Damn Cupid

The Day I Signed My Death Sentence.


Chapter X – O Dia Em Que Assinei a Minha Sentença de Morte.

POV Lily Evans

Vim o caminho inteiro em silêncio, bom, quase em silêncio já que meu pai tentava furtivamente puxar conversa comigo. Não vou mentir para vocês, eu estava um pouco chateada. Procuro ser o mais compreensiva possível com a filosofia dele e com seus métodos de tentar me proteger. Afinal, é o dever de um pai fazer isso para com seus filhos. Mas, existe uma linha tênue que separa ao mesmo tempo em que difere proteção de confiança. E indo me buscar espalhafatosamente de carro depois de já termos combinado que eu voltaria para casa de ônibus, claramente demonstrava que Virgílio Thomas Evans não estava depositando confiança em sua filha, que por ventura vinha a ser eu.

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Ele sabia disso, sabia como eu estava me sentindo, mas mesmo assim agiu como se nada tivesse acontecido. A minha sorte, talvez, é que o estacionamento do colégio não suporta absolutamente todos os alunos de Stewart, e o barulho alheio ao redor impediu que a maioria escutasse meu pai ordenando para eu entrar no carro como se fosse uma menininha de dez anos que tinha feito alguma burrada ou que precisava de máxima segurança para não cometê-la.

— Então, gostou do primeiro dia? – pergunta mais uma vez quando já estávamos a uma quadra de casa.

— Gostei – repito sem demonstrar feição nenhuma e tampouco interesse em continuar a conversa.

— Por que tão monossilábica? – solta claramente desgostoso com minhas respostas. – Algo errado?

Mas é quando ele finalmente estaciona o Fiat Uno na garagem que eu resolvo desabafar. Por mais que não quisesse, por mais que eu tentasse parecer indiferente com tudo isso, eu simplesmente não conseguia.

— Pai, precisava mesmo o senhor ter ido me buscar hoje? – indago com o cenho franzido em frustração.

Ele não responde de imediato, pegando todos os seus pertences de dentro do carro, em um ritmo propositalmente calmo. Eu o acompanho para fora do veículo ainda esperando a sua explicação.

— Não vejo nada demais um pai querer trazer a filha do colégio. É algo comum, sabia? – responde com o semblante despreocupado – Está com vergonha de mim? – como eu já sabia, ele estava tentando virar esse jogo.

Eu rio sem humor.

— Pai, a questão não é essa e o senhor sabe. O senhor queria se certificar de que eu não estava aos amassos com ninguém na saída, muito menos com más companhias – digo para suas costas, pois ele não fica para conversarmos olho no olho já começando a adentrar nossa casa. – Pensei que confiasse mais em mim – eu estava claramente indignada.

— Lily, eu confio em você – garante me fitando – Não confio é nos outros.

O velho argumento. “Eu confio em você, nos outros é que não” por incrível que pareça sempre foi uma frase que me calou. Não conseguia contestá-la e meu pai sempre vencia uma discussão, ou o que quer que fosse o indício de uma. Tal qual como agora, já que depois de dizer isso, meu pai seguiu cumprindo seus afazeres de modo natural.

Tento não pensar sobre nossa conversa ao decorrer do dia, afinal eu já era para estar acostumada com isso. Um pensamento animado toma minha mente e eu deixo-me levar por ele: a minha aula de citologia hoje à tarde. Como os alunos inscritos nessa matéria só a tinham três vezes por semana, o professor Rubens queria começar o quanto antes. Resultado: nós já teríamos aula hoje. Céus, e eu nem tinha passado na biblioteca para checar se tinha alguns dos exemplares exigidos.

Se bem que Rubens não costuma usar os livros didáticos logo de início, se o conheço como acho que conheço, ele vai começar com pequenas amostras e com algumas curiosidades.

Confiro as horas em meu celular e percebo que já são 13h32min e eu tinha menos que meia hora para estar de volta à Stewart se eu não quisesse me atrasar. Tomo um banho rápido e refrescante, pois o sol da tarde pareceu triplicar de temperatura. Depois que termino a ducha, enrolo a toalha em volta de meu corpo e vou para o quarto recebendo o bafo quente de volta em minha pele. Gosto bastante do verão, mas admito que fico um pouco indisposta para estudar nessa época do ano, a não ser que um ar-condicionado esteja ligado em mínimas temperaturas bem próximo de mim.

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Ponho um vestidinho simples, amarelo com rasteirinhas em detalhes da mesma cor. Deixo minhas madeixas molhadas cascatearem pelas minhas costas, e deixo que brinquinhos de pedras brancas adornem minhas orelhas. Eu tinha que correr.

— Já saindo filha? – indaga minha mãe enquanto varre a casa.

— Sim, tenho aula extra de citologia hoje – respondo dando-lhe um beijo estalado na bochecha. – Até mais tarde.

— Até – ouço às minhas costas e não me despeço de meu pai visto que ele já saiu para trabalhar.

Meu pai ocupava o cargo de suboficial da marinha e era escrevente. Trabalhava sempre, tendo poucas horas para descanso e mesmo assim ainda dispunha de seu tempo para ir me buscar na escola para ter certeza de que eu estava segura. Eu não me conformava com isso.

Minha mãe não tinha um emprego fixo, quero dizer, ela era uma ótima doceira e fazia disso um hobbie, até que eu e papai a convencemos de vender seus docinhos, assim ela arrumava um compromisso (já que sempre se sentia entediada em casa) e ajudava também com as despesas da casa.

Eu os amava, mesmo que às vezes não compreendessem os meus motivos. Mas acho que essa é a característica principal de uma família. Amar mesmo com as diferenças. Eu pensei sobre isso o caminho inteiro até a escola dentro do ônibus. Estava disposta a reconsiderar os motivos de meu pai e não ficar mais chateada com a situação de hoje mais cedo.

O transporte me deixou em frente à escola, que pelo horário, encontrava-se repleta de crianças correndo e brincando nos jardins aguardando o início dos períodos. Eu adorava vê-las correr, pessoalmente tenho certo apreço por crianças. Sempre gostei. Estou tão distraída as observando que nem percebo uma voz insistente chamando meu nome.

— Lily! Tá surda?

Viro e me deparo com Mary Macdonald ao meu lado. Esqueci-me de dizer que ela também estava na mesma turma que eu, mas não somos tão próximas assim.

— Oi Mary – cumprimento com um sorriso. – Desculpe, eu estava distraída.

— To vendo. Veio fazer aula extra de citologia também? – pergunta enquanto caminhávamos para dentro do colégio.

— Vim. Não sabia que tinha se inscrito – confesso a encarando. Mary não tem feitio de gostar de estudar afundo a biologia.

— Ah, pois é. Meus pais resolveram apertar o meu currículo esse ano... Fazer o que? – diz conformada.

É pelo menos nisso meus pais sempre me deram total liberdade para eu estudar o que quisesse e também cursar o que mais despertasse o meu interesse na faculdade. Nunca fui pressionada quanto a isso.

Caminhamos direto em direção ao laboratório um, no segundo piso, visto que era lá que Rubens utilizava para dar suas aulas e eu estava realmente convencida de que ele não pediria o material agora.

Diferentemente do horário da manhã, não precisávamos esperar o sinal tocar para o início, pois o horário principal era o das crianças e esse não coincidia com o nosso.

Ao chegarmos, os poucos alunos que se matricularam já estavam sentados nas bancadas duplas.

— Hm, parece que minha dupla não veio. Quer fazer comigo? – Mary me pergunta já sentando em sua bancada.

— Claro – digo sentando-me junto dela.

Não me importava de trabalhar sozinha, mas sempre era bom ter companhia. Ela despeja sobre a mesa seus livros novos já comprados e eu anoto os títulos para procurar na biblioteca depois.

Dado alguns minutos, o professor Rubens adentra a sala com seu costumeiro jeito empolgado.

— Boa tarde, meus pupilos – cumprimenta arrancando risos de alguns estudantes. – Nossa, tem mais do que eu imaginava.

— Estamos muito ansiosos para começarmos o semestre estudando sobre as células – comenta uma aluna atrás de mim.

— Fale por você, querida – Mary sussurra ao meu lado, porem alto o bastante para eu ouvir. Sorrio brevemente para não parecer tão antipática.

— Fico feliz em saber disso – ele despeja sua pasta sobre a mesa – Bem, fiquem despreocupados. Não vamos utilizar os livros hoje. Vou começar com pequenas amostras e curiosidades sobre as células embrionárias. – fala procurando alguma coisa dentro da bolsa – Eu trouxe um frasco mostruário para vocês, ele... Ora, onde é que eu coloquei? – diz essa ultima frase em um tom mais baixo.

— Algum problema professor? – pergunto notando a sua preocupação.

— Óh, parece que eu esqueci o frasco lá na sala dos professores... Que cabeça a minha – ele estapeia a própria testa e eu contenho um sorriso. – Ah, acho que... Lily, você se importaria de pegá-lo para mim?

— Claro que não, – digo já me levantando – Mas, acho que não vão me deixar entrar na sala dos professores e...

— Ah, não se preocupe com isso. Tome a chave e se alguém lhe advertir, diga que fui eu quem pediu. – profere entregando-me uma pequena chave de prata, presa junto de um pendrive e uma plaqueta com seu nome.

Saio da sala sorrindo com tal situação e caminho tranquilamente pelos corredores vazios, porém com as portas das turmas abertas contagiando o espaço com as vozes alegres das crianças em suas aulas.

Se me lembro bem, a sala dos professores deve ser no primeiro andar, penso comigo mesma enquanto desço as escadas. Sim, por mais que eu tenha estudado aqui desde o ensino fundamental nunca parei para pensar onde ficava a sala dos professores, porque, tecnicamente os alunos não podem entrar lá então, sua localização não despertava o meu interesse.

Ao dobrar o corredor, prendo totalmente a minha atenção a dois menininhos sentados no chão, aparentemente assustados.

— Ei, ei. O que aconteceu, meninos? – paro para interrogá-los e eles me fitam rapidamente em um sobressalto.

— E-eles roubaram nossas coisas. – gagueja o mais baixinho deles.

— Sim, roubaram nossos lanches e nosso dinheiro – complementa o outro.

— O que? – franzo o cenho, confusa – Quem fez isso?

— Os grandalhões do segundo ano – afirmam em uníssono e eu crispo meus lábios ao identificar os sujeitos.

Só havia dois “grandalhões do segundo ano” que teriam a cara de pau de fazer uma coisa dessas. Os repugnantes Avery e Mulciber e só de pensar que eles fizeram isso com os coitadinhos, sinto meu sangue ferver.

— Voltem para a aula crianças, eu vou resolver isso – digo embalada pelo sentimento de fúria. Eles rapidamente se levantam e eu sigo meu caminho, convicta de fazer alguma coisa. Não tinha nada em mente a princípio, mas eu precisava fazer algo.

— Toma cuidado, moça – diz um deles e eu o fito sorrindo, tentando transparecer segurança, porém em seguida colido com algo, ou melhor, alguém que me faz perder até o equilíbrio. Sério, deve ser o professor malhado de educação física porque, ô corpinho hein.

Caio para trás, porém não de encontro ao chão, pois braços firmes me seguram impedindo a minha queda, entretanto deixo a chave cair com a colisão.

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— Ah, me desculpe, eu não... – paro imediatamente de falar ao reconhecer o ser na minha frente – Potter? O que você tá fazendo aqui?!

— Boa tarde pra você também, Lírio – ele diz ainda me segurando.

Desvencilho-me de seus braços assim que ouço o incômodo apelido.

— Não me chame de Lírio! E, que seja... O que você tá fazendo aqui? – volto a perguntar desconcertada pelo seu toque repentino, ajeitando minha roupa.

— Treinando – responde displicente e percebo que ele acaba de sair do banho. Usava uma camiseta branca com seus jeans folgados azul escuro e segurava a jaqueta dos Stewfalcons por sobre um dos ombros com a mão.

— O que? Mas os jogos começam só daqui a duas semanas – estranho e o fito com os olhos semicerrados.

Ele ri.

— Fala isso pro treinador. Além disso, não estamos treinando fisicamente, estamos bolando estratégias de jogo – explica ajeitando a jaqueta no ombro.

Por que eu não estou surpresa?

— Você só pensa em futebol.

— E você só em estudar. Está aqui por causa de alguma aula extra, não é? – soa convencido e esperto.

Agora sim eu me surpreendo com o seu tamanho conhecimento sobre a minha pessoa e por me sentir tão previsível, mas tento não demonstrar.

— É o que acha? – pergunto indiferente abaixando-me para pegar a chave que jazia no chão até agora, porém ele tem a mesma ideia que eu e o faz mais rápido pegando-a primeiro.

Era só o que me faltava.

— Me dá a chave Potter – peço com o semblante sério.

Ele estende a mão em minha direção e eu faço menção de pegá-la quando Potter desvia do meu toque e ergue-a acima de sua cabeça.

— Potter! – exclamo incomodada e subo na ponta dos pés em uma tentativa falha de apanhar o objeto já que o infeliz estica ainda mais o braço, claramente se divertindo com a minha situação.

— Você é bem baixinha – comenta ele rindo observando minha dificuldade em alcançá-lo.

— Potter eu não tenho tempo para isso! Preciso ir atrás do Avery e do Mulciber! – explico voltando ao chão já com os pés doendo.

Ao me ouvir dizer isso o seu sorriso some imediatamente e ele indaga confuso:

— Por que precisa ir atrás deles?

Retiro meus cabelos do rosto recuperando o fôlego e o fito, exaurida.

— Porque eles fizeram uma brincadeira com algumas crianças – explico de uma forma rápida, poupando os detalhes.

— E qual é o problema de brincar com as crianças? – pergunta dando de ombros.

Ai, como ele consegue ser tão imaturo?

— O problema é que foi uma brincadeira de mau gosto e isso não se faz. Eles roubaram os lanches delas e também o dinheiro e eu tenho que impedi-los – falo voltando a tentar pegar a chave.

— E vai fazer isso com uma chave?

— Não! Com ela eu vou... – paro abruptamente de falar ao me lembrar do real motivo de eu estar aqui e agora. – Ah, meu Deus! O professor Rubens! – exclamo desesperada e Potter ri da minha mudança de humor. – Me dá a chave, Potter – quase suplico dessa vez.

— Me responde uma coisa antes – diz abaixando o braço. – Vai hoje à noite, não é?

— Você ainda pergunta? Mas é claro que não. – respondo incrédula por ele cogitar a ideia de me ver em sua casa em uma de suas festas insanas.

— Ah, qual é? Todo mundo vai – ele diz inconformado e eu cruzo os braços em frente ao peito.

— Lamento desapontá-lo, mas eu não sou todo mundo – digo com o queixo ereto.

— Eu sei disso e você vai – afirma ignorando completamente a minha frase.

— Não vou, não.

— Vai sim.

— Não.

— Vai.

— Tá bom, Potter. Se eu for à sua festa, você pode me chamar de Lírio sempre que me ver – proponho confiante querendo dar um fim naquela conversa.

Ele amarra a cara.

— Tá, você não vai – conclui afrouxando sem perceber a mão que segurava a chave, me dando a chance de pegá-la e assim eu faço, me contendo para não rir da feição de seu rosto. Desvio dele e rumo em direção à sala dos professores, porém não sem antes ouvir – Mas por via das dúvidas essa proposta tá valendo, okay? – pergunta e eu não o respondo. Sim, ela estava valendo, porém mal sabia ele que estava longe de se concretizar.

~*~

Depois que peguei o frasco com a amostra da célula embrionária e entreguei ao professor Rubens, eu expliquei o motivo do meu atraso, porém não contando o ocorrido com o último empecilho. Contei à Rubens sobre Avery e Mulciber e ele prometeu que iria remediar isso o quanto antes, deixando-me mais tranquila.

Meu breve encontro com Potter não impediu que eu tivesse total concentração na aula de citologia. Rubens apresentou as curiosidades mais incríveis sobre as células embrionárias e eu anotei tudo em meu fichário e de vez em quando emprestando as anotações à Mary. Não que ela precisasse da minha ‘permissão’ para isso, já que sempre olhava furtivamente para o meu fichário tentando copiar os dados importantes.

O final da aula chegou rápido e eu nem percebi o tempo passar. Depois de me despedir dos colegas eu fui em direção a parada do ônibus e não tive o desprazer de encontrar Potter no caminho. Ele já devia ter ido embora se preparar para a sua socialzinha insignificante. Junto com minhas amigas e metade de Stewart. Eu não acredito, com tantas coisas mais importantes para fazer como estudar, por exemplo, as pessoas preferem ir à festas em plena primeira semana de aulas.

Eu, porém, decidi fazer algo bem mais interessante: durante a aula o professor Rubens me contou que os exemplares da sua matéria não estavam disponíveis na biblioteca da escola, mas ele se solidarizou comigo e me emprestou alguns deles. Depois, durante a tarde, eu passei em uma livraria e comprei os que faltavam com o dinheiro da minha mesada. Resultado: eu me encontrava agora, nesse exato momento, em cima da minha cama com todos os livros espalhados ao meu redor, com um marca-texto na boca e o outro em mãos sinalizando todos os pontos importantes que eu julgava ser interessante saber.

Porém, o silêncio que se instala em meu quarto, e mais o horário tardio junto com o dia cheio que eu tive, colaboram para que meus olhos fechem vagarosamente já domados pelo sono. Em um letargo, deixo minha cabeça cair para frente, mas sou abruptamente desperta com o meu celular vibrando e tocando. Cato-o por debaixo dos meus livros até encontrá-lo e ler no remetente: Doe Meadowes

Enrugo o cenho ainda um pouco sonolenta. Porque ela estaria me ligando agora?

— Alô? – pergunto lentamente e no mesmo instante escuto uma barulheira tremenda do outro lado da linha. Credo.

Alô? Lily! Sou eu a Dorcas!— ela gritava com a voz deveras alterada.

— Eu sei, doida. Tenho seu número gravado – digo estranhando.

Lily, não se apavora, mas eu preciso que venha para cá!— grita, mas mesmo assim eu penso não ouvir direito.

— O que? Como assim?

Eu preciso que venha para cá! Para a festa do James! — repete mais eufórica ainda.

O que estava acontecendo?

— Mas por quê? Ficou mais doida ainda? – pergunto tentando soar o mais baixo possível. Já devia ser bem tarde.

Lily! É urgente! A Lene não tá passando bem! Por favor, vem e eu te explico melhor! Vem de carro!— acrescenta antes de desligar o telefone e me deixar completamente pasma e boquiaberta.

Eu mal posso acreditar no que acabo de ouvir. Como assim querem que eu vá? Que urgência é essa? O que ouve com a Marlene de tão grave assim? E como eu ia sair de casa usando o carro de meu pai, que era o único que nós tínhamos, às 03h33min da manhã? Eu penso tudo isso enquanto encaro a tela do meu celular.

Porém, com a frase “é urgente” ainda latejando em minha mente, eu decido fazer essa loucura. Levanto rapidamente da cama, tiro o meu confortável pijama e ponho a primeira roupa que vejo no meu armário. Pego uma jaqueta, pensando estar frio lá fora, a bolsa com minha carteira de motorista e saio às escondidas pela casa.

Ao entrar no corredor, me deparo com a porta do quarto de meus pais aberta, embora escutasse os roncos de meu pai. Merda! Xingo eu mesma e caminho na ponta dos pés até a porta dos fundos para pegar o carro. Ao abrir a porta que desemboca na garagem, esta range e eu aperto os lábios. Se Virgílio Thomas Evans acordar eu estou frita.

Passo recostada a parede tentando ao máximo não fazer barulho ao abrir a porta, até que finalmente saio da casa. Ligar o carro seria a pior parte, mas acaba que consigo pegar estrada sem ser barrada por meu pai.

Achar a casa de Potter foi incrivelmente rápido, quero dizer, eu estava tão domada pela adrenalina de toda a situação que mal percebi quando estava parada na frente do portão de sua, digamos, mansão. Estacionei o Fiat Uno exatamente em frente abertura de ferro, que por sorte, estava vago.

Vejo-me boquiaberta com o que avisto: uma enorme construção que vem a ser a casa dele, com um jardim repleto de copos de bebidas e afins, e é claro, uma multidão espalhada pelos arredores. Certo, não era uma multidão como às que vemos em passeatas políticas e protestos, mas a casa estava consideravelmente cheia e alegre. Reconheci quase todos os rostos dos alunos de Stewart e pude ter uma certeza ainda maior das proporções das festas de Potter. Ao chegar mais perto, vejo que um aglomerado de gente encontrava-se perto de uma discreta cabine ao canto, onde deduzi ser o local onde ficaria algum tipo de segurança. Disposta a passar despercebida, caminho vagarosamente pelos cantos, à espreita, e acabo por entrar por um cantinho sem ser notada pelo segurança. Certo, Lily, você acaba de descobrir que deveria entrar na carreira do ramo de espionagem.

Localizar Dorcas e Marlene no meio disso tudo parece ser impossível. Gritos, muitas conversas paralelas e música ao máximo volume desvirtuam meus pensamentos. Olho para todos os lados tentando achá-las, mas isso é inútil. Sentindo-me completamente deslocada eu pego o telefone e tento ligar para Dorcas.

— Eu sabia que viria – diz uma voz atrás de mim e eu giro nos calcanhares, sobressaltada de susto e ansiedade. Tenho vontade de bater na minha testa quando enxergo James Potter na minha frente. Agora já era tarde, eu tinha me esquecido completamente do que havia dito mais cedo à ele com relação a minha presença na sua festa. No final eu vim e ele me viu e agora estava na minha frente (devo ignorar o fato de estar usando apenas uma sunga de banho? Devo), com um sorriso maroto no rosto e com varias gotículas da água da piscina escorrendo sobre seu corpo. Ele estava com os cabelos mais arrepiados do que nunca e seus olhos castanho-esverdeados pareciam ter um brilho a mais sem os costumeiros óculos. – Parece que alguém perdeu a aposta.

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— Pare de sorrir desse jeito – digo sentindo certo calor em minhas bochechas ao constatar seu sorriso e o modo como me fitava. – E aquilo não foi uma aposta – tento escapar de todas as maneiras possíveis ao invés de ter que aguentá-lo me chamar todos os dias de lírio e eu não podendo fazer nada.

— Nem adianta negar. Você perdeu – afirma confiante pegando uma toalha jogada por sobre uma das mesas ali perto e secando-se rapidamente. Fecho os olhos com força, isso não pode estar acontecendo comigo.

— Está enganado. Eu não vim para a sua festa, vim para uma missão de resgate.

— Missão de resgate? – ele levanta as sobrancelhas, descrente, e apoia a toalha no ombro direito. – Você já foi melhor, Lírio.

Tenho vontade de gritar.

— Okay, Potter, vamos esquecer isso e nos concentrar no que é mais importante – peço calmamente tentando não entrar em colapso. Ele me fita com interesse e eu continuo: - Você viu Dorcas ou Marlene por aí?

Ele olha ao redor tentando encontrá-las e eu me esforço para manter meus olhos em sua face e não um pouquinho mais para baixo. Certo, Lily, você não está batendo muito bem da cabeça. Deve ser sono, não é? Sim, deve.

— Não vi. Mas podemos procurá-las – diz dirigindo-se para dentro da casa e eu o sigo me sentindo completamente dependente dele por não conhecer sua casa e muito menos saber para onde ir.

À medida que vamos caminhando eu vou reconhecendo ainda mais rostos e tento não soar estranha por estar atrás de Potter, o seguindo pelos cômodos da casa. Torço com os dedos cruzados para ninguém inventar rumores ao meu respeito com relação à isso. Alguns me cumprimentam e outros me fitam com sorrisos maliciosos. Eu quero sair daqui.

Andamos por todo o piso térreo e não às encontramos. Até agora eu não poderia estar mais surpresa com a mansão dele e ela só serviu ainda mais para eu confirmar minhas teorias. Posso imaginar a vida que teve crescendo nessa casa, cheio de empregados e serviçais trabalhando para ele e seus pais. Por mais que essa fosse a vida que eu jamais tive em minha infância e que quase todos almejassem isso tudo, ela não me atraía em nada.

— Que estranho – ele diz de repente estagnando no lugar quase causando nossa colisão.

— O que foi? – pergunto já imaginando o pior.

— Não estou encontrando Remus também – confessa com o cenho franzido.

— Já olhamos por todo o lugar, menos os quartos, eu acho – tento repassar em minha mente de forma rápida os lugares por onde olhamos.

— Todos os quartos estão fechados, menos o meu – ele olha para cima das escadas e eu paro para refletir um instante.

De jeito nenhum.

— Nem pensar, Potter! Eu não vou entrar sozinha com você no seu quarto! Pode esquecer essa tentativa falha – exclamo já me esquecendo com quem estava falando. Ele não perdia uma oportunidade e eu me deixei ficar em sua companhia por tempo demais para os seus pensamentos pervertidos.

— Lírio, ter você no meu quarto comigo é o que eu mais quero, mas eu realmente não estava pensando com essas intenções – ele ri – foi você que deduziu. – Eu crispo os olhos em sua direção avaliando a situação. – Então, vai subir comigo ou vai ficar aí pensando em nossa possível...

— Não se atreva a dizer isso! – bato em seu ombro o interrompendo e ele levanta as mãos em rendição – Vamos logo ver se eles estão lá – começo a subir na sua frente com ele em meu encalço.

Dois encontros com ele em um dia só era demais para mim. Eu não sei quanto tempo mais eu vou aguentar. Em seguida vejo-me completamente dependente dele ao me deparar com mais um corredor cheio de portas. Para que tanto cômodo?

Potter se direciona para o fim deste, onde havia a única porta branca do local (as outras eram marrons) e logo depois nós entramos. Me surpreendo com a decoração, o espaço é amplo e recostada à uma parede, têm-se uma estante enorme repleta de livros de todos os tipos. Vários quadros da banda The Beatles adornam o ambiente. Alguns troféus e objetos que remetem ao rugby também estão espalhados pelo quarto com paredes cinza e uma TV preta de frente para a cama Box de casal, e mais ao fundo noto uma ampla sacada com vista para todo o jardim lateral da casa. Ao fitar o leito onde Potter dormia me deparo com eles.

Deitada na cama estava Marlene, que ora parecia dormir, ora acordar. Sentada ao seu lado estava Dorcas, com o semblante preocupado e em pé na frente das duas encontrava-se Remus, com os braços cruzados.

Alguém pode me explicar o que está acontecendo aqui?