Pedaços Transformados
Dormindo
dormindo
LUKE, 12 ANOS.
—Pai? – murmurou Luke, piscando os olhos e vendo tudo escuro e vendo seu pai.
Andrew tinha os mesmos cabelos loiros e olhos azuis que os seus filhos, brilhantes que nem o sol e fluorescente que nem estrelas (embora Luke duvidasse que tivesse essas características em si). Cabelos brilhantes, olhos fluorescente? Julie. Julie que tinha os cabelos de Rapunzel, de Enrolados, e olhos que podiam muito bem serem larvas brilhando no escuro. Mas ele? Luke tinha olhos monótonos e cabelos desbotado. Sem vida. Sem vida própria.
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Luke piscou de volta, tentando se situar, tentando ver o seu pai ali e agora e não num plano etéreo, dos sonhos.
—Você já está... – Ele bocejou. – Acordado?
—Mais do que você, ao que parece – disse Andrew, divertido. – Que horas você foi dormir? Que horas vocês – corrigiu-se, ao perceber Calum pressionando contra o lado de Luke e Julie deitada no sofá com as pernas sobre os dois – foram dormir?
—O que você está fazendo a essa hora? – questionou, confuso, em vez de responder.
Dormir tão tarde quando iria viajar cedo não era o que sua mãe com certeza aprovaria, seu pai não saber era a melhor resposta, assim ele não precisaria esconder nada de Liz, da quase-que-onisciente-e-detectora-de-mentira-Liz.
Entretanto Luke estava curioso.
Seu pai estava ali. Seu pai estava ali. O que seu pai estava fazendo ali, acordado tão cedo? Não era nem claro ainda, as luzes dos postes estavam acesas e havia lua e estrelas e na televisão passava algum noticiário da madrugada, e... Aquilo em suas mãos eram latas de tinta?
—Hã. – Andrew olhou ao redor. – Você está dormindo? – tentou ele ao invés de responder, como seu filho havia feito.
—Sim... – respondeu Luke lentamente. Sim, ele que estava no mundo dos sonhos, não o seu pai, porque nem seu pai tinha tão pouco juízo para pintar paredes aquela hora, tão tarde da noite.
—Você está dormindo – repetiu seu pai com mais confiança, olhando-o fixamente.
—Não...
Luke estava começando a duvidar, porque a criatividade/loucura não estava nos seus genes, ele tinha herdado a realidade nua e crua da sua mãe, e sonhar acordado não era consigo, delirar como um idiota apaixonado não era...
—Luke – chamou seu pai e Luke o achou hipnotizante e não conseguiu piscar, desviar o olhar. – Você está dormindo.
E sim.
Luke balançou a cabeça, bocejou, esfregou os olhos, disse boa noite, encostou-se em Calum, entrelaçou a mão com a de Julie e dormiu.
Luke estava dormindo.
(E não era um idiota apaixonado.)
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