Epílogo.

— Eu não acredito que fez isso comigo, Anthony! – berrei do topo da escada decidida a atirar alguma coisa nele que estava parado perto da porta de entrada.

- Elisa, por favor, calma...

- Calma o caralho! Eu vou te matar seu engravatado idiota! – gritei atirando meu sapato em sua direção.

- Que gritaria toda é essa? – Jane perguntou aparecendo com Drew logo atrás dela com o rosto todo coberto de chocolate, no auge dos seus quatro anos ele era uma criança encantadora e gulosa, definitivamente seu passa-tempo favorito era comer.

- Mamãe, papai, vocês estão brigando? – ele quis saber piscando seus olhos verdes pra mim e eu desci as escadas desistindo de matar Anthony só para beijar seu rosto sujo, lambi sua bochecha e ele fez uma careta se afastando. – Eca, mãe!

Eu ri.

- Eu e o papai não estamos brigando, não só estamos tendo uma conversa – rosnei para Anthony que teve a audacia de sorrir. – Cadê a sua irmã?

- Brincando com o Matt – ele comentou e eu ri. Matthew, filho da Lena e do Miguel era um garotinho moreno dos olhos escuros e sorriso encantador que passava mais tempo aqui que na própria casa. Ele era completamente apaixonado pelos primos e os primos por ele.

- Mamãe! Papai! Olha o que achamos! – minha garotinha apareceu correndo com os cabelos arrepiados e as roupas sujas de terra, Matt vinha atrás dela tentando acompanhar os seus passos e não estava muito melhor, ela tinha nada menos que uma minhoca nas mãos. A cara de incredulidade de Anthony me fez gargalhar, acho que ele sempre esperou que Analu fosse ser algum tipo de princesinha mimada, mas não. Isso era a última coisa que essa garotinha descabela a minha frente era. Na verdade, ela era sim uma princesa, mas não pelo dinheiro ou roupas caras, na verdade não tinha nada a ver com isso. Ela olhou de mim para Anthony e depois fez uma careta. – Vocês estavam brigando? Eu ouvi a mamãe gritar.

- Não, meu amor – Anthony se abaixou para sorrir pra ela e depois me olhou feio. – Viu o que você fez? Agora nossos filhos acham que estamos brigando.

- E não estavam? – Jane quis saber e Anthony suspirou e eu só quis muito ter acertado meu sapato na cara dele. Ok, talvez a culpa não fosse só dele, mas ainda sim.

- Argh! É tudo culpa sua! – gemi e Drew e Analu trocaram um olhar risonho que só eles compreendiam e depois sorriram.

- A mamãe tá brava, papai. O que o senhor fez? – Analu quis saber e Anthony a olhou incrédulo.

- Se sua mãe tá brava a culpa é minha, é?

- Sim. Foi ela que disse – a garotinha respondeu tranquilamente e mesmo que eu quisesse continuar brava com o Bonitão eu não consegui e acabei sorrindo.

- Matt! Matt! Alguém viu meu filho? – eu ouvi os gritos de Lena antes de vê-la. Matt correu para os braços da mãe e eu revirei os olhos. Mesmo depois de tanto tempo, nada tinha mudado, ela ainda invadia minha casa sem permissão toda vez. Quando ela e Miguel nos alcançaram olharam para a bagunça na sala e meu sapato no chão enquanto o outro continuava no meu pé. – Vocês estavam brigando?

Anthony me olhou arqueando uma sobrancelha e eu cruzei os braços o encarando.

- Isso é só a Elisa sendo Elisa. A gente não brigou.

- Diga por você, Sr. Whitmore – comentei, mas no segundo seguinte eu já estava chorando. Todos pareceram meio surpresos com a minha súbita mudança de humor.

- Raio de Sol? – Anthony me chamou e eu fiz bico.

- Isso é tudo culpa sua, Bonitão. Tudo culpa sua!

- Eu sei – ele sorriu me puxando para os seus braços e eu o abracei.

- Mamãe, tá doendo em algum lugar? – Drew perguntou e eu me soltei de Anthony para olhar para o garotinho. Boa Elisa, está assustando seus filhos com toda essa cena.

- Não meu amor, tão tá doendo, é só que a mamãe tá um pouco assustada.

- Assustada, Elisa? Com o que? – Miguel perguntou num tom preocupado, ele nunca deixaria de ser meu irmão mais velho superprotetor.

- A maluca da sua irmã está surtando, por que vamos ter um bebê – Anthony anunciou e eu revirei os olhos. Tudo bem, talvez eu tivesse exagerado. Eu amava esse bebê e Anthony, mas caramba eu tinha prometido nunca mais passar por aquilo. Balancei o teste de gravidez que tinha na mão, os dois tracinhos rosa não mentiam.

- Vocês estavam brigando por que vão ter um bebê? Que tipo de pessoa faz isso? – Lena perguntou incrédula e Anthony sorriu me abraçando.

- A Elisa, claramente ela.

- Hei também não é assim! – reclamei e Drew puxou a barra do meu vestido para chamar minha atenção.

- Mamãe, o que isso quer dizer?

- Que eu vou ter outro irmãozinho, não é mamãe? – Analu se intrometeu com os olhos brilhando. Ela amava o irmão e adorava o fato de ser mais velha, eram só sete minutos, mas ainda assim a faziam se sentir importante.

- É, é bem isso mesmo, meu amor. Você vai me ajudar a cuidar dele? – quis saber e ela balançou a cabeça confirmando animada.

- Posso dar pra ele a Dora de presente, o que acha? – ela perguntou animada balançando a minhoca que ainda segurava e eu fiz uma careta divertida.

- Vamos ver isso depois.

- E eu mamãe? Posso ajudar a cuidar dele também? – Drew quis saber animado e eu apertei os dois num abraço de urso.

- Pode, eu vou adorar.

- Eu posso brinca com ele tia? – Matt perguntou se contagiando da alegria dos primos depois de descer do colo da mãe e eu sorri em meio a outra crise de choro. Se eu fosse ficar como Lena na gravidez de Matt estávamos ferrados.

- Pode meu anjo, pode sim.

- Vamos comer, o que acham? – Jane chamou e no segundo seguinte os três já tinham disparado para a cozinha. – Eu cuido deles, tomem o tempo que precisarem e meus parabéns, senhor, senhora Whitmore – ela deu um último sorriso e saiu.

Quando ficamos só os quatro na sala Anthony foi até o meu sapato que eu tinha atirado nele, o pegou e se abaixou a minha frente para colocá-lo outra vez no meu pé.

- Eu te amo, Raio de Sol, precisava ter surtado daquele jeito? – ele perguntou depois de ficar de pé e me beijar, eu já tinha parado de chorar.

- Por que não foi você quem passou por aquela confusão toda. Nem me atendeu na noite em que os gêmeos nasceram – acusei fazendo bico e ele me beijou outra vez sorrindo.

- Já disse que esqueci o celular por causa da chuva e eu te amo, Ok? Vou estar com você cada segundo como da outra vez. Não está feliz? – ele perguntou sério, toda a confusão anterior tinha sido um misto de choque e surpresa, mas agora ele queria mesmo saber o que eu estava achando de tudo isso, e como eu poderia estar de outro modo se não feliz?

- É claro que eu tô feliz! Amo você, esse bebê. Nossa família vai ficar maior e é tudo culpa sua! – comentei e Anthony gargalhou antes de me beijar.

- Vocês são dois loucos mesmo – Miguel comentou quando nos separamos e eu fui abraçar meu irmão.

- Eu vou ter outro bebê, Miguel! – disse animada e ele me apertou com força.

- Eu tô vendo, só espero que esse seja um pouco mais normal que a mãe.

- Idiota – reclamei lhe dando um tapa no braço e ele riu beijando meu rosto.

- Amo você pirralha.

- Mas uma palavra e te expulso da minha casa – ameacei e Lena que estava abraçando o bonitão revirou os olhos e veio me esmagar até a morte. Quando nos separamos olhei para o casal a minha frente. – Não pensam em tentar outra vez, não?

- Talvez daqui a uns anos – Lena comentou sorrindo e beijando o marido. – Vamos comer antes que Drew acabe com tudo?

Eu ri sem conseguir me conter.

- Da pra não fazer bullying com o meu filho?

- Não é bullying, só estou apontando fatos – ela comentou e eu sorri os acompanhando.

Minha família estava crescendo um pouco mais e eu não cabia em mim de felicidade. Era muito amor, e agora até uma forma mais leve, não havia drama, confusão, não mais que o necessário, claro, afinal ainda sou eu. Mas eu tinha amado a novidade, só que sei lá, brigar com Anthony nunca deixaria de ser divertido, sempre discutiamos por causa e alguma besteira e depois faziamos amor até amanhecer nos reconciliando, essa sem dúvidas era a melhor parte. Eu o amava e amava o que tínhamos contruído juntos.

- Se continar sonhando assim, sua cunhada e seu filho vão te deixar com fome – Anthony sorriu me abraçando e eu sorri de volta.

- Eu sou a grávida aqui, tenho prioridade.

- Vem então, Raio de Sol – ele chamou e eu me derreti um pouco mais, amava quando ele me chamava assim. – O que acha de ligar para Cassandra?

- Ótima ideia ela vai adorar saber, diga a ela.

- Eu? – ele perguntou surpreso e eu o beijei indo direto atrás de um prato pra ver se conseguia alguma comida. Jane e Lena tentavam colocar comida para as crianças que não paravam quietas.

- Claro, tia Cassy vai adorar ouvir de você, Bonitão. Hei! Eu também quero! – reclamei indo me juntar a confusão entorno da mesa e Anthony me sorriu ainda da porta vendo a cena. Ele provavelmente estava se lembrando de algum momento desastroso nessa mesma cozinha e isso me fez sorrir. Larguei o prato encima da mesa e corri até ele me atirando em seu pescoço. – Te amo, Bonitão.

- Também te amo, meu Raio de Sol – ele disse antes de me beijar outra vez tornando esse momento ainda melhor.

Eu esperava fervorosamente que o resto da nossa vida pudesse ser assim, um conto de fadas misturado a vida real deixando tudo perfeito.