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meu refúgio e o (meu) dilema do afeto


meu refúgio e o dilema do afeto

Sinceramente, ela está perdida. Não sabe como começar, o que inserir no meio e qual seria a conclusão propícia, porém transformar a sua angústia em texto sempre foi chave para iniciar as mais esclarecedoras poesias, portanto aqui ela está. Computador a frente, o suéter verde oliva a aquecendo enquanto o cachecol roxo cai por sobre o seu pescoço, esquentando sua turbulenta mente.

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Primeiramente, ela diria com humor, fora Temer e, então, iria ao assunto, mas precisa chegar nele sem enrolação ao floreios como se vê fazendo, pois quando escrever, ela sabe o efeito: Transformou em realidade fictícia o que já está tomando conta de sua imaginação.

Em parte culpa a fértil criatividade, afinal se deseja tanto conversar com alguém, mas não o faz, cria as engraçadas e mirabolantes conversas que anseia por ter. O problema é que ela não dissocia disso da imagem dele e, sabe que fatidicamente se encontrará afeiçoada pela sua caricatura, o que deseja ter e não o que é.

Isso apenas aumenta a sua ansiedade que pode variar de dosagem, mas raramente a deixa sozinha no seu palácio mental. Ela quer tanto inciar uma conversar, porém se for ela a dar o primeiro passo não seria um tanto atirada, evidente seu interesse por um bom papo, umas risadas verdadeiras? E se a conversa der errado? Ela diria que precisa aprender a lidar com histórias sem conclusão, mas os livros que lia desde criança a perseguem. Tormento que a impede de mandar um simples "Oii!".

Tudo começa, e ela sabe, com a semente plantada uns meses atrás sobre como ele possivelmente gostava dela. É estranho como o interesse alheio despertou o seu e, provavelmente as especulações eram erradas, porém aquilo já se transformou num tiro que saiu pela culatra e a atingiu. Triste realidade, ainda mais para uma pessoa poética como ela que consegue romantizar sorrisos espontâneos e dedos que encostaram acidentalmente em suas costas.

E então, subitamente, vem o abraço. Ele surge no começo da parte dele, e nunca volta, até que ela sente uma urgência. Aquilo precisa acontecer, algumas pessoas se despedem com acenos, palavras, mas há certa necessidade de passar mãos pelo pescoço e fechar os olhos. Sentir a curvatura da espinha alheia, a envolvendo e ronronando como um gato sobre as suas costas, sorrisos. E ela se perde entre os longos braços e aquilo é uma maldito clichê. Já contei como ela os detesta?

Algumas pessoas se beijam e apelam ao sexual, entretanto, ela não está interessada naquilo com ninguém, nem consegue estar. Amores são tão raros, pois primeiro conhece o ser bastante para se sentir confortável, mas há algo em seu sorriso que faz com que um surja em sua face e em seus alegres olhos que a impelem a buscá-lo na sala. Ela quer tanto sentir e isso a desestabiliza ainda mais (se possível!), afinal estaria mesmo cativada ou apenas desesperada por se cativar?

E aquilo é agonizante, pois mal o conhece, mas sente a necessidade de encostar, elétrons repelindo elétrons, e ah céus, ela não sabe explicar e nem consegue falar com ninguém sobre, pois do quê adiantará disso nessa realidade ontem tudo se reduz a quem quer pegar quem? Ele mesmo assumirá isso de seu interesse, portanto como explicar sem se rotular e (auto)confinar-se numa caixa de expectativas, a sua suposta assexualidade ou demissexualidade ou enfim, a falta de encaixe com o status quo? E isso porque já cria planos onde teria que explicar ou falar sobre, não é? E a ilusão só cresce. Não se entende, os outros muito menos poderiam o fazer, quem ouse tentar acabará sendo o próprio iludido.

Ela busca a escrita como um refúgio, mas ao mesmo tempo em que se distancia quando usa a sua querida e amada terceira pessoa do singular, aproxima-se mais do que tudo e se liberta: aquilo não é ela mais, mas um versão elaborada e feita para os outros se identificarem. Escrever sobre o que sente é sua libertação e condenação.

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Não sabe mais o que sente ou mesmo como considerar os seus sentimentos, porque é claro que ela provavelmente se fez personagem e aqui jaz a sua pessoa finalizando o capítulo.

A confusão ainda reina em sua livre cabeça que nada por entre situações hipotéticas, em breve a se apaixonar por o seu próprio personagem, consciente do erro, inevitável dilema.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.