06/05/2017

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Não mais desejando preocupar meus pais com minhas crises de ansiedade, fui hoje à primeira reunião do Grupo de Apoio a Pessoas Ansiosas e Depressivas, ou simplesmente GAPAD, que se mostrou ser um local amigável. A doutora Minako Okukawa, psiquiatra responsável pelo grupo, pareceu ser uma pessoa paciente e simpática. Talvez não tenha sido uma má ideia ouvir os conselhos do doutor Celestino afinal de contas. E terei que agradecer Phichit depois, por me ajudar a encontrar este local.

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Por ser o primeiro sábado do mês, não houveram palestras ou qualquer tipo de atividade específica. No lugar disso, tivemos uma hora de convivência, para as pessoas conversarem e se distraírem. A única regra era que ninguém podia ficar sozinho. No começo achei que acabaria ficando isolado, mas Leo e Guang fizeram questão de me incluir na conversa deles e, apesar de que não tínhamos muitos gostos em comum, a conversa fluiu super bem. Foi divertido. Fazia tempo que eu não falava com desconhecidos com tanta tranquilidade.

Depois disso tivemos um breve intervalo. Comecei a me sentir meio mal então me afastei antes que os dois notassem (eu não queria preocupá-los, ainda mais quando eu mal os conhecia). Fora do prédio e longe dos demais, encontrei um quintal de concreto com uma mesa junto à parede. Inicialmente pensei que estava sozinho, mas então um homem sorriu para mim e acenou, chamando-me para sentar com ele. Sem vontade de interagir com ninguém naquele momento, fiz uma breve reverência e tornei a entrar no salão. Fui lavar o rosto no banheiro e então me juntei novamente ao grupo.

Depois do intervalo, nós arrastamos as cadeiras e formamos um círculo. A doutora Minako ligou um rádio e uma música suave começou a tocar. E então começou. Ela chamava os nomes de uma lista e pedia para cada um falar alguma coisa, sobre como se sentia, sobre seus sentimentos, essas coisas. Esperei minha vez chegar, ansioso, pensando no que exatamente eu deveria falar. No fim, optei por não ser totalmente sincero e disse que andava bem nos últimos dias e que minha ansiedade não me incomodava tanto ultimamente. Fiquei com um peso na consciência por mentir, mas não consegui evitar, simplesmente não consegui. Apenas espero que a doutora não tenha percebido a minha falta de honestidade. Enquanto eu me martirizava, a roda seguiu e todos os presentes falaram.

Ao fim do encontro, despedi-me de Leo e Guang, prometendo voltar semana seguinte. Eles pareceram felizes. Pergunto-me se as pessoas desistem muito fácil do grupo. Eu caminhava em direção ao carro de minha mãe, que havia vindo me buscar (apesar de eu ter dito muitas e muitas vezes que um cara de 23 anos não precisava desse tipo de mimo), quando o homem que eu havia visto antes, no quintal, bateu em meu ombro e acenou. “Até semana que vem”, ele disse e sumiu antes que eu pudesse falar qualquer coisa. Mas já que ele era provavelmente um voluntário, eu certamente o veria de novo.