Contrato de Amor

Isso é loucura, então é um sim quase não.


Quando cheguei em casa estava com frio até os ossos, mesmo que estivesse com o paletó de Anthony ainda estava morrendo de frio, a chuva não tinha parado um segundo se quer e quando vi que daria oito da noite resolvi que tinha que enfrentá-la.

Só parei de bater o queixo quando cheguei em casa, tomei um banho, vesti um moletom e me enrolei em uma coberta no sofá. Mesmo que uma xícara de café e bolo não fossem suficientes para um “jantar”, por incrível que pareça hoje eu não estava com fome, pensar e repensar na proposta de Anthony expulsava qualquer outro pensamento da minha cabeça.

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Suspirei pela terceira vez em menos de cinco minutos e encarei a lâmpada fosforescente no teto da minha sala desejando que Helena e Miguel estivessem aqui, por que justo quando um maluco aparece do nada e me faz uma proposta dessas é que eles conseguem tempo para visitarem os pais dela no interior?

Helena e Miguel eram meus vizinhos e melhores amigos, ele ainda era meu irmão, irmão de consideração, mas era. Eu e Miguel éramos vizinhos desde que eu tinha sete anos, minha mãe morreu e eu e meu pai nos mudamos para esse apartamento, ele e a mãe moravam aqui, e como tínhamos quase a mesma idade logo nos tornamos amigos. Foram anos ótimos, mas como tudo que é bom dura pouco, meu pai se envolveu em um acidente de carro quando eu estava no último ano da escola foi fatal, eu tinha dezessete anos. A partir daí Miguel e tia Cassy, a mãe dele, me “adotaram”, fosse pra me ajudar com o dever de casa ou o jantar, fosse pra me acalmarem durante uma tempestade, eles estavam lá e eu nunca vou ser grata o suficiente por isso.

Foi no último ano também que nós conhecemos Helena, a morena do cabelo cacheado e sorriso encantador que veio do interior para terminar a escola e fazer um curso de agronomia (mas no fim ela decidiu que queria fazer medicina veterinária, vai entender). Tenho que admitir que nossa convivência no início era péssima e só a pouco tempo atrás é que eu descobri que isso se devia ao fato dela sentir ciúmes de mim com o Miguel, os dois se apaixonaram, por falta de expressão melhor, a primeira vista, nós a vimos pela primeira vez no primeiro dia de aula, e chegava a ser engraçada a nossa relação, por que com mesma intensidade em que ela queria agradá-lo e se aproximar dele ela queria que eu ficasse o mais longe possível.

No fim do ano depois de uma briga envolvendo apagadores de quadro, canetas e cadernos voadores ela finalmente entendeu que eu e Miguel éramos como irmãos, a partir daí a gente meio que acabou se entendendo e hoje ela é simplesmente minha melhor amiga.

Acabei rindo sozinha das lembranças, e pensar que depois de um início desses a gente ia terminar assim, ela e Miguel estão noivos há quase dois anos e morando juntos no apartamento em frente ao meu (que sempre foi do moreno de olhos verdes) a quase um. Ai quando eles finalmente decidem marcar a bendita data do casamento e somem para o interior para falar com os pais da Helena, um maluco me faz uma proposta nada a ver e eu tenho que lidar com ela sozinha. Por que celulares não podem ter sinal no meio do mato?

Acordei com o despertador tocando como um louco e quando me estiquei para desligá-lo, descobri que não estava na minha cama e cai de cara no chão.

- Maravilha - murmurei esfregando o nariz e ficando de pé, eu tinha dormido no sofá e estava com dor no pescoço.

Praguejei mais um pouco antes de finalmente encontrar meu celular debaixo da mesinha de centro e desligar o despertador, hoje ainda era sexta, mas eu não tinha mais motivos pra acordar às sete da manhã, afinal nem emprego eu tinha mais.

E assim só com a menção a emprego, a proposta de Anthony voltou a minha cabeça com tudo, mas dessa vez eu estava com fome de mais pra me preocupar com ela, ia deixar pra pensar nisso mais tarde se não ficaria louca.

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Passei a tarde remoendo os prós e os contras de aceitar ou não a oferta de Anthony, de um modo geral os prós giravam entorno da grana que eu ia receber, afinal era muito dinheiro mesmo, e os contras giravam em torno de que se parasse para analisar, aquilo era muita loucura. Mas eu não tinha mais tempo, estavam faltando quinze pras cinco e eu tinha que ter uma resposta pra ele quando chegasse à lanchonete.

Hoje eu estava preparada, estava usando meu sobretudo vermelho e tinha um guarda chuva, conferi se estava com a carteira mais de uma vez antes de fechar a bolsa, e para a minha felicidade, por mais que o tempo hoje não estivesse dos melhores o paletó dele que eu tinha lavado de manhã já estava seco, o coloquei em uma sacola e sai em direção a lanchonete sem ter muita certeza se já tinha uma resposta para sua pergunta.

Quando cheguei à lanchonete não foi difícil encontrar Anthony, ele era de longe a figura mais deslocada daquele lugar, usando um terno preto com uma gravata vermelha. Ele me deu um aceno discreto com a cabeça quando me viu e eu sorri pra ele indo em sua direção.

- Vejo que hoje a chuva não te pegou - ele disse divertido e eu revirei os olhos lembrando do dia lamentável que tive ontem.

- Graças a Deus não - disse e me sentei a sua frente, ele já estava bebendo um café. - Desculpa o atraso - disse suspirando. - Achei que chegaria a tempo.

- Você não está atrasada, sou eu que estou adiantando - garantiu e eu verifiquei as horas no celular e era verdade, ainda faltavam três pras cinco. - Terminei minha reunião mais cedo e decidi te esperar aqui.

- Tem muito tempo que chegou?

- Não - ele garantiu, mas algo me dizia que não era verdade.

- OK então - murmurei - Aqui, muito obrigada - agradeci lhe estendendo a sacola com o paletó.

- Foi um prazer - disse pegando a sacola e a colocando no chão ao lado da sua cadeira para logo em seguida olhar pra mim. - E então, você já tem uma resposta pra mim?

Suspirei encarando o tampo da mesa antes de olhá-lo outra vez.

- Tenho sim - murmurei.

- E qual seria? - perguntou parecendo impaciente.

- Eu aceito - disse depois do que me pareceram vários minutos. - Eu aceito essa sua proposta maluca.

Ele pareceu surpreso por alguns segundos antes de retomar sua expressão de “eu estou no comando de tudo”.

- Isso é ótimo - garantiu - Podemos começar amanhã então.

- Claro... - murmurei, mas me interrompi assim que entendi do que ele estava falando. - Como assim começar? Começar o que? E vendo por esse lado você não disse como seu filho iria parar dentro de mim e...

- Exames - ele disse me interrompendo - E respondendo a sua pergunta, ele vai parar dentro de você com inseminação artificial. Não pretendo tocá-la Srta. Banks, pode ficar tranquila.

Por algum motivo sua afirmação não me fez ficar tranquila, mas sim desapontada, não que eu fosse admitir isso em voz alta.

- Já disse pra me chamar de Elisa e tudo bem, se é assim podemos nos encontrar amanhã, que horas?

- As oito, me dê seu endereço para que eu possa buscá-la.

- Da manhã? - perguntei surpresa.

- Exatamente, se tudo der certo faremos amanhã mesmo a primeira tentativa de inseminação.

- Primeira?

- Sim - ele disse dando de ombros. - Até onde eu entendi, dificilmente uma mulher engravida na primeira tentativa.

- OK então, amanhã as oito, você tem papel e caneta?

Ele me estendeu uma caneta.

- Desculpe, não tenho papel.

- Tudo bem - garanti e enfiei a mão dentro da minha bolsa até encontrar uma nota fiscal antiga, anotei meu endereço em seu verso e a entreguei a Anthony junto com sua caneta. - Então nos vemos amanhã? - perguntei nervosa. Ainda não estava certa de que essa tinha sido a decisão correta.

- Nos vemos amanhã - ele garantiu e tirou uma nota de sua carteira outra vez e colocou encima da mesa. Anthony ficou de pé e pegou a sacola com seu paletó. - Até amanhã Srta. Banks.

- É Elisa - disse estreitando os olhos pra ele e ficando de pé também, Anthony teve a cara de pau de sorrir antes de sair pela porta. Suspirei antes de sair também, a chuva tinha diminuído e eu não me importei em andar, hoje além de estar chovendo menos eu estava totalmente agasalhada, andar seria bom pra pensar e foi isso que fiz.

Pensei e repensei no que tinha me metido durante a tarde, definitivamente era loucura, mas vendo por outro lado era um jeito fácil de ganhar dinheiro, se o cara queria um bebê e eu podia ajudá-lo, então por que não? Iam ser só nove meses, eu geraria o bebê e o entregaria a ele, simples assim, sem confusão e sem drama.

Mas eu devia ter imaginado que não seria tão simples, nem de longe.

No dia seguinte eu acordei com a minha campainha tocando de maneira irritante.

- Já vou! - berrei irritada por ter sido acordada e tendo a horrível sensação de que tinha esquecido alguma coisa noite passada antes de dormir. Mas como ainda nem tinha acordado direito só me dei conta de quem era na porta quando a abri, Anthony estava parado na minha porta usando um terno preto e parecendo incrivelmente confuso. - Ai meu Deus! - gritei batendo a porta na sua cara e correndo para o meu quarto outra vez, eu tinha dormido de mais e esquecido de programar o bendito despertador.

Tomei um banho em tempo recorde e coloquei a primeira blusa florida que encontrei, jeans, minhas botas e fui fazer uma maquiagem, eu particularmente não era muito adepta, mas hoje eu definitivamente precisava, me arrumei o mais rápido que consegui, mas ainda sim não era rápido o suficiente, quando terminei já eram 08h30m, peguei meu sobretudo vermelho, uma bolsa e segui para a sala ficando surpresa ao encontrar Anthony sentado em meu sofá, ele me viu assim que apareci no corredor e ficou de pé.

- Desculpe invadir, mas você deixou a porta aberta e eu não queria esperar parado no meio do corredor.

- Tudo bem - garanti. - Sou eu quem tem que se desculpar, esqueci completamente o despertador, e bem... Foi isso, acordei com você tocando a campainha.

Ele deu um meio sorriso.

- Não tem problema - disse aparentemente divertido, acabei corando por ser tão idiota. - Vamos?

- Por favor - pedi e nós seguimos em direção a porta.

Quando descemos descobrimos que Marco tinha dormido debruçado no volante. Anthony deu batidinhas no vidro para acordá-lo, o senhor de quepe e gravata borboleta se sobressaltou.

- Desculpe senhor, eu... - ele deixou a sentença no ar por que era óbvio que nós tínhamos visto o que ele estava fazendo.

- Tudo bem Marco - Anthony garantiu. - Nós nos atrasamos um pouco.

- A culpa foi minha - expliquei. - Desculpe te fazer esperar.

- Não tem problema Srta. Banks.

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- Elisa - murmurei. – Por que ninguém pode dizer o meu nome?

Vi Anthony dar um meio sorriso antes de entrarmos no carro.

- Pra onde estamos indo? - perguntei depois de uns minutos de silêncio.

- Uma clínica especializada em inseminação artificial e obstetrícia, tenho uma amiga lá com quem já tinha falado sobre a minha ideia. Ontem contei a ela sobre a nossa... - ele hesitou por um instante - Situação, então não se preocupe ela sabe que não temos nenhum envolvimento romântico nem nada parecido.

Assenti sem muito entusiasmo e passei o resto da viagem refletindo sobre a loucura que eu estava fazendo, Lena provavelmente me mataria quando descobrisse e Miguel perguntaria se eu estava louca, mas eu não podia mudar de ideia, já tinha decidido, e foi com esse pensamento que aceitei a ajuda de Marco para sair do carro em direção ao prédio incrivelmente bonito e bem iluminado, ele tinha uma fachada vermelha e branca onde se lia: Clínica Vida Nova.

Segui Anthony pelo saguão, não haviam muitas pessoas a essa hora da manhã, só alguns funcionários e dois casais com mulheres visivelmente grávidas e uma outra que estava sozinha e parecia tão grávida quanto eu, ela sorriu pra mim e eu a cumprimentei de volta, só então me tocando de que ela provavelmente estava ali tentando ter um bebê.

Anthony se aproximou da recepção e sorriu para a moça atrás da bancada, ela corou e eu revirei os olhos, tudo bem que ele é um gato, mas precisa disso tudo?

- Gostaria de ver a Dra. Stuart - ele disse sorrindo. – Sou Anthony Whitmore, tenho hora marcada.

- Claro, Só um instante - ela disse melosa conferindo alguma coisa no computador e logo depois sorriu pra ele de volta. - Ela vai recebê-lo agora, pode subir.

Anthony assentiu pra ela e foi em direção ao elevador, eu o segui enquanto começava a me perguntar se essa era realmente uma boa ideia.