Unsolved

Tragedy.


Acordei com a luz entrando pela fresta da cortina entreaberta. Abri os olhos lentamente, me levantei e sentei na cama – me recordando dos acontecimentos da noite anterior – olhei para meu corpo, eu ainda trajava a lingerie branca. Uma onda de vergonha me vez levantar rapidamente da cama e vestir o robe, em uma tentativa falha de me cobrir.

Jensen entrou no quarto – levei um susto, mas por sorte, ele não pareceu notar. – Estava vestido com uma calça preta jeans e uma blusa social branca.

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— Ainda não está pronta? – perguntou em um tom de impaciência.

Meu rosto esquentou – e tive certeza que estava vermelha. – Ele já estava pronto e eu ainda vestia isto.

— Não sei onde está as minhas roupas. – comentei, encolhendo os ombros.

—Tem algumas peças no guarda-roupa. Achei conveniente comprar algumas roupas pra você.

— Ah sim, obrigada – sorri em agradecimento, não recebendo nenhum sorriso de volta. – prometo não demorar.

— Tá bom – Jensen se dirigiu a porta mas parou e me olhou por cima do ombro – lingerie bonita. – disse com um sorriso malicioso, olhei para meu robe e ele estava entreaberto mostrando parte da minha roupa intima, o fechei rapidamente com vergonha. – mas eu prefiro a vermelha – ele deu as costas e saiu fechando a porta atrás de si.

Como assim ele “prefere a vermelha”, qual o problema com ele? É necessário falar esse tipo de coisa? Como se não bastasse o que ele fez comigo ontem!

Eu tinha vergonha só de lembrar que quase me entreguei a alguém como ele. Jensen me dava antipatia e me despertava raiva.

Idiota.

Tomei um banho rápido e fui até o guarda roupa a procura de uma roupa. Todas me serviam bem, porém não fazia muito meu estilo. Peguei uma calça jeans escura e uma blusa preta básica e coloquei um casaquinho leve por cima – da cor branca – não vi tênis, então usei uma sapatilha preta. Teria que passar em casa (na minha agora, antiga casa) para buscar meus pertences.

Sai do quarto a procura de Jensen, não o achei em lugar algum da casa – só falta ele me largar aqui, eu não duvidaria – então abri a porta e o vi falar ao telefone.

— Mas como ela está? – disse nervoso, mas com a voz baixa e controlada. De quem ele falava? Ele parecia não querer ser ouvido.

— Jensen? – chamei-o.

Ele se virou ainda com o telefone na mão e disse apenas para a pessoa do outra lado da linha que retornaria a ligação.

Algo me dizia que aquilo era suspeito. Senti que coisa boa não havia acontecido – um calafrio estanho percorreu meu corpo e eu envolvi meus braços em torno de mim.

— A gente precisa conversar – ele disse sério, seu olhar era fixo em mim.

— O que foi? – perguntei um tanto nervosa, algo estava errado – aconteceu alguma coisa?

— Sim – Jesen fez uma pausa, parecia pensar no que ia dizer – sua mãe, ela sofreu um acidente de carro – falou sem expressar emoção. Seu olhar frio era atento a mim.

— Como? – engoli em seco. Eu achei não ter entendido direito.

— Ela está no hospital da cidade – Jensen disse cruzando os braços.

—Não pode ser! – um nó se formou na minha garganta, meus olhos ardiam.

Como isso aconteceu? Um acidente? Ela estava bem? Tantas perguntas se passavam pela minha cabeça, enquanto uma lágrima escapou por meus olhos.

— Me leve até lá! – falei.

— Não é seguro! – disse de forma rude – não até sabermos se foi só um acidente. – ele mantinha seu olhar frio sob mim.

— Eu não quero saber, Jensen! Preciso saber se ela está bem – perdi a calma enquanto lágrimas escorriam por minha bochecha – me leve até lá, ou eu vou sozinha!

Ele estava na minha frente, seu olhar me analisava. – ele mantinha a expressão de sempre – como conseguia ser assim? Não expressar emoções?

— Vamos – disse.

O trajeto até o hospital pareceu durar uma eternidade. Mantinha meu olhar fixo na janela, mas não olhava nada em especial, apenas estava submersa em pensamentos.

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Eu não podia perder minha mãe! Eu não tinha mais ninguém, ela é tudo, é minha família.

Um nó se formou na minha garganta, senti um forte aperto no peito.

Aquilo não poderia ser real.

Chegamos no hospital e ficamos por longos minutos na sala de espera. Eu andava de um lado para o outro e Jensen mantinha um olhar irritado por minha ação.

— Olá? Senhor e Senhora Lewis – o médico entrou na sala de espera com uma fixa nas mãos.

Só depois de alguns segundos me dei conta de que era comigo que ele falava. – Jensen foi mais rápido e se levantou e foi até o doutor.

— Doutor – ele cumprimentou o médico com um aceno de cabeça.

— Como ela está? – perguntei nervosa.

O médico olhou para Jensen, seu olhar era um tanto aflito – como se procurasse palavras.

— Doutor! Como minha mãe está? Ela está bem? – insistir. Meus olhos marejaram quando vi o médico soltar uma respiração pesada e olhar-me com piedade.

— Eu sinto muito, Senhora Lewis – disse olhando em meus olhos – nós fizemos o possível, mas o acidente que ocorreu no veículo foi muito grave… Ela não resistiu… – ele não chegou a terminar a frase.

Nesse momento meu mundo desabou. Foi como ser atingida por facas, senti minhas pernas falharem, lágrimas brotaram em meus olhos. Me senti tão fraca, tão indefesa. – olhei para Jensen, que me olhava atento.

— Não pode ser – neguei com a cabeça – não, não, não – falei desesperando-me – eu quero vê-la! – lágrimas molhavam meu rosto. – eu quero ver ela! – gritei.

— Clarissa! – Jensen quebrou o silêncio. O médico apenas me olhava com dó.

— Isso não é verdade! – neguei com a cabeça mais uma vez – não pode ser, Jensen.

— Doutor, nós podemos vê-la? – Jensen perguntou ao médico.

— A Senhora Goldestein, antes de morrer, me fez um pedido. Disse que não queria que a filha a visse daquela forma – o medico falou triste.

— EU QUERO VER A MINHA MÃE! – gritei entre soluços que escavam. – eu preciso…

—Eu posso permitir que a veja através do vidro. O rosto dela permanece intacto, o corpo sofreu graves lesões… então ele está coberto, não posso fazer mais do que isso por você, me desculpe.

A cada palavra, parte de mim era partida. Eu não acreditava naquilo! Minha mãe, morta? Isso não era verdade, eu iria vê-la, e tenho certeza de que ela está viva!

— Vamos, por aqui – o médico disse e nós o seguimos. Eu em meio a soluços e Jensen em seu silêncio perturbador.

— MÃE! – gritei quando vi a pior imagem da minha vida. Ela estava coberta com um lençol branco, seu rosto tinha muitos machucados, nem mesmo parecia ela deitada naquela maca.

As lágrimas se intensificaram e perdi o total controle das minhas pernas. Jensen me segurou a tempo de eu cair no chão. Eu soluçava e negava tudo aquilo – não poderia ser – porque aquilo estava acontecendo? Eu acabará de perder a pessoa que mais amava na vida. A única pessoa que eu tinha, além dela eu estava sozinha e agora, presa a um casamento de fachada. Eu não tinha ninguém. Minha mãe tentou me proteger a todo custo, e acabou assim. Não poderia acabar assim.

Enquanto as lágrimas molhavam a camisa de Jensen, deixei minha cabeça tombar em seu peito. – Tudo o que eu queria era desaparecer. – por um instante ele se manteve imóvel, impassível. – Não me importei, nada importava – depois senti seus braços ao meu redor em o que seria um abraço totalmente sem jeito. Vi as coisas girarem, até tudo escurecer.

Tudo era um terrível pesadelo? – A pergunta ecoava no escuro em que eu me encontrava – um casamento forçado em troca de proteção. Uma proteção que não se estendeu até ela – ela havia mesmo morrido? – não poderia ser. Aquilo nem mesmo fazia sentido. – é verdade, ela não estaria mais aqui. Eu não a veria nunca mais, não sentiria seu cheiro e nem escutaria sua voz. Não sentiria sua mão fazer cafuné em meus cabelos, e nem teria a noite das meninas. Ela foi tirada de mim, a roubaram, levaram tudo o que eu tinha – a morte roubou o que eu tinha de mais precioso.

Passei dois dias sedada, eu estava em casa. Me lembro apenas de Jensen entrando algumas vezes no quarto e uma moça de branco – deveria ser a enfermeira – vindo aplicar uma seringa na minha veia.

Quando recobrei a consciência já era o dia em que o corpo seria cremado – assim era o desejo dela – eu não tinha mais lágrimas e muito menos força para chorar – a cerimonia foi fechada, e não havia muitas pessoas, ela não tinha muitos amigos. Foi tudo tão rápido, como um borrão em minha memoria. – talvez fosse o efeito dos calmantes.

Jensen se manteve ao meu lado todo o tempo, ele até abraçou-me como um marido amoroso faria – mas tudo na frente das pessoas – eu o olhava as vezes, e somente via um olhar frio – todos pareciam acreditar que ele estava sendo verdadeiro, até mesmo na hora de dar-me os seus “sentimentos” ou seus votos de condolência.

— Eu sei que você ainda não está bem – Jensen disse no carro, quando havíamos saído de lá – mas preciso resolver as coisas do testamento ainda hoje, não quero prolongar muito tempo nessa cidade.

Pela primeira vez em dias, escutei de verdade o que ele disse.

Como assim, não moraríamos aqui?

— Achei que ficaríamos aqui, Jensen – falei, pela primeira vez em dias com ele.

— Não, Clarissa – ele olhou-me. Seus olhos que me analisavam cautelosamente, tentavam desvendar algo em minha expressão, já que eu mantinha meus olhos escondidos pelos óculos escuros. – eu sei que você teve uma grande perda, mas não posso parar meus negócios, temos uma vida ainda. – disse inexpressível. Sua frieza era habitual, mesmo me espantando pelo tamanho da perda que eu tive. Ele não era capaz de transmitir nem mesmo dó.

— Você é sempre assim? – perguntei enquanto ele olhava pela janela.

— Como?

— Frio – falei.

— A vida não é um mar de rosas, Clarissa. Todos sofrem perdas. – disse sem olhar-me.

Engoli em seco, sua tamanha frieza me causava calafrios.

Depois de alguns minutos, quebrei o silêncio entre nós.

— Porque me abraçou lá dentro? Não acredito que faça o tipo amoroso – perguntei.

Ele virou para olhar-me dessa vez – seus olhos pareciam penetrar-me a alma, mesmo através daquele pobre óculos.

— Tenho que manter a aparência – disse – as pessoas precisam achar que isso aqui é real.

Isso seria nosso casamento?

— Sim, Clarissa – disse, seu tom parecia definitivo e impaciente, porém fui mais além.

— Você sabe que temos um contrato de um ano – disse, respirando fundo.

— Sim, eu sei disso.

— O que fará depois disso? Sabe que agora não tenho ninguém… – falei as ultimas palavras com tristeza.

— Eu disse a sua mãe que a manteria segura – afirmou – com a morte dela não sei como sua situação sob ameaça ficará – ele pareceu pensar um pouco – mas até completar dezenove anos, você é minha responsabilidade – seus olhos frios ainda me olhavam – depois disso, ficará apenas se quiser.

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— Não se importa que eu fique? – deixei escapar essa pergunta.

Jensen me olhou com uma sobrancelha arqueada, sua expressão me fez ficar temerosa pela resposta.

— Se eu disse que poderá ficar, porque ainda me pergunta? – resolvi que era melhor não falar mais. Jensen não era nenhum pouco agradável e gentil.

Na leitura do testamento o advogado nos falou que todos os bens seriam meus, porém só poderia tomar posse aos dezenove anos, quando o contrato com Jensen acabasse, até lá, tudo estaria nas mãos dele – não que eu me preocupasse com isso.

Tudo parecia tão vazio, eu me sentia assim. Minha mente vagava por lembranças, pelo passado. A um tempo atrás, naquele passado, eu nunca imaginária que minha vida viraria uma tragédia.

Naquele mesmo dia, nós fizemos uma longa viajem até a cidade onde Jensen morava – nem mesmo tive tempo de me despedir de Julie, mas deixei uma carta para ser entregue a ela – não sei quanto tempo durou a viagem até Nova Orleans, eu adormeci.

Meu corpo precisava de descanso, e minha alma também.