O companheiro leal

Capítulo único


“[A lealdade] é uma forma de nobreza e tem a ver com sacrifício.

Não é uma obrigação, é uma escolha que mistura, necessariamente, ideias e sentimentos.

Na lealdade talvez se manifeste o melhor de nós” (Ivan Martins, Revista Época).

As duas meninas amavam as joias. Quase tanto quanto amavam uma à outra. Protegiam-se e se escutavam. Brincavam juntas e debatiam. Grandes amigas descobrindo os mistérios do mundo.

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Steiner nutria um carinho profundo pelas irmãs. Cuidava delas com devoção, entregando-se todo àqueles sorrisos, àqueles pedidos, àquelas alegrias. Nunca tivera filhos, mas as meninas supriam a falta. Elas eram suas fiéis companheiras, e ele era seu servo leal.

Os anos passavam. Florette crescia cada vez mais bela, cada vez mais forte. Satella ficava para trás, chorando dentro do círculo que desenhara, questionando o porquê de sua fraqueza. Nesses momentos, Steiner deixava-as a sós. Eram irmãs. Elas se entenderiam. Uma consolaria a outra. Steiner não queria invadir aquela intimidade.

Apesar de tudo, a família estava em paz. Até que o demônio decidiu prestar uma visita. O fogo espalhava-se pelos destroços. A destruição exalava uma fumaça de desesperança e tristeza. Florette, pobre menina, tentou defender a irmã que chorava sobre o corpo da mãe morta.

Steiner apenas observou enquanto Florette, desfalecida, era levada embora. O demônio virou as costas para Satella e desapareceu. No seu silêncio, dizia que ela não era digna de um assassinato. Não havia nada de nobre naquele gesto. Ele não poupava a vida da criança. Ele a abandonava no mundo.

Satella ainda chorava quando Steiner a abraçou. Enterrou o rosto em seu peito, gritando pela mãe, gritando por Florette. E ele se limitava a escutar, sentindo toda aquela angústia sem poder retirá-la dos ombros da menina. Em seu íntimo, o juramento: serviria Satella até o seu último dia de vida.

E os anos passaram. Satella cresceu tão bela, tão forte. Mas as lembranças eram um entrave. Como um cachorro preso pela guia, Satella nunca conseguia ir muito adiante. Ela sempre voltava para a mãe, para a irmã, para o caos. E Steiner observava de longe, sonhando com o dia em que a menina, agora mulher, finalmente seria livre.

Steiner permaneceu a seu lado durante dez longos anos. Naquelas noites silenciosas, eles eram cúmplices, compartilhando no silêncio um passado que não ousavam mencionar. Quando Satella recebeu a visita de seus amigos, Steiner sentiu-se feliz. Era tão bom ver a casa assim agitada, ver aqueles rostinhos sorrindo e brincando.

E Steiner acompanhou Satella até o fim. Observou-a dançar com o jovem, sempre tão bela com os cabelos ruivos. Observou-a sorrir. Observou-a conversar. Observou tudo, tudo. Até que não tinha mais forças para se levantar. Até que não sentia mais o sangue escorrendo de seu corpo.

Nos braços de Satella, vislumbrou aquele rosto mais uma vez. A menina chorosa que se tornara mulher. A mulher que ainda vivia presa ao passado. Sua fiel companheira. Steiner expirou, lembrando-se do juramento.

Ele estava feliz.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.