Revenge

Vingador


O menino olhava a movimentação dos caminhões fazendo o possível para esconder suas emoções, mas, para um garoto de sua idade, era difícil. A máscara de indiferença que lutava para manter até agora convencera a todos.

Ele andava pelas ruas desertas, suas mãos nos bolsos da bermuda, seus ouvidos captando os sons dos trabalhadores. Uma a uma, as antigas residências iam desaparecendo, bem como as lápides do velho cemitério. Essa não é mais a terra deles, dissera seu pai quando questionara o porquê da remoção dos túmulos. Seu olhar naquele momento o fizera se calar.

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Seus passos traiam o que ia em seu intimo. Saíra pela manhã de casa, pouco após o café, e passara a andar a esmo pela Aldeia. Sua mãe nem sequer tentara impedi-lo, às vezes pensava que ela também sofria dos mesmos questionamentos e da mesma revolta que ele, mas sabia esconder bem melhor.

Sem querer, encontrou o caminho do playground onde ele e seus amigos se reuniam após as aulas. A visão dos brinquedos abandonados trouxe lágrimas aos seus olhos e suas mãos cerraram dentro dos bolsos. Sentou-se no balanço e ficou a olhar o horizonte, preso em seus próprios pensamentos sombrios.

Não conseguia esquecer os gritos e os gemidos daquela noite, mas lágrimas não os trarão de volta.

Mal percebeu quando um deslocamento de ar o alertou de que não estava mais sozinho.

— Não estou com humor para conversa – disse, sem se voltar.

— O que faz aqui? Remoer as lembranças não lhe fará bem.

O menino não respondeu.

— Eles já se foram, chorar não os trará de volta.

— Eu sei!

— Então, por que vem aqui?

— Para alimentar minha raiva – respondeu, voltando-se e revelando os olhos vermelhos característicos do Clã. – Lembrar me faz querer ainda estar vivo. E a raiva é a única coisa que me mantém agora.

Seu irmão deu um passo atrás. Depois suspirou, olhando também o horizonte.

— Quanto tempo acha que vai demorar antes do nosso pai descobrir como realmente se sente?

— Já não me importa mais. Eu já estou morto…

Ouvir aquilo calou fundo no coração do mais velho, pois se sentia da mesma forma desde daquela noite terrível. Fora enviado pelo pai em missão e só voltara quando tudo já tinha acabado. Como seu irmão, se sentia vazio desde então, mas só restava a ele para protegê-lo e aos poucos que restavam. Era a única coisa que ainda o mantinha vivo e são.

— Você quer vingá-los?

O menino se levantou de súbito, a cabeça baixa, mas o corpo tenso.

— Sakura, Naruto, Ino, Chouji, Shikamaru, Neiji, Lee, TenTen, Shino, Kiba e Hinata… eles eram os meus amigos, me aceitavam do jeito que eu era. E me foram tirados porque meu pai não os consideravam bons o suficiente para fazerem parte de seu mundinho perfeito. Não quero passar o resto da minha vida tentando me convencer de que eles não morreram em vão.

E eles morreram em vão, pensou o mais velho, lembrando de outra linda jovem que também perdera a vida naquela noite. Sua mandíbula travou e seu punho direito cerrou traindo sua expressão calma, mas mascarou antes do irmão perceber.

— Acha mesmo que um dia será forte o suficiente para lhes fazer justiça?

Pela primeira vez o jovem ficou em dúvida, mas logo esmoreceu.

— Então vou treiná-lo – disse o mais velho surpreendendo-o. – Pelo menos, me certificarei de que não se mate.

O garoto apenas assentiu.

Desde do golpe, a Academia permanecia fechada enquanto reorganizavam o cronograma de ensino e escolhiam novos professores. Então os dois irmãos passaram o dia treinando.

Embora reticente no inicio, Itachi logo percebeu que seu irmão tinha potencial e era esforçado. As horas foram escoando e, tirando um tempo que guardaram para comer, passaram o tempo todo treinando longe dos olhares dos outros.

Itachi esperava, com sinceridade, que isso gastasse a energia de Sasuke, mas o menino não parecia ter o bastante.

Já estava quase totalmente escuro quando eles decidiram voltar para a casa, conversando sobre os próximos passos do treinamento, mas algo chamou a atenção de Itachi quando ele se aproximou do jardim da casa. Uma nuvem negra pairava sobre a residência e ele se deteve.

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— O que foi, Itachi?

O rapaz nada respondeu, seus olhos brilhando vermelhos e sua face se tornando cada vez mais pálida. Sasuke olhou para dentro da casa, tentando entender o que perturbara seu irmão, mas, antes que Itachi pudesse impedi-lo, correu para dentro gritando pela mãe.

O mais velho o seguiu, tentando protege-lo, mas chegou tarde. Na espaçosa sala de estar da casa, seu pai, Fugaku, fumava um charuto calmamente sentado em sua poltrona enquanto sua espada jazia logo a sua frente, ensanguentada, e logo adiante o corpo de sua mãe, Mikoto, estava esparramado com o coração transpassado. O sangue escorria e manchava o tapete.

O pai nem se voltou quando ouviu os dois chegarem e nem teve reação quando Sasuke se deteve diante do corpo inanimado da mãe. Por vários segundos, o garoto não se manifestou.

— Chamem os outros para recolher e limpar a bagunça – disse o homem, levantando-se calmamente enquanto apagava o charuto.

Sasuke cerrou os punhos, lutando contra as lagrimas que insistiam em descer, mas Itachi o segurou.

— Não! – sussurrou ele, segurando o irmão. – A mãe não iria querer isso.

O garoto esperou longos segundos antes de ouvir a porta da casa se abrir e fechar antes de se ajoelhar no chão e chorar copiosamente.

— Um dia, eu juro por você, minha mãe, eu mato esse desgraçado.