Até As Últimas Consequências - Rota Reversa
A meio-fio
Sugestão de trilha: Shingeki no Kyojin OST – Counterattack Mankind
Edgar estava com os olhos fechados, a cabeça abaixada esperando a sua sentença. Uma garoa fina caia sobre ele, o que o deixava mais melancólico. Silêncio. Em um momento, pensou: “Por que ela demora tanto? Acabe logo com isso!”. Então, ouviu um som abafado de algo sendo encravado na terra.
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!― Levante-se, Edgar!
Evidentemente era a voz de Morrighan. Ele abriu os olhos e mirou do lado. E lá estava ela, a Espada Merrow. Levantou-se sem entender o que estava acontecendo.
Encarou com ar de dúvida a Rainha das Asas Negras. Ela sorriu para ele e disse:
― Não vou desperdiçar uma vida que precisa enfrentar ainda muitas missões... Vamos! Apanhe e a guarde!
E assim, ele o fez. Ela o contornou e seguiu até a Freya. Por um momento pensou que estava sonhando, ou que fosse apenas imaginação. Atreveu-se, então, a falar:
― Mas...
Nesse momento, Morrighan se posicionou ao lado de Freya.
― Não é hora de você morrer, Edgar.
― Na verdade, você quis me matar do coração, não? – ralhou Freya. – Onde já se viu! Por um momento achei que iria arrancar a cabeça dele!
― Freya! Por favor, é sua vez!
A Senhora das Valkyrias a olhou, furiosa e continuou no mesmo lugar. Morrighan suspirou e disparou:
― Vamos! Eles têm pouco tempo...
― Olha só o Raven! Ele ficou extremamente pálido! – recriminou a mulher.
O mordomo tentou disfarçar que a conversa não se referia a ele.
― Freya...
― Tudo bem! Tudo bem! Edgar, fique aí! – ordenou.
Ela caminhou até o rapaz, enquanto o conde tentava entender o que estava acontecendo. Inclusive olhou para Raven, como quem dissesse: “Por favor, me explique o que está ocorrendo!”.
A Senhora das Valkyrias se aproximou e orientou Edgar:
― Feche os olhos e confie em mim.
― O que você vai fazer? – indagou.
― Confie em mim.
Ele cerrou os olhos e sentiu a sua mão miúda percorrer da sua testa até seu nariz no sentido horizontal.
― Agora... Abra os olhos. – ordenou.
Ele se encontrou no centro de Londres. Carruagens, indo para lá e para cá. Assim como o vaivém das pessoas. Ambulantes, burgueses, comerciantes que faziam a cidade pulsar. Ele olhou ao redor, num giro de 360 graus.
― Reconhece onde está, não? – indagou Freya.
― Sim! Essa é a minha cidade natal. – ele respondeu.
― Perfeito! Estamos horas antes do assassinato de Lydia. – explicou. - Você está naquela direção, na reunião com a Rainha. Enquanto estava cumprindo seus afazeres, acontecia algo, naquele sentido. – apontou para a Abadia de Westminster.
Quando Edgar se virou em direção ao local, se viu, como num passe de mágica, na frente da Abadia. Não teve tempo para ficar admirado, pois a ouviu indagar:
― Pode sentir a vibração do local?
― Sim! – respondeu com olhar assombrado.
E dos seus pés, percebeu um tremor que vinha da terra, como as entranhas do solo fossem rasgadas. E ao longe, reparou que uma onda negra crescia com garras como fosse uma ave de rapina gigantesca, tomou conta do ambiente quase esmagando o ânimo das pessoas. Algumas pareciam ter dificuldade de respirar.
― A Corte de Unseelie! – disse sobressaltado. – Mas, o que ela está fazendo no centro de Londres a essa hora? Ainda é cedo demais!
― Ela aparece apenas à noite e nem em número tão grande assim, não é? – falou Freya, como pedisse sua afirmação.
― Exatamente! Sem contar, que esse tipo de elemental tem horror a igrejas, catedrais....
― Edgar, veja! – Ela apontou para trás dele.
Quando o conde voltou-se para direção que a Senhora das Valkyrias indicou, sentiu sua garganta secar, seu coração disparar e uma raiva insana nascer dentro de si.
Dentro de uma carruagem, que aparentava de uma pessoa comum, o viu... O seu nome? Ulysses! O filho bastardo de Julius Ashenbert, o peão do Príncipe da Calamidade.
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!Edgar voltou-se para ela e indagou:
― Foi ele, não foi?
― Sim!
― Mas, ele estava morto!
― Rá! Até parece que você não o conhece... Ulysses e seus truques!
O jovem conde percebeu que o carro andava com pressa e ia em direção à sua mansão.
― Posso matá-lo agora? – perguntou a ela.
― Não! Infelizmente! Estamos em um período de tempo que você não pode interferir!
Ele fez um gesto inconformado e irritado:
― Por que ele fez isso?
― Edgar, ele quer a Espada que você carrega!
― E como ele sabia que estava fora de casa?
― Veja!
Um garoto com óculos, aparentando uns 10 anos, passeava em frente ao local de reunião que a Rainha patrocinou. Ele vendia flores e balas. Definitivamente era:
― Jimmy!
― Sim!
― E o que faço agora? – perguntou irritadíssimo.
Freya não respondeu. Chegou perto dele e novamente passou a mão da testa ao seu nariz. E num lapso, ele estava de volta ao campo de batalha, com Morrighan, Raven e as Valkyrias o observando.
― Edgar, então já sabe quem foi, não? – indagou a Rainha das Asas Negras.
Ele, que procurava se controlar, respondeu:
― Sim!
― Pois bem, vou explicar para você os pormenores.
― Por favor!
Morrighan se aproximou dele e de Freya e começou:
― O que sabemos é... Ulysses planejou matar Lydia. Para isso, ele reuniu quase toda a Corte de Unseelie. Sabia que esse era o ponto fraco dela.
― Por isso, que ela não percebeu... – ele disse quase desconsolado.
― Sim. – e ela continuou: ― Acredito que o deixou mais surpreendido é que...
― Ele não havia morrido?
― Pois então! Acredito que você se lembrou...
― Fui morto e Lydia foi me resgatar, é isso?
― Então, você se recordou o que aconteceu com sua vida em outra dimensão.
― Mundos paralelos... – ele disse como fosse um devaneio.
― Isso, Edgar! Ulysses o assassinou, Lydia e Raven passaram por provas, até chegar a você.
― Parece que é uma lembrança tão longínqua. Como fosse um sonho que você se recorda em pedaços. – desabafou.
― Só que... Como em todo acontecimento, principalmente os catastróficos, há determinados seres que podem girar as engrenagens dessas situações. Vocês são esses seres. Porém, Ulysses também tem esse poder.
― O que não deveria! Definitivamente, não deveria! – reclamou.
― Quando ele seguiu a rota inversa da situação, o que aconteceu com vocês foi como o ajuste de ponteiros de um relógio. Volta-se à situação inicial em outro contexto.
― Vidas paralelas? Mas, todo mundo tem isso? – indagou.
― Nem todo mundo. No entanto, como vocês trabalham com seres mágicos, elementais e situações que uma pessoa comum não lida, podem sim, sofrer com isso. Ou mesmo, como Ulysses, pode reverter a situação.
― Bom, ele reverteu a situação a seu bel-prazer. – observou irritado. E continuamente indagou: ― Porém, lembro-me vagamente que Hell o tinha levado. Ela não o levou?
― O levou, mas... Como disse, ele conseguiu com os elementais do tempo, o ponto-chave para retornar à via reversa. E assim, colocou em prática seu plano B.
― O que sabemos até agora? – era Freya que falava. ― Ele abasteceu o revólver com as balas revestidas com a saliva de Jimmy, que como você sabe, é um cão espectral. Assim que Lydia foi atingida, o Sol estava se pondo e ela perdeu muito, muito sangue.
― Meu Senhor! Isso me lembra quando fui ferido por Jimmy, na ocasião que fomos resgatar a Banshee. Sem Sol, o sangramento não para. – disse exasperado.
― O efeito é devastador, rápido demais. Você se lembra de que por muito pouco não morreu? – disse a Senhora das Valkyrias.
― Lembro perfeitamente! E por isso mesmo, não teve tempo da utilização da Espada Merrow. Isso significa que...
― Sim! A espada a salvaria, mas acreditamos que Ulysses previu isso. E, portanto, revestiu as balas com a saliva de Jimmy. – completou Freya.
― Mas, como ele conseguiu reunir o maior número de seres da Corte Unseelie? Apenas com o poder dele? – perguntou Edgar.
― Pois bem, ele negociou com as fadas, leprechauns, ondinas e salamandras, de modo que eles reinariam sobre a Inglaterra. Uma das práticas que ele liberou foi as changelings. Ou seja...
― Os elementais escolheriam quais bebês humanos virariam seus filhos e, no lugar, os pais criariam suas proles, como fossem pessoas normais! – completou Edgar horrorizado.
Sugestão: Shingeki no Kyojin OST – Rittai Kidou
― Na altura do campeonato, você já entendeu qual seria o destino de Aurthur.
― Ele viraria um changeling? – indagou mais assustado ainda.
Morrighan deu um passo à frente com mais informações que deixariam os cabelos de Edgar em pé.
― Não exatamente isso... Ulysses faria, com a influência dos elementais negros, que você caísse em depressão, se matasse e criaria o seu filho como fosse dele e o tornaria...
― Ele voltaria à ideia maluca de reunir uma organização como a do Príncipe? – a pergunta do rapaz saiu tremida, como temesse a resposta.
― Edgar, na altura do campeonato, você compreendeu qual seria o verdadeiro foco de Ulysses?
― Se tornar o novo Conde Cavaleiro Azul e o novo Príncipe?
A resposta foi o silêncio das duas mulheres.
― Então, como fairy doctor, Conde Cavaleiro Azul e o novo Príncipe, ele teria um poder absurdo! O corpo dele não suportaria!
― E aí que Aurthur entraria! Ulysses o faria como o novo sucessor do Príncipe, assim como aconteceu com você. Implantaria as memórias, o treinaria e o disciplinaria para exercer seu papel. – Morrighan explicou.
Os olhos de Edgar se arregalaram ainda mais. O rapaz agitou-se quase de forma descontrolada.
― Então, pense, Edgar. Por hora, respire e nos escute... – solicitou Freya. ― O calcanhar de Aquiles de Ulysses é a Corte de Seelie...
― Os elementais mais próximos dos humanos! – acrescentou. ― Que é o forte da Lydia. Isso é insano!
― Completamente. – disse Morrighan. ― Ajuntando as peças, ele criaria uma guerra entre as duas Cortes, onde aí, ele poderia tirar três peças importantes do equilíbrio entre esses dois reinos...
― Não me diga que... Sereia, Lugh e Tytânia...
― Sim! Eram os próximos alvos de Ulysses.
― Mas, é audacioso demais! – replicou o conde.
― Audacioso? Para ele é a última cartada e sabe também que o seu calcanhar de Aquiles...
― É a Lydia! – respondeu Edgar. ― Agora entendi.
― Por isso, o único que pode pará-lo e conhece de todas as ramificações, tem tanto poder de negociação e espírito de liderança como ele é você, Edgar! – afirmou Morrighan.
― Portanto, – completou Freya. ― queremos a cabeça dele! Ele está criando um colapso entre os elementais que fugirá de nosso controle! E se isso se exteriorizar para outras nações, ele poderá tomar o poder de todas elas. Sabe o que é isso?
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!― Mas, sou humano. Não tenho tanto poder assim! – replicou o rapaz.
― Por esse motivo que perdeu para mim, Edgar... – debochou Morrighan.
O jovem conde a olhou interrogativo.
― Edgar, não se menospreze! Você sabe que ninguém impunemente chega até onde você está agora se não tiver merecimento para isso. E carregando a Espada Merrow.
Ele suspirou, tomou fôlego e indagou:
― Então, como faço para pegar esse desgraçado?
― Bom... – começou Morrighan. ― Antes de passar para sua próxima fase, e a mais importante, preciso que você esteja preparado. Por isso, vou te indicar alguém que poderá treiná-lo para esse embate final. Alguém que poderá lhe passar alguns conhecimentos imprescindíveis.
A Rainha das Asas Negras virou-se para Freya e disse:
― Acho que você já percebeu para onde deverá levá-lo, não?
― Quem? – ela indagou quase ingenuamente.
― Freya...
― Oras, me fale, Morrian...
Morrighan entortou a boca quase zombeteira porque sabia dos últimos desafetos entre os dois.
― Diga, Morrian! Qual é o suspense?
― Odin, minha cara!
― Odin??? Aquele energúmeno que de tempos em tempos fica lá pendurado em uma árvore dizendo que vai buscar conhecimento? – perguntou Freya possessa.
― Esse mesmo! E ele não é energúmeno!
― Ah, nem pensar! – ela começou a caminhar se afastando dos dois, enquanto era assistida pelas suas vassalas.
― Freya! FREYA! – gritou Morrighan.
A Senhora das Valkyrias parou e se virou para trás com o olhar fuzilando.
― Não quero nem saber as suas rixas com ele! Muito menos sobre essas brigas tolas! Você vai sobrepor suas desavenças idiotas com ... – reclamou Morrighan.
― O pendurado!
― Não, senhora, com o Odin! E justamente, em uma época perigosa como essa vai rejeitar ajuda?
Freya bufou e notou que a atenção de todos era direcionada para ela. Enquanto isso, Edgar assistia a cena, com os braços cruzados, à espera de uma resolução e bem contrariado. Até que ele se manifestou:
― Desculpe, mas se vocês ficarem brigando, o tempo vai correr e aí sim a catástrofe toda irá acontecer, não?
Uma olhou para a outra. Freya abaixou a cabeça contrariada, observada por uma Morrighan insistente.
― Está bem, vai! Eu o levo! Senão vocês vão passar pelo resto da eternidade falando que a trupe de Ulysses dominou tudo!
― Boa menina! - ironizou Morrighan.
Edgar e Raven demonstraram meio-sorriso. Freya tinha sido vencida. Pelo menos por hora...
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