Anthony encarava o copo de uísque como se o líquido escuro fosse lhe dar todas as respostas que precisava. E olha que a lista de coisas mal resolvidas em sua vida ultimamente estava grande, e a maioria delas envolvia a loira na qual ele definitivamente não queria pensar. Elisa o estava atormentando o juízo muito antes de beijá-la, depois então, ele não tinha mais controle sobre coisa alguma. Mas o que Anthony realmente não conseguia entender era por que, pra início de conversa, ele a havia beijado. Estavam indo tão bem, já eram quase amigos, e ele foi lá e estragou tudo de todas as formas possíveis. Por que ele tinha certeza de que Elisa o estava odiando nesse momento, e provavelmente o amaldiçoando de todas as formas possíveis. Ele inconscientemente sorriu com a ideia, mas assim que a imaginou toda sorrisos para o tal “Edu” a diversão acabou.

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- Chega - disse a si mesmo tomando um gole de sua bebida. Elisa não era da sua conta, não tinha nada a ver com ele.

- Brigou com a sua garota? - Daniel perguntou divertido entrando em seu escritório e indo se servir de uísque também.

- Não lembro de tê-lo convidado a se juntar a mim - Anthony disse irônico para o moreno diante de si. Daniel era seu primo de segundo grau filho de uma prima de sua mãe. O grau de parentesco era distante, mas ele era de longe seu familiar mais próximo e por que não dizer, também era seu amigo.

- Tony, Tony - ele riu. - Desde quando eu preciso de convite?

- Verdade, você invade a minha casa sem convite mesmo. Quem te deixou entrar?

- Foi a Jane, mas você ainda não respondeu minha pergunta. pensando em quem? Na namorada? Qual era mesmo o nome dela? Ellie? Há não, é Elisa não é?

- Quem te falou sobre a Elisa?

- Há, então é esse mesmo o nome dela, né?

- Daniel - Anthony o olhou feio e ele riu.

- Ouvi o Marco e a Jane falando sobre ela. Mas e então, o que está rolando entre vocês?

- Preciso de funcionários novos e de preferência que não sejam fofoqueiros.

- Não desconte seu mal humor neles. Mas e a garota, como ela é?

- Linda - Anthony disse antes mesmo de se dar conta do que fazia e Daniel o olhou surpreso.

- Achei que tinha desistido das mulheres depois da... - ele parou de falar assim que viu o olhar que Anthony lhe lançou. - Certo, desculpe, não vou falar dela. Mas agora fiquei confuso, você não falou que tinha uma louca que aceitou aquela sua proposta maluca e estava grávida de você. Onde a Elisa entra nisso tudo?

Anthony suspirou passando a mão pelos cabelos, não queria nem pensar nesse assunto, quem dirá falar dele.

- Ela é a louca que está grávida dos meus filhos - disse por fim. - É por isso que eu não estou a fim de falar sobre isso. E se você veio até aqui para encher o meu saco e falar da minha vida, pode ir embora - se Anthony já não era muito de falar, hoje ele não estava mesmo querendo papo com ninguém.

- Ok, já entendi, não precisa morder. Hoje eu não vim aqui como seu primo querido, vim como seu contador. Tem uns assuntos que eu quero discutir com você.

- Ótimo, vamos trabalhar - Anthony disse agradecido por ter algo familiar e descomplicado em que pensar.

Mesmo imerso em números, cálculos, contratos e até orçamentos que misteriosamente não batiam, Anthony não conseguiu deixar de pensar em tudo o que aconteceu com ele envolvendo Elisa no último mês.

Primeiro teve o acidente, esse não foi sua culpa, ele apenas deu o azar de estar no lugar exato onde um idiota decidiu fazer merda, mas até ai tudo bem, acidentes acontecem, o inesperado mesmo foi quando ele acordou em seu quarto de hospital e viu a loira sentada na poltrona ao seu lado e dormindo apoiada na cama. Aquilo realmemte o pegou de surpresa, por que exatamente ela estava ali? Mas Elisa o respondeu, com todas as letras e aos berros que ele quase a havia matado do coração. Só que era assim, certo? Todas as vezes que se encontravam acabavam brigando e Anthony realmemte não conseguia entender o porquê disso, justo ele, a pessoa mais sensata de todas? Isso não fazia sentido. Assim como também não fazia sentido Elisa ter ido até lá e ficado com ele, principalmente depois dela ter dito que foi naquele mesmo hospital em que seu pai foi atendido e horas depois morreu, não fazia sentido mesmo.

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Mas naquela noite em particular, o que mais chamou a atenção e por que não dizer, que encantou Anthony, foi ver Elisa conversando com os bebês. O jeito carinhoso com o qual ela falava com eles fez o moreno imaginar que ela com certeza seria uma ótima mãe. Mas no segundo seguinte se arrependeu disso, não precisava de mais uma decepção como aquela. E foi então que ele pensou que havia terminado, que depois daquela conversa onde Elisa literalmente o pediu que não morresse em um acidente de carro não poderia acontecer mais nada estranho, só que aconteceu, graças a incompetência de alguns funcionários ela acabou em sua casa tentando destruir sua cozinha e parecendo incrivelmente linda toda corada e de avental. Ele suspirou frustrado em seu escritório depois que Daniel foi embora, era por pensamentos como esse que era tão perigoso ficar perto dela. Anthony não queria pensar nisso nem se envolver, mas já estava envolvido, claro que estava, já havia até almoçado na casa de Elisa e nessa mesma ocasião quase a beijara, ele não sabia o que acontecia consigo, mas perto dela deixava de raciocinar, era ridículo. Mas conseguiu manter a cabeça fria, nada aconteceu, estava tudo bem na medida do possível, ela até achou que seria divertido irritá-lo por mensagem, então talvez pudessem ter uma relação civilizada pelos próximos seis meses, só que não foi bem assim que aconteceu.

Ele não tinha intenção de levar Elisa a festa onde iria se encontrar com Henry Calvet, a ideia surgiu depois de um comentário de sua secretária a respeito de como as pessoas hoje em dia não perdoavam nem a família na hora de conseguirem o que queriam. Vendo agora foi uma ideia horrível pra dizer o mínimo, mas na hora em que ouviu sobre isso, o rosto da loira foi o primeiro que apareceu em sua cabeça.

Leva-la foi errado de várias formas, mas não conseguiu se conter, a ideia original quando apareceu em seu apartamento sábado, era apenas irritá-la e talvez depois perguntar a ela se poderia acompanhá-lo, não tinha intenção nenhuma de, como Elisa bem colocou, sequestrá-la. Ainda não sabia exatamente por que, mas quando ela lhe disse que não podia ir por que tinha um encontro aquilo o deixou irritado, e todo aquele papo sobre o tal Edu não ajudou em nada em sua sanidade, quando viu, já tinha a arrastado até o carro.

Anthony até poderia dizer que tinha se arrependido daquela noite, de ter levado Elisa e tê-la beijado também. Mas não se arrependeu, foi a primeira festa dessas na qual ele se divertiu em anos, e isso foi tudo graças a loira, se ele tivesse coragem de admitir diria que ver Elisa toda corada ou tagarelando foi a melhor parte de sua noite, isso é claro, até ele estragar tudo.

Vê-la chorando foi sem dúvidas a pior parte de tudo e ele podia ter evitado isso. Se tivesse a deixado ir na hora em que se afastou nada disso teria acontecido, eles ainda seriam amigos e Anthony não precisaria estar quebrando a cabeça pensando nisso e no quão magoada Elisa parecia estar depois que ele disse aquilo tudo pra ela, é claro que seus gritos também deixaram bem explícito o nível da sua raiva. Mas apesar de tudo isso Anthony simplesmente não conseguiu deixa-la ir, quando ela tentou sair ele a apertou com mais força, quando ela o olhou confusa ele capturou seus lábios doces com os seus. Não estava de forma alguma em seus planos beijá-la, mas não conseguiu evitar, não quando a sensação de seus lábios juntos era ainda melhor do que tinha imaginado.

Mas foi ai que estragou tudo, que a afastou e a magoou, mas o que mais poderia fazer? Anthony não queria se envolver para não sair magoado, e nem envolver ninguém para não magoar essa pessoa, só que obviamente o plano não estava saindo como ele imaginou.

Suspirou pela terceira vez consecutiva e virou o quinto? Sexto copo de uísque? Ele já não estava mais contando.

- Se me permite Sr. Whitmore - Jane comentou da entrada da porta sorrindo. - Você devia apenas falar com ela.

- Não existe um “Ela”, Jane - ele suspirou enchendo seu copo mais uma vez. A senhora que o conhecia desde que era um bebê foi até ele e tirou a garrafa de suas mãos.

- É claro que existe, mas não precisa falar disso, não é da minha conta de qualquer forma. Apenas pense a respeito - a morena baixinha com seus poucos fios brancos aconselhou e Anthony a olhou revirando os olhos, Jane sorriu.

- Será que pode devolver minha garrafa? - Anthony perguntou enquanto ela ia embora com a mesma e a governanta apenas negou com a cabeça.

- Isso fica comigo, acho que por hoje já o suficiente - ela olhou sugestiva para o líquido escuro que já estava pela metade, Anthony realmente não sabia quando tinha ficado tão pouco. - Boa noite, Sr. Whitmore. Amanhã você trabalha cedo, então é melhor ir para a cama - Jane encerrou o assunto e saiu.

Anthony olhou para o uísque que tinha conseguido colocar em seu copo e suspirou desistindo de beber, não valia a dor de cabeça no dia seguinte, mesmo por que Jane tinha razão e ele tinha que trabalhar amanhã, não podia se dar ao luxo de ficar em casa morrendo de ressaca. Felizmente todo esse dilema com a bebida o ajudou a chegar a uma conclusão a respeito de Elisa também, no fim afastá-la foi o melhor, não se envolver mais com certeza era a solução.

Mas não foi, de forma alguma, e Anthony iria descobrir isso da pior forma possível.

Nos dias que se seguiram Elisa fez exatamente o que ele queria desde o início, que agisse apenas como sua funcionária lhe dando apenas as satisfações necessárias. Ela não o havia ligado nenhuma vez, e até suas mensagens sem nexos que chegavam apenas para irritá-lo enquanto trabalhava, pararam. As mensagens de Elisa agora eram quase como e-mails corporativos, algo como: “Estou bem, os enjoos diminuíram, e eu estou tomando os remédios corretamente. Não precisa se preocupar”. Nada mais, nenhuma piadinha nem provocação, e se Anthony tivesse coragem de admitir diria que estava odiando cada letra dessas mensagens, mas como isso era de mais, ele apenas fingia que era isso que queria. Que precisava querer, Elisa bem longe dele.

Olhou frustrado para o celular depois de reler a última mensagem da loira pela terceira vez. Já haviam se passado três semanas desde a festa e ela ainda o estava ignorando por completo. Maravilha, pensou Anthony. Era exatamente isso que eu queria.

- Sr. Whitmore? - Kelsy chamou fazendo Anthony a olhar feio por ter entrado sem bater em sua sala. - Eu bati - a morena se apressou em dizer como se lê-se os pensamentos do chefe. - E como o senhor não respondeu, eu vim falar pessoalmente. Acharam os anexos do contrato do Sr. Almeida.

- Incrível como tivemos que encontrar um anexo que devia estar anexado a um contrato. Agradeço a eficiência - Anthony rosnou ironicamente enquanto se perguntava se todo mundo tinha tirado seu tempo para irritá-lo. Será que funcionários competentes era pedir de mais?

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- Desculpe Sr. Whitmore - a garota que era sua secretária há quase dois anos se encolheu, ela foi a única que durou tanto tempo no emprego depois que a antiga secretária de seu pai se aposentou, o moreno já havia se arrependido de tê-la deixado ir muitas vezes, ninguém era tão eficiente quanto ela.

- Tanto faz - Anthony suspirou passando a mão pelos cabelos e ficando de pé. - Eu tenho um compromisso agora, não posso ficar pra arrumar mais isso. Então é bom que quando eu chegar amanhã, esse contrato esteja inteiro e intacto na minha mesa. Fui claro?

- Sim senhor - Kelsy deu um sorriso afetado e Anthony passou direto por ela indo até a porta. Era sempre assim, nem mesmo suas secretárias lhe davam trégua. Ele podia simplesmente demiti-la por isso, mas não valia a pena, não quando ela foi a única que durou tanto tempo no cargo. Mas era obrigado a admitir que todo o charme e os sorrisos sugestivos algumas vezes chegaram a ser irritantes, era tão difícil assim entender que ele não estava a fim? Que não queria relacionamento? Mas ironicamente o rosto de Elisa gritando que ele não tinha ideia do que queria subitamente apareceu em sua mente. Anthony se livrou desses pensamentos e entrou no elevador.

No caminho cumprimentou algumas pessoas que tiveram a coragem de lhe dirigir a palavra, afinal, ele era o chefe todo poderoso. Quando chegou ao hall de entrada cumprimentou a recepcionista e se surpreendeu em dar de cara com Miguel ali.

- An... - Miguel se interrompeu. - Digo, Sr. Whitmore, boa noite.

- Boa noite - Anthony o cumprimentou de volta surpreso pelo fato do moreno estar falando normalmente com ele. - Não sabia que ainda estava aqui, hoje não é quinta? Achei que os advogados iam embora mais cedo.

- Eu também - Miguel riu. - Mas tive que ajudar a encontrar os anexos de um contrato. Como perderam uma coisa como essa eu ainda não entendi.

- Pra falar a verdade, nem eu - Anthony suspirou.

- Há desculpe, isso era um problema seu, né?

- Ainda é. Mas eu sou o chefe, tudo é sempre problema meu.

- Meus pêsames por isso - Miguel disse divertido e algumas pessoas que estavam saindo do prédio os olharam curiosos.

- E a sua irmã, como está?

- Bem, e até onde eu entendi, está puta da vida com você. Eu não quis me aprofundar no problema, por que ela e a Helena juntas são assustadoras. Mas pelos gritos de ódio dela, a culpa é sua.

Anthony acabou rindo mesmo sem querer e algumas pessoas o olharam surpreso, mas pela primeira vez ele não se importou, pensar em Elisa o amaldiçoando por aí era incrivelmente divertido.

- Sempre é. Mas fico feliz que ela esteja bem.

- Vocês não se ver hoje, né? Na consulta? Acho que o encontro com o namoradinho dela vai ter que ficar pra outro dia então.

- Como? - Anthony perguntou surpreso. Esse namoradinho era o tal cara da outra vez?

- Há é, você provavelmente não sabe, mas ela com um cara. O que é irônico, já que eu acho que ela não contou a ele que grávida. De qualquer forma, melhor eu ir antes de apanhar e começar a chover, Lena está me esperando para o jantar. Tchau Anthony - Miguel se despediu e começou a se afastar, mas antes de alcançar a porta parou e se virou. - E a propósito, se você beijar a minha irmã outra vez sem saber o que quer e fazer ela chorar, eu quebro seu nariz.

Anthony o olhou surpreso, mas acabou por dar um meio sorriso enquanto via o moreno sair do prédio. Essa não era a primeira vez que Miguel o ameaçava, e ele tinha certeza de que não seria a última, e só o fato dele esperar que tivesse um próximo beijo deixou Anthony menos frustrado do que estava há dez minutos atrás, não que ele fosse admitir isso de qualquer forma.

Ele desistiu de tentar entender esses irmãos e seguiu para o estacionamento no subsolo enquanto escutava a chuva cair do lado de fora do prédio, e sem saber o que esperar do encontro com Elisa que estava prestes a acontecer.