A Cidade do Sol

Inconsolável.


Não demorou até que anoitecesse. E como se já não bastasse seu nome, Amaldiçoado se amaldiçoou mais uma vez por causa do seu sono. Dois minutos após o pôr do sol e ele já se sentia sonolento. Lentamente diminuiu a velocidade, até que sentou-se na grama, e então deitou-se, e dormiu se xingando.

...

Só acordou no final da madrugada, naquele cinza antes do amanhecer. Percebeu logo que estava com febre. Mais uma vez se xingou.

Amaldiçoado andou seguindo os trilhos até que chegou em uma bifurcação. Pouco antes dela, uma galinha havia sido amarrada. O trem passara por cima dela e esmagara sua cabeça.

Chorando pela morte da coitada, o monstro de penas ajoelhara-se perante os trilhos, sozinho e inconsolado.

O meio monstro se aproximou da cena e encarou os dois: a figura morta e o desconhecido lamentando sua perda. Pensou em algo pra dizer. Lembrou do pai que esmagou.

O que diria?

Amaldiçoado já havia sido como aquele maldito trem, guiado pela Morte para tirar a vida de alguém. O que a Morte diria para consolar quem a odiava?