Bem vindos

O som do relógio estava começando a incomodar os ouvidos da Grace, que fez uma careta ao perceber que se não se levantasse o mais breve possível, provavelmente perderia a hora exata de chegar antes dos alunos e de colocar seu nome no quadro, deixando as coisas preparadas quando os novatos fossem entrar.

Arrumou seus cabelos negros, jogando-os por cima do ombro e se levantou, pegando alguns papeis que havia espalhado pela mesa da sala onde os professores ficavam antes das aulas e recolheu suas coisas, pendurando a bolsa azul em seus braços e foi-se em direção ao corredor, caminhando o mais tranquila possível, quase contando os segundos em sua mente até que pudesse chegar na sala. Os corredores do instituto eram bem confusos, o que acarretava sempre um perdido no primeiro dia, o que a fazia prender o riso dentro de sua garganta e manter a pose profissional.

Estava sorrindo consigo mesma ao passar por um dos vidros postos nas paredes e ver seu reflexo digno: trajava sua calça negra de cós alto, uma blusa azul escuro que era curta, porém terminava no mesmo local que sua calça, consequentemente escondendo sua barriga; nos pés tinha botas com o salto alto, quebrando totalmente o clima certinho que o instituto tinha como padrão, terminando com a chave de ouro: sua tão amada jaqueta de couro preta.

Parou de se analisar assim que seu celular vibrou em seu bolso, percebendo que tinha posto alarme para o caso de se distrair com qualquer outra coisa e acabar se atrasando, o que definitivamente a levou a pensar que havia previsto o futuro, começando a andar o mais rápido possível até entrar na sala e poder relaxar, ainda tinha cinco minutos contados.

Pegou a caneta preta que, para ela, era bem tóxica, e começou a escrever em uma letra cursiva seu nome no quadro: Thalia Grace Di Ângelo, professora de Física Experimental I.

Suspirou e assim fechou o objeto, depositando-o em cima da mesa e se virando para a ampla sala vazia, sentindo seus tímpanos reclamarem com o sinal agudo e estridente plena sete da manhã, dando-se início as aulas, fazendo-a passar as mãos por seus cabelos novamente e esperar para que os novatos entrassem.

Uma série de murmúrios começaram a preencher o corredor, assim como passos descoordenados, fazendo a morena dar uma risadinha e saudar sua primeira aluna com um sorriso branco e mostrando toda a simpatia que sua pessoa tinha, mesmo querendo rir mais ainda com a cara surpresa que a garota tinha feito ao vê-la, provavelmente estranhando suas roupas.

Depois de muitas saudações, ela sentiu o alivio preencher seu corpo assim que viu que não havia mais alunos para entrar e muito menos algum perdido, fazendo-a pigarrear e caminhar até a frente da mesa de madeira, encostando seu quadril ali, recebendo a atenção por completo.

— Sejam muito bem-vindos ao Instituto Tecnológico de Massachusetts, como puderam ler no quadro, meu nome é Thalia Grace e eu estarei dando aula de Física Experimental I para vocês, suponho que já tenham ouvido meu nome por aí se estão na área da Astronomia por pelo menos um mês, não?

Muitos assentiram, agora, fazendo o sorriso da professora se abrir mais ainda, totalmente orgulhosa de si própria de saber exatamente onde havia conseguido chegar através de sua inteligência.

Antes que retomasse sua fala, de soslaio ela viu um vulto negro passar pelo arco da porta de sua sala, identificando logo quem era, mas fingiu não se importar e apenas juntou as mãos na frente do corpo, olhando novamente para a sala, que, agora, tinha sua atenção desviada para o homem atrás de si.

— Fala sério...- começou, desencostando o quadril da mesa e rolando os olhos, se virando para ele, que estava com sua caneta na mão e escrevia alguma coisa embaixo de seu nome, o que a fez arregalar os olhos levemente ao ver o que estava escrito:

“Nico Di Ângelo, marido da senhorita Grace e professor de Cálculo I”.

— Di Ângelo! – Repreendeu em voz alta, juntando todas as suas forças possíveis para reprimir o sorrisinho que queria invadir seus lábios delineados pelo batom vinho que usava.

— O que, Grace? – Ele se virou com um sorriso debochado no rosto, fazendo Thalia rolar os olhos novamente e procurar por seu apagador, querendo o expulsar dali, mas sabendo que não teria outra saída, justo que eles dariam aulas juntos. – Bom dia, turma.

Foi ouvido um coro como resposta, fazendo-a dar uma risada interna.

— Agora que já se apossou e já fez um showzinho, o que acha de sair daqui?

— É claro, meu amor...- começou, porém fez questão de puxa-la pela cintura e dar-lhe um selinho, deixando a professora um tanto constrangida e querendo matar seu marido.

— Vocês são fofos! – Uma das alunas, se Thalia não se enganara, a primeira que entrou, levantou a mão e se permitiu falar, juntando as mãos em seguida perto do rosto com um sorrisinho sonhador que ela reconhecia de longe, visto que sempre teve ele consigo.

— Muitos falam isso, crianças. – Nico começou, fazendo a esposa negar em reprovação e se desvencilhar dos braços dele, caminhando para trás da mesa e colocando as mãos na madeira, deixando seu peso ali e aguardando ele tomar as rédeas da aula. – Porém, vocês não fazem ideia do sacrifício que foi para arrancar pelo menos um beijinho dessa garota.

— Di Ângelo! – Repreendeu novamente, desaprovando o que ele estava dizendo, porém, achando tudo descontraído e divertido para pará-lo.

— Crianças? – Um menino se manifestou, dando uma risada contagiante, fazendo todos rirem em concordância, enquanto Nico colocava a mão na cintura, assumindo uma pose incrédula.

— E lá vai ele...- A Grace murmurou consigo mesma, dando uma risada interna e esperando que ele desandasse a falar.

— O que? Eu gosto de chamar os outros de crianças, ainda mais vocês, mesmo estando na faculdade, sempre vou chamar vocês assim! E agora por conta de terem dado risada, vão ser criancinhas!

— Nico Di Ângelo, chega. – A professora tomou postura novamente, reprimindo a risada em sua garganta e apontando para a porta com a cabeça, quando ele a olhou.

— Fala assim, mas sabe que eu vou dar aula com você. – Ele mostrou a língua para ela, ignorando totalmente a ordem da mulher, fazendo-a se controlar para não mostrar a língua de volta, sabendo no que iria acabar se o fizesse.

— Vocês dão aula juntos? – Outra garota, levantou a mão e perguntou, fazendo Thalia suspirar.

— Infelizmente, sim, eu dou aula com ele, faz muito tempo.

— Infelizmente? – Nico estalou a língua e negou em reprovação. – Fala sério, Grace. Você me ama.

— Se eu casei com você né, suponho que teria que amar para que isso acontecesse.

— Touché.

— Sem querer ser intrometida nem nada, mas desde quando isso começou? – A mesma garota que fizera a última pergunta se manifestou novamente, observando o casal de professores se entreolhar.

— Ela era um saco...não que ainda não seja, né? - O Di Ângelo começou, fazendo-a rir e dar-lhe um tapa no ombro, pronta para tirar satisfação com isso.

— Nico! Eu tinha que dar a introdução na matéria, eles não precisam ouvir o jeito que você sempre foi insuportável e metido.

— Não, você não tinha. Sabe muito bem que as ordens da direção é que nós deixemos os alunos situados e crentes das coisas do colégio, portanto eles não precisam ter a introdução hoje, e sim, amanhã, assim como foi dito. – Retrucou com um sorriso crescendo em seus lábios, vendo-a xinga-lo baixinho.

— Que droga, porque você tinha que prestar atenção nisso?

— Assim você foge da sua pose profissional, mocinha.

A Grace apenas suspirou cansada, fazendo um sinal para ele começar logo a história que tinha certeza que estava empolgado para contar, sentando-se em sua cadeira e ficando confortável, vendo os alunos se remexerem em seus assentos em busca de algo mais confortável também.