Era isso: eu era uma completa iludida. Tinha passado a minha infância inteira e toda a pré-adolescência gostando de uma pessoa. A pessoa que sempre esteve ao meu lado, ou nem tanto assim.

James Potter era a minha primeira paixão e assim se procede até este exato momento. Eu, Lily Evans, aos 19 anos, percebo que vim a esse mundo para morrer lacrada.

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Nunca tive nenhuma amiga verdadeira, bem, pelo menos eu tinha certeza disso agora. Dorcas Meadowes costumava ser minha melhor amiga, éramos vizinhas e, durante o período do jardim de infância, nós não passávamos um dia sem nos vermos. Fomos amigas por tanto tempo que eu quase tive absoluta certeza que ela seria a minha primeira e única amiga a elaborar um discurso fúnebre para a minha pessoa. Eu sei, macabro, mas é o que se pensa - pelo menos no mundo de Lily Evans - quando se acha que tem uma melhor amiga.

Dorcas sempre soube do imenso abismo que eu tinha pelo garoto que sentava na penúltima carteira da primeira fileira ao lado da porta. O menino que sempre fora meu amigo, o meu primeiro beijo. Acreditava que ela poderia ser a pessoa que me ajudaria no processo de uma possível conquista do jovem James, mas, infelizmente, eu estava enganada.

Minha amiga tinha me traído.

Ah, Lily, o que ela te fez de tão horrível?

Essa era a pergunta que todos da família faziam. A resposta é simples: a notícia que motivou o meu afastamento de Meadowes era o que mais se comentava na escola, afinal, James era a versão feminina da Kim Kardashian: rico, popular, amado por todos. E, bem, eu não era nada disso, mas sempre fomos amigos (pelo menos quando estávamos fora da escola, já que na escola ele só andava com os seus outros parças).

"James Potter e Dorcas Meadowes: mais levados que vento de tempestade.

Já era mais do que o esperado que o maior gato da PHH voltasse a ocupar a primeira página. Agora flagrar Potter aos amassos com a morena do terceiro “C” num armário de vassouras foi a bomba da vez. James Potter perder uma? Mais fácil o pobre Ranhoso perder a virgindade. Será que o galã da escola agora é um cara compromissado ou é só fogo de palha, e ela passa a ser só mais uma na lista de sortudas do anual?”

(Para ler a matéria completa vire a página 2)

Essa era a manchete da 65° edição do jornal do terceiro ano do ensino médio - que se localiza hoje na primeira gaveta da minha escrivaninha de madeira de abeto - da Paris Hogwarts High. Acho que a partir daí já dá pra entender mais ou menos o que eu estou querendo te explicar, caro leitor. Matéria na qual não só achei clichê, pelo modo como a sem noção da Bellatrix Black escreveu a manchete, como também totalmente absurda por ela insultar a única pessoa que ainda não me abandonou. Se ela não fosse tão importante já estaria no lixo há décadas (talvez eu seja um pouco masoquista e goste de lembrar da minha desgraça todo santo dia).

Sim, Dorcas não só beijou James Potter, como estava saindo com ele. Isso me doía. A parte que mais machuca é a que James não percebe que eu, a cagona Evans, sou perdidamente apaixonada por ele, mesmo que não tenha coragem nem de olhar na cara dele.

A única pessoa que eu tinha a quem recorrer - além da minha irmã Petúnia e a minha família, é claro - era Severo Snape, meu único amigo de verdade. Contudo, nada podia contar a ele sobre o meu sentimento em relação a James, porque mesmo que ele nunca tenha me dito nada, era explícito que ele nutria sentimentos por mim.

A parte mais difícil nem era essa, era aquela que eu fingia que eu estava bem com o fato de que a pessoa que eu sempre pensei ser a minha amiga está saindo com o garoto por quem eu sempre fui apaixonada. E quando eu digo sempre, eu digo sempre mesmo. É, eu sei. Iludida.

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Todos os dias de manhã eu caminhava duas quadras até a cafeteria de minha mãe para ajudá-la e aproveitava para passar em frente à casa de James. Ele sempre estava na garagem, com as mãos sujas de gracha. Potter era do tipo fanático por carros.

Ele costumava ir constantemente na cafeteria de mamãe para tomar um café ou comprar alguma coisa para comer no caminho de onde é que ele estivesse indo. Entretanto, havia uma semana que não tinha o visto por lá. A minha vontade era de parar na frente da garagem e cumprimentá-lo com um: "Oi, bom dia. Como está indo com os carros? Está tudo bem? Por que não apareceu no Evans' essa semana? Senti sua falta."

Claramente isso nem mesmo acontece em sonho. Era o que geralmente ocorria. Eu quase não sonhava com James Potter de tão impossível que chegava a ser a possibilidade de sermos um casal.

Juro que era muito mais fácil quando se era só uma garotinha de seis anos que gostava de brincar de Banco Imobiliário com uma amiga que não pegasse o menino que você gosta.

Céus, Dorcas... Você realmente sabe como estragar com as expectativas de alguém.