HONRAR PAI E MÃE

Já disse que sou um psicopata? Pois bem, até para mim a companhia de amigos é necessária. Não tenho amor fraternal por Ivan e Aleksêi, mas sei que a solidão machucaria muito mais. Gosto de tê-los na compainha, pois me lembro que eu praticamente os transformei no que são agora.

Ivan era ladrão quando o conheci. Trabalhava numa oficina mecânica quando fui ajeitar o meu carro. Conversamos, bebemos, transamos com algumas garotas e nos tornamos amigos. Conheci-o na época da morte do meu irmão. Aleksêi foi mais recente, um encontro pelas redes sociais. O cara trabalhava para uma agência que prostituía adolescentes. Nunca o critiquei por isso, mas não aprovava a sua profissão.

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O trio parada dura. Ficamos juntos por um ano inteiro, rodando as rodovias da Rússia ocidental. Moscou, São Petersburgo e até em Ecaterimburgo. Aplicamos golpes, assaltamos (ideia do Ivan), matamos... Foram tempos maravilhosos. No entanto, agora que começo a curtir nossa união, eles, sobretudo Ivan, começam a amolecer.

Ambos entraram no chalé depois que liguei para os seus celulares. Andavam muito distantes de mim. Levaram um susto ao ver o corpo do garoto no meio da sala, amarrado e com uma bala na cabeça.

— Que porra é essa? — indagou Ivan atordoado.

— Nossa quarta vítima.

— Oh, Donovan, conseguiu esse revólver. Onde conseguiu? — perguntou Aleksêi.

— Se tivessem comigo, não fariam tantas perguntas. Esta arma é a mesma que Petrov se suicidou. O moleque aí raptei nas ruas.

— Don, seu louco, cê matou uma criança. Sabe o que isso significa?

— Que o cadáver é menor que os anteriores? Por favor, Ivan, somos assassinos frios. Amarelar não deveria estar nos nossos vocabulários. Pelo menos eu não tenho.

— Don, o que faremos com ele? Eu não vou limpar esse sangue no chão.

— Ivan vai filmar enquanto você arranca seus dentes. Quero colocá-los na minha coleção.

Ivan pegou um litro de conhaque e bebeu na boca. Empurrou-me até a parede e disse que eu estava lunático.

— Somos uma equipe, Ivan. Não podemos nos separar nunca. Nossa relação é inquebrável.

— Porra, Donovan. Com esse discurso de "bons amigos" pensa que vai me dissuadir? Quer saber? Estou fora. Daqui a pouco a polícia vai nos achar. Não mato crianças e ponto final.

Ivan se virou e estava para sair quando dei um tiro bem nas suas costas. Ele caiu feito pedra. Dei um outro tiro bem no meio da sua testa.

— Que fez?! Caralho, matou o Ivan? Sério isso?

— Ele amoleceu. Possivelmente nos entregaria. Agora eu vou filmar, você usa a máscara e arranca os dentes do Dmitri. Também arranque as mãos desse traidor.

— As mãos dele?

— Ele é um ladrão. Se encaixa no mandamento.

Por mais que eu gostasse do Ivan, meus interesses sempre vinham na frente.

NÃO ROUBAR