que ela queria que estivesse acontecendo, mas desejava ver o que o garoto deveria ter comprado para Sirius. Era a única explicação plausível para o que quer que ele havia pagado Hagrid para lhe entregar.

Lily estava esperando uma camisa, ou uma coleção daquelas revistas americanas trouxas que Sirius tanto gostava, mas o que James puxou foi um conjunto de cinco álbuns bruxos. Ela sabia seus nomes antes mesmo de ler as inscrições nas capas. Blue Potion, Crazy Witch, Unicorn Smile, Mermaid e Dragonheart. Eram todos os álbuns já lançados das Goblin Pixies.

O presente não era para Sirius. Era para ela.

James devolveu os presentes para a sacola e abriu a boca, para se explicar ou desejar-lhe feliz aniversário, ela não sabia, mas Lily não permitiu que ele falasse. Ela deu um passo para frente e circulou seu pescoço com os braços compridos e finos, puxando-o para perto, e o beijou com toda a força que tinha.

Era cedo demais. O sono ainda tomava posse de seu corpo e Lily não se importava em nada com isso. Apenas pressionou seus lábios contra os de James, tentando acabar com a distância entre seus corpos e ignorando o cansaço e a razão que a puxavam para longe. Ela não queria se afastar, queria ficar perto e mais perto e mais perto até que não houvesse mais nada entre eles, tornando seus dois corpos em um.

James soltou a sacola e a puxou pela cintura, fogo lambendo suas veias. Ele a empurrou contra a parede e Lily suspirou, caindo na posição de submissa que aparecia toda vez que estavam juntos. Gostava disso. Com Potter, conseguia soltar as rédeas, se afastar dos controles e não sentir insegurança. Era um alívio, como a primeira lufada de ar para um homem que estava se afogando.

Ele apertou sua bunda e ela puxou seu cabelo. Lógica escorregou para fora de sua mente enquanto o desejo por James e pelo calor que ele tinha sustentavam seu corpo. Ele era experiente, mas ela já sabia disso, pensou e se lembrou da noite anterior, quando se beijaram na Sala de Monitoria. A memória parecia tão antiga naquele momento. Lily sentia como se sempre estivesse com James, sem Ariel ou Marlene McKinnon no passado dos dois. Ela poderia ficar o dia inteiro ali, em seus braços e o beijando. Seria o melhor presente de aniversário que alguém poderia lhe dar.

Mas, como já devia ter acontecido, a porta se abriu e alguém entrou.

— Prongs, o que pensa estar fazen… eita! — James e Lily se separaram, encarando o rosto chocado de Sirius como dois criminosos pegos no flagra. O que era, mais ou menos, o que estava acontecendo. — O que está acontecendo?

James gaguejou, olhando de Lily para Sirius como se estivesse tentando encontrar uma desculpa que fosse o suficiente para explicar a situação desconfortável em que os três estavam. Lily aproveitou aqueles segundos para abotoar sua blusa novamente, parecia que Potter conseguia soltar alguns botões enquanto estava distraída, e ajustar seu casaco.

— O que parece que está acontecendo? — ela replicou e Sirius, que estava encarando James, se virou para ela, a expressão em seu rosto era como se a estivesse vendo pela primeira vez na vida. — Eu estou beijando meu namorado, Sirius. Algum problema com isso?

Sirius balançou a cabeça enquanto uma expressão de felicidade tomava o rosto de James. Antes que ele pudesse pular de excitação, o irmão gêmeo de Lily disse:

— Nenhum problema, cara irmã, apenas digo isso porque todos os quadros estão sussurrando sobre como James Potter, herói do quadribol, está enfiada em um armário aos amassos com uma garota da Sonserina. — havia um tom ríspido na voz de Sirius e ele cruzou os braços. — Pensei que fosse mais madura do que isso.

Lily mostrou a língua para o irmão e ele retornou o gesto.

— De qualquer jeito, — continuou Sirius. — Está na hora do café da manhã, pombinhos, não a hora de enfiar a língua na garganta dos outros.

— Realmente — disse James, saindo do armário. — A hora de enfiar a língua na garganta dos outros é depois do jantar.

Os Black não o seguiram logo de imediato. Lily conseguia sentir seu irmão a observando, seus olhos cinzentos lendo toda a sua expressão com a mesma profissionalidade que ele fazia quando eram crianças. Ela retornou o olhar e sentiu um senso de fraternidade recair sobre seus ombros.

Era o aniversário dele também.

— Quando você quer fazer a troca? — perguntou.

Sirius deu de ombros.

— Agora parece uma boa hora — respondeu. — James vai estar tão feliz que não vai perceber que não fomos com ele até se sentar na mesa para comer. Ele é apaixonado por você desde o quinto ano, sabe.

Lily assentiu, puxando sua bolsa para frente de seu corpo. Percebeu naquele momento que James havia esquecido a sacola com seus presentes no armário. Ela sorriu, se abaixando e a pegando com a mão livre.

Ela colocou sua mão dentro da bolsa e alcançou o pacote que estava carregando por semanas, esperando aquele momento tão desejado. Era uma novidade que havia decidido colocá-lo ali, salvando-a de um vexame em que esquecia o embrulho em seu quarto.

— Aqui — ela disse, entregando-o para Sirius. Ele pegou a caixinha com interesse enquanto que segurava um pacote igualmente embrulhado na outra mão. Ele entregou o seu em silêncio. — Espero que goste.

Não importava o ano ou a situação em que estavam, seja paz ou guerra. Sirius e Lily Black sempre trocavam presentes no dia de seu aniversário.

Lily abriu o pacote com ânsia. O irmão gêmeo sempre sabia exatamente o que lhe dar, como se a ligação entre os dois lhe dissesse o que seu coração mais queria naquele momento. O mesmo acontecia com ela em relação a ele. Ela não esperava que ele gostasse de seu presente; ela sabia que ele iria gostar. Havia uma diferença.

Era um bracelete. A prata havia sido forjada para formar curvas e voltas tão complexas que ela não conseguia entender, apenas se mesmerizar com o jeito que o metal refletia a luz proveniente da pequena abertura na porta do armário. Todos os movimentos prateados serviam para sustentar uma gema de topázio azul no formato de meia-lua. Lily colocou a jóia em seu braço, surpresa com a forma que cabia perfeitamente em seu pulso. Era um presente feito em sua medida. Deveria ter custado uma fortuna.

Ela levantou seu olhar. Sirius já havia colocado o colar que ela pediu uma joalheria para fazer e ele acariciava o topázio amarelo com seu polegar, uma expressão de carinho no rosto. A pedra de seu colar havia sido quebrada e colocada de maneira para parecer o sol, brilhando não importava de que maneira a luz batia na gema.

Parecia que ambos tiveram a mesma ideia.

— Você é o sol da minha lua — murmurou Lily, sorrindo. Sempre próximos, mas nunca juntos.

Sirius sorriu de volta enquanto que ela sentia lágrimas brotando em seus olhos. Ele abriu a boca para dizer algo, no entanto, antes que o irmão pudesse vê-la chorando, Lily saiu do armário e correu para o Salão Principal.

Não podia mostrar vulnerabilidade. Ainda não.

Quando chegou, James estava sentado em sua mesa, olhando ao redor com confusão. Ele não percebeu sua chegada ou como Peter Pettigrew estava apoiado em seu ombro, tagarelando no ouvido de seu namorado. Pensou em ir até lá e cumprimentá-los, se apresentar para os amigos do novo companheiro, mas a ideia foi rapidamente descartada quando Marcus gritou seu nome, chamando-a para a mesa da Sonserina. Ela secou suas lágrimas e foi se juntar a eles.

— Onde estava? — perguntou Imogen quando ela se sentou. — Saiu muito antes de nós dois.

Lily ergueu a sacola de James e o pulso com o bracelete de Sirius.

— Estava apenas recebendo meus presentes de aniversário do meu irmão e do meu namorado — respondeu, colocando um pouco de mingau em seu prato.

Imogen enrubesceu. Na certa, havia esquecido o aniversário da amiga.

Marcus, entretanto, tinha outras preocupações.

— Namorado? — questionou, a boca cheia de torrada. Seu jeito foi o suficiente para chamar a atenção de Amelia Bones, que cutucou Ariel ao seu lado. — Quem aceitou namorar com você?

Lily o ignorou.

— Estou namorando James Potter — respondeu, alto o suficiente para que Ariel Mulciber e sua trupe a ouvissem. — E não foi ele que teve que aceitar, seu palerma.

— Mas vocês nunca tiveram um encontro — reclamou Imogen. — Como pode saber que o namoro vai durar mais do que um mês?

— Odeio admitir, mas concordo com a Wilkes. Isso está sendo rápido demais para o meu gosto.

— Não sejam assim — disse Lily, defensiva. — James e eu nos encontramos toda semana desde o início das aulas. Eu acredito que foi o suficiente para que nós nos conhecêssemos.

Marcus e Imogen trocaram um olhar, falando tudo sem realmente dizer nada. Lily franziu o cenho, se retraindo.

Achava que iriam ficar felizes por seu novo relacionamento, algo que era saudável ao contrário de seu último, porém a reação negativa dos amigos a surpreendeu. Percebeu que eles estavam certos. Tudo estava realmente acontecendo rápido demais. E era tudo culpa dela. James estava contente em simplesmente continuar os beijos que iniciaram na noite anterior, mas Lily queria que ele a pedisse em namoro antes, ela insistiu nisso.

Será que realmente o queria ou apenas desejava um relacionamento? Pensou que estava apaixonada por James, mas tudo podia ser fingimento. Ela nem mesmo poderia dizer que seus sentimentos eram reais. Conseguia traçar o momento em que ficaram mais fortes para o dia em que Ariel a confrontou, certo de que estavam transandos.

Ela queria que eles ouvissem que estava namorando. Ela queria esquecer Ariel. Talvez, e só talvez, James era apenas o escolhido para assumir o papel. O garoto que estava usando para dar um fim a sua história com Mulciber.

Lily apoiou seus cotovelos na mesa, segurando seu próprio rosto com as mãos. O cansaço e a realização que caía em seus ombros a faziam querer chorar.

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Imogen tocou em seu ombro e sussurrou algumas palavras de conforto.

Ela não queria terminar com James, sentia-se feliz com ele, porém, se o estava usando e seus sentimentos eram apenas temporários, era a coisa certa a fazer. Lily precisava tomar uma decisão.

O piado das corujas-correio a tirou de sua distração e ela ergueu o rosto, vendo a pobre coruja de sua família carregando dois largos sacos repletos do que deveriam ser seus presentes e os de Sirius. Ela não conseguia juntar excitação o suficiente para ficar animada com a possibilidade de ganhar mais presentes.

Thorn jogou seu saco em sua frente, espalhando mingau e torradas por todos os arredores. Lily se limpou com um movimento de sua varinha, vendo os outros fazerem o mesmo. Penélope o seguia com mais graça, jogando uma pequena sacola no colo dela. Os dois voaram para longe com velocidade.

Ela abriu a sacola de Penélope primeiro. Havia uma carta e um outro colar. Era um grande e oval medalhão de ouro pesado, com um S serpentino em incrustações de pedras verdes brilhantes na frente. Era lindo, mas não seu estilo. Lily ergueu a carta para uma altura que pudesse ler.

Lily Black,

Estou decepcionado. Suas cartas me parecem mentiras e eu não gosto quando tentam me enganar. Espero melhor de você na sua próxima atualização.

Sei que é seu aniversário e isso não é uma data que deve passar esquecido. Cada ano completado por um puro-sangue é uma vitória para toda a Grã-Bretanha. O medalhão que te mando é uma velha herança de família que ficaria melhor em um pescoço belo como o seu. Use-o sempre. Será uma forma de lealdade à minha imagem que eu sei que você não irá recusar.

Como sempre, Lorde Voldemort não assinou. Lily olhou para o colar com desgosto. Sua beleza se tornou repugnância e ela queria soltá-lo, afastá-lo ainda mais de sua pessoa. Sentia como se aquele-que-não-deve-ser-nomeado estivesse envenenando sua mente pelo medalhão, de alguma forma.

— O que é isso? — perguntou Regulus, se aproximando.

— Um presente da vovó — respondeu, sendo rápida ao colocar o medalhão em sua mão. — Acho que a idade está começando a afetá-la. Pode ficar.

Um brilho surgiu no olhar de Reggie. Ele havia gostado do presente.

— Mas é o seu aniversário… — contestou.

— Não importa — ela disse. — Quero que seja seu. Combina com seus olhos.

Regulus sorriu e se afastou com o medalhão. Lily o viu ir embora em silêncio, rezando para que estivesse errada sobre o medalhão e sobre seu irmão.

Ela amassou a carta em sua mão e abriu o saco de sua família, tentando juntar um pouco de excitação para o momento.

Sua mãe havia mandado presilhas de cabelo adoráveis; seu pai lhe mandou brincos de esmeralda; sua avó, realmente, comprou sapatos brancos com lindas luvas de renda perolada. Os presentes que mais chamaram sua atenção foram os de Lucretia e Alphard.

Lucretia lhe deu um anel de ouro branco belíssimo, possuía um ar vintage que a fez perder seu fôlego. Ela sentia que era uma herança da família, apesar de que os escritos em hebraico não lhe pareciam ser ditados da família Black.

נצח נעשה בדם ובעצם

Ela deslizou o anel para seu dedo anelar, satisfeita no jeito que ele completava a visão de sua mão direita. Parecia que ele sempre esteve ali.

Seus olhos se voltaram para o presente de Alphard. Assim como Lorde Voldemort, ele mandou uma carta, mas não havia nenhum medalhão ou jóia para acompanhar.

Ela abriu a carta e uma moeda escorregou pelo papel. Lily a segurou, antes de começar a ler as palavras de seu tio.

Minha doce menina,

Não preciso te dizer que meus sentimentos por Lucretia são mal escondidos. Seu pai já sabe e deixou seus pensamentos claro sobre isso. Ele não vai nos dar a autorização que precisamos para nos casar. Sabe como nossa sociedade é conservadora, o chefe da família Black precisa aprovar qualquer casamento que seus membros realizam. Lucretia está arrasada, porém, depois do que aconteceu com Ignatius, ela se recusa a viver um relacionamento fora do casamento. Infelizmente, não podemos ficar juntos por enquanto.

Mas você não precisa se preocupar com isso por enquanto. É seu aniversário. Dezoito não é tão importante quanto dezessete em nosso mundo, porém um aniversário é tão importante quanto qualquer outro.

O que eu estou te dando é a verdade. A verdade sobre mim, a verdade sobre seu irmão e sobre tantas outras pessoas ao seu redor. Imagino que já esteja pronta para isso e que a esteja esperando há muito tempo. Sempre tentei ser como um pai para você e Sirius e nunca gostei de mentir quando conversávamos.

Sei que irá fazer bom uso de seu novo conhecimento.

Com amor,

Tio Alphard.

Ela olhou para a palma de sua mão. Havia uma moeda dourada descansando entre as linhas de sua pele, porém havia uma fênix no lugar do dragão comum dos galeões bruxos, as asas abertas e seu olho negro encarando fixamente para cima.

***

Lily sentia como se estivesse escutando tudo por trás de uma parede de água. O cansaço envolvia sua mente com um abraço pegajoso e ela não conseguia se encontrar na aula de Arte das Trevas. Parecia que Amycus Carrow estava em uma fotografia, se mexendo, mas não falando. Isso a irritava profundamente.

Um pequeno aviãozinho de papel pousou em sua frente. Eles eram comuns na aula de Carrow, apesar de sua irritabilidade, ele não costumava prestar atenção no que os alunos estavam fazendo, portanto dava espaço para trocas de bilhetes entre os estudantes. Como a Sonserina dividia a aula com a Grifinória, isso parecia aumentar a quantidade de notas divididas.

Ela abriu o bilhete com calma, piscando os olhos com força. Parecia que sua visão piorava quando estava cansada. De repente, ela sentiu saudades dos óculos que usou do seu terceiro até o meio do seu quinto ano. Nunca pensou que isso iria acontecer.

Com sono? Quer que eu mude de lugar para que você tenha um ombro para usar de travesseiro?

~JP~

Lily se virou. Enquanto ela sentava na frente, James e seus amigos preferiam os assentos do fundo, mais propícios para conversas fora de hora. Seu namorado estava a encarando, um sorriso danado em seu rosto bronzeado.

Ainda não havia contado para ele as dúvidas que enchiam seu coração. Deveria ser a coisa certa a fazer, mas não conseguia encontrar a coragem dentro de si para admitir coisas para ele. Ela imaginou que se o relacionamento entre eles fosse verdadeiro, ela não se sentiria assim.

Sirius lhe disse que James era apaixonado por ela desde o quinto ano e, depois da conversa que teve com ele quando ele decidiu acompanhá-lo até seu dormitório, suspeitava que era verdade. Iria partir o coração dele quando Lily lhe dissesse que precisava de um tempo para repensar tudo, mas ele iria superar.

Ela rasgou um pedaço de seu próprio pergaminho e molhou sua pena na tinta, antes de começar a escrever. Queria marcar um encontro entre eles para poderem conversar. Talvez pudessem chegar a um acordo juntos.

Estava no meio de sua assinatura quando sentiu o papel ser arrancado de seus dedos, a tinta manchando o lírio que desenhava para fora do pergaminho. Ela ergueu o rosto, preparada para brigar com quem havia feito isso, mas se calou ao perceber que era Amycus Carrow quem pegou seu bilhete.

— Ah! Como eu desconfiava, senhorita Black. O que está escrevendo não tem relação com a nossa aula — disse, levantando o papel na altura de seus olhos. — Creio que não se importe em dividir para a classe tais segredos, não que realmente vá significar alguma coisa se recusar. Jimmy, perdoe-me, mas acho que precisamos conversar. Me encontre na porta das masmorras da Sonserina antes da festa. Tem coisas que precisam ser esclarecidas entre nós. — Amycus fez uma cara de desgosto enquanto risadinhas se levantavam entre os alunos. Lily queimou de vergonha, incapaz de se virar para ver a expressão desolada que certamente estaria no rosto de James. — Uma pena que seja você que não esteja prestando atenção em minha aula, senhorita Black. Imaginei que o assunto que estamos tratando iria te interessar.

Lily olhou para a lousa, vendo escritas que não conseguia entender sem o contexto e o desenho de dois bebês em posição fetal unidos por um círculo que vibrava. A palavras GÊMEOS estava estampada no início da lousa.

— Como eu estava dizendo, gêmeos são conhecidos pela vasta quantidade de poder que dividem entre si — continuou Amycus, como se nada tivesse acontecido. — Todos sabem que nossa magia se inicia no útero. Entre o líquido amniótico e os outros fluídos que nos cercam durante aqueles longos meses, há proteínas e hormônios que alimentam nosso poder. A quantidade disso varia, determinando o quão poderosos seremos na vida adulta. — Lily começou a anotar, tentando prestar atenção. — Gêmeos dividem tudo isso. Uma quantidade dupla de proteínas e hormônios, nadando de um irmão para o outro. Eles precisaram disputar seus poderes desde o útero, junto com as brigas por nutrição já naturais, com um poder maior sendo o prêmio para o gêmeo mais forte. Isso os fortaleceu. Ambos. Prepara-se para a vida adulta, amadurecendo certas magias que vocês só aprendem aqui, na escola… — ele parou de falar. Lily percebeu que Dorcas Meadowes havia levantando sua mão.

— O senhor está dizendo que irmãos gêmeos fazem duelos dentro do útero? — ela franziu o cenho e olhou para Sirius, duas cadeiras ao lado.

Amycus suspirou.

— Não, senhorita Meadowes. A disputa não é como vocês conseguem imaginar. Uma briga feita inconscientemente, determinando coisas que vocês nem poderiam pensar que são determinadas assim. A ciência bruxa ainda está tentando descobrir como isso é feito, acompanhando mulheres grávidas desde o momento da descoberta dos fetos, mas o que já sabemos é simples: entre um par de bruxos gêmeos, há sempre o mais forte. Alguém que irá se destacar mais. — ele fez uma pausa, como se para deixar suas palavras serem absorvidas pelos estudantes. Lily ergueu o rosto, interessada. — Todavia, isso acontece apenas em uma situação… quando estão separados. Apenas assim haverá diferença na quantidade de poder entre os irmãos. Juntos, no entanto, a quantidade de poder fluindo entre eles o tornará mais poderoso do que qualquer bruxo que consigam pensar. — ele olhou para Lily. — Tivemos sorte, caros alunos. Temos um par de gêmeos entre nós. Apesar de fraternos, poderemos ter resultados impressionantes. Senhor e senhorita Black, por favor se levantem.

Lily se ergueu com pernas trêmulas. Ela saiu de seu lugar com dificuldade, andando até o lado do professor. Depois da leitura de seu bilhete, sentiu uma vergonha imensa em estar ali, exposta para todos. Ela levantou os olhos com timidez, vendo Sirius andar em sua direção com passos relaxados, e o rosto completamente neutro de James.

O irmão de Lily era mais alto do que ela, tendo quase dois metros de altura, e essa diferença ficou óbvia quando ficaram um ao lado do outro. Ela o olhou por um segundo, tentando não pensar em quem dos dois era o gêmeo mais forte, e o viu retornar seus olhar com uma expressão ácida.

Ele está chateado, notou, por conta de James. Ela tentou não ficar sentida com isso. Potter havia substituído seu lugar de melhor amigo de Sirius Black.

Amycus ergueu dois manequins de pano com sua varinha perto da parede. Lily se virou na direção de um deles e viu seu irmão fazer o mesmo. Ela respirou fundo e empunhou sua varinha.

— Fileira da frente, deem um passo para trás. Podemos ter resquícios — disse Carrow. — Lily e Sirius, quero que usem o feitiço de incendiar nos bonecos.

O sorriso chegou aos lábios de Lily antes que pudesse controlar. Ela era muito talentosa nesse encantamento. Um feitiço simples do segundo ano que não seria um desafio para ninguém. Ficaria bem claro quem era o gêmeo mais poderoso em breve.

— Quando estiverem prontos.

Lily fechou os olhos e se concentrou. Ela desligou todos os seus sentidos, não querendo ouvir as falas dos colegas, cada um tomando um partido. Imaginou que todos os Grifinória ficaram ao lado de Sirius, mas não se permitiu ficar chateada. Ainda tinha os Sonserina para lhe apoiar.

Ela abriu os olhos e fez o movimento com seu braço.

Incendio! — exclamou. Um jato de chamas vermelhas e amarelas saiu da ponta de sua varinha atingindo seu manequim no peito, queimando um buraco por dentro de seu material felpudo.

Ela olhou para o lado. Sirius estava coçando a sobrancelha com a varinha, tentando parecer calmo. Ele bocejou e se espreguiçou, antes de preparar a posição.

Incendio — disse. Lily seguiu seu fogo com os olhos e arfou, quase caindo para trás, quando as chamas tomaram o manequim por completo, torrando-o por completo.

A surpresa atingiu a classe em ondas até que palmas soaram pela sala, cada vez mais altas e por Sirius. Por Sirius. Ela não conseguia acreditar. A competição havia acabado muito tempo antes, porém só agora Lily via que era a perdedora.

— Desculpe-me, irmãzinha, — disse Sirius, fazendo um bico. — Você ouviu o professor Carrow. Foi tudo feito quando estávamos inconsciente. Se soubesse, teria deixado você ganhar.

Aquilo foi a gota final. Toda a fúria e tristeza e cansaço que estavam se acumulando ao longo do dia encheram Lily em um segundo.

— Seu… — ela deu um passo para frente, preparada para gritar tudo o que estava sentindo – nunca iria ganhar em uma briga física contra Sirius –, porém alguém deveria ter lançado um feitiço silenciador nela, pois tudo que saiu de sua boca foram guinchos irritados.

Logo, ela se cansou, cruzando os braços.

— Aqueles que acompanham os livros com afinco devem saber que deveríamos ter começado a estudar isso há um mês, porém o gêmeo mais forte só tem seu verdadeiro destaque após o décimo oitavo aniversário do par. Precisei esperar se quisesse uma aula mais… interativa. — Amycus sorriu de maneira venenosa.

Lily ficou quieta enquanto a realização atingia todos ao seu redor. Amycus havia planejado aquilo tudo e Deus sabia que coisas mais faziam parte de seu plano maluco. Ele poderia ter até lido seu bilhete para iniciar um conflito entre ela e Sirius, pois não era algo que fazia com frequência.

— Senhores, estão preparados para unir seus poderes ou querem esperar mais alguns minutos para… se recompor? — ele olhou para Lily.

— Não — disse Sirius. — Estamos bem, não é mesmo, lírio? — Lily abriu a boca, mas, como ela já sabia, nada saiu de entre seus lábios. — Desculpe, não consegui te ouvir.

Peter riu. Ela conseguiu escutar seus roncos felizes de longe.

— Perfeito — disse Amycus. Ele andou até sua mesa e pegou uma pequena agulha, brilhante e prateada. Carrow andou até Sirius. — Dê-me seu dedos indicador de sua mão dominante, senhor Black.

Sirius franziu o cenho, mas obedeceu. O professor de Arte das Trevas perfurou dois pontos no dedo direito do garoto com uma precisão matemática. Lily arranhou seus próprios dedos em sua saia. Gotas de sangue deslizaram pela pele pálida de seu irmão.

Quando Amycus se aproximou, ela sentiu uma vontade intensa de estapeá-lo e se afastar. Ele sorriu de maneira sádica por um segundo, antes de pegar seu dedo da mão direita violentamente.

— Não — murmurou. — Eu sou canhota.

— Que interessante — ele respondeu. — Opostos, então? — Carrow se virou para a sala enquanto pegava a mão de Lily. — Estou fazendo isso, classe, para unir mais uma vez os hormônios que os ligaram durante o útero. Fará a fusão ser mais forte.

Ele a furou. Lily franziu o cenho com o incômodo. Não era exatamente dolorido, mas era difícil de ser ignorado. Estava prestes a colocar o dedo na boca quando ele a interrompeu:

— Não, não, não! — disse Amycus. — Cada gota de sangue é essencial, senhorita Black. Não ouse fazer isso novamente. — quando ficou claro que ela não iria fazer novamente, ele relaxou visivelmente. — Agora, por favor, deem as mãos.

Sirius franziu o cenho, mas agarrou a mão esquerda da irmã com força. Isso é tão não higiênico, ela pensou, sentindo seu dedo formigar com o sangue dos dois fluindo juntos. O corpo de Lily se aqueceu de uma forma familiar que ela não entendia. Era como se uma lufada de poder novo e descansado corria por suas veias, a enchendo de uma quantidade de vitalidade que nunca havia tido antes. Porém, tudo durou apenas alguns segundos. Tão rápido quanto a força vital chegou, ela foi embora, escorregando para fora de seu corpo pela ligação que mantinha com o irmão. Ela se apoiou em Sirius, certa de que iria desmaiar.

O irmão não parecia muito diferente, no entanto. Apenas mais acordado.

— Quando quiser, senhor Black — disse Amycus, apontando para um novo boneco que havia erguido.

— Você está bem? — cochichou o irmão, tentando erguê-la. Lily não conseguiu responder. Ela piscou os olhos, a visão manchada por vários pontos negros.

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— Senhor Black? — questionou o professor Carrow. Sirius o encarou por um segundo, antes de voltar seu olhar para Lily. Ele tentou soltar sua mão, mas descobriu que era impossível. Eles estavam presos juntos. — Sirius, agora!

Sirius xingou, baixinho, porém empunhou a varinha.

Incendio! — gritou e Lily fechou seus olhos, desejando descansar por apenas um segundo. Quando abriu as pálpebras novamente, viu que o manequim não estava mais ali. Apenas um amontoado de cinzas no chão.

Lily caiu no chão, a ligação que tinha com o irmão desfeita. Ela não conseguia enxergar mais nada, apenas uma vasta escuridão que a engolia com violência. Sentiu mãos em seu corpo, tentando ajudá-la a levantar, e a voz de James gritando para que alguém chamasse a Madame Pomfrey.

— Como podem ver, caros alunos. A união retorna ao gêmeo mais forte, todo o poder que ele teve durante o útero e que é seu por direito. O único problema, é claro, seria o custo para tanta magia — continuou Amycus, determinado a terminar a aula. — A força vital de sua outra metade.

***

Madame Pomfrey insistiu em fazer um check-up completo, para determinar que eram apenas as traquinagens malucas de Amycus Carrow que a fizeram desmaiar. Ela mediu o tamanho de sua língua, bateu em seu joelho para testar seus reflexos e chegou a cor das orelhas de Lily. Era estranho ficar nua na frente da enfermeira, vendo ela observar seu corpo com uma atenção minuciosa. Não era a primeira que ela tirava as roupas na frente de outra pessoa; havia perdido sua virgindade no quarto ano, afinal. Porém foi esquisito fazer tudo aquilo atrás de uma cortina da ala hospitalar. Qualquer um poderia entrar e ver as sombras de suas curvas pelo tecido branco.

Slughorn havia produzido uma espécie de poção verde e gosmenta que Lily precisava beber até o final se quisesse voltar para o quarto antes do toque de recolher. Ele saiu apenas depois de extrair uma promessa dela para visitá-lo em seu escritório, onde poderiam dividir doces que ele jurava que iriam fazê-la se sentir infinitamente melhor. Como sabia que estava fazendo isso apenas porque se importava, foi fácil fazer tal promessa.

Madame Pomfrey a deixou sozinha para cuidar de um membro da Corvinal que parecia ter quebrado o pulso durante um treino de quadribol. A temporada de jogos estava se aproximando, afinal. Lily não se importou em continuar sentada em sua cama, bebendo a poção de Slughorn aos poucos e brincando com a moeda de Alphard em seus dedos.

Sabia o que ela significava, mas não se importava. Já desconfiava de que Sirius e seus amigos eram membros da Ordem da Fênix, porém seu tio foi uma surpresa que ela não conseguia entender. Ele deveria ser um membro importante, afinal fazia parte do governo de Voldemort, e ela imaginava que nem todos sabiam da própria organização criminosa tinham conhecimento de sua posição ali. Era mais seguro dessa maneira.

A Ordem da Fênix. Por Merlin, havia ouvido sobre os crimes de Albus Dumbledore e sua trupe de falsos bruxos durante sua vida inteira. Não conseguia apagar de sua mente os medos e os preconceitos que seus pais colocaram ali, garantindo mais uma menina leal à causa.

Sirius tinha razão. Ela era uma marionete, controlada há tanto tempo que nem percebia os fios sendo puxados ao seu redor.

Não podia parar de pensar que a coisa certa seria denunciar o irmão e o tio, mas não queria vê-los sendo mandados para Azkaban para reabilitação ou pior, que acontecesse o mesmo que aconteceu com os Potters. Era a coisa certa a se fazer, mas não seria sua próxima ação. Lily nunca iria se perdoar se algo acontecesse com eles por sua causa. E com James. Se Sirius caísse, era bem provável de que seu melhor amigo seguisse junto.

Como se estivesse esperando ser mencionado em seus pensamentos, a porta da enfermaria se abriu e ele entrou, olhando ao redor em procura dela. Castanho encontrou verde e ele andou em sua direção, um peso em seus passos que ela não conseguia reconhecer.

— Como se sente? — ele perguntou, sentando na ponta da cama. Doeu ao perceber a distância que estava entre eles.

— Mais ou menos — Lily respondeu. — Estou melhorando.

Ela ergueu a poção de Slughorn e o rosto de James se contorceu quando o cheiro lhe atingiu.

— Isso é bom. — ele engoliu em seco. — Precisamos conversar, Lily.

Ela fechou os olhos e suspirou. Sabia que isso iria acontecer eventualmente, mas tinha esperança de que poderia adiar isso ao máximo. Ainda faltavam duas horas para a festa de aniversário que Marlene estava organizando para Sirius e, por tabela, ela.

— Precisamos — concordou.

James respirou fundo e colocou as mãos em cima do colo, batucando-as contra suas coxas. Ele fazia isso porque tinha energia demais para simplesmente ficar parado, ela lembrou. Pelo menos, uma coisa Lily sabia pelo possível futuro ex-namorado.

— Você sabe que eu te amo — ele disse, sem olhar para ela. — Sou apaixonado por você desde o quinto ano, Black, e isso não é mais um segredo entre nós. Achei que tudo ficaria bem entre nós já que eu consegui aquilo que eu sempre quis, mas aquele bilhete que Carrow leu está me confundindo. O que você quis dizer com aquelas palavras?

— Estou confusa — ela respondeu, tentando se aproximar, mas seus membros ainda estavam muito pesados para isso. Lily tomou mais um gole grande da poção, quase terminando-a, e se sentiu muito mais leve. — Achei que estava apaixonada por você, mas Marcus e Imogen me disseram de que tudo estava acontecendo rápido demais e eu percebi que era verdade. Nosso primeiro beijo foi ontem, Jimmy, e agora já estamos namorando.

— Acredite, para mim, tudo está acontecendo devagar demais. — ele riu e parecia irritado.

— Nunca tivemos um encontro de verdade. Você mal me conhece. Como tem tanta certeza de que realmente me ama? Aposto que nem sabe minha cor favorita.

— Vermelho.

Lily franziu o cenho, confusa.

— O quê?

— Sua cor favorita é vermelho. — ele finalmente a olhou e havia um desespero em seu rosto que fez o coração de Lily se apertar. — Vermelho escuro, quase como sangue. Suas flores favoritas são tulipas. Você é alérgica a amendoim e não gosta de coisas muito doces, porém faz uma exceção em relação aos sapos de chocolate. A pedra de seu nascimento é o topázio, mas você gosta mais de rubis. Sua matéria favorita é poções, apesar de ser muito boa em feitiços também. Você ama Sirius com todo o seu coração e sente ciúme de mim quando eu e ele estamos juntos. — ele sorriu de maneira triste. — Sei mais sobre você do que pensa.

Lily quis chorar e as lágrimas chegaram aos seus olhos, porém não encontrou em si a permissão para deixá-las caírem.

— James, pode até saber tudo sobre mim, mas eu não sei nada sobre você! — exclamou, desesperada. — Você merece coisa melhor, alguém que realmente te conhece.

— Eu não quero alguém que realmente me conheça — ele disse, se arrastando até ela. James colocou suas mãos no pescoço dela, acariciando o ponto que marcava seu pulso com o polegar, e seus lábios roçaram juntos. — Eu quero você. Pode me conhecer depois.

— Eu nem sei o que eu realmente quero — admitiu Lily. — Posso até mesmo estar te usando para esquecer Ariel, por tudo que sei, e eu não iria conseguir me perdoar se isso fosse verdade.

— O que você quer, amor? — ele perguntou, fechando os olhos e encostando a testa na dela. — Diga-me que eu te dou. O céu é o limite.

— O que eu quero? — ela repetiu. — Eu quero… eu quero ver suas tatuagens.

James riu, uma gargalhada tomando conta de todo o seu peito. Lily nem sabia porque havia dito isso, as palavras apenas escapuliram de seus lábios sem sua permissão. Ele se afastou, dando-lhe espaço para terminar a poção e colocar o copo de lado, e tirou a capa, ficando apenas de suéter e blusa. James desmanchou o nó da gravata e puxou o suéter por cima da cabeça. Lily mordeu o lábio de antecipação.

— Devo-te avisar, Black, — ele disse enquanto desabotoava a blusa branca. — Eu não costumo mostrar isso para qualquer uma.

Ela assentiu e abaixou seus olhos para o peito de James, vendo sua revelação lenta enquanto o tecido pálido se afastava de sua pele dourada. Lily prendeu a respiração e piscou, maravilhada com o que estava vendo.

Havia mais tinta do que pele, isso era fácil dizer, porém havia tantas coisas desenhadas em seu corpo que ela nem conseguia saber por onde começar. Em suas clavículas, estavam escritos o nome dos quatro marotos. Pegadas de lobo andavam por sua cintura. O símbolo de yin e yang estava pintado no osso de seu quadril. Ela correu seus olhos por todo o seu corpo musculoso, sentindo as mãos coçarem para tocar em alguma das imagens e foi que fez.

Lily correu seus dedos por alguns dizeres em sânscrito que não era capaz entender e riu ao sentir a tinta contra suas digitais. Havia uma pena desenhada em cima do lugar de seu coração, desmanchando-se em pequenos pássaros que se juntavam para formar uma data. 29/11/1964. O dia em que os pais dele morreram.

— James… — ela sussurrou, maravilhada. — Você é lindo.

Ele sorriu, as bochechas corando, e se virou, revelando mais imagens em suas costas. Parecia que as tatuagens nessa parte de seu corpo faziam parte de um todo, juntando-se de uma maneira que só ele era capaz de entender. Começando em sua lombar e chegando até o topo de seus ombros, alguém havia pintado uma galhada negra em sua pele, as pontas de suas curvas ósseas curvando-se de maneira perversa. Lily suspirou e tocou o meio de suas costas, maravilhada.

Seus ombros estavam tensos, completamente parados. Ela afastou seu toque e James se virou, respirando profundamente, analisando todo o seu corpo com os olhos.

Lily estava apenas de saia e blusa, achando que seria melhor para tentar relaxar na ala hospitalar do que ficar com o uniforme completo. Ela seguiu a linha de visão de James e percebeu que, com seus movimentos na cama, a barra da saia havia subido até o meio de suas coxas, revelando longos centímetros de pele das suas pernas.

Aconteceu mais rápido do que ela podia impedir, apesar de certamente não desejar isso em qualquer momento. James a beijou, agarrando seu rosto com vitalidade e força, e ela o beijou de volta, puxando sua cintura contra a sua.

As mãos grandes e quentes dele correram por todo o seu corpo, acariciando e apertando todas as partes que a deixavam louca, como se já soubesse tudo que era necessário para fazê-la perder as defesas. James Potter fode muito bem.

Lily deitou na cama, coagindo-o para ficar em cima de seu corpo, e suspirou quando sentiu o peso dele sobre si. Ele lambeu seus lábios e mordeu sua língua, criando uma chama dentro dela que ameaçava consumir os dois.

Ele estava segurando seu joelho, puxando-o para seu quadril de uma maneira que suas virilhas se tocassem. Ele grunhiu contra seus lábios e correu suas mãos por todo o comprimento das pernas dela. James se afastou de sua boca, beijando sua bochecha, sua mandíbula até chegar em seu pescoço. Ele mordeu o ponto pulsante de uma maneira que ela sabia que iria deixar marcas.

Estavam tão concentrados em suas ações que não perceberam a porta da ala hospitalar se abrir novamente e uma figura escura deslizar para dentro. Calma até aquele momento, a figura sentiu raiva e ódio se aquecer em seu peito ao ver os dois ali, os membros entrelaçados em uma dança que ele desconhecia. Ela é minha.

Lily gemeu enquanto tentava tirar as calças de James, esquecendo-se de onde estavam e quem poderia entrar. Só se lembrou quando o namorado se afastou violentamente, puxado para longe de seu corpo.

James caiu, desacordado, do outro lado da sala e uma figura encapuzada brandiu uma adaga simples e enferrujada, com um frasco circular em uma das pontas. Ignorando os gemidos doloridos de Jimmy, o homem cortou o ar e enfiou a lâmina no peito do garoto. O frasco se encheu de sangue rapidamente.

Lily gritou e a figura se virou para vê-la. Estava claro de, quem quer que fosse, era ela que desejava. Um sorriso grotesco se abriu em seu rosto escuro e, antes que ela pudesse reconhecer seu rosto, ele empunhou sua varinha.

Estupefaça! — gritou.

O feitiço atingiu Lily no meio de seu peito.