Unsolved

Behind answers.


Havia se passado um mês desde que nós estávamos morando em Nova Orleans. Eu mal vi Jensen durante esse mês, ele sempre saía cedo e chegava tarde – por vezes, nem o via chegar.

A casa era muito grande e moderna. Tinha cinco quartos, sendo duas suítes, a sala era muito grande, havia um sofá em formato de “L” e algumas outras poltronas, uma TV enorme chamava muita atenção. Tinha também a cozinha, contendo todos os eletrodoméstico de ultima geração, mas o que mais me chamava atenção, era o grande balcão de mármore e uma porta de vidro que dava acesso a piscina. Também tinha lavanderia, o quintal, sala de jantar, banheiros e o escritório de Jensen, que eu nunca havia entrado.

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Tinha espaço de sobra, e eu me sentia ainda mais sozinha aqui. – com a morte da minha mãe, e as constantes saídas de Jensen, muita única companhia eram as moças que trabalhavam aqui, mas que não conversam muito comigo. Notei que elas temiam muito Jensen nos ver conversar.

O esquema de segurança era forte, muito mais do que na minha antiga casa, e para piorar, Jensen havia me proibido de sair sozinha. Mas também, pra onde eu iria?

Em uma manhã de segunda-feira consegui encontra-lo em casa, estranhando sua presença.

— Em casa a este horário? – falei sentando-me na mesa em que tomávamos café.

— Aham. – falou não se importando muito.

Ficamos em um silêncio constrangedor, que sempre se instalava quando estávamos juntos. Jensen me olhava fixamente, prestando atenção em cada movimento meu atentamente. – aquilo estava me deixando sem graça.

— A gente precisa conversar – ele disse. O olhei e sua expressão era séria, o olhar frio sempre permanecia.

— Pode dizer, estou ouvindo – falei.

— Como você sabe, eu trabalho muito – fez uma pausa enquanto tomava um gole de seu café – e vou ter que viajar constantemente por um tempo.

— Sim? – falei para que ele desse continuidade.

— Para sua segurança, eu pensei que seria melhor você ficar em uma outra casa minha, mais afastada da cidade. – disse por fim, fitando-me. Seu tom era educado, mas autoritário.

— Gosto daqui – falei atraindo sua atenção – e acho que temos segurança o suficiente. – ele me olhou de forma levemente irritada.

— Eu não estarei aqui, Clarissa – falou – e também não vai fazer a menor diferença, você fica sozinha aqui.

Suas palavras me magoaram um pouco – não por gostar dele ou de sua companhia – mas por me sentir um peso em suas costas.

— Se você prefere assim, tudo bem. – dei de ombros fingindo não me importar.

Ele sorriu de uma forma amedrontadora me causando calafrios.

Ainda na noite daquele mesmo dia, Jensen chegou mais cedo e me levou até sua outra casa. Não posso negar que ela era bonita, e que havia me agradado muito. Era menor, continha apenas três quartos e era de apenas um andar.

Ele me mostrava a casa, quando vimos uma mulher. Ela devia ter uns quarenta anos, tinha cabelos bem pretos, até a altura do ombro, era alta e magra. – ela sorriu simpática vindo em minha direção – seu olhar me lembrou muito o de alguém, que não consegui recordar.

— Clarissa, essa é Amelia – Jensen falou quando caminhamos até a sala em seu encontro – ela cuida da casa pra mim.

— Oi querida – ela veio até mim, me abraçando. Fiquei surpresa, mas retribui – espero que se sinta bem aqui.

— Ela vai te fazer companhia, pois não vou poder estar aqui todos os dias – ele disse. Notei que Amelia lançou um olhar estranho a Jensen, mas poderia ser só coisa da minha cabeça.

— Ah sim, tudo bem. – falei.

— Agora eu tenho que ir – Jensen disse olhando a hora em seu relógio.

— Até mais – falei.

— Eu te acompanho até a porta – Amelia falou. – vocês não são um casal muito afetuoso, não é?! – ela disse quando voltou.

— Não – respondi sem graça.

— Eu o conheço bem, já cuidei desse garoto – falou sorrindo – ele pode ser bem frio, quando quer.

Apenas assenti concordando.

Se passaram mais quatro meses desde que vim morar com Amelia, era bom estar com ela. Amelia me tratava bem, e era muito carinhosa, em alguns aspectos lembrava minha mãe. E também sua presença me ajudou muito em relação a isso, eu ainda me sentia triste, e por vezes me pegava vagando em lembranças dela, mas não chorava mais como antes.

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Fazia uma tarde fresca, estava quase anoitecendo e eu ainda permanecia no jardim com um livro em mãos.

— Querida? – Amelia me chamou.

— Oi – sorri gentil – me deixe adivinhar? Você já preparou o jantar?

— Sim – ela riu – como sabia?

— Convivência. – respondi sorrindo.

Fomos caminhando calmamente até a cozinha, jogando conversa fora, como sempre fazíamos.

— Pode ir colocando a mesa pra mim, Clary? – ela perguntou, quando seu celular começou a tocar.

— Sim, posso.

A gente conversava muito, mas notei que não sabia quase nada sobre ela. Amelia era uma mulher misteriosa, e quase todos os dias recebia telefonemas, até ai tudo bem, mas ela sempre os atendia longe de mim.

Assim como eu havia dito a ela, comecei a arrumar a mesa – só faltava os pratos – tive que ficar na pontinha do pé para pega-los no armário de cima. Eu era baixa, e não alcançava o armário. Consegui encostar em um prato e levantei um pouco mais meus pés, puxei ele pra frente, mas desiquilibrei e não consegui pega-lo, resultando em um prato quebrado no chão.

Droga – xinguei mentalmente.

Me abaixei para recolher os cacos no chão, e acabei cortando minha mão em um deles. Assim que os joguei no lixo, fui procurar o kit de primeiros socorros, mas não o achei.

Não me restando opções, fui atrás de Amelia.

Procurei ela por toda casa, chamei seu nome diversas vezes, mas sem respostas. Então fui até lá fora.

Ela falava ao telefone de forma alterada, parecia extremamente nervosa.

— Andrew, até quando você vai mentir dessa forma? – ela gritou – você fica enganando a coitada! Acha que ela nunca vai descobrir sobre esse mundo de crime que você vive?

Quem era Andrew? Do que ela falava? – eu sabia que era errado está escutando aquela conversa, mas algo me dizia para ficar.

— Me respeita, sou sua mãe! – Amelia disse – não me interessa se você é bandido ou não, você me deve respeito. – percebi o quanto eu estava sendo intrometida, ela falava com o filho e eu ali escutando aquela conversa familiar. Me virei pronta para entrar e fingir que não escutei nada daquilo. – Andrew, a garota acabou de perder a mãe, ela não tem ninguém! E ainda por cima está presa em um falso casamento com você, e o pior de tudo, ela acha que você é um homem honesto!

Por um momento meu coração parou. Aquilo era verdade? Quem era aquele homem? Eu era a garota? Não precisei de muito tempo pra assimilar que Jensen era Andrew.

Meus olhos ardiam e um nó se formou em minha garganta, eu me sentia completamente usada.

Eu fui uma burra.

E o pior, minha mãe sabia daquilo? Obvio que não, ela nunca me entregaria a alguém como ele.

Como ele foi capaz de mentir assim? Eu não entendia o porque.

Fiquei afogada em meus pensamentos e nem me dei conta de quando Amelia se virou e me viu, ela me olhava com um misto de surpresa e tristeza.

— Depois eu te ligo – foi tudo o que ela disse antes de desligar o celular. – querida.. – ela se aproximou mais eu dei um passo para trás.

— Quem é o Jensen? – falei mais como um sussurro.

— Você está sangrando – ela acabou vendo meu machucado na mão – vamos cuidar disso lá dentro…

— Quem é o Jensen? – gritei assustando-a.

— Clary calma! Eu vou te contar tudo, mas me deixa cuidar disso – falou lançando-me um olhar preocupado.

Eu apenas segui em silêncio até o quarto dela. Amelia fez os curativos necessários em minha mão.

— Ele é meu filho – ela falou quando terminou de cuidar do meu ferimento. – o nome dele não é Jensen, é Andrew… – ela fez uma pausa, olhando-me nos olhos com tristeza – e ele é traficante, praticamente manda em Nova Orleans e em outras cidades, como ele mesmo gosta de dizer “está aumentando seus negócios” – Amelia falou secando uma lágrima. – eu sinto muito Clary, me perdoe por ter entrado nessa mentira.

— Porque? – perguntei enquanto lágrimas rolavam por meu rosto – porque ele se casou comigo?

— Isso só ele pode te responder.

— Então eu vou atrás de respostas – levantei da cama determinada, secando as lágrimas.

— Você não pode! É muito perigoso.

— Se você quer meu perdão, vai ter que me ajudar – falei. Ela pareceu pensar e suspirou.

— Tudo bem, vou chamar um táxi para você e liberar sua saída com os seguranças – disse – mas Clarissa, por favor, vá direto para a sua casa!

— Aquela não é minha casa! – falei.

O trajeto até lá demorou um pouco. Um milhão de perguntas passavam pela minha cabeça.

Como ele poderia ser tão mentiroso? Um traficante? Mentir o próprio nome, porque? Porque isso tudo?

— Moça, tem certeza que é aqui que você vai ficar? – o senhor que havia me levado perguntou quando paramos na frente da casa.

A casa nem parecia mais a mesma. Havia muitas luzes como em uma boate, um som alto de música, e muitas mulheres com roupas curtíssimas entravam. Notei também muitos carros luxuosos entrando.

— É sim – falei entregando-lhe o dinheiro – obrigada.

— A senhorita não tem cara de quem entra nesse tipo de festa, só mulheres como elas vem aqui.

— Mulheres como elas? – perguntei sem entender.

— Prostitutas, moça – ele falou como num sussurro.

Prostitutas? Não era de se esperar menos de um mentiroso como o Jensen/Andrew, eu nem sabia mais como chama-lo.

Fui caminhado em direção a casa, chamando mais atenção do que o planejado – muitas garotas olhavam-me e riam. Qual era o problema?

Agarrei mais meu casaco ao meu corpo, fazia frio, e eu usava apenas uma calça jeans escura, uma blusa preta e um casaquinho branco por cima.

Notei que as garotas entravam livremente, mesmo tendo muitos seguranças, então fui na mesma direção, porem um deles me parou.

— Onde você pensa que vai? – perguntou regulando-me de cima a baixo.

— Entrar? – perguntei como se fosse a coisa mais obvia do mundo.

— É uma festa particular.

— Eu sei, mas eu moro aqui, sou casada com o dono – falei isso, achando que finalmente seria liberada.

Ele apenas riu, riu muito e até chamou um colega para rir da minha cara.

— Garota, cai fora daqui! A não ser que você seja uma dessas putas, não pode entrar – falou sério.

— Mas… – ele me interrompeu.

— Cai fora! – seu tom foi sério e ameaçador, não me deixando opções.

Mas eu não ia desistir, eu ia falar com o mentiroso do Jensen.

Então me escondi atrás de um arbusto e esperei por quase meia hora.

Até a oportunidade surgir, quando um carro foi parado, aproveitei o momento e me misturei a outras garotas que entravam.

— Não sabia que eles aceitavam virgens – uma loira que estava ao meu lado falou. Ela era a mais vestida que eu já havia visto na noite.

— Como sabe? – perguntei surpresa.

— Olha pra você, bobinha – ela disse sorrindo – a gente se vê – disse quando tomou certa distância, notei que ela estava com pressa.

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Cheguei a frente da casa e vi muitas garotas com alguns caras, umas dançavam e outras faziam coisas além.

Quando entrei nem mesmo reconheci a casa, no lugar da sala, havia pole dances e algumas mesas e cadeiras (como em uma balada) e também sofás pequenos. O fluxo de pessoas era muito grande, porém haviam muito mais mulheres do que homens, algumas já estavam seminuas.

O cheiro forte de cigarro e bebida me incomodava, mas não mais do que a música alta.

Olhei para um canto onde um bar havia sido improvisado, fui até lá procurando por ele.

Encostei-me no balcão, pensei em pedir algum tipo de informação ao barmen, esperei que ele atendesse algumas pessoas, até que um homem parou ao meu lado.

— Oi gatinha, tá perdida? – ele falou sorrindo, um sorriso e tanto.

Ele era alto e forte, usava uma calça jeans clara e uma camisa preta com um numero na frente, o cabelo com o corte estilo militar, seus olhos eram incrivelmente verdes.

— Eu? Não. – falei alto por causa da música.

— Essa festa não parece fazer seu estilo – ele se aproximou bem do meu rosto ficando a centímetros de mim, senti meu rosto esquentar na hora. – ficou com vergonha? – ele sorriu mais uma vez, me fazendo dar um passo pra trás.

— Com licença – falei saindo rapidamente.

O que foi aquilo?

Entrei no meio das pessoas e por vezes fui empurrada. Até que fui parar perto das escadas, pensei em subir, vai que Jensen… Andrew! Tenho que me lembrar que esse é o nome dele, mas vai que ele estivesse lá em cima?!

Subi os degraus e quando cheguei a parte superior, vi muitos casais praticamente transando ali no corredor mesmo.

Voltei na hora.

Eu estava descendo quando esbarrei em alguém.

— Você é cega porra? – o homem gritou comigo.

— Me desculpe – falei e levantei a cabeça pra olha-lo. – Nick?

— Clary? – ele congelou, pareceu até ficar pálido ao me ver – o que faz aqui? – perguntou nervoso.

— Estou atrás do seu irmão – só ai me lembrei, que Jensen nem mesmo era filho de quem eu pensei que fosse, porque ele seria irmão do Nick? – acho que na verdade ele não é nada seu, não é mesmo?! – falei, como não o vi esboçar reações além de surpresa, comecei a caminhar.

— Espera – ele veio até mim e segurou no meu braço, não com força, mas apenas para me parar. – vamos sair daqui e eu chamo o… – ele pareceu pensar no nome antes de falar.

— O Andrew? – falei, Nick ficou ainda mais surpreso – eu não quero sair daqui, quero acha-lo, e sei que é aqui que ele está, então se não pode me ajudar, com licença. – falei me retirando meu braço do seu leve aperto, e me enfiei entre as pessoas, Nick tentou vim atrás de mim, mas eu o despistei.

Até que vi a porta do escritório dele, ele só podia estar ali.

Meu coração disparou, essa era a hora de descobrir a verdade.

Girei a maçaneta da porta e abri.

A cena que vi, quase me fez vomitar.

Tinha uma mulher somente de calcinha em seu colo, e ele beijava o pescoço dela, sua mão estava indo de encontro a intimidade dela. – igual a nossa lua de mel.

Me senti suja e usada. Lágrimas escorreram por meu rosto e eu coloquei minha mão na boca para segurar a vontade de vomitar.

Demorou apenas alguns segundos para ele notar minha presença.

— Clarissa? – ele estava surpreso, seu olhar frio agora estava direcionado a mim.

Eu apenas me virei e corri, o máximo que pude.

Ele estava diferente, a roupa, o cabelo, nem parecia mais a mesma pessoa.

Mas duas coisas eram as mesmas:

Seu olhar frio.

E sua mentira.