If you're gonna be my one and only all my life

O ar escapou com força dos pulmões de James mais uma vez, levando-o à já gasta conclusão de que ele simplesmente não sabia o que fazer. Os olhos castanhos, vidrados no papel de bordas gastas em sua mão, foram esfregados por baixo das lentes, e o rapaz soltou mais um suspiro.

Estava frito.

O barulho de risadas da cozinha chegou ao patamar superior, arrancando-o de seus pensamentos fatalistas. Por um instante, seu olhar percorreu as paredes rosadas do cômodo, os pôsteres de bandas trouxas coladas sobre cabeceira de Lily e a cama que pertencera a Petúnia feita com tanto esmero que um sicle pularia ao menos algumas vezes, se jogado ali.

— Hey! – uma Dorcas sorridente apareceu à porta, sacudindo os cachinhos – A Lily me pediu pra ver se você tinha encontrado o CD que ela pediu... – ao perceber que James estava com o olhar perdido, como se olhasse através dela e não para ela, a jovem ergueu a mão e a sacudiu algumas vezes – Alô? Terra chamando James?

— Claro, claro – ele se ergueu piscando algumas vezes, desviando o olhar do dela e enfiando o papel de qualquer jeito no bolso traseiro de seu jeans. – Os CDs. – Passando a mão repetidamente pelos cabelos negros, marca registrada de seus momentos de nervosismo, começou a remexer na escrivaninha, onde começara a desbravar a pilha de discos apenas alguns minutos antes, praticamente derrubando tudo.

— Potter! – segurando-o pelo braço, ela o encarou – O quê que te deu?

Hesitando e gaguejando, ele empurrou os óculos de volta para o lugar e a encarou, suspirando.

— Dor, você tem um... uma... – é preciso pigarrear para ganhar tempo e ele o faz, enquanto a amiga apenas ergue as sobrancelhas – Você tem um tipo ideal de homem?

Dorcas pisca algumas vezes, incrédula.

— Bem, partindo do pressuposto de que eu sou lésbica...

O rosto de James se contorce, envergonhado, e ele coça a nuca, sem jeito.

— Desculpe...

Dorcas cai no riso, cruzando os braços e balançando novamente os cachinhos.

— Relaxa... Você ainda não chegou no nível Sirius Black de indelicadeza... – sacode a cabeça, arrancando um meio sorriso do rapaz à sua frente. James parece apreensivo e ela o fita com um pouco mais de atenção – O que aconteceu, Potter? Por que a pergunta sem sentido?

James está respirando fundo, prestes a despejar a torrente de confusão que massacrava seus pensamentos como um torvelinho desgovernado, quando uma outra pessoa cruza a porta do quarto, quase tropeçando nos próprios pés e derrubando um pouco da bebida em seu copo.

— Ooops – Marlene riu ebriamente antes de se aproximar da namorada, abraçando-a por trás – Por que vocês estão aqui em cima? – com carinho, ela deposita um beijinho no pescoço de Dorcas, que envolve seus braços aos da morena.

— O James... Tava precisando conversar – Dorcas mais pergunta que afirma, e os dois pares de olhos femininos se cravam nele.

O pomo de adão sobe e desce quando ele engole em seco e suas mãos, frias, são esfregadas nervosamente contra a calça jeans desgastada.

— Desembucha, Potter! Tá parecendo meu irmão pequeno quando apronta alguma coisa!

— Amor! – Dorcas ralha e Marlene encolhe um pouco o ombro, apologética, fazendo com que a primeira encare novamente o rapaz – Jamie?

A esta altura, ele já está perdido até mesmo na dinâmica entre as duas.

— Eu fiz uma coisa que não devia ter feito... – se encolhendo sob o olhar delas, ele puxa o papel, já amassado, e o estica. – Eu achei enquanto procurava o CD e... Eu não devia ter lido, mas...

Dorcas desdobra o papel – já gasto e com cara de que tinha sido dobrado várias vezes ao longo do tempo – e ela e a namorada passam os olhos por ele. Em tinta roxa e numa letra caprichada, havia uma lista:

O marido perfeito

1- Vai me levar para encontros toda semana;

2- Vai me dar flores sempre;

Marlene, que lia em voz alta, solta um risinho meio incrédulo e encara um James se consumindo em agonia.

— Eu nunca comprei uma flor pra Lily – ele murmura, como se aquilo explicasse toda aquela cena.

— Hey, vocês estão ai! – A voz de Sirius chama a atenção e os três o encaram, parado no vão da porta – Eu tô indo comprar mais bebida com a Wren e... O que vocês três estão fazendo aqui? – ele pergunta, e logo ergue as sobrancelhas e sorri, maldoso e brincalhão. – Eu não interrompi nada, né? Jamie... – a voz dele se altera um tom e é quase impossível para Black segurar o riso – você sabe que só é uma troca de casais justa se a Lily também participar, né?

Dorcas e Lene reviram os olhos, soltando gemidos meio guturais de insatisfação, e James solta um risinho, sacudindo a cabeça.

— Fecha a porta, babaca – ele diz, e o amigo obedece, abafando a música do andar debaixo.

— O que vocês estão aprontando? – Sirius se joga na cama de Lily e cruza as pernas, ficando com a aparência de um índio muito pálido e ao mesmo tempo muito tirado a moderno com sua camiseta do Joy Division.

— O James achou uma lista – Dorcas começa, mas é interrompida por Marlene.

— Futricando as coisas da Lils...

— Ei! Não foi bem assim! – Potter se defende, sem necessidade, porque o amigo já está de pé, tomando a lista da mão das amigas.

— “O Marido per---“ - ele ergue o olhar até encarar o amigo e solta uma gargalhada – caralho, você tá fodido!

James solta um muxoxo, mas Sirius continua a ler o restante da lista, empostando a voz como se fosse um dos locutores das rádios de notícias que o Aluado adorava:

3- Vai me dar jóias de presente;

4- e um anel de brilhantes quando me pedir em casamento;

5- ele precisa ser rico;

— Bem, essa parte tá fácil – Sirius dá de ombros com um ar divertido, e James troca a perna que sustenta seu peso, desconfortável.

6- Tem que ter uma letra bonita;

7- e se vestir bem! ;

— Cara, ‘cê tá fodido – Sirius ri e desvia do tapinha que Dorcas desfere em sua direção.

8- tem que ter um sobrenome legal;

— Potter não é de todo ruim... – ele lança um olhar ao amigo, que parece impaciente.

— Black! – Marlene ralha com ele e puxa a lista de sua mão, bem a tempo da porta se abrir novamente.

— Ah – a garota loira sorriu sem jeito – Eu achei que fosse o banheiro...

— Wrenie! – Sirius sorri para a garota – entra aí, ‘cê vai curtir isso.

James grunhe baixinho, mas Wren já está fechando a porta atrás de si. Com um pigarro, Marlene continua lendo em voz alta.

9- tem que ser inteligente;

10- contar boas piadas;

11- gostar de música boa;

12- ter um emprego legal;

13- e um carro do ano;

— O que é isso? – Wren pergunta, e James só geme baixinho.

— Cara, eu não acho que isso seja sério... – Marlene começa a falar, mas o olhar de James a cala.

— Eu não sou nada disso! E a lista só piora. “Uma cobertura em Londres”, “ser sócio do clube”, “linhagem real” – ele cita alguns itens, de cabeça – Eu nem sabia que a Lily queria metade dessas coisas!

Dá para sentir a exasperação em cada nota de sua voz, e ele volta a se sentar na cama, arrancando os óculos e enfiando o rosto nas mãos. Frustrado.

A porta se abre mais uma vez.

— Então é aqui que metade da minha festa está se escondendo? – Lily está parada à porta, o sorriso no rosto e um copo com uísque de fogo na mão.

James afunda um pouco mais o rosto nas mãos e Marlene joga a lista ao lado dele, como se o papel estivesse em chamas. O olhar desconfiado de Lily percorre os convidados, que evitam a todo custo o seu olhar.

— O que tá acontecendo aqui?!

Dorcas é a primeira a se pronunciar:

— Eu esqueci minha varinha lá embaixo. Vem comigo, amor? – e, como um raio, as duas passam por Lily em direção ao térreo.

A ruiva encara o outro casal do cômodo.

— A gente precisa comprar bebida – Wren dá de ombros, procurando o braço de Sirius.

— Mas eu quero ver... – ele murmura, ganhado um puxão pela manga da camisa. A loira ainda sorri sem jeito ao passar por Lily, que fica quase atônita vendo-os desaparecer pelo corredor.

— James? O que aconteceu? – ela se aproxima dele, os dedos prontos para se enterrarem nos cabelos negros, mas o rapaz, prevendo que aquilo aconteceria, se afasta. As íris verdes vagam dele para o papel ao seu lado e ela o apanha.

Pela primeira vez, James a encara, enfiando os óculos de volta no rosto.

— Por que você escreveu isso, Lil? É Sério que você quer todas essas coisas?

Havia um certo nível de dor no olhar dele, mas Lily apenas sorriu, alternando-se entre fitar o papel e fita-lo. Com os olhos apertados, ele a observou se sentar ao seu lado.

— É por isso que você tá comigo? Porque eu tenho um sobrenome legal e posso te dar uma casa no campo? Porque tem mais metade dessa lista em que eu não me encaixo, sabe...?

Por uma fração de segundo, Lily se sentiu ofendida.

— James! – ralhou – Claro que não! Claro que não é por isso que eu estou com você! Por Morgana... – a ruiva sacudiu a cabeça e fitou o papel novamente, sorrindo – Você realmente não se encaixa em metade disso aqui... – mais uma vez, os fios ruivos se mexem quando ela sacode a cabeça, sorrindo – Até porque não tem “drama queen” em lugar algum da lista...

James se ergueu de supetão, ofendido:

— Como você...?

— Jamie – Lily interrompe, a voz suave, envolvendo sua mão à dele -, calma...

O polegar dela acaricia sua mão e ela olha diretamente em seus olhos, e James apenas sabe. Sabe que mesmo que ela o tivesse magoado ou mutilado da forma mais cruel e vil possível, ele a perdoaria, porque sabe que todas as vezes que ela o olhar daquele jeito, ele se derreterá à visão daquele verde profundo e vivo.

— Não fui eu que escrevi isso – ela fala, com verdade, e sorri – Essa lista é da Tuney.

De repente, o peso sobre os ombros de James se dissipa, sendo substituído por aquela sensação de que tinha metido os pés pelas mãos. Quase que encolhido, ele dá um passinho para frente, para mais perto dela.

— Ela tinha dez anos quando escreveu – Lily o conduz para que se sente ao seu lado, e gira o corpo, sentando-se sobre uma das pernas para que pudesse ficar de frente para ele – Ela queria que eu escrevesse uma também, mas eu me recusei...

James a encarava, meio acuado, pelo canto superior dos olhos.

— E se eu tivesse escrito... – Lily continua, fazendo carinho nas duas mãos dele – Ele provavelmente se pareceria com o Remus...

Aquilo é o suficiente para que Potter franza o cenho, um biquinho se delimitando em seus lábios – o que diverte muito à ruiva, que ri e ergue uma das mãos, acariciando o ponto em que os frios negros se uniam à testa dele.

— Com oito anos de idade, eu nunca imaginaria que me apaixonaria pelo garoto com o cabelo mais impossível que eu já vi... – ela sorri e o fita nos olhos – Ou que seria possível alguém ter os olhos da cor exata do meu chocolate favorito... Ou que as sardas nas suas costas formariam uma constelação...

James começa a se derreter sob o olhar dela, e há um insistente sorriso dobrando seus lábios, agora.

— Eu nunca achei que fosse me envolver com alguém que fosse me fazer gostar de punk – os dois soltam um risinho –, e nem que fosse me apaixonar por um encrenqueiro, James Potter, e isso até dois anos atrás! – ela brinca, divertida, e se inclina um pouco para frente.

— Nunca achei que fosse me apaixonar por você, Jamie – a voz dela saiu mais baixa e mais confiante do que ele poderia se lembrar – E eu me apaixonei. Por cada vício e cada virtude... – ela sorri fraquinho e deposita um selinho em seus lábios – Eu te amo, James Potter.

James mantém o rosto próximo ao dela, as testas unidas e um sorriso enorme no rosto.

— Eu também te amo, Lily Evans...

A risada dela ecoa pelo cômodo.

— Eu sei.

Ele ri também, e os dois se beijam. Da parte dela, é doce e carinhoso, mas ele sente necessidade de aprofundar o contato, como se não fosse o bastante – nunca era, e ele sempre queria mais quando o assunto era Lily.

— A gente precisa descer – a ruiva murmura, quando os dois interrompem o beijo para um pouco de ar.

— Uhum - ele ronrona, mas não se mexe. Lily deposita mais um beijo em seus lábios e se levanta, indo até a escrivaninha, buscar o CD que deveriam levar para o andar de baixo. James também se levanta e se apoia na parede ao lado, observando-a remexer entre as capas.

— James? – ela pergunta, sem fita-lo, olhando o verso de um CD dos Beatles.

— Oi. - Ele ergue as sobrancelhas, atento ao que ela tem para lhe falar.

— Quer casar comigo?